Capítulo 1

São Luminário.

A mansão da família Oliveira estava resplandecente, iluminada por uma profusão de luzes que refletiam o brilho de uma noite aparentemente perfeita.

Convidados iam e vinham, e as felicitações ecoavam por todos os lados.

— Parabéns, Presidente Valentim! Deve ter sido uma jornada e tanto reencontrar sua filha biológica!

— Valentim, meus parabéns!

Com um sorriso tranquilo no rosto, Valentim estava prestes a abrir a boca para responder, quando...

Um estrondo ensurdecedor reverberou por todo o salão de festas.

Uma jovem permanecia imóvel ao lado da torre de champanhe. Suas mãos delgadas e tensas seguravam com força a toalha vermelha que acabara de puxar.

A imponente montanha de taças de cristal desmoronou em cascata, espalhando cacos por todo o chão e produzindo um som caótico que fez todos os olhares se voltarem para ela.

— Selene! — O rosto de Valentim imediatamente se fechou em uma expressão sombria. — O que você pensa que está fazendo?

Ao ouvirem o nome "Selene", os convidados começaram a cochichar em voz baixa:

— Você ouviu falar? Dizem que encontraram a Selene há quatro anos, mas a família Oliveira decidiu escondê-la para não colocar a Anabela em uma posição difícil. Divulgaram que ela era apenas filha de uma empregada.

— Só estão assumindo a verdade agora porque o Grupo Oliveira está à beira da falência e Valentim precisa de uma aliança matrimonial com a poderosa família Rocha de Valerópolis. Caso contrário, ainda estariam fingindo!

— Que situação lamentável...

— Lamentável? Não diga besteira! Se Selene não se casar, você acha que vão mandar a Anabela no lugar dela? Selene não foi criada pela família Oliveira! Que laços profundos ela poderia ter, comparados aos de Anabela, que está aqui há mais de vinte anos? Além disso, reparou? O olho esquerdo dela é cego.

— E isso não é tudo. Enquanto estava fora, dizem que ela se envolveu com um qualquer, um vagabundo. Acabou sendo enganada, perdeu a virgindade e ainda doou uma córnea para ele!

— Essa menina de rua... Mesmo tendo o sangue dos Oliveira, nunca deixará de ser uma bastarda indesejada.

Selene permanecia em meio aos cacos de vidro espalhados pelo chão, suportando os olhares cheios de desprezo e aversão que a cercavam.

— Ouvi dizer que todos vieram celebrar o reencontro da família Oliveira com sua filha biológica, não é mesmo? — Sua voz cortou o salão, enquanto ela jogava com força a toalha vermelha no chão.

Seus olhos brilhavam com um misto de desafio e rebeldia. Ela parecia a mesma de quatro anos atrás, quando fora levada à força para a casa dos Oliveira.

— Filha da família Oliveira? Quem quiser esse título, pode ficar com ele, porque eu não dou a mínima!

O olhar de Valentim se escureceu imediatamente.

— Selene! Você perdeu o juízo?

— Perdi o juízo? — Selene riu alto, uma risada amarga que parecia ressoar em cada canto do salão.

Mas, enquanto ria, seus olhos transbordavam uma tristeza gelada e um desespero sem fim.

— Os loucos aqui são vocês! Quatro anos! Vocês me esconderam por quatro anos inteiros, sem sequer me darem um nome! Agora que a empresa está prestes a falir, de repente resolveram se lembrar de mim? O patriarca da família Rocha tem cinquenta e cinco anos! Ele é trinta e seis anos mais velho do que eu! Sua esposa anterior morreu há apenas um mês... mas já era a quarta mulher a morrer naquela casa! Isso aqui é uma festa de reencontro ou o meu julgamento de execução?

Maristela Rocha, que observava o comportamento descontrolado de Selene com frieza, se aproximou do mordomo. Sua voz baixa e cortante mal disfarçava a fúria:

— Tire ela daqui agora.

O mordomo avançou imediatamente, tentando segurar Selene para retirá-la do salão.

— Eu não vou! — Selene o empurrou com força e encarou Maristela, Valentim e os outros presentes, seus olhos faiscando. — Eu não aceito esse casamento!

Ao ouvir isso, Álvaro, o primogênito da família Oliveira, que estava impecavelmente vestido em um terno preto, teve uma leve mudança na expressão. Segurando uma taça de champanhe em uma mão e mantendo a outra casualmente no bolso, ele caminhou em direção a Selene. Seu olhar frio e penetrante parecia despir sua alma.

— O que você quer dizer com isso? Não aceita? Essa não é uma decisão que cabe a você.

O segundo irmão, Teodoro, franziu as sobrancelhas e interveio:

— Se casar é a única maneira de salvar a empresa da família nesta crise.

— Selene, casar com a família Rocha é uma bênção para você. — Otávio, o terceiro irmão, torceu os lábios em um sorriso cínico. — Não seja ingrata.

Selene olhou para os "irmãos" à sua frente, e suas mãos começaram a tremer visivelmente.

Por que todos a estavam culpando? O que ela havia feito para merecer isso?

Foi então que Anabela, a suposta irmã perfeita, deu alguns passos apressados na direção dela. Pegando a mão de Selene com firmeza, ela a encarou com um olhar que parecia transbordar de preocupação.

— Irmã, se você realmente não quiser se casar com a família Rocha, eu posso fazer isso no seu lugar. Mas, por favor, pare com isso, está bem? Estou disposta a me sacrificar por você.

Como uma "heroína" altruísta, Anabela se colocou no centro da cena, assumindo para si a responsabilidade de sustentar a "metade desmoronada do céu" da família.

Esse movimento também tinha outro nome: "recuar para avançar".

Como era de se esperar, assim que Anabela terminou de falar, os convidados ao redor começaram a comentar:

— Anabela é uma jovem tão sensata!

— Selene, por que você não pode ser como Anabela?

Selene lançou um olhar frio para Anabela.

Se ela não tivesse doado sua córnea para Anabela...

Se Anabela não tivesse conspirado com o médico responsável pela cirurgia para provocar um "acidente"...

Ela nunca teria ficado cega.

Se não fosse pelas inúmeras vezes em que Anabela a incriminou e difamou, sua reputação jamais teria sido destruída!

— Anabela! — O olhar de Selene de repente se tornou gélido enquanto suas mãos agarravam com força o pescoço de Anabela. — Por que você mentiu para mim? Por que, mesmo tendo encontrado outro doador compatível, ainda me obrigou a doar minha córnea? Por que planejou tudo isso? Você pode me odiar, mas por que teve que me enganar? Por que me manipular? Me diga, por quê?!

— Anabela! — Valentim e Isolda correram para separar Selene.

Álvaro ordenou com frieza:

— Solte minha irmã agora!

Teodoro tentou puxar as mãos de Selene.

— Se algo acontecer com Anabela, você vai pagar caro por isso!

Otávio, por sua vez, deu um chute forte em Selene.

— Solte ela imediatamente!

A confusão se espalhou rapidamente. Os empurrões, os gritos, as ameaças. Tudo parecia fora de controle.

Mas Selene, com uma expressão sombria e resoluta, apertava ainda mais o pescoço de Anabela, se recusando a soltá-la.

De repente, um som seco ecoou pelo salão. Algo duro e pesado atingiu o crânio de Selene.

Suas mãos perderam a força instantaneamente. Ela largou Anabela e caiu no chão, sem forças, mergulhada em uma poça de sangue.

Os irmãos correram para Anabela.

— Anabela, você está bem?

— Me deixe ver, você está machucada?

Evaristo, pálido como um fantasma, permanecia imóvel, segurando um objeto de pedra ensanguentado em suas mãos. Ele gaguejava, incrédulo:

— O q-quê... o que a gente faz? Acho que Selene... morreu.

Ele só queria que Selene soltasse Anabela. Ele não queria matá-la...

Isolda olhou para o corpo imóvel de Selene e franziu levemente a testa.

— Se ela morreu, a conexão com a família Rocha não poderá mais ser usada.

Valentim, no entanto, falou com tranquilidade:

— Não se preocupe, Evaristo. Foi legítima defesa. Essa garota estava fora de si. Se ela não tivesse morrido, Anabela teria sido estrangulada até a morte por ela.

Anabela, enquanto ouvia as palavras de seu pai, abaixou levemente a cabeça, reprimindo um sorriso que ameaçava surgir.

Selene estava morta. Finalmente, ninguém mais poderia ameaçar sua posição como a "filha" da família Oliveira.

De repente, Anabela começou a chorar desesperadamente.

— A culpa é minha! Tudo isso aconteceu por minha causa... Me desculpe, irmã...

Álvaro respondeu em tom seco:

— Anabela, isso não foi culpa sua. Não se culpe.

Teodoro passou a mão pelo cabelo de Anabela e suspirou:

— Você é boa demais, Anabela.

Otávio, com desdém, complementou.

— Ela estava tentando te matar. O que esperava que fizéssemos? Ficar parados?

Enquanto todos consolavam Anabela, ninguém percebeu que Selene ainda estava viva.

Sua consciência, mesmo fraca, insistia em resistir.

Deitada no chão frio, Selene via seu pai, sua mãe e seus irmãos ao redor de Anabela, consolando ela, protegendo ela.

Uma lágrima de sangue escorreu lentamente pelo canto de seu olho.

Foi nesse momento que a porta principal da mansão se abriu com força.

Um homem entrou, sua presença dominando o ambiente. Ele ficou parado no batente, imóvel como uma rocha.

Era Belmiro, o irmão mais velho de sua melhor amiga, Fábia.

Belmiro era o chefe do Grupo Nascimento, conhecido por sua frieza e métodos implacáveis. Em apenas dois anos à frente da empresa, ele havia eliminado toda a antiga diretoria, consolidando seu poder de forma absoluta.

Mesmo com o prestígio da família Oliveira em São Luminário, eles sequer tinham o privilégio de se aproximar da família Nascimento.

Ela e ele pertenciam a mundos completamente diferentes.

Se não fosse por Fábia, Selene jamais teria conhecido alguém como Belmiro.

"Não vá ao banquete de reconhecimento de parentesco amanhã."

As palavras dele voltaram à sua mente.

Na noite anterior, Selene havia recebido uma ligação de um número desconhecido. Era Belmiro.

— Eles querem te casar com Amadeu, mas seria melhor se você se casasse comigo. Estou fora do país, mas estou voltando. Espere por mim.

Poucas palavras, mas que a deixaram completamente confusa.

Agora, deitada no chão, sentindo o sangue quente escorrer pela nuca, ela já não tinha forças para pensar em mais nada.

Seus olhos procuraram por Belmiro.

Por alguma razão, ela achou que viu nos olhos dele uma dor avassaladora e, talvez, desespero.

Selene não conseguiu mais resistir. Sua visão foi se apagando, pouco a pouco, até que tudo escureceu.

Antes de perder completamente a consciência, ela ouviu Belmiro chamando seu nome.

A voz dele estava rouca, trêmula e cheia de agonia.