Eu ainda estava na concessionária quando o celular tocou. Era Tatiana.— Kiara, a Sra. Isabela está aqui procurando por você.Respondi, sem me abalar:— Não se preocupe com ela. Diga que eu tenho compromissos hoje, não vou voltar para a empresa, e peça para ela ir embora.— Mas ela se recusa a sair. Está sentada no seu escritório. Posso pedir para os seguranças tirarem ela de lá?— Não precisa, deixe ela sentada lá.Sabia que, se Isabela causasse confusão, até os seguranças poderiam não dar conta da situação, e isso acabaria prejudicando a operação normal da empresa.— Tudo bem... — Tatiana suspirou e desligou.Não dei muita importância ao assunto. Isabela só sabia aparecer para pedir dinheiro, nada mais. E eu estava decidida: não daria um centavo. Se cedesse uma vez, seria um ciclo sem fim.Guardei o celular no bolso e me virei para voltar ao salão de exibição. Mas, ao levantar o olhar, dei de cara com uma figura familiar. Não, mais do que familiar: uma inimiga.Emilia vinha andando,
No segundo seguinte, porém, o olhar da Sra. Serra se voltou para mim. Com uma expressão nada amigável, ela disse:— Essa Srta. Kiara é amiga do Mestre Jean? Uma garota dessas, de família tão insignificante e sem muita educação, está a anos-luz da família Auth. Mestre Auth sempre foi conhecido por…— Sra. Serra, Kiara é minha namorada. E, como ela não tem nenhum vínculo com a senhora, não cabe a você dar lições a ela. — Jean interrompeu, mantendo o tom calmo, mas com firmeza suficiente para cortar as palavras dela.Levantei as sobrancelhas, surpresa. Nunca imaginei que ele seria tão direto, chegando a interromper uma pessoa mais velha.O rosto da Sra. Serra ficou imediatamente sombrio.— Jean, minha mãe só está tentando ajudar. Você viu o quão arrogante Kiara é? Ela chutou minha perna e me deixou com um hematoma! — Emilia tentou defender a mãe, levantando a saia para mostrar o machucado na perna.Eu estava prestes a explicar, mas Jean foi mais rápido:— Kiara não machucaria alguém sem m
Dizia que o casamento era o túmulo do amor, mas ainda era melhor ser enterrado com dignidade do que apodrecer ao relento. Depois de mais de dois meses de trabalho árduo, finalmente terminei de costurar, com minhas próprias mãos, o meu vestido de noiva.Sob a luz do abajur, ele parecia tão branco e elegante, brilhando com um esplendor indescritível. Uma verdadeira obra-prima.Eu já podia me imaginar, em poucos dias, caminhando pelo corredor vestida de noiva, em direção ao homem que amava. Só de pensar nisso, eu quase sorria nos meus sonhos. Dos 19 aos 25 anos, foram seis longos anos de amor. Finalmente, meu relacionamento seria "enterrado" no altar.Mas, ao acordar certa manhã, tudo desmoronou. Todos os meus sonhos se transformaram em pó.— Kiara, o Sr. Davi veio ao ateliê esta manhã para buscar o vestido. Ele o levou para casa? — Perguntou minha assistente, Tatiana, ao telefone, com a voz cheia de curiosidade.Eu tinha acabado de acordar e ainda estava meio grogue. Ao ouvir aquilo, fra
Achei que Davi ficaria furioso, que me acusaria de estar exigindo demais. Mas, para minha surpresa, ele apenas fez uma breve pausa antes de responder:— Certo, nos vemos à noite.Há três anos, nós dois fundamos uma marca de roupas chamada Lustre & Gala, que hoje é um verdadeiro sucesso.Na época, Davi entrou com o capital, e eu entrei com a expertise criativa, como sócia técnica. Agora, a empresa está avaliada em centenas de milhões, pronta para abrir capital na bolsa. O futuro é promissor. Mas, para ficar com Clara, ele está disposto a me entregar tudo. Parece que isso é o que chamam de amor verdadeiro, não é?Olhei para a casa abarrotada de itens do casamento e senti um nojo que me corroía. Tudo parecia tão ofensivo aos meus olhos que, por um instante, desejei tacar fogo em tudo. Chamei uma equipe de mudanças e dei ordens claras: que empacotassem tudo que fosse relacionado a Davi e levassem embora.Graças a Deus! Ainda bem que eu sempre insisti em esperar pela noite de núpcias para c
Quando terminei de falar, joguei o contrato com força no rosto de Davi e me levantei, apontando a porta:— Quero descansar. Vocês podem ir embora. E, por favor, levem todo o lixo de vocês com vocês.Inacreditável. Eu gostava desse homem desde os 16 anos. Foram oito anos de sentimentos e seis anos de relacionamento. Como só hoje consegui enxergar o verdadeiro caráter dele?Na verdade, deveria até agradecer à Clara. Se não fosse ela, eu teria me casado com um homem tão nojento e hipócrita. Minha vida teria sido um verdadeiro inferno.Eduarda, indignada com minhas palavras, levantou-se apressada, dizendo com raiva:— Kiara, esse é o seu problema. Você é muito explosiva! Olhe para Clara. Ela é doce, educada e sempre me trata com respeito...Segurei o riso e o desprezo que subiam em minha garganta. Nesse instante, vi meu cachorro passando pela sala. Puxei os lábios em um sorriso e chamei:— Higger, pega eles!— Au! Au! Au! — Higger, obediente, correu em direção a eles, latindo ferozmente.—
Davi permaneceu imóvel, sem dizer uma palavra.Isabela, no entanto, ergueu a voz e disse com satisfação:— Finalmente você falou algo sensato, Kiara. Afinal, são da mesma família. Não é natural que a irmã mais velha ceda para a mais nova? Considere isso como um presente de casamento para sua irmã.Ri com desdém e, em seguida, olhei para minha madrasta com um sorriso súbito e gentil:— Nesse caso, acho que ainda falta eu oferecer mais um presente.— Que presente? — Isabela perguntou, desconfiada.— Um caixão. Para colocar no altar da cerimônia de casamento.— Kiara! — Isabela ficou lívida de raiva, com o rosto tremendo de indignação, mas não conseguiu dizer mais nada.Com calma, mas com sarcasmo evidente, continuei a sorrir:— Dizem que, antigamente, em certas culturas da China, as famílias incluíam um caixão no enxoval da noiva, para simbolizar a despedida da casa dos pais. Não é uma tradição linda? Claro, não somos chineses, mas, como irmã mais velha, achei que seria um presente de ca
Eu soltei uma risada irônica, tentando controlar a raiva que fervia dentro de mim. Olhei para o movimento desordenado da rua por alguns segundos, até sentir minha mente esfriar. Quando finalmente me virei para ele, a voz saiu carregada de sarcasmo:— Davi, eu não sou uma lixeira. Não importa o quanto eu tenha te amado ou o quanto fiz por você. No momento em que você escolheu me trair, perdeu o direito ao meu amor.Virei-me para ir embora, mas, incapaz de me conter, voltei a apontar para ele e acrescentei:— Mesmo que não sobrasse nenhum homem no mundo, eu não olharia para você de novo. Você me dá nojo.Talvez minha atitude decidida tenha ferido algo dentro dele, porque Davi deu um passo em minha direção e segurou meu braço. Sua voz, antes tão confiante, agora estava embargada de súplica:— Kiara, eu ainda te amo. Esses seis anos juntos foram os melhores da minha vida. Eu nunca vou esquecer o que vivemos. Mas… a Clara está morrendo. Ela é tão... tão miserável, tão vulnerável. Tudo o que
— Kiara, se acontecer alguma coisa com ela, eu quero ver como você vai se explicar! — Davi me lançou um olhar sombrio antes de sair apressado com Clara nos braços.Fiquei parada ali, atordoada, por um longo tempo. A cena do rosto furioso e implacável de Davi continuava gravada na minha mente. Onde tinham ido parar todas aquelas promessas de amor eterno? Tudo parecia uma piada cruel agora. Quando foi que ele começou a mudar? E como eu pude ser tão cega?O abismo da dor parecia me consumir, até que Tatiana entrou na sala, perguntando com preocupação se eu estava bem. Sua presença me trouxe de volta à realidade. Por que eu estava desperdiçando lágrimas com um homem tão desprezível? Respirei fundo, recompus-me e voltei minha atenção ao trabalho.Perto do horário do almoço, meu celular começou a tocar. Era Isabela. Recusei a ligação sem pensar duas vezes. Mas, alguns minutos depois, o telefone tocou novamente. Dessa vez, era meu pai.Um pensamento atravessou minha mente: Será que Clara não
No segundo seguinte, porém, o olhar da Sra. Serra se voltou para mim. Com uma expressão nada amigável, ela disse:— Essa Srta. Kiara é amiga do Mestre Jean? Uma garota dessas, de família tão insignificante e sem muita educação, está a anos-luz da família Auth. Mestre Auth sempre foi conhecido por…— Sra. Serra, Kiara é minha namorada. E, como ela não tem nenhum vínculo com a senhora, não cabe a você dar lições a ela. — Jean interrompeu, mantendo o tom calmo, mas com firmeza suficiente para cortar as palavras dela.Levantei as sobrancelhas, surpresa. Nunca imaginei que ele seria tão direto, chegando a interromper uma pessoa mais velha.O rosto da Sra. Serra ficou imediatamente sombrio.— Jean, minha mãe só está tentando ajudar. Você viu o quão arrogante Kiara é? Ela chutou minha perna e me deixou com um hematoma! — Emilia tentou defender a mãe, levantando a saia para mostrar o machucado na perna.Eu estava prestes a explicar, mas Jean foi mais rápido:— Kiara não machucaria alguém sem m
Eu ainda estava na concessionária quando o celular tocou. Era Tatiana.— Kiara, a Sra. Isabela está aqui procurando por você.Respondi, sem me abalar:— Não se preocupe com ela. Diga que eu tenho compromissos hoje, não vou voltar para a empresa, e peça para ela ir embora.— Mas ela se recusa a sair. Está sentada no seu escritório. Posso pedir para os seguranças tirarem ela de lá?— Não precisa, deixe ela sentada lá.Sabia que, se Isabela causasse confusão, até os seguranças poderiam não dar conta da situação, e isso acabaria prejudicando a operação normal da empresa.— Tudo bem... — Tatiana suspirou e desligou.Não dei muita importância ao assunto. Isabela só sabia aparecer para pedir dinheiro, nada mais. E eu estava decidida: não daria um centavo. Se cedesse uma vez, seria um ciclo sem fim.Guardei o celular no bolso e me virei para voltar ao salão de exibição. Mas, ao levantar o olhar, dei de cara com uma figura familiar. Não, mais do que familiar: uma inimiga.Emilia vinha andando,
— Não precisa se apressar com a transferência da casa. Vamos falar sobre a situação da Tânia. Você disse no tribunal que, se ela te pedisse desculpas, aceitaria um acordo extrajudicial. Isso ainda vale? — Davi perguntou, direto.Eu franzi as sobrancelhas e o encarei:— Você está nesse estado, saindo no frio dessa noite, só para perguntar isso?— E por que não? Você bloqueou meu número e, mesmo depois de trocar o seu, continua ignorando minhas ligações. — Ele rebateu, com um tom de leve acusação e sarcasmo. — Parece até que atender minhas chamadas é uma sentença de morte para você.Fiquei surpresa. Agora que ele mencionou, lembrei que, de fato, tinha recebido duas ligações de números desconhecidos durante o dia e as rejeitei automaticamente.— Ainda vale? — Ele repetiu a pergunta, insistente.Eu respirei fundo. Para ser sincera, não queria que valesse. A atitude de Tânia no tribunal tinha me irritado profundamente.Mas, com Carlos prestes a sair da prisão e sem saber que tipo de problem
Eu fiquei sem palavras. Ainda bem que ele não fez isso, porque, se tivesse feito, eu nunca mais teria cara para encarar Lucas na empresa. A menos que eu trocasse de gerente imediatamente.Pensando nisso, murmurei arrependida:— Se eu soubesse, nem teria te contado. Você não ia me encontrar por acaso, e nem sequer saberia...— O que você disse?— Eu disse que finalmente descobri um defeito seu: ciumento e infantil! — Virei-me para ele, articulando cada palavra de propósito, só para provocá-lo.Mas, em vez de se irritar, ele riu e respondeu com naturalidade:— Tenho muitos defeitos. Com o tempo, você vai descobrindo todos.— Então, por que você não me conta logo? Assim, eu evito te irritar.— Prefiro não.Nossos comentários eram tão infantis que, no final, nem nós mesmos conseguimos levar a conversa a sério.— Chega disso. Vou te levar para casa. Amanhã de manhã, vamos direto ver o carro, e depois te deixo no trabalho. — Jean mudou de assunto, enquanto já organizava minha agenda do dia s
Mas era um sorriso de felicidade.— Tudo bem, se você insiste em vir, não tem como eu te impedir. — Respondi, resignada. Depois de desligar o telefone, voltei para a mesa. Lucas já tinha começado a comer. — Come logo, os ingredientes aqui são bem frescos, está uma delícia. — Assim que me sentei, ele colocou um taco com pimenta no meu prato. Eu rapidamente recusei: — Obrigada, mas pode comer você. Eu me sirvo sozinha. Ele apenas sorriu, como se não tivesse escutado o que eu disse, e continuou colocando comida no meu prato. Naquele momento, lembrei das palavras de Tatiana, que havia comentado que Lucas parecia ter interesse em mim. De repente, achei que a ideia de Jean vir me buscar fazia muito sentido. Pelo menos ficaria claro para Lucas que eu já tinha namorado e que ele não deveria investir mais energia nisso. Terminamos o jantar por volta das nove da noite. Eu estava pensando se Jean já teria terminado seus compromissos, quando o telefone tocou. Era ele, dizendo que já
— Só consegui fazer um reparo provisório. Amanhã você deve levar o carro na concessionária para trocarem a fiação. Assim, evita que o problema volte e te deixe na mão de novo. — Lucas explicou.Eu fiquei muito agradecida e agradeci várias vezes. Como as mãos dele estavam sujas, fui até o carro e peguei uma garrafa d’água para ajudá-lo a lavar as mãos.Depois que Lucas terminou de lavar e secar as mãos, ele olhou para mim e comentou:— Está frio hoje. Me fez lembrar da última vez que a Srta. Kiara me convidou para comer comida mexicana.O recado era claro. Ele queria repetir o convite. Não tive como ignorar e respondi com um sorriso:— Então, que tal eu convidar o Sr. Lucas para jantar comida mexicana hoje? Assim aproveito para agradecer a ajuda com o carro.Se não fosse por Lucas, eu provavelmente teria que esperar no frio por uma ou duas horas até o pessoal da concessionária chegar para fazer o reparo.Lucas riu, satisfeito:— Combinado. E não me ache cara de pau, viu, Srta. Kiara?Co
Eu sabia que minha tia era extremamente supersticiosa. Ela vivia consultando diferentes médiuns e curandeiros, então usei essa frase de propósito, só para assustá-la. Afinal, eu não acreditava nessa bobagem, e não tinha medo de que ela usasse isso contra mim. Como esperado, assim que falei, Camila ficou tão irritada que começou a gaguejar: — Kiara, você... você realmente é... — Ela respirou fundo antes de continuar. — Não é à toa que a Isabela diz que você não tem laços familiares e tem um coração tão cruel quanto o de uma serpente. — Hum, então ótimo. Já que vocês têm corações tão bondosos, cuidem dele bem direitinho. Considerem isso como uma forma de acumular boas ações. Eu segui o raciocínio dela sem me importar, jogando suas palavras de volta. Isso a deixou sem reação por completo. Desliguei o telefone. O advogado, que ainda estava no meu escritório, acabou ouvindo parte da conversa, e, mesmo sendo um estranho, parecia cheio de pena de mim. — Srta. Kiara, parece que ma
— Ouvi dizer que a família dele é muito bem de vida. Eles não se importam com o fato de você já ter sido casada? — Camila perguntou, em tom provocador.Eu não consegui segurar e soltei uma risada seca antes de responder:— E daí que eu fui casada? Não matei ninguém, nem cometi nenhum crime.Camila suspirou com impaciência:— Você é impossível, Kiara. Eu só estava tentando mostrar preocupação, e você responde assim, sem educação.— Obrigada pela sua preocupação, então. Mas estou ocupada, se não for nada urgente, vou desligar.Eu já estava prestes a encerrar a ligação quando ela, apressadamente, me chamou:— Kiara, espera! Ainda preciso falar com você!Suspirei, sentindo que já sabia onde aquilo iria parar, mas voltei o telefone ao ouvido.— Fala logo.— Então… você sabe que seu pai está doente, não sabe? A situação dele é bem grave.Ah, claro. Depois de todo aquele rodeio, ela finalmente chegou ao ponto. O verdadeiro assunto era Carlos.— Que doença? Ele vai morrer quando? — Perguntei,
Eu me encostei no peito dele, sentindo as vibrações de sua respiração, enquanto um profundo sentimento de culpa tomava conta de mim. Pensar que ele era tão bom comigo, enquanto eu ainda insistia em manter uma distância, fazia com que eu me sentisse ainda pior. Mas, por mais que eu quisesse, simplesmente não conseguia abrir meu coração para ele por completo.— Jean… — Chamei com a voz rouca, encostando no peito dele.— Hum? — Ele abaixou a cabeça, e sua respiração quente roçou meu ouvido.Eu o empurrei levemente, criando um pequeno espaço entre nós. Respirei fundo para controlar as emoções e, com uma insegurança evidente, perguntei:— Você realmente não está nem um pouco bravo comigo?Ele ergueu a mão e, com delicadeza, enxugou as lágrimas que haviam escapado pelos meus olhos. Com uma calma impressionante, ele respondeu:— Você já está passando por algo suficientemente difícil e doloroso. Se eu ainda ficasse bravo, só faria você se sentir pior.Eu o encarei, incapaz de conter a profunda