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Capítulo 0002

Penulis: Dama do Silêncio
— Enrico... — Sussurrou Felícia com os olhos marejados. — Será que a Carina se escondeu porque não quer doar a medula para mim?

Com um sorriso reconfortante, Enrico bagunçou com carinho os cabelos dela.

— Que bobagem, vai. É só uma leucemia boba. Se a Carina não quiser doar, eu mesmo vou achar outra medula compatível para você, nem que tenha que vasculhar o país inteiro. — Garantiu ele com voz tranquilizadora.

Felícia fez um bico de insatisfação.

— Mas a medula da Carina é perfeita! Meu corpo praticamente não rejeitou nada! — Contestou ela, franzindo a testa. — O médico até comentou que nunca tinha visto duas pessoas com compatibilidade tão alta.

Os olhos de Enrico desviaram para o portão trancado, e sua voz ganhou um tom decidido:

— Então, por você, eu vou encontrar ela, nem que precise virar o mundo de cabeça para baixo.

Naquele instante, senti meu coração se apertar dolorosamente enquanto o passado invadia minha mente como uma enxurrada de lembranças amargas.

Eu e Enrico nos conhecemos na faculdade, época em que ele irradiava como o sol da manhã cortando a névoa. Ele era brilhante, caloroso e acolhedor. Me apaixonei primeiro, e quando finalmente nos formamos, começamos a namorar e construir uma vida juntos.

Enrico se tornou o centro do meu universo. Segui ao seu lado em cada passo da sua jornada, sonhei com seus sonhos e acreditei em cada palavra que saía da sua boca. No início, ele realmente me tratava com o cuidado que havia prometido, mas a vida tinha um jeito cruel de destruir nossas ilusões mais preciosas.

Durante os primeiros anos do nosso negócio, eu costumava acompanhá-lo em todas as reuniões com clientes importantes. Foi numa dessas ocasiões que conheci Lucas Soares, o herdeiro do Grupo Soares, que só trabalhava por puro capricho.

Desde o primeiro encontro, ele começou a me cercar insistentemente, como uma mosca irritante, aproveitando qualquer brecha para ultrapassar limites.

A situação chegou ao extremo durante uma confraternização da empresa, quando ele tentou me agarrar à força num canto isolado. Sem pensar duas vezes, Enrico agarrou uma garrafa de vidro e a estilhaçou na cabeça dele.

Aquele momento de fúria destruiu tudo o que havíamos construído com tanto esforço. Além de perdermos o valioso contrato com o Grupo Soares, tivemos que desembolsar uma pequena fortuna para convencer Lucas a não enviar Enrico para trás das grades.

E isso foi apenas o começo da nossa queda.

Naquela noite, enquanto jazíamos exaustos na cama, Enrico me abraçou com força e sussurrou no meu ouvido, com a voz embargada:

— Me perdoa por tudo. Um dia, quando eu for realmente poderoso, nunca mais vou deixar ninguém encostar um dedo em você.

Ele, de fato, cumpriu essa promessa. Depois que finalmente conquistou sucesso, ninguém mais ousou me machucar, exceto ele próprio.

...

Eu precisava parar de reviver essas memórias.

Meus olhos retornavam involuntariamente ao rosto frio e implacável à minha frente.

O vento quente do verão bagunçava os cabelos escuros de Enrico, acentuando ainda mais as linhas de preocupação em sua testa enquanto segura Felícia nos braços.

Seu olhar, no entanto, permanecia fixo na grama alta e descuidada do quintal, como se estivesse perdido em um labirinto de pensamentos distantes.

O ano em que supostamente "traí" Enrico coincidiu com o segundo aniversário do nosso casamento. Eu carregava um bebê de apenas um mês em meu ventre, fato que nenhum de nós conhecia naquele momento.

Naquela época, os negócios dele finalmente pareciam estar decolando. Tínhamos investidores confiantes, contratos promissores se acumulando e uma estabilidade financeira que nunca havíamos experimentado antes.

Então, como num pesadelo, tudo desabou à nossa volta sem qualquer aviso. Os investidores subitamente recuaram, os contratos foram cancelados um após o outro, e a empresa ficou rapidamente sem capital de giro.

Como se não bastasse, uma série de problemas técnicos afetou gravemente nossos produtos, o banco revogou todos os financiamentos, e logo as hipotecas da casa, do carro e até da fábrica foram impiedosamente executadas.

Enrico definhava diante dos meus olhos. Mal se alimentava, quase não dormia. E quando achávamos que nada poderia piorar, veio o golpe de misericórdia. Sua mãe foi diagnosticada com um câncer agressivo em estágio avançado. O tratamento especializado custava uma fortuna que simplesmente não tínhamos como pagar.

Após acionar meus contatos para uma investigação, descobri finalmente a verdade devastadora. Quem estava por trás de toda a sabotagem contra os negócios de Enrico era justamente Lucas, o mesmo cara que ele tinha acertado na cabeça com uma garrafa de bebida anos atrás. E agora, sedento por vingança, vinha atrás de mim.

— Posso fazer com que as empresas do Grupo Soares coloquem uma grana boa na empresa do seu marido. — Propôs ele com aquele seu sorriso preguiçoso e calculista. — E mais, também posso pagar todo o tratamento da mãe dele.

Naquele momento, eu já sabia que não existia almoço grátis. O diabo não fazia caridade, e se Lucas não queria acabar com a vida de Enrico, certamente planejava algo muito pior.

Com o coração a mil, mas tentando manter a voz firme, perguntei:

— E o que você ganha com tudo isso?

Lucas levantou a sobrancelha com aquele ar de superioridade enquanto me analisava de cima a baixo.

— Eu preciso mesmo explicar? — Ele rebateu. — Faço porque quero, porque me diverte ver gente como vocês se contorcendo de desespero, com ódio nos olhos, mas sem poder fazer nada contra mim.

Cruzando os braços com um sorriso satisfeito que entregava suas verdadeiras intenções, completou:

— Além disso, ainda tenho uma conta para acertar daquela garrafada na cabeça. Está mais que na hora da gente resolver isso, né não?

Nunca entendi completamente o que se passava na cabeça distorcida de Lucas. Com todo aquele dinheiro e poder, poderia ter destruído Enrico de mil maneiras diferentes, mas escolheu justamente me usar como instrumento da sua vingança, me transformando na arma mais dolorosa contra o homem que eu amava.

Anos se passaram desde aquela noite, mas ainda conseguia lembrar cada detalhe da cena como se fosse ontem.

O ar pesado daquele bar de luxo, as luzes amareladas que mal iluminavam o ambiente, e eu... Sentada no colo de Lucas, enquanto ele balançava um contrato na mão, exibindo como se fosse um troféu. Foi exatamente naquele momento que Enrico abriu a porta e entrou.

O impacto daquela cena congelou Enrico na entrada, como se tivesse levado um choque. Seus olhos ficaram vermelhos num instante, tomados por uma mistura de fúria e incredulidade. Sua voz saiu tão rouca e trêmula que ele mal conseguiu formar a única pergunta que importava:

— Por quê?

Engoli a seco, mas me forcei a sorrir com cinismo. E então, com o coração em pedaços, soltei a mentira mais dolorosa da minha vida:

— Você nunca conseguiu me dar a vida que eu sempre quis... Mas o Lucas pode.

Lucas soltou uma risada alta e apertou minha cintura com força, aumentando ainda mais a humilhação enquanto eu me esforçava para não mostrar o quanto aquilo estava me destruindo por dentro.

A dor era insuportável, mas mesmo assim, com o coração em frangalhos, mantive aquele sorriso falso colado no rosto, fingindo estar gostando de toda aquela situação.

— Vê pelo lado bom, Enrico... — Falei fingindo despreocupação. — Estou te ajudando a fechar negócios. É só você assinar esse contrato com o Grupo Soares e todo mundo sai no lucro, inclusive você.

Vi o brilho nos olhos de Enrico se apagando aos poucos. A decepção tomou conta do seu rosto enquanto tentava processar o que parecia ser uma traição completa. Mesmo assim, para minha surpresa, ele estendeu a mão na minha direção, quase implorando:

— Carina, vem comigo. Você não precisa fazer isso. Eu juro que vou te dar a vida que você quer.

Foi como se uma pedra gigante tivesse caído no meu peito. Mal conseguia puxar o ar.

Ali estava ele, implorando literalmente por mim.

— Carina, eu não vou assinar esse contrato. Vem para casa comigo, por favor.

Ver Enrico tão vulnerável pareceu alimentar ainda mais a crueldade de Lucas, que soltou uma gargalhada carregada de escárnio e satisfação.

— Olha só que patético, Enrico! — Ele zombou. — A mulher que você tanto ama, no final das contas, não passa de uma interesseira barata. Só precisei estalar os dedos e ela já correu para minha cama. Me diz aí, valeu mesmo a pena aquela garrafada?

Enrico nem conseguiu responder à provocação. Ficou ali parado, imóvel, me encarando como se ainda procurasse algum sinal da mulher que um dia conheceu.

Foi naquele momento que vendi minha alma de vez. Forcei uma risada debochada e me inclinei contra Lucas, passando as mãos pelo seu pescoço numa. Com um sorriso que escondia meu coração partido, falei alto o suficiente para que Enrico ouvisse cada palavra:

— Você sempre levou tudo a sério demais, Enrico. Relaxa um pouco, faz bem para saúde.

O que aconteceu depois daquela noite terrível virou um borrão na minha memória. A única coisa que ficou gravada com clareza foram as últimas palavras que Enrico me disse antes de assinar o contrato, com uma voz chia de uma promessa sombria:

— Carina, dessa vida, é até a morte.

Depois daquele momento, Enrico mudou completamente. O homem carinhoso que conheci sumiu, dando lugar a alguém obcecado pelo trabalho. Em poucos anos, movido por uma determinação quase autodestrutiva, conseguiu transformar sua pequena empresa à beira da falência em um verdadeiro império.

Enrico estava no topo do mundo empresarial, respeitado e temido por todos que o cercam. E eu me tornei apenas a maior vergonha e decepção da sua vida.
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Dalva Ramos
uma droga, comprei e não liberou enganado os leitores
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