— Selene, venha aqui. — Valentim a chamou.Selene levantou os olhos.— O que foi?— O vídeo, todos viram. Naquela época, fomos nós que a injustiçamos. Você não empurrou Anabela, fomos nós que a interpretamos mal.Selene hesitou por um momento.Naquela época, ela chorou até os olhos ficarem vermelhos, fez de tudo para conseguir a gravação do hospital, só queria provar sua inocência, mas Teodoro nem sequer lhe deu uma oportunidade.Ela queria que a família Oliveira soubesse que não era uma pessoa má, que não foi ela quem empurrou Anabela e que não sentia inveja dela a ponto de querer fazer mal a ela.Naquela época, o que ela mais se importava era com a opinião da família Oliveira sobre ela, mas e agora? Nunca obteve sua inocência reconhecida.Agora, depois de tudo, essa mesma família vinha até ela e dizia:— Selene, fomos nós que a interpretamos mal.Selene parou por um instante.Ela ergueu uma sobrancelha, sem demonstrar muito interesse.— Entendi. — Disse e se virou para subir as escad
São Luminário. A mansão da família Oliveira estava resplandecente, iluminada por uma profusão de luzes que refletiam o brilho de uma noite aparentemente perfeita. Convidados iam e vinham, e as felicitações ecoavam por todos os lados. — Parabéns, Presidente Valentim! Deve ter sido uma jornada e tanto reencontrar sua filha biológica! — Valentim, meus parabéns! Com um sorriso tranquilo no rosto, Valentim estava prestes a abrir a boca para responder, quando... Um estrondo ensurdecedor reverberou por todo o salão de festas. Uma jovem permanecia imóvel ao lado da torre de champanhe. Suas mãos delgadas e tensas seguravam com força a toalha vermelha que acabara de puxar. A imponente montanha de taças de cristal desmoronou em cascata, espalhando cacos por todo o chão e produzindo um som caótico que fez todos os olhares se voltarem para ela. — Selene! — O rosto de Valentim imediatamente se fechou em uma expressão sombria. — O que você pensa que está fazendo? Ao ouvirem o nome
Nas terras selvagens ao leste de São Luminário, a noite era densa, com o vento gelado soprando de maneira sinistra. De repente, uma cabeça de fera emergiu da vegetação rasteira. Parecia um lobo. Os olhos verde-amarelados da criatura emanavam um brilho selvagem e afiado, fixados na jovem deitada no chão, à beira da morte. Para uma fera faminta, o cheiro de sangue era um convite irresistível. Ela saltou repentinamente da vegetação, avançando ferozmente sobre a garota, mordendo com força o delicado pulso dela. No momento em que os dentes afiados penetraram a pele, Selene abriu os olhos de repente, a dor evidente em seu olhar era quase palpável. Ela estava... "Morri? Onde estou agora?" A dor excruciante da carne sendo dilacerada fez com que ela erguesse a cabeça. No segundo seguinte, os olhos dela encontraram os da fera. Aquele olhar a despertou instantaneamente. Selene levantou a outra mão e cravou com força nos olhos do lobo. O uivo agudo da criatura ecoou pela
Álvaro foi atingido pelo olhar penetrante de Selene, a ponto de suas pálpebras tremerem levemente. Depois de alguns segundos de perplexidade, ele franziu as sobrancelhas e disse: — Teodoro só não quer se sentar ao seu lado. Qual é o problema nisso? — E eu querer que ele suma, tem algum problema? O rosto rígido de Álvaro instantaneamente ficou coberto por uma sombra. Ele lançou um olhar profundo para Selene antes de se virar para Teodoro: — Troque de lugar. Selene estava completamente diferente do habitual. Ontem, ela ainda fazia de tudo para agradar Teodoro, mas hoje parecia outra pessoa, o mandando embora com frieza. Teodoro franziu o nariz, sem vontade de discutir com ela. Relutante, se levantou e foi se sentarao lado de Anabela, mas o incômodo persistia em seu coração. Quando foi que Selene deixou de falar com ele de maneira doce e gentil? Por que estava agindo assim? Do outro lado da mesa, Evaristo apertava os punhos, lançando um olhar irritado para Selene. "Ela
O rosto anguloso de Álvaro estava coberto por uma camada de gelo. — Você fez algo tão desrespeitoso com o Evaristo agora há pouco e pretende simplesmente sair assim? — Então, o que você quer? Quer que o Evaristo se ajoelhe, bata a cabeça no chão e me acompanhe até a saída? — Selene! — O rosto de Álvaro ficou ainda mais sombrio. — Eu não consigo ficar parado vendo você agir de forma tão irracional. Selene arqueou as sobrancelhas com um desgosto extremo: — Então arranque seus olhos! Álvaro franziu as sobrancelhas imediatamente. — O que você disse? — Ele parecia incrédulo. A Selene à sua frente parecia uma pessoa completamente diferente de ontem. Ontem ela ainda o tratava com respeito, o chamando de "irmão mais velho" a cada frase. Mas, em apenas um dia, ela havia mudado drasticamente de personalidade, se tornando tão arrogante e desrespeitosa. Selene, impaciente, rebateu: — Você não ouviu? Está surdo? Então vá se tratar! Álvaro a encarou fixamente e, para sua su
— Selene. — Valentim começou, com um tom grave. — Eu não vou me meter na sua maquiagem, por enquanto. Ele a observou com atenção e continuou: — Mas jogar comida na cabeça do Evaristo durante o almoço, isso é o que você chama de boa educação? — Pai, você tem que puni-la! — Evaristo exclamou entre os dentes, furioso. Selene soltou uma risada leve: — Pai, você só ouviu o Evaristo dizer que joguei comida na cabeça dele, mas por que não pergunta o que ele fez antes disso? Valentim, surpreso por um momento, fechou o semblante e perguntou: — O que Evaristo fez? — Pai! — Evaristo se virou imediatamente, exaltado. — Eu só estava servindo comida para a Anabela, e a Selene ficou louca de ciúmes. Ela é extremamente ciumenta! Ele realmente não entendia por que Selene tinha perdido o controle, mas, depois de pensar a tarde toda, concluiu que só podia ser ciúmes de Anabela. Para ele, Selene não podia ser uma pessoa tão mesquinha assim! — Você só estava servindo comida para a Anabe
Valentim apertou a testa e suspirou. Não revelar a identidade de Selene foi algo que Maristela sugeriu, dizendo que não queria que Anabela ficasse chateada. Ele não viu problema e concordou. E Selene, que no começo não teve nenhuma objeção, ficou tão tranquila e até aceitou bem a situação... Mas agora, por que mudou tanto?— Você está sonhando acordada. — Maristela falou, com o rosto tenso. — Selene, você não tem a elegância de uma dama da nobreza. Com essa maquiagem, vai acabar assustando um monte de madames em qualquer evento. Selene esfregou o rosto e respondeu: — Isso são só detalhes. Afinal, sem maquiagem eu ainda sou muito bonita, né? Maristela respirou fundo. — Você é tão vaidosa... Selene, você é minha filha, mas a filha da família Oliveira é apenas uma. Se revelarmos sua identidade, o que acontece com Anabela? Ela já se acostumou com essa posição, e não vai ser fácil se adaptar a outra. Já era difícil para Anabela saber que não era filha biológica, e, se sua iden
— Valentim. — Maristela não podia aceitar essa decisão. — Selene pode ficar em qualquer quarto. Mas Anabela tem a saúde frágil, sente muito frio e aquele quarto recebe a melhor iluminação... Selene retrucou: — E daí que ela tem a saúde frágil? Por acaso eu estou bem? Sofri tantos anos, agora quero aproveitar um pouco. Qual é o problema? Evaristo não conseguiu se conter e interveio: — Você não pode se comparar com Anabela! A saúde dela é o mais importante! O olhar de Selene passou friamente por Evaristo. — Quem não pode se comparar a quem? O papai já disse: eu sou a filha legítima! Ela é só uma impostora. Com que direito ela pode se comparar a mim? — Em seguida, se virou para Valentim. — Não é mesmo, papai? O rosto de Valentim se fechou. Ele sabia que, se não trocasse o quarto hoje, Selene não deixaria o assunto morrer. — Está decidido. Anabela sai e deixa o quarto para Selene. — Valentim decretou com um gesto. O rosto de Anabela foi tomado pela tristeza, e as lágrim
— Selene, venha aqui. — Valentim a chamou.Selene levantou os olhos.— O que foi?— O vídeo, todos viram. Naquela época, fomos nós que a injustiçamos. Você não empurrou Anabela, fomos nós que a interpretamos mal.Selene hesitou por um momento.Naquela época, ela chorou até os olhos ficarem vermelhos, fez de tudo para conseguir a gravação do hospital, só queria provar sua inocência, mas Teodoro nem sequer lhe deu uma oportunidade.Ela queria que a família Oliveira soubesse que não era uma pessoa má, que não foi ela quem empurrou Anabela e que não sentia inveja dela a ponto de querer fazer mal a ela.Naquela época, o que ela mais se importava era com a opinião da família Oliveira sobre ela, mas e agora? Nunca obteve sua inocência reconhecida.Agora, depois de tudo, essa mesma família vinha até ela e dizia:— Selene, fomos nós que a interpretamos mal.Selene parou por um instante.Ela ergueu uma sobrancelha, sem demonstrar muito interesse.— Entendi. — Disse e se virou para subir as escad
Era como se algo tivesse colocado uma barreira definitiva entre ela e Selene.Maristela balançou a cabeça, rindo de si mesma por pensar demais.Selene só tinha ela como mãe, e não seria por uma bobagem como essa que ela se afastaria dela....Do outro lado, não só o mordomo e Selene haviam recebido o mesmo vídeo, mas também Valentim, Álvaro, Teodoro, Evaristo e Anabela.Valentim, aproveitando um momento, assistiu ao vídeo e franziu a testa, uma expressão de preocupação surgiu em seu rosto.Álvaro mordeu os lábios, e seu rosto ficou ainda mais sério.Teodoro estava completamente surpreso. Ele havia copiado o vídeo da sala de segurança e ainda não tivera tempo de informar os outros membros da família Oliveira quando recebeu o mesmo vídeo.Quanto a Evaristo, ao ver o vídeo, franziu as sobrancelhas, com uma expressão tensa...Anabela tremia ao segurar o celular.Quem teria enviado esse vídeo? Qual seria o objetivo de enviá-lo para ela? Será que seus pais e irmãos já o tinham visto?O númer
Maristela franziu a testa e olhou fixamente para Selene, com uma expressão quase sombria no rosto. — Você ousa repetir isso? "Quando Selene voltou, estava tudo bem, mas por que agora ela ficou tão rebelde?" Ela estava sempre de mau humor, batendo nas pessoas e até olhando para a própria mãe com aquele olhar. Era como se sua mãe fosse inimiga."Que tipo de filha age assim?" Maristela estava furiosa. — Não importa quantas vezes você repita, vai continuar sendo a mesma coisa. — Selene a olhou friamente. — Troque de professor, que eu faço a aula. Caso contrário, esqueça. Depois, ela se virou para fechar a porta, com uma expressão de quem não queria perder tempo com mais conversa. — Você... — Maristela ficou vermelha de raiva. — Fique onde está! Ela agarrou o braço da garota, tentando puxá-la para dentro. — Me solta! — Selene arrancou a mão dela para longe e empurrou Maristela com violência. Maristela deu alguns passos trôpegos antes de se apoiar no batente da porta, fic
— Tá bom, vou te enviar agora mesmo.Após desligar o telefone, Maristela rapidamente organizou o boletim de Anabela, assim como os prêmios de competições, e enviou tudo.Do outro lado, Martim havia acabado de desligar o telefone quando ouviu passos vindo de fora.— Pai, você voltou?Martim se aproximou rapidamente e contou tudo o que havia acontecido na ligação.Osvaldo, ao ouvir, apenas fez um gesto com a mão.— Não estou mais pegando alunos. Fui escalado.— Ah? — Martim olhou para ele, surpreso. — Pai, o que você tem para fazer?— Esse rapaz, o Belmiro, me pediu para dar aulas para uma menina.— O Sr. Belmiro? — Martim ficou ainda mais surpreso. — Ele também tem esse tipo de necessidade?Osvaldo levantou a sobrancelha com um sorriso de satisfação.— Pois é. Essa é a primeira vez que ele vem até mim.— Pai, então você vai mesmo? — Perguntou Martim.— Claro, por que não? Não se esqueça, eu ainda devo um favor a ele, e esse favor tem que ser pago. Mas o mais importante é...Martim arreg
Após Anabela cair da escada, Selene correu imediatamente para ajudá-la, demonstrando grande preocupação com seu estado. Não imaginava que a verdade se revelaria dessa forma, e a expressão de Teodoro imediatamente se tornou complexa. De repente, ele se lembrou do que Selene havia dito, que não a havia empurrado, que estava sendo injustiçada. "Ela realmente... foi injustiçada." Quando Anabela caiu, ele a ouviu dizer que sentiu alguém empurrá-la por trás, e quase imediatamente, assumiu que Selene era a responsável. Não lhe deu sequer uma chance de se explicar. Mais tarde, quando Selene sugeriu verificar as câmeras de segurança do hospital, ele nem sequer ajudou na investigação. Porque seu subconsciente já a rejeitava; ele, assim como Evaristo, via a presença de Selene como uma ameaça para Anabela. Ele amava profundamente a irmã e, naturalmente, não queria que ela fosse maltratada. Assim, em relação a qualquer pessoa que fizesse Anabela sofrer, não conseguia sentir simpatia.
Maristela tomou um gole de café e, depois de pensar por um momento, disse: — De fato. Anabela sempre ficava entre as trinta melhores no exame municipal e também estava entre as dez melhores da Escola Secundária São Jorge. Era uma boa promessa, e talvez conseguisse chamar a atenção do professor Osvaldo. Se Anabela conquistasse o primeiro lugar da cidade neste ano... Maristela imediatamente chamou o mordomo. — Vá descobrir o contato do professor Osvaldo, e faça isso rapidamente. — Já está tarde. — Uma senhora elegante colocou a xícara sobre a mesa e se levantou. — Maristela, vou indo, entre em contato quando tiver tempo. Maristela rapidamente se levantou e a acompanhou até a porta. ... Na sala de segurança do hospital. — Vice-diretor Teodoro. — O segurança de plantão, Horácio, se levantou assim que o viu entrar. — O assistente Genaro nos avisou que o senhor viria verificar as câmeras depois do expediente. — Sim, há algumas coisas que preciso confirmar. Teodoro se
Maristela assinou diretamente o contrato com Cayetano, estabelecendo um período de tutoria de um mês, por enquanto. O pagamento seria feito por hora, no valor de oito mil reais.— Por que você está sendo tão boa com ela? — Uma senhora elegante olhou para Maristela enquanto ela assinava o contrato de trabalho, franzindo a testa involuntariamente. — Maristela, o que você está pensando? Ela é apenas filha de uma babá, não vale a pena tanto esforço assim.— Eu só quero tratá-la como se fosse minha própria filha. — Disse Maristela. — Os pais dela não estão mais aqui, ela está sozinha e é uma criança pobre. Eu prometi adotá-la, então preciso cuidar dela da melhor forma possível.Selene também era como um pedaço de carne que Maristela nunca conseguiria abandonar, e negar que se importava com ela seria uma mentira.— Você realmente é bondosa. Vejo que a Anabela herdou isso de você. Ela é atenciosa, gentil e tem um coração bom. — Disse a senhora elegante, lançando um olhar na direção de onde S
Era mesmo ele! Selene observava de longe Cayetano, que estava sentado no sofá conversando com Maristela, e imediatamente seu olhar se encheu de desprezo. Naquele momento, Maristela notou sua presença na porta e acenou para ela. — Selene, você chegou na hora certa, venha cá. Selene se aproximou. No sofá também estava sentada uma senhora elegante, que lançou um olhar avaliador sobre Selene e franziu a testa ao notar sua vestimenta. Maristela percebeu imediatamente e apertou levemente os lábios antes de dizer à mulher: — Ela é a filha da empregada de quem eu estava falando há pouco. A senhora compreendeu na mesma hora. "Não é de se admirar que se vista de maneira tão cafona."Maristela então se voltou para Selene e disse: — Encontrei um professor particular para você. Já o entrevistei, e ele é altamente qualificado. A partir de amanhã, ele virá lhe dar aulas de reforço todos os dias, das sete às onze da noite. Ele será responsável por todas as disciplinas. — Depois de
Elas arregalaram os olhos, incrédulas. — Meu Deus! Ela só pode estar brincando! — Exclamou Almira, ao recuperar os sentidos, tão furiosa que sua voz se tornou aguda e incontrolável. — Ela ainda tem a ousadia de nos mandar embora? Quem é que deveria sair daqui? Uma simples insignificante se atrevendo a pisar na cabeça dos próprios senhores?— Anabela, por que você está sendo tão educada com ela? — Lorena perguntou, confusa. — Ela é tão arrogante! Você devia simplesmente pedir para sua mãe expulsá-la! Anabela pressionou os lábios, parecendo um pouco constrangida. — Almira, Lorena, não fiquem bravas. Ela veio da montanha, então sua educação é um pouco... Ela não terminou a frase, mas todas entenderam o que queria dizer. — Como é mesmo aquele ditado? Onde não há educação, não se colhe respeito. — Pronto, pronto, não vale a pena se irritar com uma pessoa assim. Nós simplesmente não pertencemos ao mesmo mundo. Com sua voz sempre suave e gentil, Anabela disse: — A culpa foi mi