Desespero, a palavra que usaria para determinar minha vida em milhares de situações.
Qualquer fio de esperança que percorria por minhas veias, havia secado lentamente causando dor e sofrimento, não somente para mim, mas também para meus irmãos.
Aquela luz no fim do túnel se apagou sem chances de se acender. Foi um ano tão amargo que nem o mel mais doce do mundo repararia os danos causados em nossas vidas.
Tudo começou numa linda tarde de início de inverno. Meus irmãos e eu resolvemos caminhar em volta da mansão e depois dar um mergulho no lago da família.
Ao observar cada árvore com meus olhos semicerrados, por causa do sol, era notável a vida e a alegria que transpareciam. O campo da propriedade era verde cercada de flores colorida.
Foram as melhores férias que alguém poderia ter. E eu não via a hora de poder montar no meu lindo cavalo!
Bom, eu ainda não tinha um, mas tinha certeza que meu pai me daria, pois eu o escutei falando ao telefone sobre alguma coisa relacionada a aniversário, presente e uma cela, e cá entre nós, que eu saiba, celas são para cavalos e meu aniversário estava chegando.
Minha animação para as férias de inverno era imensa, e eu não desejava uma grande festa de quinze anos com vestidos e uma valsa com o príncipe. A única coisa que eu realmente queria, era acampar em volta de uma fogueira com a minha família, e meu cavalo.
Depois de uma longa caminhada, brincamos de pega-pega, meu irmão do meio gritou fazendo todo mundo sair correndo.
- O último a chegar é mulher do padre! – Não pensamos duas vezes, minha irmã caçula e eu saímos correndo pela plataforma de madeira e pulamos no lago.
- Crianças, hora de almoçar. – Ouvimos mamãe gritar da porta do jardim.
- Vamos. – Ordenei. – Vocês sabem o que aconteceu da última vez né? – Da última vez ela nos castigou fazendo lavar toda a louça.
Apesar de podermos contratar qualquer serviço com nosso dinheiro, o único serviço que nunca poderia ser contrato, era o conhecimento, e isso fazia com que estudássemos muito, pois sabíamos que a sabedoria, dinheiro nenhum poderia comprar.
- Me ajuda Nãna. – Eu sei nome de cachorro, mas eu não resistia minha irmãzinha pedindo minha ajuda.
Ela sabia nadar, todos nós sabíamos, mas ela amava fazer um charminho. E aquele cabelo dividido em duas chuquinhas, ficava a coisa mais linda, sem contar o tutu vermelho que ela usava.
Desde sempre, mamãe e papai nos incentivavam a fazer muitas coisas, como nadar, correr, cantar, aprender outros idiomas e fazer coisas que outras pessoas não eram acostumadas a fazer. Assim, eu quis aprender a cavalgar, tudo bem que eu não tinha meu próprio cavalo, mas eu estava esperançosa.
Thomas preferiu esgrima e Sophie quis ballet. Eu me orgulhava deles, Thomas tinha sete anos e Sophie tinha cinco. Éramos bem de situação e estudávamos em escola pública, pois como meus pais sempre disseram, "a escola pública cria o nosso caráter", pois assim não somos melhores do que ninguém, mas utilizamos as mesmas oportunidades de estudo. Deste modo, eu me esforçaria ao máximo para entrar na faculdade de Direito, sendo uma grande advogada, assim, como minha mãe e meu pai.
Faltavam exatos dois anos e meio para começar minha vida de universitária. Meu sonho logo se realizaria.
Durante o jantar conversávamos sobre nossas vidas e nosso futuro.
A nossa frente havia uma mesa enorme, onde foi centralizada uma panelada de macorronada com queijo. Meu preferido. E todos sabiam!
- Papai, o que o senhor vai me dar de presente de aniversário? – Perguntou Sophie com aqueles olhos claros brilhando esperançosa, enquanto batucava seus dedos na mesa. Thomas revirou os olhos ao bebericar seu suco.
- Querida, seu aniversário é somente daqui há três meses. – Ele riu e colocou uma garfada de macarrão na boca.
- Ah. – Sophie fez uma carinha triste, inchando aquelas bochechas gordinha ao fazer biquinho.
- E o que o senhor vai dar para Nancy? – Antes que papai pudesse responder, mamãe entrou na sala de jantar com um bolo de aniversário decorado com quinze velinhas cor-de-rosa por cima do chantilly azul.
Logo o bolo estava a minha frente, a sala de jantar pouco iluminada, os olhos de meus irmãos brilhando em êxtase, papai sorriu batendo palmas e mamãe esperava ansiosa para cortar o bolo. Com certeza aquele foi um dia incrível.
Ao fechar os olhos, desejei que aquele inverno fosse inesquecível, assoprei as velinhas e comi o primeiro pedaço de bolo, claro que eu não saberia para quem dar, então fiz esse favor à sociedade. De nada!
- Obrigada por tudo. – Sorri apertando a mão de mamãe com leveza.
- De nada meu amor. – Ela sorriu de volta ao passar a mão em minha cabeça.
- Hora do meu presente. Querida, pega a venda. – Disse meu pai ansioso.
- Venda? – Perguntei hesitante, quando me dei conta meus olhos estavam vendados à espera do presente. Caminhamos por um curto tempo, podendo ouvir o balançar as árvores, então percebi que estávamos no jardim perto do lago.
- Três. Dois. – Meus pais contavam em contagem regressiva. – Um. – Quando a venda foi retirada, meus olhos não podiam acreditar no que via.
A ansiedade passava por todo meu corpo deixando meu coração acelerado de empolgação e alegria.
E mais uma vez eu estava certa. Meu lindo cavalo de presente de aniversário a minha frente, a minha espera. Meu queixo caiu não acreditando no que via.
Meu próprio cavalo!
- Não acredito. Obrigada. Obrigada. Obrigada. – Corri abraçando meu cavalo. Ele era preto de pelo macio e grandes bolas de gude no lugar de seus olhos. O acaricie com uma alegria extrema. – Eu não fazia ideia! – Não me julguem.
- Eu preferia uma boneca que anda e fala. – Resmungou Sophie sentando na grama brincando com uma boneca de pano.
- Ele é bem grande. – Comentou Thomas hesitante. – Quero cavalgar! – Sorriu colocando os braços para trás balançando seu corpo num movimento de vai e vem.
- Nem pensar. Eu vou primeiro. – Fiz impulso para subir nele e escorreguei, foi então que senti a mão de meu pai me ajudando a subir.
Tudo bem que isso não era muito comum, mas eles permitiram que eu aprendesse a cavalgar, o que seria óbvio me deixarem subir nele sem pedir permissão, ou então não teria dado ele pra mim de aniversário!
A vista de cima era tão diferente, tudo a minha volta parecia tão pequeno, inclusive Thomas, que se achava o incrível Hulk! É mole?
- Não vá se machucar. – Revirei os olhos para mamãe, mas sorri em seguida para papai que usava uma camisa azul e uma bermuda jeans, sem contar que estava descalço.
- Mãe... – Ela levantou as mãos dando um passo para trás.
Cara, eu não acreditava que tinha meu próprio cavalo.
- Podemos levá-lo para casa? – Perguntou Thomas fazendo beicinho.
- Claro que não. Onde você quer colocá-lo? No seu nariz? – Mamãe bateu o dedo indicador na ponta do nariz de Thomas, no qual fez uma careta bem engraçada.
Quase não estou consigo lidar com meus pensamentos por causa da situação, então se não entenderem o resto da história... Apenas continuem lendo.
- Posso dar uma volta? – Perguntei esperançosa.
Já disse, não me julguem!
- Só não vá muito longe...
Não consegui esperar meu pai terminar de falar e bati os pés segurando a rédea. O cavalo começou a cavalgar de devagar acelerando o passo em seguida.
Segurei com firmeza para não cair. Quando percebi que estávamos indo longe demais, puxei a rédea para trás o fazendo parar.
- Calma, calma. – Acariciei seu pelo para que não se assustasse. Quando meus olhos circularam a propriedade, automaticamente franzi o cenho apreensiva.
Ouvi um barulho vindo das árvores que cercava o local, quase uma floresta para ser mais exata. Aproximei-me lentamente puxando a rédea para que ele me acompanhasse. Vi um vulto passar correndo por meus olhos, onde pude ouvir passos de galhos e folhas secas se quebrando, parecia estar se aproximando.
Olhei para todos os lados e não vi ninguém, hesitante decidi voltar para minha família.
- Sério. Esse é o melhor presente que alguém poderia me dar. – Abracei meu pai e depois minha mãe, onde retribuíram com todo amor.
- Logo vai escurecer, melhor entrarmos. – Mamãe pegou Sophie e Thomas e os levou para dentro. Papai me ajudou a colocar o cavalo no estábulo.
Sim, tínhamos um estábulo, então imagine o tamanho do lugar.
- Obrigada. – Agradeci mais uma vez sorrindo ao passar a escovinha nos pelos escuros do cavalo, que não recuou nenhuma única vez.
- Acho que ele gostou de você. – Sorri sem dizer nada. – Já decidiu um nome? – Papai fechou e trancou a portinha para que ele não fugisse.
- Pipoca. – Papai caiu na gargalhada batendo as mãos no joelho, me obrigando a franzir a testa.
- É sério? – Ergui uma sobrancelha. – Um cavalo desse porte e você vai colocar nome de comida?
- Ou Max. – Um sorriso amável surgiu em seus lábios imediatamente. E eu sabia que tinha escolhido o nome perfeito para ele.
Conversamos durante nossa caminhada de volta. Conversamos quer dizer que eu falei e ele escutou sem me interromper, o que me deixou mais empolgada para continuar a falar.
- Ainda bem que voltaram. Ouvi no rádio que vai chover bastante essa noite. Acho melhor dormirmos na sala, também procurar as velas e lanternas. Não quero ninguém procurando por algo nessa casa enorme caso a energia acabe.
- Vai chover? O tempo está tão bonito. – Minha mãe deu aquele olhar de preocupação, aquele olhar de advogada que nunca estava errada, nem mesmo se estivesse errada, ela não estaria errada.
- Eu ajudo. – Ofereci subindo as escadas de dois em dois degraus na frente.
Eu e meu pai procuramos fósforos, velas, lanternas e pilhas. E tudo que fosse necessário para sobrevivermos à noite fria.Já minha mãe se preocupou em arranjar cobertores, travesseiros e qualquer coisa que fosse para nos deixar confortáveis e aconchegantes.
Obarulho do meu pai cortando lenha me acordou, Thomas e Sophie dormiam e minha mãe fazia o café da manhã. A chuva tinha cessado, mas os estragos estavam por todos os lados.- Parece que passou um furacão. – Comentei coçando o olho ao sentar na banqueta do balcão.
Thomas colocou os fones de ouvido. Sophie adormeceu ao nosso lado. Minha mãe apoiou sua mão no ombro de meu pai, parecia que isso o acalmava. E eu voltei a ver a paisagem mais maravilhosa do mundo pela janela.Meus amigos diziam que eu era muito otimista sobre todas as coisas que me cercava e que às vezes isso chegava a ser irritante. Mas sabe de uma coisa? Eunãome importava! Meu mundo era colorido ao extremo e n&at
Acordei ofegante em meu quarto sem vida, no orfanato da Senhorita Bennet. Desejei que ao menos uma única vez, eu não acordasse encarando aquelas paredes mofadas.Minhas mãos se encharcaram de suor quando limpei minha testa. Acendi a luz do abajur podendo ver Thomas e Sophie dormindo. Ver o peito
Três anos depois cá estava eu. Deitada em minha cama dura, em nosso quarto frio e sem vida. Longos três anos se passaram. Nunca estudei tanto igual eu estudava nesses últimos meses. Fiz uma promessa a mim mesma que me mostraria capaz de lutar pelos meus irmãos e pela minha vida.Era ano de vestibular, minha herança estava presa e eu não sabia nem por onde começar. Se eu passasse
- Vou tentar um vestibular. Estudo há meses para isso. Tenho dezessete anos e pela lei ainda estou sob a guarda dela. E parece que ela não quer que eu estude... – Torci a boca pensando numa estratégia melhor. - Se ela descobrir... – Falou se levantando.
A hora corria e eu não tinha mais tempo, corri para fazer o vestibular. Suei feito louca, meu coração estava disparado e meu estômago revirava. Eu só tinha essaoportunidade e não desperdiçaria sendo reprovada.Quando eu voltasse ao orfanato me daria muito mal e eu não tinha muitas vidas para desperdiçar. Não me importaria com a punição, mas as vidas dos meus irm&atild
Odia do encontro com Mason chegou. Sentada na lanchonete esperei por ele. - Temos dez minutos. – Disse ao sentar-se à minha frente de cara emburrada. – O que houve com seu rosto? – Ele levantou meu queixo. O puxei para que não tirasse meu foco.
Abri os olhos com dificuldade, demorou bastante até eu conseguir me estabilizar. Parecia estar num quarto de hospital, era branco e a luminosidade do sol cegavam meus olhos. Um homem e duas mulheres adentraram no quarto, uma delas fechou a cortina da janela e outra verificou minha temperatura. - Vejo que ocorreu tudo bem na cirurgia. – O homem de cabelo perfeito começou a tagarelar, não entendi metade do que disse. – Você foi atingida por duas balas, por sorte nenhuma ficou alojada em seu corpo. Vai se sentir desconfortável com a medicação, tontura e cansaço. Recomendo que fique de repouso o resto do mês. – Deitei minha cabeça no travesseiro, eu não queria ouvir nada do que diziam.
Por favor, não me abandone! Vendo Nancy ser atingida por um tiro, tirei forças de onde não tinha pulando em cima de Mason, no qual me acertou com um soco na cara e outro no estômago. Mason era bem mais forte do que se esperava. Busquei os olhos de Bennet que me evitava ao máximo que podia. - Tia Bennet! – Gritei quando Mason pousava violentamente outro soco em minha cara. - Chega Mason! – Gritou Bennet em meio à chuva forte. - Chega? Esse moleque vai estragar tudo. – Mason se virou bruscamente cerrando os dentes para Bennet, no
Mason nos obrigou a sair para o jardim apontando aquela coisa pesada para nós. Bennet seguia seus passos em silêncio, apenas fazendo o que Mason mandava. - Para trás. – O vento bagunçava meus pensamentos. Mason obrigou Logan a ficar na casa, ou cravaria uma bala bem no meu peito. Uma parte de mim se sentiu lisonjeada, outra terrivelmente assustada. - Não vamos chegar a lugar algum desse jeito. – Falei alto para que me ouvisse, já que o barulho dos trovões atrapalhava nosso diálogo. Bennet não estava tão calma quanto Mason. Posso não ter morrido há três anos, mas eu já e
Trânsito e mais trânsito, chegamos ao local que me causava arrepios pelo corpo todo. Segurei firme a mão de Logan tapando a respiração, parecia que aquele caminho não tinha fim. Não me admiraria se Mason chegasse primeiro que nós na mansão. Nancy, pensamento positivo. Nada vai mudar se vocês forem idiotas e perderem essa chance de provar que tal testamento é inválido! - Não sei quanto tempo mais posso aguentar. – Choraminguei. - Já está no fim, estamos juntos lembra? – Afirmou apertando minha mão.&n
No dia seguinte deitada na cama de Logan, o observei colocar uma camisa branca social por dentro da calça prendendo com o cinto de couro preto, sorri vendo tal cena, agarrei seu cobertor até a altura de meus olhos. Em seguida passou minha gravata vermelha preferida em volta de seu pescoço dando um nó. Pelo reflexo do espelho, Logan me pegou o observando me fazendo corar de imediato. Escondi meu rosto entre as cobertas tentando passar despercebida. - Você fica linda quando está envergonhada. – Minhas bochechas esquentaram a ponto de parecer que eu estava com febre. - E você vai se atrasar. – Afirmei indo ao banheiro. -
Logan comprou os ingressos do filme, para minha sorte era filme antigo. Um thriller chamado Psicose, amava aquele filme desde que meu pai havia me apresentado. - Vai amar o filme. – Falei sorrindo ao apertar seu braço quando ele se sentou ao meu lado segurando um balde de pipoca e dois refrigerantes. Peguei de sua mão antes que caísse tudo em cima de mim. - Não gosto de terror. – Afirmou tomando um gole de seu refrigerante. - Não é terror. É clássico. – Assegurei enfiando pipoca em minha boca. - Pessoas morrem? – Lo
No dia seguinte não foi diferente do anterior, trabalho e mais trabalho onde isso se repetiu pelas próximas duas semanas. O Juiz Peterson não cedeu em sua decisão, nem sequer me ofereceu uma colher de chá. Logan e eu nos víamos quando podíamos, ele prometeu não sumir de repente e até sugeriu para que eu conhecesse sua mãe, mas a ideia de dar de cara com Bennet me assustou, e resolvemos esperar mais um pouco antes desse encontro. E detalhe, ele não comentava sobre o que ocorria na MC3, nem mesmo migalhas, se falavam de mim ou se sentiam minha falta. - Estou desesperada, o ano está acabando junto com meu prazo, e eu não sei o que fazer. Literalmente! – Eu
Você implora por silêncio, mas esquece que o barulho está dentro de você. O pensamento mais sábio que havia tido desde que fizera dezoito anos. N era a melhor companhia que eu consegui arranjar em anos. E olha que ela só apareceu há poucos dias! Ótimo, tudo o que precisava era alguns dias para procurar um emprego novo que pague minhas contas e garanta o futuro dos meus irmãos. Não poderia ficar melhor. Beck corria pelo quarto ao se arrumar, parecia ir para um lugar importante, já que nunca corria. Passou pela porta acenando me deixando outra vez sozinha no quarto.&nbs
Nós percebemos que as coisas mudam, quando algo muito importante para de ser importante a ponto de não nos importarmos mais. Nem em um milhão de anos imaginaria Logan me levar aquele lugar novamente. Estávamos de volta ao mirante, onde tinha visto Logan chorar pela primeira e última vez. - Acha que não posso ser feliz, por que meu pai morreu? Que não posso aproveitar a vida, por que minha mãe está ficando doida? Ou ver minha tia, uma pessoa que eu pensava que conhecia, se tornar alguém cruel? Talvez eu tenha culpa ou não, não tem como saber. E se eu tiver, eu não quero essa culpa! – Logan disparou a falar assim que saímos do car