Capítulo 3

Álvaro foi atingido pelo olhar penetrante de Selene, a ponto de suas pálpebras tremerem levemente.

Depois de alguns segundos de perplexidade, ele franziu as sobrancelhas e disse:

— Teodoro só não quer se sentar ao seu lado. Qual é o problema nisso?

— E eu querer que ele suma, tem algum problema?

O rosto rígido de Álvaro instantaneamente ficou coberto por uma sombra. Ele lançou um olhar profundo para Selene antes de se virar para Teodoro:

— Troque de lugar.

Selene estava completamente diferente do habitual. Ontem, ela ainda fazia de tudo para agradar Teodoro, mas hoje parecia outra pessoa, o mandando embora com frieza.

Teodoro franziu o nariz, sem vontade de discutir com ela. Relutante, se levantou e foi se sentarao lado de Anabela, mas o incômodo persistia em seu coração.

Quando foi que Selene deixou de falar com ele de maneira doce e gentil? Por que estava agindo assim?

Do outro lado da mesa, Evaristo apertava os punhos, lançando um olhar irritado para Selene.

"Ela não está exagerando hoje?"

Assim que Selene pegou os talheres para cortar o bife em seu prato, Evaristo girou o prato giratório da mesa.

Ele fez o bife parar bem à frente dele e de Anabela, encarando Selene com um olhar feroz:

— Selene, a Anabela gosta de bife. Esse é dela, então não toque nele! — Depois de dizer isso, Evaristo pegou um pedaço de bife e colocou no prato de Anabela.

Anabela sorriu de maneira afável, dando pequenas mordidas no bife, enquanto uma ponta de satisfação maliciosa passava rapidamente por seus olhos.

"E daí que Selene é filha legítima da família Oliveira?"

Dentro desta casa, todos só gostavam dela, Anabela!

Selene lançou um olhar indiferente para Evaristo e foi buscar outro prato de comida. Mas, antes mesmo de conseguir estenderos talheres, o prato foi novamente girado por Evaristo.

Ela colocou os talheres de volta e estreitou os olhos, com uma expressão calma e fria.

Evaristo continuava girando o prato giratório incessantemente, dizendo de forma provocadora:

— Selene, por que você não pega a comida? Já está satisfeita? Se já comeu o suficiente, então saia!

Ao ver Evaristo "pagar na mesma moeda", o rosto de Teodoro finalmente relaxou um pouco.

O semblante pálido de porcelana de Anabela ficou marcado por uma expressão de falsa preocupação. Ela puxou levemente a manga de Evaristo e disse em voz baixa:

— Evaristo, não deveria tratar a irmã assim. Isso não é certo.

Evaristo torceu os lábios, desdenhoso:

— Irmã, você viu o jeito como ela tratou o Teodoro agora há pouco. Como posso deixá-la agir assim? — Depois de dizer isso, Evaristo virou a cabeça e percebeu que Selene estava olhando diretamente para ele. Seus olhos eram tão profundos e sombrios que o fizeram se sentir desconfortável.

Ele franziu a testa e perguntou:

— Selene, por que está me olhando assim? Só pedi para você ceder alguns pratos para a Anabela, e já ficou irritada?

— Não estou irritada.

Selene pegou um prato de comida ao lado e caminhou na direção de Evaristo.

Evaristo a observava, confuso:

— O que você está fazendo?

Selene virou o prato junto com o conteúdo sobre a cabeça de Evaristo, enquanto dizia em um tom baixo e gelado:

— Este prato também é de vocês...

— Selene! Você... Ah!

O som claro de um prato se partindo no chão foi seguido por um grito de frustração de Evaristo.

A comida do prato havia sido despejada diretamente sobre sua cabeça.

O óleo escorria por todo o rosto dele.

Todos os presentes ficaram paralisados, olhando para Selene em estado de choque.

Não era apenas pelo fato de Selene, que sempre se mostrava submissa, ter despejado comida na cabeça de Evaristo, mas também porque ele era... Evaristo.

Era o mesmo Evaristo a quem Selene costumava chamar docemente, com um sorriso nos lábios.

— Selene! Você ficou maluca?!

Evaristo se levantou com um pulo. Sua cadeira raspou o chão, produzindo um som estridente.

Ele passou a mão desajeitadamente pelos cabelos, agora cobertos de molho e óleo, ficando ainda mais furioso.

— Selene, olhe bem para o que você acabou de fazer!

Selene sustentou o olhar raivoso de Evaristo, sem demonstrar nenhuma preocupação:

— Evaristo, não mexa comigo de novo.

— Você...

Evaristo encarava o olhar frio e desconhecido de Selene, e por um momento ficou sem palavras.

"Essa pessoa na minha frente... Ainda é a Selene?"

Teodoro franziu as sobrancelhas:

— Selene, como você pode tratar o seu irmão dessa forma...

Selene interrompeu friamente:

— Eu não tenho um irmão como ele.

Teodoro ficou atônito.

Evaristo arregalou os olhos, encarando Selene em descrença.

O que ela queria dizer com "não tenho um irmão como ele"?

Ele ainda nem a tinha reconhecido como irmã! Com que direito ela dizia isso?

— Chega, pare com isso. Peça desculpas ao Evaristo. — Teodoro colocou os talheres sobre a mesa, se levantou e foi até Selene, segurando levemente a manga de sua roupa. — Ontem, mamãe mandou você ajoelhar para refletir. Será que você ainda não aprendeu a lição?

Selene segurou com força o pulso dele e o empurrou para longe.

Teodoro deu dois passos cambaleantes, batendo com a cintura na borda da mesa. Ele olhou para Selene, perplexo.

Não podia acreditar que Selene tinha ousado empurrá-lo. O pior é que ela tinha tanta força...

O rosto bonito e elegante de Teodoro ficou imediatamente frio como gelo. Ele cerrou os dentes e gritou:

— Eu também sou seu irmão!

Selene, com as mãos soltas ao lado do corpo, rebateu com descontentamento:

— Eu já disse, não tenho um irmão como você!

Anabela, vendo que o clima havia se tornado tão tenso e assustador, se apressou em se levantar e ir até Selene, tentando segurar sua mão.

— Irmã, se acalme. Se você não quer que o Evaristo sirva comida para mim, então eu paro de jantar à mesa, está bem? Se você quiser o título de filha da família Oliveira, posso até abrir mão dele para você, está bem?

Selene ouvia a voz irritantemente lamuriosa de Anabela e achava insuportável.

Gostava tanto de fingir...

Com um movimento firme, ela agarrou a mão de Anabela, puxando-a com um sorriso irônico no rosto.

— Irmã, você realmente entende meus pensamentos. Então faremos como você disse: vamos anunciar que você, na verdade, é a filha adotiva da família Oliveira.

Anabela ficou completamente atônita ao ouvir isso.

"Como assim? Isso não pode acontecer!"

Antes que pudesse reagir, Selene, com o rosto impassível, já a estava arrastando para fora.

Anabela resistiu instintivamente.

Selene virou a cabeça, irritada, e gritou:

— Anda logo! Por que parou?

Anabela olhou incrédula para essa Selene, que exalava arrogância e desafio.

— Irmã, você...

— Solte a Anabela!

Álvaro, que até então havia permanecido em silêncio, finalmente explodiu. Ele fora atingido no ponto mais sensível, e seu rosto agora era uma máscara de fúria sombria.

— O que está acontecendo aqui? Por causa de um simples título de filha da família Oliveira, você realmente quer forçar Anabela a ceder para você?

— Quando foi que eu a obriguei? Não foi ela mesma quem sugeriu isso? — Selene soltou a mão de Anabela e lançou um olhar frio e indiferente para Álvaro. — Você é só mais um que não sabe diferenciar o certo do errado.

Depois de dizer isso, se virou e começou a sair.

— Pare aí!

Os olhos negros de Álvaro ganharam um brilho sombrio, cheio de nuances inexplicáveis.

Selene acabou de lhe lançar um olhar que ele nunca tinha visto antes e ainda o chamou de alguém que "não sabia diferenciar o certo do errado"?

Selene parou por um instante, olhou para trás e fixou Álvaro com uma expressão irritada. As sobrancelhas franzidas e a impaciência em seus olhos eram claras.

— O que mais você quer?