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Capítulo 7

Author: Aurora do coração
Com o lenço pressionado contra meus olhos ardentes, respirei fundo, tentando conter a maré de emoções. Não tinha energia nem curiosidade para olhar quem estava sentado ao meu lado.

Meu pai, no entanto, apareceu de repente, com uma postura surpreendentemente submissa e a voz cheia de respeito:

— Sr. Jean, peço desculpas pelo incômodo. Aquele lugar ali é reservado para os convidados de honra. Por favor, permita-me acompanhá-lo até lá.

— Não precisa. Fico bem aqui mesmo. — A voz do homem, identificada como Sr. Jean, soou calma e educada, mas com uma autoridade natural que não deixava espaço para mais insistências.

Meu pai parecia prestes a dizer algo mais, mas foi interrompido pelo som do microfone. O mestre de cerimônias chamava os pais dos noivos para subirem ao palco. Isabela, percebendo a situação, apressou-se em puxá-lo para longe.

Levantei a cabeça, tentando recuperar a compostura. Antes que pudesse devolver o lenço, o alto-falante ecoou mais uma vez:

— Convidamos agora a Srta. Kiara, a testemunha de honra deste casamento, para subir ao palco!

De repente, as luzes se voltaram para mim. O brilho me cegou momentaneamente, e o salão inteiro ficou em um silêncio absoluto. Eu sabia que todos os presentes estavam chocados, surpresos. Alguns me olhavam com pena, outros com curiosidade mórbida, ansiosos para assistir ao meu vexame.

Respirei fundo, endireitei minha postura e vesti minha armadura invisível. Levantei-me com uma expressão inabalável, como se nada pudesse me atingir, e caminhei em direção ao palco.

O silêncio foi logo quebrado. O burburinho voltou, desta vez ainda mais intenso:

— Sempre ouvi dizer que o Carlos só favorece a filha mais nova e maltrata a mais velha, mas hoje ficou bem claro.

— E quem mandou a Kiara ser tão bonita e talentosa? A madrasta deve morrer de inveja. Sabe como é, né? Ela deve passar o dia enchendo a cabeça do pai com intrigas.

— Pai? Que pai? Depois que aparece uma madrasta, o pai vira padrasto. Nesse caso, pior que padrasto.

— É verdade. Já vi famílias que favorecem um filho, mas ajudar a filha mais nova a roubar o noivo da mais velha? Isso é algo que nunca vi na vida!

— Ah, mas para o Carlos tanto faz. Davi casando com qualquer uma das duas, ele ainda sai ganhando.

As risadas e comentários sarcásticos ecoavam pelo salão. Ouvi cada palavra, mas já não me afetavam. No palco estavam duas pessoas que haviam ser humilhadas muito mais.

O mestre de cerimônias segurava o microfone, tentando trazer um ar de solenidade ao momento. Após algumas palavras sentimentais e clichês, ele finalmente chegou ao ponto:

— Agora daremos início à cerimônia. Para começar, convidamos a Srta. Kiara, testemunha de honra, a proferir algumas palavras de bênção aos noivos.

O microfone foi estendido em minha direção. Hesitei por um segundo, mas acabei pegando-o.

Davi e Clara lançaram um olhar rápido na minha direção antes de se voltarem imediatamente um para o outro, como se fossem os únicos no mundo. Seus rostos transbordavam de amor e ternura, e isso foi o suficiente para que a dor em meu coração se transformasse em algo mais sombrio: um desejo de vingança.

Dei um passo à frente, segurei o microfone com firmeza e, com um sorriso leve e confiante, comecei:

— Hoje é um dia especial. É uma honra para mim ser a testemunha do casamento da minha querida irmã e do meu ex-namorado vencido pelo prazo de validade. Desejo que eles vivam um amor eterno, que sejam inseparáveis e que tenham muitos filhos. — Fiz uma pausa, lançando um olhar para o público antes de continuar. — Em nome dos noivos, agradeço a presença de todos e desejo que suas famílias sejam tão felizes quanto a que presenciamos aqui hoje.

Meu tom era doce, mas o veneno nas palavras era evidente. Querem bênçãos? Pois que tenham muitos filhos. Vamos ver se conseguem realizar isso.

Assim que terminei, o salão explodiu em cochichos e risadas abafadas. Alguém no fundo começou a bater palmas e gritou:

— Excelente! O maior vencedor deste casamento é o Sr. Carlos! Parabéns, Sr. Carlos!

— Parabéns, parabéns! — Outros convidados ecoaram, com um tom de deboche que fez o rosto do meu pai se contorcer de desconforto. Ele levantou a mão, tentando acalmar a plateia, mas foi em vão.

Isso claramente era uma provocação ao meu pai. Ele ficou visivelmente desconcertado, levantou a mão e fez um gesto em direção à plateia, pedindo que os convidados mostrassem um pouco de respeito e parassem com a algazarra.

Isabela, furiosa, não conseguiu se conter:

— Kiara, você não tem vergonha? Que papelão!

Virei-me para ela e respondi com firmeza:

— Vergonha? Por quê? Não fui eu quem roubou o marido de outra pessoa.

Devolvi o microfone ao mestre de cerimônias e me preparei para sair do palco. Mas Clara, com sua costumeira habilidade de transformar qualquer cena em drama, pegou o microfone e me chamou:

— Irmã, espere um momento.

Parei e me virei.

Clara soltou a mão de Davi e caminhou até mim. Segurou minha mão com firmeza e me levou de volta ao centro do palco. Sua voz parecia frágil, mas suficientemente alta para que todos ouvissem:

— Hoje, mais do que qualquer um, quem merece meu agradecimento é a minha irmã.

Ela fez uma pausa dramática, e todos os olhos estavam fixos nela.

— Eu estou doente, sei que não viverei por muito tempo. Antes de morrer, meu maior desejo era me casar com o homem que amo, o Davi. — Disse Clara.
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Ana Claudia Carvalho
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