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Capítulo 2

Author: Aurora do coração
last update Last Updated: 2025-01-14 14:04:21
Achei que Davi ficaria furioso, que me acusaria de estar exigindo demais. Mas, para minha surpresa, ele apenas fez uma breve pausa antes de responder:

— Certo, nos vemos à noite.

Há três anos, nós dois fundamos uma marca de roupas chamada Lustre & Gala, que hoje é um verdadeiro sucesso.

Na época, Davi entrou com o capital, e eu entrei com a expertise criativa, como sócia técnica. Agora, a empresa está avaliada em centenas de milhões, pronta para abrir capital na bolsa. O futuro é promissor. Mas, para ficar com Clara, ele está disposto a me entregar tudo. Parece que isso é o que chamam de amor verdadeiro, não é?

Olhei para a casa abarrotada de itens do casamento e senti um nojo que me corroía. Tudo parecia tão ofensivo aos meus olhos que, por um instante, desejei tacar fogo em tudo. Chamei uma equipe de mudanças e dei ordens claras: que empacotassem tudo que fosse relacionado a Davi e levassem embora.

Graças a Deus! Ainda bem que eu sempre insisti em esperar pela noite de núpcias para consumar a relação. Pelo menos não precisei pagar com minha dignidade. Isso seria ainda mais nojento.

Com a casa finalmente arrumada, troquei de roupa e fiz uma maquiagem impecável. Assim que terminei, ouvi o som do motor de um carro no jardim.

Davi tinha chegado. E, para minha surpresa, ele não estava sozinho. Veio acompanhado da mãe, Eduarda Castro.

Fiquei levemente surpresa. Talvez ela estivesse com medo de que o filho saísse perdendo e, por isso, veio pessoalmente negociar comigo?

— Chegou. — Sentei-me no sofá, de forma elegante, sem fazer nenhum movimento para cumprimentá-los. Depois de um breve aceno para Davi, lancei um olhar para Eduarda. — Então você também veio, Sra. Eduarda.

Eduarda, visivelmente desconfortável, forçou um sorriso e disse:

— Já deveria estar me chamando de "mãe", não? Por que voltou a me chamar de Sra. Eduarda?

Sorri, mas fui direta:

— Minha mãe faleceu há anos.

A mensagem era clara: você não é digna desse título.

O rosto de Eduarda ficou lívido, como se tivesse levado um tapa. Toda a expressão desapareceu de sua face num instante.

Davi também ficou com a expressão tensa. Ele se aproximou e tentou suavizar a situação:

— Kiara, quem errou com você fui eu. Não coloque a culpa na minha mãe.

— "Filho sem educação, culpa dos pais." Você está dizendo que a culpa é do seu pai, então?

— Kiara! — Davi aumentou o tom de voz, claramente irritado.

Eu dei de ombros, com um sorriso irônico, demonstrando que aquilo não me afetava em nada.

Eduarda puxou Davi pelo braço, sussurrando:

— Fale direito. Não briguem.

Davi respirou fundo, tentando se controlar, e sentou-se na poltrona ao meu lado. Tirou um documento da pasta que trazia e o colocou na mesa diante de mim:

— Aqui está. Como você pediu, toda a empresa agora é sua. E o nosso noivado está oficialmente cancelado.

Estendi a mão para pegar o contrato e comecei a folheá-lo.

— Empresa é empresa. Mas você levou meu vestido de noiva. Vai pagar por ele, não vai? — Ergui os olhos para ele, com um tom frio e calculado.

Davi franziu a testa, claramente não esperava que eu fosse tão meticulosa:

— Quanto custa o vestido?

— Preço de amiga: um milhão.

Eduarda, incrédula, quase engasgou:

— Kiara, isso é um roubo!

— Sra. Eduarda, sabe o valor das minhas peças no mercado de moda? Quer que seu filho explique? — Respondi com um olhar gelado, cortante.

Os dois ficaram em silêncio. Nenhum deles ousou dizer mais nada.

— Além disso, não precisam levar se não quiserem. — Dei de ombros novamente, com um ar despreocupado. Mas, antes que pudessem reagir, completei com firmeza. — Mas é claro que Clara vai querer o vestido, e, por mais caro que seja, o Sr. Davi vai pagar.

Davi me olhou, surpreso. Ele sabia que eu estava certa. Desde o dia em que Clara entrou pela porta da família Mendes, tudo que eu queria ou valorizava se tornava o próximo alvo dela. Mesmo algo tão simples quanto um vestido de noiva. Com dinheiro, ela poderia comprar qualquer vestido de outro estilista renomado, mas Davi fez questão de levar o que eu mesma criei. Isso não era um pedido de Clara?

Como eu esperava, Davi hesitou por um momento, mas acabou assentindo:

— Certo. Um milhão.

— Você enlouqueceu? — Eduarda olhou para o filho, chocada.

— Mãe, não se envolva nisso. — Davi ignorou a oposição dela e voltou-se para mim. — Clara está muito debilitada. Ela não tem condições de escolher as joias e acessórios para a cerimônia. Ela disse que, já que você escolheu tudo, talvez pudesse ceder isso também.

Embora eu já estivesse preparada para ouvir absurdos, ainda assim fiquei momentaneamente paralisada com aquelas palavras.

— Davi, se Clara quisesse a minha vida, você contrataria um assassino para me matar? — Não consegui conter o sarcasmo.

Davi balançou a cabeça com pressa, como se minhas palavras o tivessem ofendido:

— Kiara, não diga isso. Clara não é assim. Você tem uma ideia muito errada sobre ela. Ela está muito doente e não tem condições de organizar essas coisas. Além disso, você não vai usar mais nada disso mesmo.

Olhei para ele, para o homem que já tinha sido meu noivo, agora defendendo outra mulher. Um sorriso frio e zombeteiro surgiu em meus lábios:

— Davi, você ainda se lembra das promessas que me fez?

Ele costumava dizer que eu salvei a vida dele e que nunca me decepcionaria. Que ele só me amaria, até o fim de sua vida.

Quando ele encontrou meus olhos, seu rosto ficou visivelmente desconfortável. Ele desviou o olhar por um momento, antes de responder com uma voz hesitante:

— Kiara, eu amo você, claro que amo. Mas eu sinto pena dela… compaixão. Ela é tão jovem, dois anos mais nova que você, e está morrendo. Ela é sua irmã… saber que ela está prestes a morrer não te deixa nem um pouco triste?

Triste? Eu? Pela Clara? Minha mente imediatamente voltou à infância. Clara, com seu sorriso diabólico, costumava cortar minhas roupas ou jogar coisas nojentas na minha cama só para me ver gritar. Ela ria alto, se divertindo às minhas custas. Claro, eu nunca deixei barato. Pegava o que ela jogava na minha cama e corria atrás dela tentando enfiar na boca dela. Uma vez, ela ficou tão apavorada que caiu escada abaixo.

E o resultado? Meu pai e a madrasta se juntaram para me dar uma surra daquelas. Mas eu não fiquei quieta. Quando eles saíram de casa, peguei todas as roupas do armário deles e cortei em pedaços.

Ao longo dos anos, enfrentei a família Mendes de todas as formas possíveis. Sofri muito, mas eles também não tiveram paz. No entanto, eu estava sozinha na batalha, e eles sempre acabavam me esmagando.

Se alguém soubesse o quanto eu odiava Clara e a madrasta, Eduarda, jamais me perguntaria se eu estava triste. Ouvir que Clara estava morrendo me causava qualquer coisa, menos tristeza. Pelo contrário, não consegui evitar o tom debochado:

— Pois é… tão jovem e já vai embora. A minha querida madrasta deve estar arrasada. Que pena, né?

Davi e Eduarda não perceberam a ironia. Pelo contrário, pareciam ainda mais abalados.

— É mesmo… — Eduarda fungou, os olhos marejados antes de começar a chorar. — Cada filho é como um pedaço do corpo da mãe. Que mãe não preferiria morrer no lugar do filho?

— Mãe, calma. O médico disse que você não pode passar por emoções fortes. — Davi imediatamente tentou acalmá-la. Ele então se virou para mim, a voz mais suave. — Kiara, eu vou me casar com Clara para realizar o último desejo dela. Depois, eu prometo que vou compensar você com um casamento ainda maior e mais bonito.

Por um momento, achei que tinha ouvido errado. Pisquei, surpresa:

— Espera aí. Você está dizendo que vai se casar com Clara primeiro e, depois que ela morrer, vai voltar para mim?

A incredulidade me fez quase rir.

Eu, Kiara Mendes, a filha mais velha da família Mendes, uma das mulheres mais bonitas, talentosas e bem-sucedidas da alta sociedade de Cidade Saurimo, deveria esperar pacientemente para ser a "segunda esposa" de Davi? Como se eu não tivesse opções? Se eu quisesse me casar, não faltariam jovens brilhantes e promissores para escolher.

Davi percebeu minha expressão de choque e desconforto, e seu rosto se tornou ainda mais inquieto. Mesmo assim, ele continuou com palavras melosas que me deram náusea:

— Kiara, você é a mulher que eu mais amo. É claro que vou me casar com você. Não diga essas coisas. Para mim, você sempre será a única.

Eu não consegui mais ouvir aquele absurdo. Peguei o contrato sobre a mesa e assinei com um movimento rápido e decidido:

— Quer as joias? Tudo bem. Mas vai custar mais um milhão. Deposite o dinheiro na minha conta e, amanhã, eu mesma levo todo o conjunto ao hospital. Assim, aproveito para visitar minha querida irmã.

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