Share

Capítulo 0004

Author: Dama do Silêncio
Passada meia hora após a ligação para o chaveiro, Enrico finalmente conseguiu empurrar a velha porta enferrujada que, coberta por densas teias de aranha, rangeu pesadamente ao se abrir.

Ao adentrar o terreno, ele se deparou com um quintal completamente abandonado, onde a grama crescia tanto que chegava até sua cintura, dificultando sua passagem.

Ele hesitou, parando bem no meio daquele espaço que parecia esquecido pelo tempo. Aquele cenário de abandono em nada se parecia com o lugar que guardava em suas lembranças. Já estivera ali duas vezes antes e, naquela época, o quintal era mantido com extremo cuidado e capricho.

A primeira visita tinha sido quando ele me trouxe e o filho.

João havia acabado de completar dois anos quando recebeu o diagnóstico devastador de insuficiência renal crônica, um problema congênito que impediu seus rins de se desenvolverem adequadamente.

Na ocasião, incapaz de aceitar o menino, Enrico o desprezou completamente, chegando a chamá-lo de "amaldiçoado", e decidiu nos mandar para aquela casa isolada no interior, longe de tudo e todos.

Todo mês, depositava 20 mil reais, quantia que mal dava para cobrir o tratamento de diálise de João e as despesas mais básicas da família.

Sua segunda visita aconteceu quando veio exigir que me doasse medula óssea para Felícia.

Se suas memórias não o traíam, Enrico sabia muito bem que eu sempre cuidava com esmero daquele lugar. O quintal costumava ser repleto de hortênsias e rosas coloridas, e eu mesma havia construído um pequeno balanço para o filho.

Agora, porém, tudo ali parecia completamente morto e abandonado.

Enquanto ainda tentava processar aquela cena desoladora, seu telefone tocou de novo. Era Felícia, com uma voz que soava ainda mais frágil do que na última vez que conversaram.

— Enrico, você conseguiu encontrar a Carina? — Ela perguntou ela com esperança. — Ela vai fazer o teste de compatibilidade hoje?

— Não se preocupe com isso agora. — Respondeu ele, forçando um tom confiante. — Vou resolver tudo. Você só precisa continuar seguindo as orientações dos médicos.

Do outro lado da linha, Felícia tentou, sem sucesso, conter um soluço angustiado.

— Eu entendo se ela não quiser fazer a doação. — Ela murmurou com resignação. — Ela já me salvou uma vez. Seria puro egoísmo da minha parte pedir isso de novo. Se ela está se escondendo, não posso culpar ela.

As palavras dela pareciam confirmar a ideia de que eu havia fugido propositalmente para evitar ajudá-la.

Enrico ficou em silêncio por alguns segundos, absorvendo o peso daquela insinuação.

Mas, surpreendentemente, ele não saiu em defesa de Felícia como seria de se esperar.

— Não é nada disso. — Ele contestou com firmeza. — Ainda não consegui falar com ela. Provavelmente nem sabe que sua leucemia voltou. Como você espera que ela adivinhe o futuro e simplesmente desapareça antes?

Felícia pareceu se engasgar com a resposta inesperada.

— Enrico, você entendeu tudo errado. Não quis dizer isso. — Ela tentou explicar, mas foi rapidamente interrompida.

— Felícia, me escute com atenção. — Cortou ele, enquanto sua voz adquiria um tom gélido e calculista. — Enquanto Carina estiver viva, eu vou encontrar ela, custe o que custar. Mesmo que ela morra, eu deixarei que ela doe a medula óssea para você antes que ela morra.

Felícia pareceu soltar um suspiro de alívio antes que a ligação fosse encerrada.

Enrico permaneceu imóvel diante da porta da casa, a observando com intensidade. Apesar de não estar trancada, algo o impedia de girá-la e entrar. Se tivesse reunido a coragem necessária para cruzar aquele limiar, teria visto dois contornos macabros desenhados com giz branco no chão da sala, um de mim e outro do filho, os inconfundíveis vestígios deixados pela perícia policial após marcar a posição exata dos corpos.

Mas ele apenas ficou ali, em silêncio. Por fim, depois do que pareceu uma eternidade, deu meia-volta e deixou aquele pátio.

Ele comprou um cadeado novo da loja do chaveiro e trancou aquela porta.
Continue to read this book for free
Scan code to download App

Related chapters

  • Eu Já Estava Morta   Capítulo 0005

    Acabei de descobrir algo bem esquisito. Se ficássemos perto do Enrico, conseguiríamos sair daquele lugar onde estávamos presos há três longos anos. João já não aguentava mais ficar confinado e eu estava louca para levá-lo para passear.Quando finalmente saímos, o garoto parecia encantado, olhando tudo ao seu redor com aqueles olhos curiosos e soltando gritinhos de surpresa a cada novidade que via. Foi então que percebi a limitação. Não podíamos nos afastar muito de Enrico.Seguimos até a mansão dele, e João ficou completamente maravilhado com o luxo do lugar. Apesar de ter morado ali quando bebê, depois de tanto tempo não se lembrava de absolutamente nada. Enquanto ele corria pela casa toda, explorando cada cômodo como se fosse uma aventura, eu segui Enrico até o escritório.Do corredor, pude ouvir a conversa dele ao telefone.— Preciso que bloqueiem imediatamente o cartão de crédito vinculado à conta da Carina. — Ordenou ele com firmeza.Se Enrico prestasse um pouquinho mais de ate

  • Eu Já Estava Morta   Capítulo 0006

    Enrico agarrou as chaves do carro e saiu em disparada. Eu e João não tivemos escolha, fomos puxados com ele.Na correria, Enrico acabou esbarrando com força em um homem no saguão. Era Lucas. Reconheci-o na hora. Com o impacto, Lucas deu dois passos para trás e, ao se recompor, arregalou os olhos, surpreso com quem tinha acabado de encontrar.— Ora, ora... Se não é o grande magnata da Cidade do Sul em pessoa. — Lucas comentou com um tom irônico. — O que faz aqui a essa hora da noite, Sr. Enrico? E correndo desse jeito, como se estivesse fugindo do diabo?Enrico mal se deu ao trabalho de responder adequadamente, apenas murmurou um pedido de desculpas seco enquanto seguia direto para o elevador. Mas Lucas não era do tipo que deixava uma oportunidade passar. Ele o seguiu com interesse visível, acompanhando-o até a ala de hematologia.Quando chegamos ao quarto de Felícia, ela não estava lá, o que fez Enrico correr até o consultório do médico responsável. Foi só ao descobrir que não era n

  • Eu Já Estava Morta   Capítulo 0007

    O silêncio tomava conta do ambiente, quebrado apenas pelo som alegre de João brincando com um pequeno espírito que havia acabado de conhecer. Eu observava Enrico atentamente, curiosa para ver sua reação ao ouvir, mais uma vez, a notícia da minha morte saindo da boca de outra pessoa.Mas, assim como aconteceu quando Maria lhe contou, ele apenas franziu as sobrancelhas por um instante antes de abrir um sorriso cínico.— Quem diria... O Sr. Lucas ainda se preocupa tanto com minha esposa. — Ele comentou com desprezo. — Nem eu mesmo sei se ela está viva ou morta, mas você já decretou o óbito dela. Como é isso? Ela te contou pessoalmente? Ou será que, durante todos esses anos, vocês andaram se encontrando escondido? Esse joguinho é tão emocionante assim? Tanto faz. Ela sempre foi imunda. Nem quis tocar ela. Se quiser se divertir com ela, fique à vontade.Algo dentro de mim se despedaçou completamente. Minha garganta apertou, e se eu ainda fosse humana, provavelmente estaria chorando. Mas eu

  • Eu Já Estava Morta   Capítulo 0008

    Enrico bloqueou o cartão adicional esperando que eu ligasse desesperada, implorando por ajuda. Mas, em vez disso, o que chegou primeiro foi o relatório do detetive particular que ele havia contratado.O detetive enviou uma série de arquivos por e-mail. Entre eles, algumas capturas de tela de um portal de notícias local com uma manchete alarmante: "Chocante! Mãe e filho são encontrados mortos em casa dias após o falecimento."A reportagem era curta e não mencionava o nome da vila, apenas o da cidadezinha próxima. Mas a foto anexada não deixava dúvidas. Era exatamente da casa onde eu morava. Enrico a reconheceu imediatamente.Ele ficou paralisado diante da tela, encarando aquelas palavras com descrença. Ele se recusava a acreditar no que via. Com as mãos trêmulas, pegou o celular e tentou me ligar, mas recebeu a mensagem de número inexistente. Tentou pelo WhatsApp, mas ninguém respondeu.De repente, como se uma ideia assustadora o atingisse, abriu o aplicativo do banco e acessou o ger

  • Eu Já Estava Morta   Capítulo 0009

    Enrico desabou no sofá.Balançava a cabeça incessantemente, repetindo com voz embargada:— Não... Era impossível... Eu ainda nem tinha a perdoado... Como ela pôde morrer assim?Ri até as lágrimas escorrerem pelo meu rosto espectral.Então era por isso? Eu não podia partir daquele mundo porque ele, em sua arrogância, ainda não havia me concedido seu perdão?Com mãos trêmulas, ele pegou o celular do chão e abriu a galeria de fotos. Aquela única imagem... O único registro dele com nosso filho juntos. Enrico ficou olhando fixamente por um tempo que pareceu interminável, enquanto seus ombros começavam a tremer e lágrimas silenciosas caíam sobre a tela iluminada.De repente, ele se levantou num impulso e saiu de casa às pressas, quase correndo. As mãos ainda tremiam no volante enquanto dirigia. Pela segunda vez em poucos dias, estacionou em frente à casa onde eu e nosso filho morávamos. Em questão de dias, nos visitou mais vezes do que em todos os últimos anos juntos. Não sei se isso me cau

  • Eu Já Estava Morta   Capítulo 0010

    Naquela noite, Enrico não foi embora. Dormiu no mesmo quarto onde eu e nosso filho costumávamos dormir. Eu não conseguia entender o que se passava na cabeça dele. Durante anos jamais se importou conosco, e agora encenava esse papel de homem arrependido? Para quem?Na manhã seguinte, ele dirigiu até a cidade e voltou com várias ferramentas de jardinagem. Mal chegou, arregaçou as mangas e começou a batalhar contra o mato alto que dominava o pátio.Era pleno julho, o auge do verão do país. O sol castigava sem dó, e não havia nem um sopro de vento para aliviar o calor sufocante. Mesmo assim, ele seguiu cortando o matagal e podando as rosas e hortênsias que haviam crescido selvagemente, como se fosse imune àqueles quase 40 graus.Quando a sede apertava, tomava um gole da água mineral. Quando a fome chegava, mordia um pedaço do pão duro que comprara na cidade. Dentro da casa, ele limpou cada canto com uma atenção meticulosa, removendo camadas de pó e sujeira acumuladas por três longos ano

  • Eu Já Estava Morta   Capítulo 0011

    Felícia saiu com o rosto pálido, quase sem cor. Ela também parecia estar perdendo completamente a sanidade, alternando entre crises de choro e risos descontrolados.Enrico voltou para dentro de casa e começou a limpar com cuidado as urnas que continham minhas cinzas e as do nosso filho. Quase me esqueci de mencionar. Alguns dias atrás, ele foi ao crematório buscá-las. Estavam cobertas por uma espessa camada de poeira acumulada pelo tempo. Com um pano macio, foi removendo cada partícula de sujeira, como se estivesse cuidando de algo profundamente sagrado.Nos últimos dias, já não conseguia mais segurar nosso filho em meus braços etéreos. Ele finalmente estava livre das amarras terrenas e podia ir para onde quisesse. Mas eu ainda permanecia presa a Enrico e ao que havíamos deixado inacabado.Sabia que era hora de me despedir do meu pequeno.Naquela noite, depois de ele ter brincado o dia inteiro pelo quintal recém-cuidado, o envolvi com meus braços translúcidos. Lhe contei uma históri

  • Eu Já Estava Morta   Capítulo 0001

    Faz três anos que morri e, mesmo assim, eu e meu filho continuamos vagando como almas perdidas, presos por um apego forte demais ao mundo dos vivos para conseguirmos partir.Enquanto isso, meu marido, Enrico Santos, conseguiu escalar da mais completa miséria até o topo, se transformando num magnata admirado nos círculos empresariais. Eu o traí sem pensar duas vezes no pior momento da vida dele, e por isso ele me odeia com tanta intensidade que, se pudesse, me despedaçaria com as próprias mãos.Três anos atrás, mesmo ciente da minha fragilidade, ele me forçou a doar medula óssea para Felícia Mendes, sua amiga de infância. O procedimento era invasivo e, não sei se por erro na punção ou porque meu corpo já debilitado não suportou, acabei desenvolvendo uma infecção generalizada uma semana depois. A febre alta me consumiu até que perdesse a consciência e morresse sozinha em casa. João, meu filho de apenas três anos, não resistiu à fome e faleceu ao meu lado.Durante todo esse tempo, Enri

Latest chapter

  • Eu Já Estava Morta   Capítulo 0011

    Felícia saiu com o rosto pálido, quase sem cor. Ela também parecia estar perdendo completamente a sanidade, alternando entre crises de choro e risos descontrolados.Enrico voltou para dentro de casa e começou a limpar com cuidado as urnas que continham minhas cinzas e as do nosso filho. Quase me esqueci de mencionar. Alguns dias atrás, ele foi ao crematório buscá-las. Estavam cobertas por uma espessa camada de poeira acumulada pelo tempo. Com um pano macio, foi removendo cada partícula de sujeira, como se estivesse cuidando de algo profundamente sagrado.Nos últimos dias, já não conseguia mais segurar nosso filho em meus braços etéreos. Ele finalmente estava livre das amarras terrenas e podia ir para onde quisesse. Mas eu ainda permanecia presa a Enrico e ao que havíamos deixado inacabado.Sabia que era hora de me despedir do meu pequeno.Naquela noite, depois de ele ter brincado o dia inteiro pelo quintal recém-cuidado, o envolvi com meus braços translúcidos. Lhe contei uma históri

  • Eu Já Estava Morta   Capítulo 0010

    Naquela noite, Enrico não foi embora. Dormiu no mesmo quarto onde eu e nosso filho costumávamos dormir. Eu não conseguia entender o que se passava na cabeça dele. Durante anos jamais se importou conosco, e agora encenava esse papel de homem arrependido? Para quem?Na manhã seguinte, ele dirigiu até a cidade e voltou com várias ferramentas de jardinagem. Mal chegou, arregaçou as mangas e começou a batalhar contra o mato alto que dominava o pátio.Era pleno julho, o auge do verão do país. O sol castigava sem dó, e não havia nem um sopro de vento para aliviar o calor sufocante. Mesmo assim, ele seguiu cortando o matagal e podando as rosas e hortênsias que haviam crescido selvagemente, como se fosse imune àqueles quase 40 graus.Quando a sede apertava, tomava um gole da água mineral. Quando a fome chegava, mordia um pedaço do pão duro que comprara na cidade. Dentro da casa, ele limpou cada canto com uma atenção meticulosa, removendo camadas de pó e sujeira acumuladas por três longos ano

  • Eu Já Estava Morta   Capítulo 0009

    Enrico desabou no sofá.Balançava a cabeça incessantemente, repetindo com voz embargada:— Não... Era impossível... Eu ainda nem tinha a perdoado... Como ela pôde morrer assim?Ri até as lágrimas escorrerem pelo meu rosto espectral.Então era por isso? Eu não podia partir daquele mundo porque ele, em sua arrogância, ainda não havia me concedido seu perdão?Com mãos trêmulas, ele pegou o celular do chão e abriu a galeria de fotos. Aquela única imagem... O único registro dele com nosso filho juntos. Enrico ficou olhando fixamente por um tempo que pareceu interminável, enquanto seus ombros começavam a tremer e lágrimas silenciosas caíam sobre a tela iluminada.De repente, ele se levantou num impulso e saiu de casa às pressas, quase correndo. As mãos ainda tremiam no volante enquanto dirigia. Pela segunda vez em poucos dias, estacionou em frente à casa onde eu e nosso filho morávamos. Em questão de dias, nos visitou mais vezes do que em todos os últimos anos juntos. Não sei se isso me cau

  • Eu Já Estava Morta   Capítulo 0008

    Enrico bloqueou o cartão adicional esperando que eu ligasse desesperada, implorando por ajuda. Mas, em vez disso, o que chegou primeiro foi o relatório do detetive particular que ele havia contratado.O detetive enviou uma série de arquivos por e-mail. Entre eles, algumas capturas de tela de um portal de notícias local com uma manchete alarmante: "Chocante! Mãe e filho são encontrados mortos em casa dias após o falecimento."A reportagem era curta e não mencionava o nome da vila, apenas o da cidadezinha próxima. Mas a foto anexada não deixava dúvidas. Era exatamente da casa onde eu morava. Enrico a reconheceu imediatamente.Ele ficou paralisado diante da tela, encarando aquelas palavras com descrença. Ele se recusava a acreditar no que via. Com as mãos trêmulas, pegou o celular e tentou me ligar, mas recebeu a mensagem de número inexistente. Tentou pelo WhatsApp, mas ninguém respondeu.De repente, como se uma ideia assustadora o atingisse, abriu o aplicativo do banco e acessou o ger

  • Eu Já Estava Morta   Capítulo 0007

    O silêncio tomava conta do ambiente, quebrado apenas pelo som alegre de João brincando com um pequeno espírito que havia acabado de conhecer. Eu observava Enrico atentamente, curiosa para ver sua reação ao ouvir, mais uma vez, a notícia da minha morte saindo da boca de outra pessoa.Mas, assim como aconteceu quando Maria lhe contou, ele apenas franziu as sobrancelhas por um instante antes de abrir um sorriso cínico.— Quem diria... O Sr. Lucas ainda se preocupa tanto com minha esposa. — Ele comentou com desprezo. — Nem eu mesmo sei se ela está viva ou morta, mas você já decretou o óbito dela. Como é isso? Ela te contou pessoalmente? Ou será que, durante todos esses anos, vocês andaram se encontrando escondido? Esse joguinho é tão emocionante assim? Tanto faz. Ela sempre foi imunda. Nem quis tocar ela. Se quiser se divertir com ela, fique à vontade.Algo dentro de mim se despedaçou completamente. Minha garganta apertou, e se eu ainda fosse humana, provavelmente estaria chorando. Mas eu

  • Eu Já Estava Morta   Capítulo 0006

    Enrico agarrou as chaves do carro e saiu em disparada. Eu e João não tivemos escolha, fomos puxados com ele.Na correria, Enrico acabou esbarrando com força em um homem no saguão. Era Lucas. Reconheci-o na hora. Com o impacto, Lucas deu dois passos para trás e, ao se recompor, arregalou os olhos, surpreso com quem tinha acabado de encontrar.— Ora, ora... Se não é o grande magnata da Cidade do Sul em pessoa. — Lucas comentou com um tom irônico. — O que faz aqui a essa hora da noite, Sr. Enrico? E correndo desse jeito, como se estivesse fugindo do diabo?Enrico mal se deu ao trabalho de responder adequadamente, apenas murmurou um pedido de desculpas seco enquanto seguia direto para o elevador. Mas Lucas não era do tipo que deixava uma oportunidade passar. Ele o seguiu com interesse visível, acompanhando-o até a ala de hematologia.Quando chegamos ao quarto de Felícia, ela não estava lá, o que fez Enrico correr até o consultório do médico responsável. Foi só ao descobrir que não era n

  • Eu Já Estava Morta   Capítulo 0005

    Acabei de descobrir algo bem esquisito. Se ficássemos perto do Enrico, conseguiríamos sair daquele lugar onde estávamos presos há três longos anos. João já não aguentava mais ficar confinado e eu estava louca para levá-lo para passear.Quando finalmente saímos, o garoto parecia encantado, olhando tudo ao seu redor com aqueles olhos curiosos e soltando gritinhos de surpresa a cada novidade que via. Foi então que percebi a limitação. Não podíamos nos afastar muito de Enrico.Seguimos até a mansão dele, e João ficou completamente maravilhado com o luxo do lugar. Apesar de ter morado ali quando bebê, depois de tanto tempo não se lembrava de absolutamente nada. Enquanto ele corria pela casa toda, explorando cada cômodo como se fosse uma aventura, eu segui Enrico até o escritório.Do corredor, pude ouvir a conversa dele ao telefone.— Preciso que bloqueiem imediatamente o cartão de crédito vinculado à conta da Carina. — Ordenou ele com firmeza.Se Enrico prestasse um pouquinho mais de ate

  • Eu Já Estava Morta   Capítulo 0004

    Passada meia hora após a ligação para o chaveiro, Enrico finalmente conseguiu empurrar a velha porta enferrujada que, coberta por densas teias de aranha, rangeu pesadamente ao se abrir. Ao adentrar o terreno, ele se deparou com um quintal completamente abandonado, onde a grama crescia tanto que chegava até sua cintura, dificultando sua passagem.Ele hesitou, parando bem no meio daquele espaço que parecia esquecido pelo tempo. Aquele cenário de abandono em nada se parecia com o lugar que guardava em suas lembranças. Já estivera ali duas vezes antes e, naquela época, o quintal era mantido com extremo cuidado e capricho.A primeira visita tinha sido quando ele me trouxe e o filho. João havia acabado de completar dois anos quando recebeu o diagnóstico devastador de insuficiência renal crônica, um problema congênito que impediu seus rins de se desenvolverem adequadamente. Na ocasião, incapaz de aceitar o menino, Enrico o desprezou completamente, chegando a chamá-lo de "amaldiçoado", e de

  • Eu Já Estava Morta   Capítulo 0003

    Os três dias de prazo que Enrico me deu se esgotaram e, como era de se esperar, não apareci conforme sua exigência. Foi assim que ele acabou voltando à minha casa, determinado a me encontrar.Ao vê-lo chegar, João correu animado ao redor do pai, soltando risadinhas de alegria enquanto tentava enfiar sua pequena mão transparente na de Enrico.— Mamãe! Consegui segurar a mão do papai finalmente! — Exclamou o pequeno, radiante.Senti meus olhos arderem instantaneamente diante daquela cena, mas me esforcei para forçar um sorriso encorajador para meu filho. Durante todos esses anos, Enrico sempre acreditou que João era filho de Lucas, e por causa dessa convicção inabalável, nunca deu valor ao menino, sequer lhe dando um único olhar.Mesmo quando fizemos um teste de DNA que comprovou claramente que João era seu filho biológico, Enrico se recusou a aceitar a verdade. Para ele, eu simplesmente havia subornado alguém para falsificar os resultados do exame. Naquela noite, perdi completamente su

Explore and read good novels for free
Free access to a vast number of good novels on GoodNovel app. Download the books you like and read anywhere & anytime.
Read books for free on the app
SCAN CODE TO READ ON APP
DMCA.com Protection Status