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Capítulo 0003

Author: Dama do Silêncio
Os três dias de prazo que Enrico me deu se esgotaram e, como era de se esperar, não apareci conforme sua exigência. Foi assim que ele acabou voltando à minha casa, determinado a me encontrar.

Ao vê-lo chegar, João correu animado ao redor do pai, soltando risadinhas de alegria enquanto tentava enfiar sua pequena mão transparente na de Enrico.

— Mamãe! Consegui segurar a mão do papai finalmente! — Exclamou o pequeno, radiante.

Senti meus olhos arderem instantaneamente diante daquela cena, mas me esforcei para forçar um sorriso encorajador para meu filho.

Durante todos esses anos, Enrico sempre acreditou que João era filho de Lucas, e por causa dessa convicção inabalável, nunca deu valor ao menino, sequer lhe dando um único olhar.

Mesmo quando fizemos um teste de DNA que comprovou claramente que João era seu filho biológico, Enrico se recusou a aceitar a verdade. Para ele, eu simplesmente havia subornado alguém para falsificar os resultados do exame. Naquela noite, perdi completamente sua confiança, de forma irreparável.

Cheguei a pedir o divórcio, desesperada para acabar com aquela relação que se tornava cada vez mais doentia, mas Enrico apenas me lançou um olhar gélido e sentenciou:

— Carina, você me deve essa vida inteira. Eu avisei que iríamos até o fim. Quer divórcio? Pode esquecer.

A partir daquele momento, ele passou a trazer diferentes mulheres para casa deliberadamente, fazendo questão de exibir seus casos amorosos bem debaixo do meu nariz. E sempre que eu tentava confrontá-lo sobre aquela situação humilhante, ele me encarava com profundo desprezo.

— Antes de abrir essa boca para reclamar de qualquer coisa, lembra como você se sujou na cama do Lucas. — Ele disparava com veneno na voz.

E assim seguimos por anos, presos naquele relacionamento tóxico, até que Felícia voltou a aparecer. Depois que ela surgiu, todas as outras mulheres desapareceram da vida de Enrico. Os dois estavam sempre juntos, inseparáveis, e até mesmo os parceiros de negócios dele já começaram a se referir a ela como "Sra. Santos".

...

Minha mente voltou para o presente.

Enrico permanecia parado em frente ao portão, com o celular na mão, tentando me ligar insistentemente.

Do outro lado da linha, porém, só se ouvia a resposta automática da operadora:

"O número chamado não existe ou encontra desligado."

Ele franziu o cenho visivelmente contrariado e abriu meu WhatsApp. A última mensagem que havia me enviado datava de exatamente três dias atrás: [Apareça logo para fazer o teste de compatibilidade com Felícia.]

Mensagem essa que deixei sem resposta.

Seus dedos deslizaram impacientes pela tela até abrir meu perfil, e então, ele congelou subitamente. Minha foto de perfil era uma imagem de João, com apenas dois aninhos, confortavelmente aninhava no braço de Enrico. Eu havia tirado aquela foto escondida, num raro momento de proximidade entre os dois. Naquele instante, achei a cena comovente e bonita, mas logo em seguida Enrico empurrou João para longe.

Os olhos de Enrico permaneceram fixos naquela imagem por um longo tempo. Finalmente, voltou para nossa conversa e digitou com raiva: [Carina, você pediu por isso. O prazo acabou. A partir de hoje, não mando mais um centavo para você.]

Ele esperou alguns instantes, encarando a tela na expectativa de ver os tiques azuis ou alguma resposta, mas nada aconteceu. O silêncio apenas intensificou sua fúria crescente até que, num acesso de raiva, ergueu a perna e desferiu um violento chute contra a porta.

João tremeu assustado com o barulho metálico. O garotinho olhou para mim com os lábios trêmulos e os olhos já marejados de lágrimas antes de desabar em um choro angustiado.

— Mamãe, por que o papai está bravo desse jeito? Estou com muito medo.

Abracei-o com força, passando com carinho a mão por seus cabelos finos enquanto tentava acalmá-lo.

— Está tudo bem, meu amor. O papai não pode te machucar, eu prometo. Olha ali, está vendo aquelas borboletas coloridas? — Apontei, tentando desviar sua atenção. — Quer ir brincar com elas?

João fungou algumas vezes, ainda abalado, mas quando virou sua cabecinha na direção indicada e avistou as borboletas dançando no ar, um pequeno sorriso começou a se formar em seu rostinho. Com determinação infantil, passou os bracinhos pelo rosto para secar as lágrimas e saiu correndo atrás dos insetos coloridos.

Do outro lado, Enrico desferiu outro chute violento contra a porta, fazendo o metal ranger. Depois de mais algumas tentativas frustradas, visivelmente no limite de sua paciência.

Pressionou os dedos contra as têmporas, e então, num movimento decidido, pegou de novo o celular e discou um número.

— Alô, é da empresa de chaveiros?
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