— Ela sofreu um acidente de carro? — Sterling perguntou, franzindo os lábios enquanto seus olhos escuros pousavam em Jaqueline. De repente, ele se lembrou da ligação que havia recebido de Clarice na noite anterior. E se fosse verdade...Nesse momento, a porta do quarto foi aberta. Clarice entrou com sua habitual elegância fria, irradiando uma aura distante. Teresa, ao vê-la, deixou transparecer por um breve momento uma expressão sombria, mas rapidamente a substituiu por uma máscara de preocupação. — Eu ouvi dizer que você sofreu um acidente! Venha cá, deixa eu ver se está tudo bem. Foi grave? — Teresa falou com uma urgência exagerada, como se realmente estivesse preocupada. Os olhos de Sterling escureceram ainda mais. Para ele, aquilo só podia significar uma coisa: Clarice e Jaqueline haviam se unido para enganá-lo. Clarice caminhou até Jaqueline e, com um gesto protetor, puxou-a para trás de si. — Volte para casa. Deixe isso comigo. — Disse ela com firmeza. Jaqueline, in
— Sacrificar a mim para ajudar Teresa? Nem sonhe, Sterling! — Clarice falou com um sorriso no rosto, mas com a dor rasgando seu peito. — Além disso, já decidi: quero o divórcio. Me diga quando terá tempo para irmos ao cartório resolver isso. O sorriso dela era radiante, mas quanto mais brilhava, mais dolorido era o vazio dentro dela. Ela sempre soube que Sterling favorecia Teresa, mas nunca imaginou que a preferência dele fosse tão descarada. No entanto, deixar Teresa se aproveitar dela para subir na vida? Nunca! — Quer o divórcio? Então resolva primeiro o assunto do trending topic de Teresa. Depois disso, eu te dou o que você quer. Mas se eu tiver que agir, não será tão simples quanto você fazer uma retratação. — Sterling respondeu com firmeza, sem nem pensar duas vezes. Para ele, o pedido de divórcio de Clarice era apenas uma estratégia para chamar sua atenção. Ele não acreditava que ela realmente quisesse terminar o casamento. Afinal, três anos atrás, Clarice havia usado t
Ao ouvir o som, Isaac imediatamente levantou o divisor entre os bancos da frente e de trás, garantindo privacidade. Sterling olhou para a mulher em seus braços. Era como se estivesse hipnotizado. Inclinou-se e pressionou os lábios contra os dela. No mesmo instante, um flash cruzou a mente de Clarice: a cena de Sterling beijando Teresa no hospital mais cedo. Sentiu o estômago revirar e, instintivamente, empurrou Sterling, levando a mão à boca enquanto começava a engasgar com um enjoo. O som seco de sua ânsia fez o rosto de Sterling escurecer. — Clarice, o que isso significa? — Ele perguntou, com a voz dura e irritada. Ele a beijava, e ela tinha a audácia de reagir assim? Clarice rapidamente pegou um lenço e limpou os lábios, levantando o rosto para encará-lo com raiva. — Estamos prestes a nos divorciar. Não acha que isso é completamente inapropriado? Sterling estendeu a mão, segurando o queixo dela com firmeza, forçando-a a encará-lo. — Você ainda nem cumpriu o que pro
Teresa, como cunhada mais velha, ser tão próxima de Sterling, o cunhado mais novo, sem se preocupar com o que os outros poderiam falar... Era um absurdo. Isaac pensou em impedir o mordomo, mas antes que pudesse fazer algo, viu Clarice abrir a porta do carro e descer. Ao ouvir as palavras do mordomo, ela já tinha deduzido. Túlio provavelmente desmaiou por causa de Teresa. Ela havia avisado Sterling antes, mas ele não acreditou nela. Agora que Túlio tinha passado mal, Clarice se perguntou como Sterling se sentiria. Talvez nem sentisse nada. Afinal, além de Teresa, ele não se importava com mais ninguém. O mordomo, ao ver Clarice, ficou visivelmente aliviado e até um pouco exaltado. Sua voz aumentou sem perceber: — Sra. Davis, venha rápido comigo! Clarice começou a caminhar em direção à casa e perguntou enquanto andava: — Já chamaram o médico da família? — Sim, mas ele disse que vai demorar cerca de vinte minutos para chegar. — Abriram as janelas para ventilar a casa?
Túlio ficou tão irritado que quase desmaiou de verdade. Sterling, famoso no mundo dos negócios por sua inteligência e habilidade, parecia esquecer metade do cérebro toda vez que o assunto era Teresa. Clarice, com a expressão tranquila, serviu uma tigela de sopa e colocou na frente de Túlio. Sua voz era suave: — Vô, tome um pouco de sopa. Túlio pegou a tigela e tomou um gole. O sabor quente e reconfortante ajudou a aliviar sua raiva. Depois de colocar a tigela na mesa, ele lançou um olhar afiado para Sterling e disse: — Já que você tocou no assunto, vou falar. Clarinha, toda vez que vem aqui, faz questão de cozinhar para mim. Ela sabe o que eu gosto de comer, e, quando tem peixe, ainda tira as espinhas para mim. Clarinha cuida de mim com toda a dedicação! Já a Teresa... Toda vez que aparece, só sabe se jogar no sofá, cheia de manha, enquanto os empregados ficam correndo para servi-la. E eu? Quem cuida de mim? A expressão de Túlio ficou ainda mais séria. — As duas são de fa
Sterling foi completamente desarmado pelo tom da voz de Clarice. Suas mãos firmes seguraram sua cintura, puxando-a ainda mais para perto, como se quisesse fundi-la ao próprio corpo. — Clarice, você também sentiu minha falta, não sentiu? Vamos, me chama de amor. Eles estavam casados há três anos, e quase todas as noites faziam amor. Sterling conhecia cada ponto sensível do corpo dela, sabia exatamente o que fazer para deixá-la sem fôlego e como levá-la ao limite do prazer. Fazia dois dias que não estavam juntos. A saudade já o consumia, e agora, com ela tão macia em seus braços, não pretendia deixá-la escapar. Além disso, fazer amor ao ar livre era algo que ele ainda não havia experimentado. Clarice mordia os lábios, tentando conter os sons que queriam escapar de sua garganta. Sterling, que parecia tão sério e contido na vida pública, era completamente diferente na intimidade. Ele adorava provocá-la, adorava vê-la implorar por ele. E fazia questão de só satisfazê-la quando ela o
Teresa estava furiosa, mas teve que conter seu ódio e forçar um sorriso: — Clarice está chamando você. Vai lá, não precisa se preocupar comigo. — Peça ao motorista que te leve ao hospital. Eu vou logo mais. — Sterling respondeu, colocando Teresa no carro e ordenando ao motorista que seguisse. Dentro do veículo, Teresa observava a silhueta de Sterling ficando cada vez menor enquanto ele se afastava. Suas mãos se fecharam em punhos, as unhas cravando na palma. “Velho desgraçado! Um dia, vou te assistir morrer com meus próprios olhos!” Sterling, depois de se certificar de que Teresa havia partido, voltou para dentro da casa. Na sala de estar, Clarice estava sentada no sofá, calmamente comendo frutas. João estava ao lado dela, conversando, e o ambiente parecia leve e descontraído. Sterling parou por um momento, observando a cena. Clarice sempre se dava bem com os funcionários da mansão. Por que, então, era sempre tão hostil com Teresa? Ao vê-lo entrar, Clarice colocou um pe
— Eu não vou apostar com você! De qualquer forma, se a Clarice não quiser mais você, nem pense em voltar choramingando pra mim! Que vergonha! — Resmungou Túlio com um toque de desprezo. Disse isso enquanto se levantava e caminhava em direção à porta. Sterling, com sua habitual arrogância, estava certo de que Clarice nunca o abandonaria. Mas haveria um dia em que ele se arrependeria. “Haverá um dia em que você vai engolir essas palavras!” Pensou Sterling, arqueando as sobrancelhas enquanto pegava a pasta de documentos e seguia em frente. Do lado de fora, Clarice já havia descido as escadas. João, ao notar sua expressão sombria, demonstrou preocupação. — Dona Clarice, a senhora está se sentindo bem? Está com a aparência pálida. Clarice balançou a cabeça, tentando disfarçar. — Não é nada, estou bem. Mas, por dentro, as palavras de Sterling ainda ecoavam, machucando-a profundamente. Não era à toa que seu rosto refletia tanta dor. — Sente-se um pouco, vou buscar um copo d’
— Não tenho motivos para ir. Melhor deixar pra lá. — A voz do homem carregava um leve tom de melancolia. — Você não quer ver sua mãe? — Sei que ela está bem na família Bennett. Isso me basta. — Por que não a levou com você? Você tem plenas condições de sustentá-la, não tem? — Na família Bennett, ela tem alguém que ama. Ao meu lado, não teria ninguém. Se eu a forçasse a vir comigo, ela murcharia. O caminho que sua mãe escolheu foi voluntário. Se ele a arrancasse dali, ela não seria feliz. E sem felicidade, a vida dela se esvairia mais rápido. Então, para quê? Sterling permaneceu em silêncio. Ele nunca havia pensado sobre amar e ser amado. Desde pequeno, só aprendera a sobreviver e conquistar o que queria, sem nunca refletir sobre sentimentos. O que era, afinal, o amor? — Esquece. Falar disso com você é perda de tempo. Quando um dia amar alguém de verdade, vai entender o que estou dizendo. A ligação caiu. Sterling ficou segurando o celular, se perguntando: o que era
Agora que Clarice não gostava mais dele, Sterling também achava isso irritante. Não entendia por que se importava tanto com isso. O toque do celular interrompeu seus pensamentos. Ele atendeu. — Sr. Sterling, encontramos os outros dois mercenários. Mas já era tarde. Arrancaram a língua deles e quebraram seus braços e pernas. Estão vivos, mas... Vegetando. Não conseguem falar, não podem escrever. Não há nada que possamos extrair deles. Quem fez isso não teve piedade. — A voz do outro lado soava despreocupada, mas carregava um certo tom de provocação. — Ah, e sobre aquilo... Você já perguntou para sua esposa sobre o mentor dela, Thiago? Ou ainda não fizeram as pazes? A última frase veio carregada de um humor malicioso. Sterling soltou um riso frio. — Eu e minha esposa estamos muito bem. Quem disse que brigamos? No entanto, não pôde evitar que um pensamento surgisse. Quando, exatamente, as coisas entre ele e Clarice começaram a desandar? Provavelmente no dia em que ela pediu
— Se eu não digo, você não diz e Teresa também não diz, quem vai saber que você é minha esposa? — Sterling soltou uma risada fria. — Clarice, não testa a minha paciência. Sobe agora e cuida da Teresa! Clarice sentia cada fibra do seu corpo rejeitar aquela ordem. Ainda tentava lutar, agarrando-se à última esperança. — Sterling, eu preciso mesmo fazer isso? Se aceitasse cuidar de Teresa, essa mulher se sentiria ainda mais no direito de pisar nela. — Você pode recusar. Mas, nesse caso, o tratamento da sua avó será interrompido imediatamente. Desde pequeno, tudo que Sterling viveu e todas as pessoas com quem teve contato o transformaram em alguém frio, incapaz de sentir amor ou sequer entender seu significado. Para ele, usar Fernanda para controlar Clarice não era errado. No fim das contas, o mundo não funcionava assim? As pessoas não faziam tudo o que fosse necessário para alcançar seus objetivos? O corpo de Clarice tremia de raiva. Sterling era cruel. Para agradar Teresa, não
— Clarinha, vamos almoçar? — A voz de Jaqueline soou atrás dela. Clarice afastou os pensamentos e se virou para encará-la. — Jaque, me desculpa, mas preciso ir ao hospital. Não vou conseguir almoçar com você hoje. Fica para a próxima, eu te convido! Ela tentou manter a voz estável, sem demonstrar emoção. Mas Jaqueline percebeu que havia algo errado. — Clarinha, foi o Sterling… — Minha avó precisa de mim. Vou lá ver como ela está. — Clarice a interrompeu antes que pudesse terminar a frase. Não queria que Jaqueline soubesse que, diante de Sterling, ela não tinha a menor liberdade. Que era como uma marionete, sempre sendo puxada para onde ele queria. — Então vai logo! Marcamos outro dia. — Jaqueline não insistiu. Sabia que Clarice jamais usaria a avó como desculpa, então, se ela estava dizendo que havia um problema, era porque realmente havia. — Até mais! — Clarice acenou, lançou um breve olhar para o homem ao lado de Jaqueline e saiu apressada. Ela caminhava rápido. N
Clarice ficou momentaneamente surpresa, mas logo recompôs os pensamentos e sorriu antes de responder: — E os funcionários da Villa Serenidade? Por que você não menciona eles? Além disso, hoje em dia qualquer hacker pode modificar um endereço de IP. Quer mesmo me acusar com uma prova tão frágil? De manhã, quando Sterling tocou no assunto, ela nem levou a sério. Afinal, ela sabia que não tinha feito nada de errado e sua consciência estava limpa. Mas agora estava claro que alguém queria incriminá-la, como já havia acontecido antes. Talvez fosse hora de jogar na cara de Sterling as provas que havia reunido das armadilhas anteriores. — Os funcionários da casa têm mais de quarenta, cinquenta anos. Nenhum deles entende disso! Clarice riu com ironia. Então, segundo ele, pessoas de quarenta ou cinquenta anos não poderiam saber nada sobre tecnologia? Ele estava subestimando a inteligência de quem? — Meu avô quer que a gente marque logo a cerimônia de casamento. — Sterling continuou
— Jaque... — Clarice estava prestes a falar quando a porta da sala de descanso se abriu. Jaqueline levantou a cabeça e encontrou diretamente o olhar do homem, um meio sorriso brincando nos lábios dele. Pensou consigo mesma que Clarinha tinha acertado em cheio—ele chegou rápido mesmo. — Ele veio te procurar. Conversem aí, eu te espero lá fora! — Clarice empurrou levemente Jaqueline, levantou-se e ajeitou a roupa antes de se virar. Ao ver o homem, sorriu educadamente e cumprimentou. — Sr. Simão. — Sra. Davis. — O homem respondeu formalmente. Clarice corrigiu suavemente: — Pode me chamar de Clarice. Antes, ela adorava ser chamada de Sra. Davis. Agora, esse título soava como uma piada amarga, algo que não lhe pertencia mais. O homem arqueou ligeiramente a sobrancelha, mas não disse nada. Clarice saiu sem hesitar. Assim que passou pela porta, o celular tocou. — A Giulia caiu na rua e foi parar no hospital. Está na emergência. O rosto de Clarice mudou sutilmente. — O qu
— Giulia, o que você disse? — A voz do outro lado da linha soou cortante, carregada de descontentamento.— Thi... Thiago! — Giulia estava apavorada, mal conseguia falar.Thiago. O advogado que morreu ao cair de um prédio há cinco anos. O mentor de Clarice.— Ele morreu há cinco anos! — O homem do outro lado reforçou, a voz grave e impaciente. — Pare de se assustar à toa!— Ele... Ele não morreu! Ele está vivo! Está bem na minha frente! — Giulia soltou outro grito, a voz trêmula de puro terror.— Alguém está tentando te assustar. Não diga besteira! — O homem a alertou com frieza.— Não é truque, é real! — O rosto diante dela era tão vívido, tão real, que o pânico tomou conta de seu corpo. O mundo girou, e, sem conseguir suportar o choque, Giulia desmaiou, caindo no chão.Seu celular escorregou de sua mão, batendo com força no chão. A tela rachou instantaneamente.— Giulia! Fale comigo! — O homem do outro lado da linha chamou por ela várias vezes, mas não obteve resposta.Ela estava inco
Então, ela se virou apressada e saiu quase correndo.Jaqueline fez menção de ir atrás, mas Clarice segurou seu braço.— Não adianta correr atrás. Vai ser inútil.A reação daquela mulher só confirmava que ela era mesmo Giulia. Se não fosse, por que teria fugido tão desesperada?— Então, vamos embora? — Jaqueline suspirou, aceitando que não havia mais o que fazer.— Você entregou o cartão à vendedora e nem olhou as joias. Vai sair assim, sem comprar nada? — Clarice sorriu de canto. — Aposto que ele vai aparecer aqui daqui a pouco.Afinal, para confirmar a autenticidade do cartão, a funcionária certamente ligaria para o dono.Quanto a Giulia, Clarice já tinha um plano. Agora que ela havia reaparecido, não escaparia tão fácil.Jaqueline apertou os lábios.— Na verdade, eu não quero gastar o dinheiro dele. Mas se eu não gastar, ele diz que eu fico esperando amor, e amor ele não pode me dar.Ela dormia com ele, mas tudo era consensual. Não tinha nada a ver com romance.Se aceitasse o dinheir
Naquele momento, Clarice e Jaqueline passavam em frente a uma joalheria quando, sem querer, Clarice viu uma mulher escolhendo anéis dentro da loja. O rosto dela parecia familiar. Sentindo um aperto no peito, Clarice segurou o braço de Jaqueline e entrou. Assim que se aproximou, reconheceu a mulher de imediato.Era Giulia.Cinco anos atrás, Giulia havia procurado o escritório de advocacia onde Clarice estagiava para dar entrada no divórcio. O marido, além de infiel, era violento. Quem assumiu o caso foi Thiago, seu mentor.Mas o processo sequer chegou ao fim. Antes disso, Thiago morreu ao cair do alto de um prédio.Clarice conhecia bem Thiago. Ele era explosivo, gritava por qualquer coisa, mas nunca, jamais, seria alguém que tiraria a própria vida.Após a morte dele, Clarice tentou encontrar Giulia para entender melhor os acontecimentos. Mas, antes que pudesse conseguir qualquer resposta, Giulia vendeu a casa e desapareceu.Nos últimos cinco anos, Clarice investigou discretamente a mort