Meus olhos se estreitaram, surpresa com o gesto de Davi. Ele ainda se lembrava daquele episódio. No entanto, para mim, uma xícara de chocolate quente que eu não bebi não era algo com que eu me importasse.Eu sorri educadamente e recusei:— Obrigada, mas eu não bebo algo de procedência desconhecida.O rosto de Davi imediatamente se fechou, ficando frio e rígido. Ele claramente entendeu a insinuação por trás das minhas palavras.Sem me incomodar com sua reação, desviei o olhar e joguei o cabelo para trás:— Vamos logo. Se demorarmos muito, o pessoal daqui já vai estar saindo para o fim do expediente.Entramos no prédio, pegamos uma senha e nos sentamos para esperar.Davi continuava me observando, como se quisesse puxar assunto. Mas, antes que ele pudesse dizer algo, meu celular tocou. Aproveitei a oportunidade e me levantei para atender.Era Jean.De repente, lembrei que tinha esquecido de avisá-lo que eu não estava no escritório naquela tarde e que ele não precisava me buscar.— Alô...
Dizia que o casamento era o túmulo do amor, mas ainda era melhor ser enterrado com dignidade do que apodrecer ao relento. Depois de mais de dois meses de trabalho árduo, finalmente terminei de costurar, com minhas próprias mãos, o meu vestido de noiva.Sob a luz do abajur, ele parecia tão branco e elegante, brilhando com um esplendor indescritível. Uma verdadeira obra-prima.Eu já podia me imaginar, em poucos dias, caminhando pelo corredor vestida de noiva, em direção ao homem que amava. Só de pensar nisso, eu quase sorria nos meus sonhos. Dos 19 aos 25 anos, foram seis longos anos de amor. Finalmente, meu relacionamento seria "enterrado" no altar.Mas, ao acordar certa manhã, tudo desmoronou. Todos os meus sonhos se transformaram em pó.— Kiara, o Sr. Davi veio ao ateliê esta manhã para buscar o vestido. Ele o levou para casa? — Perguntou minha assistente, Tatiana, ao telefone, com a voz cheia de curiosidade.Eu tinha acabado de acordar e ainda estava meio grogue. Ao ouvir aquilo, fra
Achei que Davi ficaria furioso, que me acusaria de estar exigindo demais. Mas, para minha surpresa, ele apenas fez uma breve pausa antes de responder:— Certo, nos vemos à noite.Há três anos, nós dois fundamos uma marca de roupas chamada Lustre & Gala, que hoje é um verdadeiro sucesso.Na época, Davi entrou com o capital, e eu entrei com a expertise criativa, como sócia técnica. Agora, a empresa está avaliada em centenas de milhões, pronta para abrir capital na bolsa. O futuro é promissor. Mas, para ficar com Clara, ele está disposto a me entregar tudo. Parece que isso é o que chamam de amor verdadeiro, não é?Olhei para a casa abarrotada de itens do casamento e senti um nojo que me corroía. Tudo parecia tão ofensivo aos meus olhos que, por um instante, desejei tacar fogo em tudo. Chamei uma equipe de mudanças e dei ordens claras: que empacotassem tudo que fosse relacionado a Davi e levassem embora.Graças a Deus! Ainda bem que eu sempre insisti em esperar pela noite de núpcias para c
Quando terminei de falar, joguei o contrato com força no rosto de Davi e me levantei, apontando a porta:— Quero descansar. Vocês podem ir embora. E, por favor, levem todo o lixo de vocês com vocês.Inacreditável. Eu gostava desse homem desde os 16 anos. Foram oito anos de sentimentos e seis anos de relacionamento. Como só hoje consegui enxergar o verdadeiro caráter dele?Na verdade, deveria até agradecer à Clara. Se não fosse ela, eu teria me casado com um homem tão nojento e hipócrita. Minha vida teria sido um verdadeiro inferno.Eduarda, indignada com minhas palavras, levantou-se apressada, dizendo com raiva:— Kiara, esse é o seu problema. Você é muito explosiva! Olhe para Clara. Ela é doce, educada e sempre me trata com respeito...Segurei o riso e o desprezo que subiam em minha garganta. Nesse instante, vi meu cachorro passando pela sala. Puxei os lábios em um sorriso e chamei:— Higger, pega eles!— Au! Au! Au! — Higger, obediente, correu em direção a eles, latindo ferozmente.—
Davi permaneceu imóvel, sem dizer uma palavra.Isabela, no entanto, ergueu a voz e disse com satisfação:— Finalmente você falou algo sensato, Kiara. Afinal, são da mesma família. Não é natural que a irmã mais velha ceda para a mais nova? Considere isso como um presente de casamento para sua irmã.Ri com desdém e, em seguida, olhei para minha madrasta com um sorriso súbito e gentil:— Nesse caso, acho que ainda falta eu oferecer mais um presente.— Que presente? — Isabela perguntou, desconfiada.— Um caixão. Para colocar no altar da cerimônia de casamento.— Kiara! — Isabela ficou lívida de raiva, com o rosto tremendo de indignação, mas não conseguiu dizer mais nada.Com calma, mas com sarcasmo evidente, continuei a sorrir:— Dizem que, antigamente, em certas culturas da China, as famílias incluíam um caixão no enxoval da noiva, para simbolizar a despedida da casa dos pais. Não é uma tradição linda? Claro, não somos chineses, mas, como irmã mais velha, achei que seria um presente de ca
Eu soltei uma risada irônica, tentando controlar a raiva que fervia dentro de mim. Olhei para o movimento desordenado da rua por alguns segundos, até sentir minha mente esfriar. Quando finalmente me virei para ele, a voz saiu carregada de sarcasmo:— Davi, eu não sou uma lixeira. Não importa o quanto eu tenha te amado ou o quanto fiz por você. No momento em que você escolheu me trair, perdeu o direito ao meu amor.Virei-me para ir embora, mas, incapaz de me conter, voltei a apontar para ele e acrescentei:— Mesmo que não sobrasse nenhum homem no mundo, eu não olharia para você de novo. Você me dá nojo.Talvez minha atitude decidida tenha ferido algo dentro dele, porque Davi deu um passo em minha direção e segurou meu braço. Sua voz, antes tão confiante, agora estava embargada de súplica:— Kiara, eu ainda te amo. Esses seis anos juntos foram os melhores da minha vida. Eu nunca vou esquecer o que vivemos. Mas… a Clara está morrendo. Ela é tão... tão miserável, tão vulnerável. Tudo o que
— Kiara, se acontecer alguma coisa com ela, eu quero ver como você vai se explicar! — Davi me lançou um olhar sombrio antes de sair apressado com Clara nos braços.Fiquei parada ali, atordoada, por um longo tempo. A cena do rosto furioso e implacável de Davi continuava gravada na minha mente. Onde tinham ido parar todas aquelas promessas de amor eterno? Tudo parecia uma piada cruel agora. Quando foi que ele começou a mudar? E como eu pude ser tão cega?O abismo da dor parecia me consumir, até que Tatiana entrou na sala, perguntando com preocupação se eu estava bem. Sua presença me trouxe de volta à realidade. Por que eu estava desperdiçando lágrimas com um homem tão desprezível? Respirei fundo, recompus-me e voltei minha atenção ao trabalho.Perto do horário do almoço, meu celular começou a tocar. Era Isabela. Recusei a ligação sem pensar duas vezes. Mas, alguns minutos depois, o telefone tocou novamente. Dessa vez, era meu pai.Um pensamento atravessou minha mente: Será que Clara não
Com o lenço pressionado contra meus olhos ardentes, respirei fundo, tentando conter a maré de emoções. Não tinha energia nem curiosidade para olhar quem estava sentado ao meu lado.Meu pai, no entanto, apareceu de repente, com uma postura surpreendentemente submissa e a voz cheia de respeito:— Sr. Jean, peço desculpas pelo incômodo. Aquele lugar ali é reservado para os convidados de honra. Por favor, permita-me acompanhá-lo até lá.— Não precisa. Fico bem aqui mesmo. — A voz do homem, identificada como Sr. Jean, soou calma e educada, mas com uma autoridade natural que não deixava espaço para mais insistências.Meu pai parecia prestes a dizer algo mais, mas foi interrompido pelo som do microfone. O mestre de cerimônias chamava os pais dos noivos para subirem ao palco. Isabela, percebendo a situação, apressou-se em puxá-lo para longe.Levantei a cabeça, tentando recuperar a compostura. Antes que pudesse devolver o lenço, o alto-falante ecoou mais uma vez:— Convidamos agora a Srta. Kiar
Meus olhos se estreitaram, surpresa com o gesto de Davi. Ele ainda se lembrava daquele episódio. No entanto, para mim, uma xícara de chocolate quente que eu não bebi não era algo com que eu me importasse.Eu sorri educadamente e recusei:— Obrigada, mas eu não bebo algo de procedência desconhecida.O rosto de Davi imediatamente se fechou, ficando frio e rígido. Ele claramente entendeu a insinuação por trás das minhas palavras.Sem me incomodar com sua reação, desviei o olhar e joguei o cabelo para trás:— Vamos logo. Se demorarmos muito, o pessoal daqui já vai estar saindo para o fim do expediente.Entramos no prédio, pegamos uma senha e nos sentamos para esperar.Davi continuava me observando, como se quisesse puxar assunto. Mas, antes que ele pudesse dizer algo, meu celular tocou. Aproveitei a oportunidade e me levantei para atender.Era Jean.De repente, lembrei que tinha esquecido de avisá-lo que eu não estava no escritório naquela tarde e que ele não precisava me buscar.— Alô...
Depois disso, Tânia se curvou diante da câmera. Apesar de parecer claramente contrariada, seu rosto mostrava um misto de arrependimento e desconforto enquanto dizia: — Kiara, me desculpe. Eu peço o seu perdão. Assim que o vídeo foi divulgado, vários amigos começaram a me enviar, parabenizando-me e comentando como finalmente eu tinha conseguido “desmoralizar a família Castro”. Minha reação, no entanto, foi bastante tranquila. Para mim, o pedido de desculpas não fazia tanta diferença na prática. Era apenas uma questão de orgulho. Por outro lado, o fato de Tânia ter chegado a esse ponto, mesmo contra sua vontade, demonstrava muito esforço e coragem. Isso me surpreendeu e, de certa forma, me deu uma sensação de alívio. Logo depois, recebi uma ligação de Davi. — Tânia já pediu desculpas. Quando você vai emitir a carta de perdão? — Vou entrar em contato com meu advogado nos próximos dias para resolver isso. — Pode ser hoje? Fiquei um pouco confusa.— Precisa ser tão urgente
Eu já havia consultado meu advogado sobre o assunto e sabia o que esperar, mas, ao ouvir o que Isabela acabara de dizer, fiquei levemente surpresa. “Como assim? Ele vai sair tão rápido?” A eficiência do processo parecia absurda.Percebendo minha expressão de dúvida, Isabela se apressou em explicar:— Se ele não sair logo, vai acabar morrendo lá dentro!Decidi acompanhar o tom dela e respondi:— Então, se ele está tão doente, interná-lo em um hospital seria apenas um desperdício de recursos médicos. Além disso, ele só vai prolongar o próprio sofrimento.— Kiara, você não tem coração! — Isabela elevou a voz, indignada. — Ele é seu pai! Se não fosse por ele, você nem estaria viva!— Se eu pudesse escolher, preferia nem ter nascido a ter um pai tão desprezível quanto ele! — Retruquei sem hesitar.Isabela ficou tão irritada que começou a tremer. Seus lábios se moviam, mas parecia incapaz de formar palavras. Seus olhos ficaram vermelhos, ameaçando chorar.A raiva que eu havia guardado por ta
Eu não terminei a frase, mas Jean certamente entendeu o que eu quis dizer.— Isso não vai acontecer. Toda a família já sabe que eu tenho namorada. — Jean respondeu com calma.Eu sorri levemente e retruquei:— Só namorada?Lembrei-me do que Emilia havia dito: que até casamentos podem terminar, quanto mais um namoro. Ela também mencionou que Mestre Auth nunca aceitaria nosso relacionamento. Não sabia se ela estava apenas tentando me desestabilizar ou se realmente sabia de algo.Jean, percebendo o tom da minha provocação, respondeu com seriedade:— Eu já disse que nunca trato sentimentos como brincadeira.Depois de falar, ele me olhou com um olhar ainda mais profundo. Após hesitar por um momento, acrescentou:— Na verdade, se você quiser, podemos nos casar agora mesmo.— O quê?Fiquei completamente atônita, encarando-o sem acreditar no que acabara de ouvir. Depois de alguns segundos, balancei as mãos, soltando um riso nervoso:— Não diga essas coisas de forma tão casual. Casamento é algo
Jean manteve a expressão tranquila, sem demonstrar nenhum constrangimento, e explicou:— Ela não tem nada a ver comigo. É o avô dela que tem uma relação com o meu avô.Vendo minha expressão de dúvida, Jean continuou explicando:— O Mestre Serra foi subordinado do meu avô. Ele sempre teve a admiração do meu avô, que o apoiou ao longo da carreira, até que ele se tornou comandante de um distrito militar. Você lembra que eu te falei sobre meu irmão mais velho? Ele é órfão de um colega do meu pai e passou a vida no exército. Nos últimos anos, ele serviu sob o comando do Mestre Serra e recebeu muito apoio dele. Mas, claro, meu irmão é realmente talentoso. Ele já recebeu duas condecorações militares e quase perdeu a vida em serviço. Há dois meses, o Mestre Serra se aposentou e, desde então, ele visita meu avô com frequência. Eles jogam golfe juntos e relembram os velhos tempos de glória.Ouvi atentamente tudo o que Jean dizia. Era a segunda vez que ele mencionava as realizações de seu irmão,
No segundo seguinte, porém, o olhar da Sra. Serra se voltou para mim. Com uma expressão nada amigável, ela disse:— Essa Srta. Kiara é amiga do Mestre Jean? Uma garota dessas, de família tão insignificante e sem muita educação, está a anos-luz da família Auth. Mestre Auth sempre foi conhecido por…— Sra. Serra, Kiara é minha namorada. E, como ela não tem nenhum vínculo com a senhora, não cabe a você dar lições a ela. — Jean interrompeu, mantendo o tom calmo, mas com firmeza suficiente para cortar as palavras dela.Levantei as sobrancelhas, surpresa. Nunca imaginei que ele seria tão direto, chegando a interromper uma pessoa mais velha.O rosto da Sra. Serra ficou imediatamente sombrio.— Jean, minha mãe só está tentando ajudar. Você viu o quão arrogante Kiara é? Ela chutou minha perna e me deixou com um hematoma! — Emilia tentou defender a mãe, levantando a saia para mostrar o machucado na perna.Eu estava prestes a explicar, mas Jean foi mais rápido:— Kiara não machucaria alguém sem m
Eu ainda estava na concessionária quando o celular tocou. Era Tatiana.— Kiara, a Sra. Isabela está aqui procurando por você.Respondi, sem me abalar:— Não se preocupe com ela. Diga que eu tenho compromissos hoje, não vou voltar para a empresa, e peça para ela ir embora.— Mas ela se recusa a sair. Está sentada no seu escritório. Posso pedir para os seguranças tirarem ela de lá?— Não precisa, deixe ela sentada lá.Sabia que, se Isabela causasse confusão, até os seguranças poderiam não dar conta da situação, e isso acabaria prejudicando a operação normal da empresa.— Tudo bem... — Tatiana suspirou e desligou.Não dei muita importância ao assunto. Isabela só sabia aparecer para pedir dinheiro, nada mais. E eu estava decidida: não daria um centavo. Se cedesse uma vez, seria um ciclo sem fim.Guardei o celular no bolso e me virei para voltar ao salão de exibição. Mas, ao levantar o olhar, dei de cara com uma figura familiar. Não, mais do que familiar: uma inimiga.Emilia vinha andando,
— Não precisa se apressar com a transferência da casa. Vamos falar sobre a situação da Tânia. Você disse no tribunal que, se ela te pedisse desculpas, aceitaria um acordo extrajudicial. Isso ainda vale? — Davi perguntou, direto.Eu franzi as sobrancelhas e o encarei:— Você está nesse estado, saindo no frio dessa noite, só para perguntar isso?— E por que não? Você bloqueou meu número e, mesmo depois de trocar o seu, continua ignorando minhas ligações. — Ele rebateu, com um tom de leve acusação e sarcasmo. — Parece até que atender minhas chamadas é uma sentença de morte para você.Fiquei surpresa. Agora que ele mencionou, lembrei que, de fato, tinha recebido duas ligações de números desconhecidos durante o dia e as rejeitei automaticamente.— Ainda vale? — Ele repetiu a pergunta, insistente.Eu respirei fundo. Para ser sincera, não queria que valesse. A atitude de Tânia no tribunal tinha me irritado profundamente.Mas, com Carlos prestes a sair da prisão e sem saber que tipo de problem
Eu fiquei sem palavras. Ainda bem que ele não fez isso, porque, se tivesse feito, eu nunca mais teria cara para encarar Lucas na empresa. A menos que eu trocasse de gerente imediatamente.Pensando nisso, murmurei arrependida:— Se eu soubesse, nem teria te contado. Você não ia me encontrar por acaso, e nem sequer saberia...— O que você disse?— Eu disse que finalmente descobri um defeito seu: ciumento e infantil! — Virei-me para ele, articulando cada palavra de propósito, só para provocá-lo.Mas, em vez de se irritar, ele riu e respondeu com naturalidade:— Tenho muitos defeitos. Com o tempo, você vai descobrindo todos.— Então, por que você não me conta logo? Assim, eu evito te irritar.— Prefiro não.Nossos comentários eram tão infantis que, no final, nem nós mesmos conseguimos levar a conversa a sério.— Chega disso. Vou te levar para casa. Amanhã de manhã, vamos direto ver o carro, e depois te deixo no trabalho. — Jean mudou de assunto, enquanto já organizava minha agenda do dia s