Ao ouvir as palavras de Túlio, Virgínia pareceu perder toda a força. Seu corpo ficou mole, como se tivessem arrancado dela qualquer energia. — A morte do Luiz foi minha culpa! Fui eu que o matei! — Murmurou ela, com os olhos desfocados. O semblante de Túlio se fechou ainda mais. Ele não tinha paciência para aquele tipo de drama. — Vá embora de uma vez! Pare de se pendurar aqui! O que eu decidi está decidido, e você não pode mudar isso! — Gritou ele com firmeza. Sterling só foi trazido de volta à família Davis quando já tinha quase dez anos. Durante sua infância e adolescência, ele havia vivido experiências que o tornaram desconfiado e resistente a se aproximar das pessoas. Quando Túlio conheceu Clarice pela primeira vez, teve a sensação de que ela seria capaz de quebrar as barreiras de Sterling e alcançar seu coração. Nos três anos de casamento, Sterling nunca demonstrou grande afeto por Clarice, mas, pelo menos, ele voltava para casa todas as noites. Não a rejeitava e, de
Antes de subir para devolver a pulseira, Teresa havia ligado para a sogra. Agora, Virgínia provavelmente já estava lá em cima. Se Sterling resolvesse subir também, isso poderia arruinar os planos de Virgínia. Não, isso não podia acontecer. Sterling não podia ir! Sterling virou-se para encará-la, seus olhos fixos na mão dela, carregados de uma frieza cortante. — Eu já disse para você. Sua saúde não está boa, então fique em casa e descanse. Pare de andar para lá e para cá! A gravidez foi uma escolha sua, então você tem a obrigação de cuidar do bebê. Entendeu? Sua voz não era alta, mas trazia uma pressão sufocante. Teresa, assustada, recolheu a mão imediatamente. Mordeu os lábios, e as lágrimas começaram a se acumular em seus olhos, parecendo prestes a cair. — Eu só fiquei preocupada que a Clarice estivesse brigando com você. Por isso vim até aqui devolver a pulseira. Eu nunca quis prejudicar minha saúde. — Respondeu, com uma voz trêmula, cheia de justificativas. — Se quiser s
— O vovô está bem... — Sterling lançou um olhar frio para Virgínia e a interrompeu. — Isaac, leve-a de volta para casa. Com Túlio nesse estado, a transferência de ações estava fora de questão. — Só vou embora quando o vovô acordar. Não vou ficar tranquila até ter certeza de que ele está bem. — Clarice insistiu, preocupada com a saúde de Túlio. Não sairia dali sem confirmar que ele estava fora de perigo. Os olhos escuros de Sterling permaneceram por um momento no rosto dela. Ele contraiu os lábios, mas não disse nada. A forma como foi criado moldou sua personalidade fria e distante. Ele era assim com todos, sem exceção, e não seria diferente com Clarice, mesmo sendo sua esposa. — Mesmo que o Túlio acorde, ele não vai transferir as ações. Pare de perder tempo e vá embora logo! — Virgínia falou com um tom ríspido, franzindo o cenho. Clarice ignorou. Estava no escritório de Sterling, e enquanto ele não dissesse nada para que ela saísse, não daria ouvidos à sogra. Virgínia, ao
Sterling arqueou levemente as sobrancelhas, e seus olhos negros e profundos pousaram sobre o rosto de Clarice. Será que aquilo era ideia dela? Clarice sustentou o olhar dele, firme, com os olhos ardentes de indignação. — Eu nunca pensei nisso! — Respondeu, sem hesitar. Com o avô dizendo aquelas coisas, Sterling certamente pensaria que era ela quem queria aquilo. Três anos atrás, no dia em que se casou com Sterling, ela de fato havia desejado tornar pública a união. Ela o amava, e, naturalmente, queria que o mundo inteiro soubesse que estavam juntos. Mas na noite do casamento, Sterling a deixou com uma única frase: “Não quero que ninguém saiba do nosso casamento. Cuide da sua vida.” E ele saiu. Naquela noite, ele nunca voltou. Ela passou a noite de núpcias sozinha, encarando o vazio. Depois disso, qualquer desejo de anunciar o casamento desapareceu. Agora, com o divórcio já em seus planos, não fazia sentido que mais pessoas soubessem sobre aquela união fracassada. Seri
O corpo de Clarice bateu contra a mesa de reuniões, causando uma dor aguda. Um grito escapou de seus lábios involuntariamente. Sterling se aproximou, pressionando-a contra a mesa. Com uma das mãos, ergueu o queixo dela, obrigando-a a encará-lo. Seus olhos estavam sombrios, quase predatórios, cheios de uma fúria contida. — Passei uma noite com você. No dia seguinte, seus pais apareceram no hotel com uma equipe inteira, trazendo fotos tiradas por paparazzi. Eles me ameaçaram, dizendo que, se eu não me casasse com você, as fotos seriam divulgadas para toda a mídia. Eu concordei. Sua família exigiu cinquenta milhões, e eu paguei. Nestes três anos de casamento, investi bem mais de cinquenta milhões na empresa da sua família. Além disso, reduzi pela metade os custos do tratamento da sua avó no hospital, alegando que era para fins de pesquisa médica. Ele aproximou o rosto ainda mais do dela, a voz carregada de desprezo. — Depois de tudo isso, você ainda acha que está em posição de me
E se Sterling fosse bruto e acabasse machucando o bebê? Sterling, ao vê-la com aquela expressão de "donzela ofendida", sentiu o sangue ferver ainda mais. — Clarice, nós ainda não nos divorciamos! Por que eu não poderia te tocar? — Disse, com a voz carregada de raiva. Clarice respirou fundo, tentando manter a calma. Olhou diretamente para ele e respondeu: — Porque eu acho você sujo! Ele já tinha um filho com Teresa, e agora queria tocá-la? Era nojento! Os olhos de Sterling se estreitaram, e ele abaixou a cabeça, mordendo o lóbulo macio da orelha dela. Sua voz saiu baixa, mas cheia de provocação. — Você acha que eu sou sujo? Pois é exatamente por isso que eu quero transar com você. O coração de Clarice disparou, mas ela tentou se manter firme. — Se está frustrado porque a Teresa está grávida, posso te arranjar outra pessoa. Alguém limpa, eu garanto. — Disse, com uma ironia cortante, enquanto sua mente era invadida por imagens de Sterling e Teresa na mesma cama. O pensam
— Ninguém sabe quem é o novo dono que comprou a firma, mas parece que é alguém bem misterioso. Não se preocupe, amanhã vamos conhecer a pessoa! E ouvi dizer que o novo chefe comprou a Torres Advocacia só para dar de presente para a noiva! Quem manda ser ricaço, né? Ser noiva de um homem assim deve ser bom demais! Sra. Clarice, você é tão bonita. Tenho certeza de que vai encontrar um marido rico no futuro. Clarice apertou os lábios, forçando um sorriso discreto. Lilian não sabia, mas ela já tinha se casado com um homem rico. O problema era que ele não a amava. — Ah, quase esqueci! — Lilian exclamou, animada. — Hoje à noite tem aquele jantar no Estrela do Paladar. Está marcado para as seis horas. Meu Deus, fiquei tão ocupada fofocando com você que quase deixei passar a informação mais importante! Clarice não pôde deixar de sentir certa inveja da energia contagiante de Lilian. Dois anos trabalhando juntas, e a garota estava sempre de bom humor, transbordando otimismo. Ela, por out
— Você pode não ter medo dela, mas a Clarice já é outra história. Você sabe do que a Virgínia é capaz. — Sterling declarou, com tom neutro, apenas expondo os fatos. — Me dá os documentos! Vou embora agora! — Túlio respondeu, já ciente do que Sterling queria dizer. Após uma pausa, acrescentou. — Transfira suas ações para a Clarice. Daqui a alguns dias, eu faço meu testamento e deixo tudo pra você! — Eu não quero suas ações, e você não vai fazer testamento nenhum! Você vai viver muito ainda! — Já tenho 80 anos, Sterling! Vivi o suficiente. Agora, meu maior desejo é pegar meu bisneto nos braços. Pode até ser uma bisneta, tanto faz! Vocês já estão casados há três anos, por que a Clarice ainda não engravidou? Será que você não consegue? — Túlio resmungou, claramente frustrado. No grupo de amigos de sua idade, todos viviam postando fotos de netos e bisnetos fofos. Ele morria de inveja! Sterling tinha uma aparência saudável, uma condição física invejável. Então, por que não consegui
Asher agarrou o pulso de Beatriz e a puxou para perto, prendendo-a em seu abraço. Ele a encarou com frieza e a advertiu:— Cala a boca! Se você causar mais confusão, esqueça o casamento!Beatriz ergueu os olhos para ele, incrédula:— Asher, você está mesmo me ameaçando com o casamento para defender aquela vagabunda da Clarice?Cheia de raiva, Beatriz precisava de um alvo para descarregar toda a sua frustração, ou sentia que explodiria. Desde pequena, ela guardava rancor de Clarice. Depois de ser abandonada por ela, Beatriz foi vendida e viveu anos de sofrimento no interior.Enquanto ela sofria no campo, Clarice crescia no conforto e no luxo da família Preston. Esse contraste alimentava seu ódio, que crescia a cada dia.Agora, Asher, o homem que ela mais amava e que estava prestes a se tornar seu marido, defendia justamente Clarice.Até então, Beatriz sabia que Asher guardava Clarice no coração, mesmo sem ter visto ele tomar uma atitude explícita para protegê-la. Só isso já a deixava mo
Esse assistente precisava ser trocado.— Encontramos por acaso durante o almoço e acabamos bebendo umas duas taças. Foi só isso. Meu problema é o álcool, não aguento muito. Fiquei mal e vim para o hospital. — Disse Asher, de forma casual, sem entrar em detalhes.Clarice percebeu que ele não queria contar a verdade e decidiu não insistir. Sentou-se em uma cadeira perto da cama e perguntou:— E agora, como está se sentindo? Melhorou?Na verdade, desde que soubera por Paula que Asher havia sido hospitalizado por intoxicação alcoólica após encontrar-se com Sterling, Clarice sentia um peso enorme no coração. Ela sabia que, de alguma forma, aquilo tinha relação com ela. Sterling só agia assim por causa dela, e Asher acabava pagando o preço.Clarice não tinha coragem de confrontar Sterling, então tudo o que restava era esse sentimento de culpa em relação a Asher.— Estou bem, Clarinha. Meu corpo é forte, não precisa se preocupar tanto. — Disse Asher, com um sorriso gentil. Ele pegou uma garra
O rosto de Sterling escureceu, seus olhos se estreitaram, e uma aura fria emanou dele:— Clarice, sai daí!O aperto em seu pulso era doloroso, e a outra mão, que segurava firmemente o corrimão, também começava a doer. Clarice sentiu que suas forças estavam se esgotando.De repente, alguém deu um empurrão em Sterling e o repreendeu:— Vocês dois aí, não acham que é um pouco demais intimidar uma mulher sozinha?Sterling, pego de surpresa, cambaleou para trás e acabou soltando o pulso de Clarice.As portas do elevador se fecharam. Por uma pequena fresta, Sterling viu Clarice falando algo com a pessoa ao lado, parecendo bastante aflita.Teresa mordeu o lábio e, com cuidado, disse:— Sterling, acho melhor eu voltar para o quarto... Não vou te acompanhar, está bem?Ela rapidamente apertou o botão do elevador antes que ele pudesse responder. Sterling respondeu friamente:— Tudo bem.Teresa lançou-lhe um olhar cauteloso e murmurou:— A avó da Clarice nem está internada neste hospital. Veio ver
— Clarinha, você já está casada há alguns anos. Está na hora de ter um filho.Clarice sentiu uma mistura de sentimentos. Ela levantou os olhos para Paula e respondeu:— Estou no auge da minha carreira agora. Não pretendo ter filhos.Ela estava prestes a se divorciar de Sterling e não queria que ninguém soubesse de sua gravidez. Se essa informação chegasse aos ouvidos de Sterling, ela sabia que seu filho estaria em perigo. Não podia correr esse risco.— Uma mulher, depois que se casa, deve cuidar da casa e dos filhos. Carreira é coisa de homem! Clarinha, você sabe da posição do Sr. Sterling em Londa. Além disso, ele é bonito, e não faltam mulheres querendo se aproximar dele. Você, como Sra. Davis, precisa pensar em como manter o coração dele ao seu lado. Quando vocês tiverem um filho, ele vai se estabilizar. — Disse Paula, com um tom direto. Apesar de ter um casamento feliz, ela conhecia bem o mundo das elites e sabia o quanto os homens desse meio podiam ser frios e egoístas.Nos último
Clarice não conseguiu segurar o riso:— Você não trabalha direito e só fica atrás de fofocas! Vai, conta logo o que é.— Aquele Henriques... De repente começaram a dizer que ele é filho ilegítimo da família Martinez, uma das quatro grandes famílias de Londa. Todo mundo está apostando se ele vai ou não reconhecer a família e voltar para os Martinez! — Disse Lilian, quase sussurrando.Esse assunto já tinha se espalhado pelo escritório, mas Lilian ainda falava baixo. Era algo muito delicado, e se o próprio Henriques ouvisse, seria uma situação bem constrangedora.Clarice ficou surpresa. Ela imediatamente pensou em Callum. Henriques e Callum eram meio-irmãos por parte de pai?— Você precisava ver como a Isabelly estava hoje. Toda cheia de si, andando como se já fosse esposa de um milionário! — Lilian soltou uma risada fria.Isabelly, uma mulher que não hesitava em destruir famílias, ainda tinha coragem de se portar daquela forma. Era o cúmulo da falta de vergonha.— Fique longe dela. Cuida
Clarice tinha acabado de demonstrar um comportamento que não parecia ser fingido. Se ela realmente não sabia de nada, como aqueles dois poderiam ter se encontrado? — Depois do almoço, vou passar no hospital. — Disse Clarice enquanto servia café para Paula. Em seguida, perguntou suavemente. — Tia, já escolheu os pratos? Se ainda não pediu, eu posso ir fazer o pedido agora.— Vai lá e resolve isso. — Disse Paula, fazendo um gesto com a mão para dispensá-la.Clarice se levantou e saiu da sala para ir até o salão.Paula observou a silhueta da Clarice enquanto ela se afastava. Seus olhos se estreitaram, e um peso tomou conta de seu coração. Ela conhecia bem o filho. Apesar de parecer calmo por fora, Asher era teimoso e obstinado. Durante todos esses anos, ele nunca conseguiu tirar Clarice do coração. Paula temia que ele pudesse cometer alguma loucura por causa dela.Há três anos, no dia em que Clarice foi flagrada na cama com Sterling, Asher tinha decidido fugir com ela. Se não tivesse des
— Srta. Clarice, pode ir, a senhora está esperando você. — Disse Renata em voz baixa, olhando para Clarice.Ela havia servido Paula por mais de vinte anos, mas ainda não conseguia entender por que a senhora estava de tão mau humor naquele dia.— Tudo bem, vamos.Renata então a guiou para dentro da casa.Paula era uma pessoa gentil e tranquila, e o temperamento de Asher certamente vinha dela. Clarice havia passado boa parte da infância e adolescência ao lado de Paula, e sabia que Paula gostava muito dela.Mas, depois que Clarice se apaixonou por Sterling, suas visitas à Paula se tornaram raras. Ela sempre sentiu um peso na consciência por não retribuir o carinho de Paula como deveria.Nos três anos de casamento com Sterling, mesmo sabendo que Asher havia desaparecido, Clarice nunca procurou a família Bennett para saber como ele estava.Ela havia decidido cortar os laços com os Bennett em silêncio. Isso não era apenas por causa da vigilância constante da família Preston, mas também porqu
Ao ouvir a voz de Clarice, Esther imediatamente se virou. Ao vê-la entrando pela porta, ela perguntou, quase sem pensar:— Você não tinha ido embora? Por que voltou?Clarice caminhou até sua mesa e, calmamente, pegou um pequeno dispositivo de um vaso de flores. Era uma câmera escondida.— Eu vi você entrando aqui, é claro que eu tinha que voltar! — Disse Clarice, com um leve sorriso no rosto.— Você instalou uma câmera na sua própria mesa? — Esther retrucou, virando o rosto para Lilian. — Está vendo? Ela está te espionando! Ela não confia nem um pouco em você!Lilian soltou uma risada curta:— A Dra. Clarice pode colocar o que quiser na mesa dela. E você pode parar com essas tentativas ridículas de nos colocar uma contra a outra.Nos últimos tempos, muitos no escritório estavam agindo de forma traiçoeira, cada um tentando puxar o tapete do outro. Mas Lilian confiava apenas em Clarice, e todas as decisões de Clarice ela apoiava sem hesitar.Clarice olhou para Esther e, com um sorriso af
Clarice apertou levemente os lábios antes de responder:— Agora posso almoçar com você, tudo bem?Do outro lado da linha estava Paula, a mãe de Asher. Uma mulher que, no passado, havia lhe dado muito carinho.Clarice sempre gostou muito de Paula e era imensamente grata a ela. No entanto, por diversos motivos, as duas perderam contato há bastante tempo. Agora, com aquela ligação repentina, Clarice tinha quase certeza de que Paula queria conversar sobre algo importante.— O que você quer comer? Posso pedir para alguém reservar uma mesa. — Paula perguntou em um tom suave, como se temesse que uma voz mais alta pudesse assustar Clarice.— Lembro que a senhora gosta de comida mexicana. Que tal aquele restaurante chamado El Pirata, na Avenida da República? — Clarice sugeriu. Ela se lembrava perfeitamente dos gostos de cada membro da família Bennett, já que passava muito tempo com eles e frequentemente jantava em sua casa.— Depois de tantos anos, você ainda se lembra... Está bem, vamos ao res