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Capítulo 2

Author: Guinevere Moore
Clarice olhou para o homem que havia falado. Era Callum Martinez, amigo de infância de Sterling. A família Martinez era uma das mais tradicionais de Londa, e Callum sempre desprezara Clarice por sua origem humilde. Contudo, aquele típico playboy arrogante não passava de uma ferramenta nas mãos de Teresa, constantemente usado por ela para atacá-la.

Pensando nisso, Clarice esboçou um leve sorriso. Seus lábios vermelhos se moveram com delicadeza, e sua voz soou suave:

— A senhora Teresa de quem você fala é a esposa legítima do irmão mais velho do Sterling. Se alguém ouvir o que você acabou de dizer, pode acabar pensando que existe algo... Inapropriado entre eles.

Callum havia falado de propósito para irritá-la, mas Clarice não via necessidade de poupar Sterling na frente de seus amigos. Ela o amava, sim, mas não ao ponto de aceitar humilhações.

Teresa, que até então parecia satisfeita, imediatamente apertou os punhos ao ouvir aquelas palavras. Uma expressão sombria passou rapidamente por seu rosto, mas ela logo retomou o sorriso forçado e respondeu com doçura:

— Sterling e eu nos conhecemos desde crianças. Mesmo que eu cuide dele, ninguém pensaria algo errado. Já você, que deveria cuidar dele, não tem feito um bom trabalho. No mês passado, ele foi ao médico e descobriu que está com problemas no estômago.

A voz de Teresa tinha um tom misto de acusação e falsa inocência.

Clarice, no entanto, permaneceu calma. Seu sorriso tornou-se ainda mais radiante, e sua resposta veio afiada como uma lâmina:

— Se for assim, então a morte do seu marido deve ser culpa sua, né? Talvez tenha sido você que o “trouxe azar”.

Ela havia passado três anos cuidando da saúde de Sterling, especialmente de seu estômago, que sempre fora sensível. Teresa estava claramente inventando coisas, e Clarice não tinha problemas em responder de forma igualmente cruel.

Ao ouvir as palavras “trouxe azar”, Teresa perdeu o controle. Levantou a mão e tentou dar um tapa em Clarice.

A acusação de ser “má sorte” era um ponto sensível para ela, algo que até sua sogra já havia insinuado. Agora, ouvir isso da boca de Clarice a fez explodir de raiva.

Clarice, no entanto, segurou o pulso dela no ar com firmeza. Seus olhos brilhavam com uma intensidade cortante.

— Quando não consegue vencer na conversa, parte para a violência? Quem te ensinou isso? — Ela disse com desprezo.

Clarice não era um alvo fácil. Não deixaria que Teresa a rebaixasse.

— Está doendo! Me solta! — Teresa reclamou com a voz cheia de falsa fragilidade, tentando se livrar.

Callum, que observava a cena, ficou furioso ao ver Teresa sendo contida. Ele avançou para cima de Clarice, mas foi contido por Valentino, que o segurou com força.

— Callum, calma! Não faça nada! — Implorou Valentino, segurando o amigo enquanto este lutava para se soltar.

— Solta! — Callum gritou, mas não conseguiu se desvencilhar. — Clarice, larga ela agora mesmo!

A confusão aumentou, e o barulho acabou despertando Sterling, que estava desmaiado no sofá. Ele abriu os olhos lentamente, franzindo o cenho ao ouvir as vozes.

Teresa, ao perceber que Sterling havia acordado, rapidamente mudou de estratégia. Ela segurou os braços de Clarice e, com um empurrão calculado, recuou alguns passos, caindo no chão. Com uma expressão de dor, levou as mãos ao abdômen e gritou:

— Callum, meu Deus, minha barriga! Está doendo!

Valentino ficou paralisado por um momento, surpreso com a cena.

Aproveitando a distração, Callum finalmente se soltou e correu na direção de Teresa. No entanto, Sterling já havia se levantado e, com passos rápidos, chegou até Teresa primeiro. Ele se abaixou, pegando-a nos braços. Seus olhos estavam cheios de fúria quando se viraram para Clarice.

— Se algo acontecer com a Teresa, você vai pagar caro por isso! — Ele disse entre os dentes, sua voz carregada de raiva.

Clarice sentiu uma pontada aguda no peito, como se algo estivesse sendo arrancado. A dor era pequena, mas constante.

— Sterling, foi minha culpa. Eu tropecei sozinha. Não tem nada a ver com a Clarice. — Teresa disse com um tom doce, puxando levemente a camisa de Sterling. — Você não deveria acusá-la sem motivo.

— Eu vi ela te empurrar! — Sterling rebateu, os olhos ainda fixos em Clarice.

— Você viu errado. Não foi ela. Eu caí sozinha! — Teresa insistiu, com uma expressão que parecia querer “proteger” Clarice, mas na verdade só reforçava a dúvida.

Ela sabia que, do ponto de vista de Sterling, parecia mesmo que Clarice a havia empurrado. Era exatamente o que Teresa queria.

Clarice observava a cena com um olhar frio. Seus lábios se curvaram em um sorriso irônico, e sua resposta veio certeira:

— Ela acabou de admitir que caiu sozinha. Não fui eu quem a empurrou. Sterling, você ouviu isso?

Teresa fingir ser vítima para incriminá-la era algo que Clarice não deixaria passar.

O sorriso de Teresa vacilou por um momento, mas ela rapidamente mudou de estratégia, segurando o abdômen com força.

— Sterling, minha barriga... Está doendo muito. — Ela disse, com a voz trêmula, tentando desviar a atenção de Clarice.

— Aguente firme. Vou te levar ao hospital. — Sterling respondeu com um tom gentil, ignorando completamente Clarice enquanto carregava Teresa nos braços e saía da sala.

Clarice ficou parada, observando enquanto ele saía sem sequer olhá-la.

— Na penumbra da luz difusa, a silhueta de Sterling se afastava cada vez mais. Clarice sentiu o peito apertado, a respiração pesada. Ele a tratava com uma frieza que a sufocava.

Nove anos de amor dedicados a ele agora pareciam uma piada triste e patética.

— Sra. Clarice, está tudo bem? Quer que eu a leve para casa? — A voz de Valentino soou próxima, carregada de preocupação. Ele a olhava com certo pesar, arrependido por ter ligado para ela.

— Não precisa, obrigada. — Clarice afastou os pensamentos, levantou os olhos e lançou um sorriso discreto para ele. — Ouvi dizer que seu irmão voltou?

Ela só queria confirmar se a notícia era verdade.

— Sim, ele chegou ontem.

— Entendi. Ótimo, já está tarde, vá para casa. — Clarice acenou para ele e virou-se em direção à saída, caminhando com passos firmes.

Quando o carro subiu na ponte, ela percebeu pelo retrovisor que estava sendo seguida por um veículo sem placas. Um calafrio percorreu sua espinha. Imediatamente, ela discou o número de emergência de sua lista de contatos.

O telefone foi atendido rapidamente, mas a voz que veio da outra linha a desarmou. Era Teresa, chorosa e trêmula.

— Sterling, está doendo! Eu não aguento mais!

— Não chore. Vai passar logo. — A voz dele era suave, como se estivesse confortando Teresa.

O coração de Clarice parecia ter sido rasgado ao meio. A dor era insuportável, mas ela reuniu todas as forças e gritou ao telefone:

— Sterling, alguém está tentando me matar! Socorro!

— Sterling, vá ajudar a Clarice! Eu consigo me cuidar sozinha, não se preocupe comigo! — Teresa falou apressada, tossindo logo em seguida.

— Você mal consegue falar sem engasgar, mas diz que pode se virar sozinha? Tanto faz. Apenas durma e não se preocupe com coisas que não são da sua conta. — A voz de Sterling soou fria, cada palavra um golpe direto no peito de Clarice.

Ela sentiu como se seu coração tivesse sido dilacerado em pedaços. A dor era tão intensa que quase ficou sem ar. Mesmo assim, com a voz rouca, forçou-se a continuar:

— Sterling, estou na Ponte do Horizonte. Tem um carro me perseguindo. Eles querem me matar! Por favor, venha me salvar!

Sterling era sua última esperança. Ela se agarrava a ele como a um fio de vida.

— Já contou tantas mentiras que nem você deve acreditar nelas. Clarice, até para fingir tem que haver um limite!

— Sterling, é verdade! Eu estou sendo perseguida! Me ajude, por favor! — Sua voz era um apelo desesperado.

— Se for verdade, eu cuido do seu enterro. Prometo que você terá um funeral digno como Sra. Davis. Agora pare de ligar. — Ele desligou sem hesitar.

O som mudo do telefone ecoou no ouvido de Clarice, deixando-a completamente desolada.

De repente, um estrondo.

O som trouxe Clarice de volta à realidade. Ela percebeu que o carro estava descontrolado, indo em direção ao guard rail. Com um movimento rápido, girou o volante para corrigir a trajetória, mas o veículo atrás dela bateu novamente.

O impacto fez o carro balançar. Em meio ao pânico, seus dedos trêmulos discaram outro número, sem saber a quem estava ligando.

Segundos depois, a voz desesperada de Jaqueline Vieira, sua melhor amiga, encheu o ambiente:

— Clarinha, onde você está? Fala comigo!

Lágrimas escorreram pelos olhos de Clarice, que mordeu o lábio com força para se forçar a ficar consciente.

— Eu... Estou na Ponte do Horizonte.

Com as últimas forças, murmurou essas palavras antes de perder a consciência.

Ela caiu em um sonho profundo. Era catorze anos atrás, o dia em que encontrou Sterling pela primeira vez. Um olhar, e tudo mudou. Ela havia se apaixonado perdidamente.

Quando acordou, estava em um quarto de hospital. Ao lado da cama, Jaqueline a observava com o rosto marcado pela preocupação.

— Clarinha, você finalmente acordou! — Disse Jaqueline, aliviada, com um sorriso radiante. — Você acredita nisso? Você está grávida! Vou ser madrinha desse bebê!

Clarice levou a mão ao abdômen, sentindo uma mistura de emoções. Após um momento de silêncio, ela falou baixinho:

— Jaque, já decidi. Vou me divorciar do Sterling, mas esse bebê... Eu vou tê-lo.

Desde o momento em que soube da gravidez, não havia considerado outra possibilidade além de manter a criança.

Jaqueline arregalou os olhos, chocada.

— Você disse que vai se divorciar do Sterling?

Ela era a única pessoa no mundo que sabia o quanto Clarice amava Sterling. Ouvi-la dizer algo assim parecia surreal.

Clarice tentou sorrir, mas o que surgiu foi uma expressão mais parecida com um choro contido.

— Teresa também está grávida. Sterling quer que ela tenha o bebê.

A voz dela tremeu. A lembrança da morte do irmão mais velho de Sterling, que havia falecido em um acidente de carro no ano anterior, tornou a situação ainda mais dolorosa. O fato de Teresa estar grávida mostrava claramente que o filho não era do falecido marido.

Jaqueline ficou vermelha de raiva, o corpo tremendo.

— Sterling é um desgraçado! Aquela mulherzinha já não basta viver colada nele como uma sanguessuga, agora ainda tem a coragem de aparecer grávida? Que ódio desses dois!

Clarice sentiu o coração apertado, mas segurou a mão da amiga com delicadeza.

— Pense pelo lado bom. Eu vou me divorciar, e meu filho pode chamar outro homem de pai. Aposto que Sterling vai odiar isso. — Ela disse com um sorriso fraco, tentando aliviar a tensão.

Jaqueline não conseguiu conter a risada.

Naquele momento, o celular de Clarice tocou. Ela olhou o número e viu que era Sterling. Sem hesitar, recusou a chamada.

Mas o celular tocou novamente.

Com uma expressão de impaciência, ela atendeu.

— O que você quer? — Perguntou ela com a voz fria.
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