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Eu Já Estava Morta

Eu Já Estava Morta

By:  Dama do SilêncioCompleted
Language: Portuguese
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Três anos depois da minha morte, meu marido finalmente se lembrou da minha existência. Acontece que a amiga de infância dele teve uma recaída de leucemia e precisava urgente de um transplante de medula. Ele foi lá em casa para me fazer assinar a doação, mas quando chegou, não achou ninguém. Preocupado, procurou os vizinhos e começou a perguntar insistentemente por mim. Uma vizinha olhou para ele com pena e disse: — Você está falando da Carina? Ela morreu tem anos! Mesmo doente, arrancaram a medula dela. Voltou do hospital acabada e não aguentou. Meu marido se recusou a acreditar. Estava convencido de que a vizinha mentia para ele. Ele ficou vermelho de raiva, virou para mulher e gritou: — Se ver ela, avisa: se não aparecer em 3 dias, não pago mais nada para o tratamento daquele bastardo que ela insistiu em criar. A vizinha só suspirou, balançou a cabeça e resmungou baixinho: — Coitada, mas a criança já morreu de fome faz tempo...

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Chapter 1

Capítulo 0001

Faz três anos que morri e, mesmo assim, eu e meu filho continuamos vagando como almas perdidas, presos por um apego forte demais ao mundo dos vivos para conseguirmos partir.

Enquanto isso, meu marido, Enrico Santos, conseguiu escalar da mais completa miséria até o topo, se transformando num magnata admirado nos círculos empresariais.

Eu o traí sem pensar duas vezes no pior momento da vida dele, e por isso ele me odeia com tanta intensidade que, se pudesse, me despedaçaria com as próprias mãos.

Três anos atrás, mesmo ciente da minha fragilidade, ele me forçou a doar medula óssea para Felícia Mendes, sua amiga de infância.

O procedimento era invasivo e, não sei se por erro na punção ou porque meu corpo já debilitado não suportou, acabei desenvolvendo uma infecção generalizada uma semana depois. A febre alta me consumiu até que perdesse a consciência e morresse sozinha em casa.

João, meu filho de apenas três anos, não resistiu à fome e faleceu ao meu lado.

Durante todo esse tempo, Enrico jamais veio nos visitar, nem sequer um telefonema.

Agora, de onde estava, eu observava segurando a mãozinha de João, enquanto Enrico chutava violentamente o portão da casa onde vivemos.

Depois de três anos sem vê-lo, ele parecia irreconhecível. O rosto era o mesmo, mas seu olhar tinha se tornado frio e cruel. Atrás dele, Felícia permanecia impecavelmente vestida, com um sorriso vago nos lábios, a pele macia e o corpo esbelto, sem qualquer vestígio da doença que um dia a afligira.

João se encolheu contra mim ao ouvir os chutes na porta, seus olhos brilhando numa mistura contraditória de alegria e medo.

— Mamãe, o papai finalmente lembrou da gente? — Ele perguntou com a voz trêmula. — Faz tanto tempo que ele não vem. Mas por que ele está tão bravo? Fiz alguma coisa errada? E quem é aquela senhora ali com ele?

Minha garganta travou completamente.

— Carina! Sai daí agora! Para de fingir que morreu! — A voz de Enrico ecoou pelo quintal, tão alta que fez Maria, a vizinha da casa ao lado, sair para conferir o tumulto.

— Moço, quem o senhor está procurando? — Ela indagou com cautela. — Essa casa está vazia faz um tempo.

Enrico respirou fundo, tentando conter a irritação antes de responder:

— A Carina não mora mais aqui? Ela se mudou?

Maria baixou o olhar e soltou um suspiro pesado antes de revelar:

— O senhor está falando da Carina? Ela faleceu há três anos.

Um silêncio tomou conta do lugar enquanto Enrico permanecia imóvel, processando a informação.

— Disseram que, mesmo doente, obrigaram ela a doar medula óssea. — Continuou Maria com pesar. — Poucos dias depois, a coitada morreu... Uma verdadeira tragédia.

Felícia empalideceu num instante, mas logo assumiu uma expressão de falsa indignação e se apressou em justificar.

— Senhora, pelo amor de Deus, não fala uma coisa dessas! — Ela protestou em voz alta, como se quisesse garantir que eu ouviria do outro lado do pátio. — Doação de medula é um procedimento seguro, ninguém morre por causa disso. Se ela não queria doar, era só ter falado! Ficar por aí jogando praga em si... que bobagem!

A expressão vazia de Enrico se desfez, dando lugar a um sorriso carregado de sarcasmo.

— Ela não está cansada com esse teatrinho? — Ele debochou. — Podia pelo menos inventar algo mais convincente! Devia pesquisar direito antes de sair espalhando mentiras sobre doação de medula.

Confusa com a situação, Maria apenas repetiu com tristeza:

— Coitada da moça... Morreu sozinha, só foram encontrar o corpo dias depois...

O rosto de Enrico escureceu subitamente.

— Não sei que jogo vocês estão jogando. — Ele disparou com frieza. — Mas faça o favor de avisar ela. Se não aparecer em três dias para doar medula para Felícia, eu corto o pagamento da diálise daquele bastardinho.

Maria ficou boquiaberta. Tentou retrucar, mas apenas soltou um suspiro resignado e se virou em direção à sua casa.

— Três dias. — Sentenciou Enrico com uma voz gélida que cortou o ar. — Se ela não der as caras, não mando mais um centavo. Quero ver ela assistir aquele moleque morrer na frente dela.

Com os olhos marejados, Maria seguiu para casa murmurando baixinho para si mesma:

— Pobre menino... Mas ele já deve ter morrido de fome há tempos. Se eu tivesse ido lá antes, talvez pudesse ter salvado ele...
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Comments

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Queila Alves de Souza
O que aconteceu com a página? faço check-in todos os dias, assisto às 27 propagandas para obter bônus e as outras tarefas de leituras, mas os capítulos não destravam. vou deixar de seguir a pág e não vou indicar também não, caso não resolvam isso. falta de respeito com o leitor.
2025-04-28 09:08:25
0
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Lana Souza
Tenho bônus e não consigo abrir os outros capítulos só dá opção para pagar.
2025-04-26 07:45:11
2
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sheilla oliver
tenho moedas recarreguei e n abre o livro pq??
2025-04-25 21:31:36
1
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Capítulo 0001
Faz três anos que morri e, mesmo assim, eu e meu filho continuamos vagando como almas perdidas, presos por um apego forte demais ao mundo dos vivos para conseguirmos partir.Enquanto isso, meu marido, Enrico Santos, conseguiu escalar da mais completa miséria até o topo, se transformando num magnata admirado nos círculos empresariais. Eu o traí sem pensar duas vezes no pior momento da vida dele, e por isso ele me odeia com tanta intensidade que, se pudesse, me despedaçaria com as próprias mãos.Três anos atrás, mesmo ciente da minha fragilidade, ele me forçou a doar medula óssea para Felícia Mendes, sua amiga de infância. O procedimento era invasivo e, não sei se por erro na punção ou porque meu corpo já debilitado não suportou, acabei desenvolvendo uma infecção generalizada uma semana depois. A febre alta me consumiu até que perdesse a consciência e morresse sozinha em casa. João, meu filho de apenas três anos, não resistiu à fome e faleceu ao meu lado.Durante todo esse tempo, Enri
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Capítulo 0002
— Enrico... — Sussurrou Felícia com os olhos marejados. — Será que a Carina se escondeu porque não quer doar a medula para mim?Com um sorriso reconfortante, Enrico bagunçou com carinho os cabelos dela.— Que bobagem, vai. É só uma leucemia boba. Se a Carina não quiser doar, eu mesmo vou achar outra medula compatível para você, nem que tenha que vasculhar o país inteiro. — Garantiu ele com voz tranquilizadora.Felícia fez um bico de insatisfação.— Mas a medula da Carina é perfeita! Meu corpo praticamente não rejeitou nada! — Contestou ela, franzindo a testa. — O médico até comentou que nunca tinha visto duas pessoas com compatibilidade tão alta.Os olhos de Enrico desviaram para o portão trancado, e sua voz ganhou um tom decidido:— Então, por você, eu vou encontrar ela, nem que precise virar o mundo de cabeça para baixo.Naquele instante, senti meu coração se apertar dolorosamente enquanto o passado invadia minha mente como uma enxurrada de lembranças amargas. Eu e Enrico nos conhec
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Capítulo 0003
Os três dias de prazo que Enrico me deu se esgotaram e, como era de se esperar, não apareci conforme sua exigência. Foi assim que ele acabou voltando à minha casa, determinado a me encontrar.Ao vê-lo chegar, João correu animado ao redor do pai, soltando risadinhas de alegria enquanto tentava enfiar sua pequena mão transparente na de Enrico.— Mamãe! Consegui segurar a mão do papai finalmente! — Exclamou o pequeno, radiante.Senti meus olhos arderem instantaneamente diante daquela cena, mas me esforcei para forçar um sorriso encorajador para meu filho. Durante todos esses anos, Enrico sempre acreditou que João era filho de Lucas, e por causa dessa convicção inabalável, nunca deu valor ao menino, sequer lhe dando um único olhar.Mesmo quando fizemos um teste de DNA que comprovou claramente que João era seu filho biológico, Enrico se recusou a aceitar a verdade. Para ele, eu simplesmente havia subornado alguém para falsificar os resultados do exame. Naquela noite, perdi completamente su
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Capítulo 0004
Passada meia hora após a ligação para o chaveiro, Enrico finalmente conseguiu empurrar a velha porta enferrujada que, coberta por densas teias de aranha, rangeu pesadamente ao se abrir. Ao adentrar o terreno, ele se deparou com um quintal completamente abandonado, onde a grama crescia tanto que chegava até sua cintura, dificultando sua passagem.Ele hesitou, parando bem no meio daquele espaço que parecia esquecido pelo tempo. Aquele cenário de abandono em nada se parecia com o lugar que guardava em suas lembranças. Já estivera ali duas vezes antes e, naquela época, o quintal era mantido com extremo cuidado e capricho.A primeira visita tinha sido quando ele me trouxe e o filho. João havia acabado de completar dois anos quando recebeu o diagnóstico devastador de insuficiência renal crônica, um problema congênito que impediu seus rins de se desenvolverem adequadamente. Na ocasião, incapaz de aceitar o menino, Enrico o desprezou completamente, chegando a chamá-lo de "amaldiçoado", e de
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Capítulo 0005
Acabei de descobrir algo bem esquisito. Se ficássemos perto do Enrico, conseguiríamos sair daquele lugar onde estávamos presos há três longos anos. João já não aguentava mais ficar confinado e eu estava louca para levá-lo para passear.Quando finalmente saímos, o garoto parecia encantado, olhando tudo ao seu redor com aqueles olhos curiosos e soltando gritinhos de surpresa a cada novidade que via. Foi então que percebi a limitação. Não podíamos nos afastar muito de Enrico.Seguimos até a mansão dele, e João ficou completamente maravilhado com o luxo do lugar. Apesar de ter morado ali quando bebê, depois de tanto tempo não se lembrava de absolutamente nada. Enquanto ele corria pela casa toda, explorando cada cômodo como se fosse uma aventura, eu segui Enrico até o escritório.Do corredor, pude ouvir a conversa dele ao telefone.— Preciso que bloqueiem imediatamente o cartão de crédito vinculado à conta da Carina. — Ordenou ele com firmeza.Se Enrico prestasse um pouquinho mais de ate
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Capítulo 0006
Enrico agarrou as chaves do carro e saiu em disparada. Eu e João não tivemos escolha, fomos puxados com ele.Na correria, Enrico acabou esbarrando com força em um homem no saguão. Era Lucas. Reconheci-o na hora. Com o impacto, Lucas deu dois passos para trás e, ao se recompor, arregalou os olhos, surpreso com quem tinha acabado de encontrar.— Ora, ora... Se não é o grande magnata da Cidade do Sul em pessoa. — Lucas comentou com um tom irônico. — O que faz aqui a essa hora da noite, Sr. Enrico? E correndo desse jeito, como se estivesse fugindo do diabo?Enrico mal se deu ao trabalho de responder adequadamente, apenas murmurou um pedido de desculpas seco enquanto seguia direto para o elevador. Mas Lucas não era do tipo que deixava uma oportunidade passar. Ele o seguiu com interesse visível, acompanhando-o até a ala de hematologia.Quando chegamos ao quarto de Felícia, ela não estava lá, o que fez Enrico correr até o consultório do médico responsável. Foi só ao descobrir que não era n
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Capítulo 0007
O silêncio tomava conta do ambiente, quebrado apenas pelo som alegre de João brincando com um pequeno espírito que havia acabado de conhecer. Eu observava Enrico atentamente, curiosa para ver sua reação ao ouvir, mais uma vez, a notícia da minha morte saindo da boca de outra pessoa.Mas, assim como aconteceu quando Maria lhe contou, ele apenas franziu as sobrancelhas por um instante antes de abrir um sorriso cínico.— Quem diria... O Sr. Lucas ainda se preocupa tanto com minha esposa. — Ele comentou com desprezo. — Nem eu mesmo sei se ela está viva ou morta, mas você já decretou o óbito dela. Como é isso? Ela te contou pessoalmente? Ou será que, durante todos esses anos, vocês andaram se encontrando escondido? Esse joguinho é tão emocionante assim? Tanto faz. Ela sempre foi imunda. Nem quis tocar ela. Se quiser se divertir com ela, fique à vontade.Algo dentro de mim se despedaçou completamente. Minha garganta apertou, e se eu ainda fosse humana, provavelmente estaria chorando. Mas eu
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Capítulo 0008
Enrico bloqueou o cartão adicional esperando que eu ligasse desesperada, implorando por ajuda. Mas, em vez disso, o que chegou primeiro foi o relatório do detetive particular que ele havia contratado.O detetive enviou uma série de arquivos por e-mail. Entre eles, algumas capturas de tela de um portal de notícias local com uma manchete alarmante: "Chocante! Mãe e filho são encontrados mortos em casa dias após o falecimento."A reportagem era curta e não mencionava o nome da vila, apenas o da cidadezinha próxima. Mas a foto anexada não deixava dúvidas. Era exatamente da casa onde eu morava. Enrico a reconheceu imediatamente.Ele ficou paralisado diante da tela, encarando aquelas palavras com descrença. Ele se recusava a acreditar no que via. Com as mãos trêmulas, pegou o celular e tentou me ligar, mas recebeu a mensagem de número inexistente. Tentou pelo WhatsApp, mas ninguém respondeu.De repente, como se uma ideia assustadora o atingisse, abriu o aplicativo do banco e acessou o ger
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Capítulo 0009
Enrico desabou no sofá.Balançava a cabeça incessantemente, repetindo com voz embargada:— Não... Era impossível... Eu ainda nem tinha a perdoado... Como ela pôde morrer assim?Ri até as lágrimas escorrerem pelo meu rosto espectral.Então era por isso? Eu não podia partir daquele mundo porque ele, em sua arrogância, ainda não havia me concedido seu perdão?Com mãos trêmulas, ele pegou o celular do chão e abriu a galeria de fotos. Aquela única imagem... O único registro dele com nosso filho juntos. Enrico ficou olhando fixamente por um tempo que pareceu interminável, enquanto seus ombros começavam a tremer e lágrimas silenciosas caíam sobre a tela iluminada.De repente, ele se levantou num impulso e saiu de casa às pressas, quase correndo. As mãos ainda tremiam no volante enquanto dirigia. Pela segunda vez em poucos dias, estacionou em frente à casa onde eu e nosso filho morávamos. Em questão de dias, nos visitou mais vezes do que em todos os últimos anos juntos. Não sei se isso me cau
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Capítulo 0010
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