Clara, com os olhos marejados e a voz embargada, começou a falar:— Quero agradecer à minha irmã por ter permitido que eu e Davi vivêssemos esse amor. Agradeço por ela ter me deixado partir deste mundo sem arrependimentos. Espero que vocês não julguem minha irmã. Ela é a melhor irmã que alguém poderia ter.Ela terminou a frase em meio a soluços, e o salão caiu em silêncio. Todos olhavam para o palco com atenção, sem uma única piada ou comentário maldoso. Olhei para a plateia e, por um instante, achei ter visto um rosto marcante. Um homem de traços fortes, olhos frios como estrelas e lábios que se curvavam num sorriso enigmático. Ele parecia completamente imune ao melodrama de Clara.Clara então se virou para mim, os olhos brilhando de lágrimas e a voz trêmula:— Mana, obrigada por tudo. Mas me diz... você... você me odeia?Senti um calafrio percorrer meu corpo. Não podia acreditar no que estava acontecendo. Clara havia amarrado todos os presentes num jogo moral e estava me forçando a p
A situação saiu completamente do controle. Os convidados, em estado de choque, levantaram seus celulares, registrando tudo freneticamente. Eu estava em desvantagem, sem força suficiente para reagir, mas, felizmente, os pais de Davi, preocupados com a reputação, se apressaram para intervir:— Por favor! Pelo amor de Deus! Isso é o casamento dos nossos filhos! Olha quantos convidados estão aqui! Pare agora! — Saiam da minha frente! Hoje eu acabo com essa desgraçada! Maldita! Nasceu só para me trazer azar! — Carlos estava completamente fora de si, o rosto contorcido de ódio. Ninguém conseguia segurá-lo.De repente, um grito cortou o caos.— Parem! Clara desmaiou! Alguém! Rápido, chamem ajuda! — Isabela ordenou, em pânico.Carlos congelou, os movimentos interrompidos. Ele olhou para trás, largou meu braço bruscamente e correu em direção à sua preciosidade caída no chão.— O que aconteceu? Cadê o celular? Alguém liga para a emergência agora! — Davi gritou, desesperado. Os que me cercava
Por que ele apareceria logo no meu casamento com Davi? Eu não conseguia entender. Será que havia algum engano? Algo fora do meu controle?Mas, pensando bem, alguém tão reservado, que raramente dava as caras, assistir de camarote a uma cena tão caótica e vergonhosa... Bom, ao menos, ele teve um bom motivo para sair de casa.O som do celular me tirou de meus pensamentos confusos.Bela, do outro lado da linha, estava fora de si, gritando de raiva:— Davi e Clara são simplesmente nojentos! Eu juro, quase atirei meu celular na parede! Mas, olha, você não abaixou a cabeça. Fez bem! Eles mereciam apanhar até não levantar mais!Suspirei e, recostando-me no banco, passei a mão pela testa, exausta:— Já se espalhou por toda a internet, não é?— O que você acha? Uma situação dessas? É o tipo de coisa que nem novela consegue inventar. Os comentários estão pegando fogo. O pessoal se dividiu em dois grupos e estão brigando como loucos.Fechei os olhos. Minha cabeça latejava. Queria tanto me vingar,
Alguém iria morrer? O efeito do remédio para dormir ainda deixava minha cabeça pesada. Abri a porta e encarei Davi com um sorriso cínico:— Clara vai morrer?Aquela provocação foi o suficiente para acender sua fúria.— Kiara! Não seja tão cruel! — Davi exclamou, a expressão sombria em seu rosto era algo que eu nunca tinha visto antes.Franzi o cenho, sem paciência para discutir, e tentei empurrá-lo para fora enquanto fechava a porta. Mas Davi foi mais rápido. Com um gesto brusco, ele chutou a porta, forçando-a a abrir novamente, e segurou meu braço com força.— Davi, o que você pensa que está fazendo? Invadir minha casa? Eu vou chamar a polícia! — Gritei, lutando para me soltar. A raiva me dominou, e acabei dando-lhe um tapa no rosto.Ele ignorou o golpe. Sem dizer uma palavra, me arrastou para fora e me empurrou para dentro do carro dele de forma firme e decidida.— Você está louco? Me deixa sair agora! — Protestei, tentando abrir a porta, mas era inútil.— Clara está entre a vida e a
— Então você acabou de descobrir? — Perguntei, olhando para Davi com um sorriso sarcástico. — Clara e Tiago são meus irmãos por parte de pai.Davi arregalou os olhos, ainda mais surpreso:— Irmãos por parte de pai? Mas eles só são dois anos mais novos que você...— Exatamente. Meu querido pai, que não vale nem o chão que pisa, começou a trair minha mãe quando eu tinha só um ano. Talvez antes. Ele fez de tudo para forçá-la a pedir o divórcio, só para poder trazer Isabela e a família dela para dentro de casa.O olhar de Davi oscilava entre Carlos e Isabela, o choque evidente em seu rosto.— Você nunca me contou isso... — Murmurou ele, quase para si mesmo, a voz carregada de um peso que eu não conseguia decifrar. Era como se ele percebesse, naquele instante, o quanto havia errado comigo.— Por que eu contaria? — Retruquei, fria. — Você acha que eu sairia espalhando o lixo da minha família por aí? Além disso, você não é “tão inteligente”? Como nunca percebeu?Continuei, com uma risada amar
— Você tomou remédio para dormir? — Perguntou a enfermeira, franzindo o cenho.— Sim, tomei duas pílulas antes de dormir. Até agora... — Olhei para o relógio eletrônico na porta da sala de emergência. — Deve fazer umas quatro horas.A enfermeira balançou a cabeça imediatamente:— Assim não dá. O exame de sangue vai reprovar.Dei de ombros, abrindo as mãos num gesto despreocupado, e olhei para eles, que estavam com os olhos arregalados de choque. Disse, devagar:— Desculpa, mas não é que eu não queira ajudar. É que realmente não posso.Carlos quase explodiu, sua voz ecoando pelo corredor:— Kiara, você está nos enganando! Sabia que não podia doar sangue e ficou quieta?— Isso não é justo. — Fingi inocência, piscando os olhos. — Foi o Davi que me arrastou à força de casa. Eu não sabia de nada.Passei os olhos por cada um deles, como se estivesse me divertindo com a situação.— Kiara, você... — Davi me encarou com os dentes cerrados, a frustração evidente em cada palavra. Mas, no fim, ele
— Desculpa, eu tô sem celular, não consigo pedir pelo aplicativo. — Expliquei, um pouco constrangida.A garota sorriu, tranquila:— Nem esquenta. Eu ainda nem ativei o sistema de corridas. Quando você chegar em casa, paga o que achar justo.Fiquei ainda mais surpresa, sem palavras por alguns instantes.Passei o endereço da minha casa, e a jovem digitou o destino no GPS. Com um leve movimento no volante, ela saiu do estacionamento.Não havíamos rodado muito quando o celular dela tocou. Ela colocou um fone de ouvido Bluetooth e atendeu:— Oi, mano... Eu já tô saindo, tá? Pede pro motorista te buscar... Ah, foi tudo de última hora, nem deu tempo de te avisar. Depois eu explico... Relaxa, quando eu te contar, você vai concordar que fiz a coisa certa! Tá, tá, tô dirigindo, depois a gente fala.Enquanto ela falava, olhei automaticamente para o retrovisor. Algo chamou minha atenção. Na calçada em frente ao hospital, uma figura masculina alta e elegante. O sol da manhã iluminava suavemente seu
A confusão no casamento me colocou nos trending topics. Quando acordei e peguei o celular, uma avalanche de notificações e chamadas de números desconhecidos quase fez o aparelho explodir. Suspirei, sabendo que o verdadeiro problema estava só começando.Em menos de dois dias, meus dados pessoais e informações da empresa foram divulgados na internet. A situação ficou cada vez mais difícil de controlar.Naquela manhã, ao chegar na empresa, mal saí do carro e já fui cercada por uma multidão de jornalistas que estavam de plantão na porta. Felizmente, Tatiana já estava preparada e, com a ajuda dos seguranças, conseguiu me tirar daquela emboscada.O mais revoltante era que, mesmo Clara sendo a culpada por tudo, ela virou um símbolo de piedade por causa da doença. Os internautas começaram a me atacar em massa. Não só fui alvo de ofensas pessoais, como a loja oficial da empresa também foi invadida por críticas e boicotes, prejudicando as vendas e quase paralisando as operações.O setor de relaç
— Só consegui fazer um reparo provisório. Amanhã você deve levar o carro na concessionária para trocarem a fiação. Assim, evita que o problema volte e te deixe na mão de novo. — Lucas explicou.Eu fiquei muito agradecida e agradeci várias vezes. Como as mãos dele estavam sujas, fui até o carro e peguei uma garrafa d’água para ajudá-lo a lavar as mãos.Depois que Lucas terminou de lavar e secar as mãos, ele olhou para mim e comentou:— Está frio hoje. Me fez lembrar da última vez que a Srta. Kiara me convidou para comer comida mexicana.O recado era claro. Ele queria repetir o convite. Não tive como ignorar e respondi com um sorriso:— Então, que tal eu convidar o Sr. Lucas para jantar comida mexicana hoje? Assim aproveito para agradecer a ajuda com o carro.Se não fosse por Lucas, eu provavelmente teria que esperar no frio por uma ou duas horas até o pessoal da concessionária chegar para fazer o reparo.Lucas riu, satisfeito:— Combinado. E não me ache cara de pau, viu, Srta. Kiara?Co
Eu sabia que minha tia era extremamente supersticiosa. Ela vivia consultando diferentes médiuns e curandeiros, então usei essa frase de propósito, só para assustá-la. Afinal, eu não acreditava nessa bobagem, e não tinha medo de que ela usasse isso contra mim. Como esperado, assim que falei, Camila ficou tão irritada que começou a gaguejar: — Kiara, você... você realmente é... — Ela respirou fundo antes de continuar. — Não é à toa que a Isabela diz que você não tem laços familiares e tem um coração tão cruel quanto o de uma serpente. — Hum, então ótimo. Já que vocês têm corações tão bondosos, cuidem dele bem direitinho. Considerem isso como uma forma de acumular boas ações. Eu segui o raciocínio dela sem me importar, jogando suas palavras de volta. Isso a deixou sem reação por completo. Desliguei o telefone. O advogado, que ainda estava no meu escritório, acabou ouvindo parte da conversa, e, mesmo sendo um estranho, parecia cheio de pena de mim. — Srta. Kiara, parece que ma
— Ouvi dizer que a família dele é muito bem de vida. Eles não se importam com o fato de você já ter sido casada? — Camila perguntou, em tom provocador.Eu não consegui segurar e soltei uma risada seca antes de responder:— E daí que eu fui casada? Não matei ninguém, nem cometi nenhum crime.Camila suspirou com impaciência:— Você é impossível, Kiara. Eu só estava tentando mostrar preocupação, e você responde assim, sem educação.— Obrigada pela sua preocupação, então. Mas estou ocupada, se não for nada urgente, vou desligar.Eu já estava prestes a encerrar a ligação quando ela, apressadamente, me chamou:— Kiara, espera! Ainda preciso falar com você!Suspirei, sentindo que já sabia onde aquilo iria parar, mas voltei o telefone ao ouvido.— Fala logo.— Então… você sabe que seu pai está doente, não sabe? A situação dele é bem grave.Ah, claro. Depois de todo aquele rodeio, ela finalmente chegou ao ponto. O verdadeiro assunto era Carlos.— Que doença? Ele vai morrer quando? — Perguntei,
Eu me encostei no peito dele, sentindo as vibrações de sua respiração, enquanto um profundo sentimento de culpa tomava conta de mim. Pensar que ele era tão bom comigo, enquanto eu ainda insistia em manter uma distância, fazia com que eu me sentisse ainda pior. Mas, por mais que eu quisesse, simplesmente não conseguia abrir meu coração para ele por completo.— Jean… — Chamei com a voz rouca, encostando no peito dele.— Hum? — Ele abaixou a cabeça, e sua respiração quente roçou meu ouvido.Eu o empurrei levemente, criando um pequeno espaço entre nós. Respirei fundo para controlar as emoções e, com uma insegurança evidente, perguntei:— Você realmente não está nem um pouco bravo comigo?Ele ergueu a mão e, com delicadeza, enxugou as lágrimas que haviam escapado pelos meus olhos. Com uma calma impressionante, ele respondeu:— Você já está passando por algo suficientemente difícil e doloroso. Se eu ainda ficasse bravo, só faria você se sentir pior.Eu o encarei, incapaz de conter a profunda
Jean olhou para mim por um momento, depois abriu a porta e desceu do carro. Ele foi até a porta de trás, a abriu e se inclinou, me olhando com cuidado, como se temesse invadir meu espaço:— Quer descer um pouco para pegar um sol?O dia estava lindo. Apesar do vento na Avenida do Rio, o calor do sol trazia uma sensação agradável e reconfortante.Eu assenti, e ele segurou minha mão, ajudando-me a descer do carro. Sentamos juntos na frente do veículo, olhando para o vasto rio à nossa frente. Ficamos um tempo em silêncio, apenas sentindo o calor do sol. Depois de um tempo, ele se virou para mim, com um olhar preocupado, e perguntou:— Está se sentindo melhor agora?— Um pouco. — Respondi com um aceno de cabeça.— Seu pai está doente na prisão?— Sim. Só fiquei sabendo ontem. — Respondi, já entendendo o porquê de Isabela ter saído tão facilmente do meu escritório no dia anterior. Ela claramente planejava aparecer hoje para criar confusão na frente de Jean.Jean ficou em silêncio por alguns
— Mãe! Cala a boca! — Tânia se virou para Eduarda e gritou, furiosa. — Ela está fazendo isso de propósito, só quer ver você se humilhar. Não caia no jogo dela! — Kiara, quem precisa da sua falsa piedade? Se tem coragem, me destrua de uma vez! Porque, assim que eu sair daqui, vou fazer você se arrepender! — Tânia gritou, descontrolada, como se estivesse possuída, cuspindo cada palavra com ódio. Eu me odiei naquele momento. Por que fui me colocar numa situação para ser insultada? — Tudo bem, que você tenha fibra, então vá para a prisão e aprenda a se comportar. — Eu disse isso, me virei e saí sem olhar para trás. Assim que vi Jean, ele suspirou antes mesmo que eu dissesse qualquer coisa: — Por que você sempre amolece no momento decisivo? Era óbvio que ele sabia exatamente o que tinha acontecido no tribunal. Eu apertei os lábios, sentindo um nó de frustração no peito, e respondi com sinceridade: — Pensei que, com a minha vida tão boa agora, não valia a pena guardar rancores.
Amor é amor, dívida é dívida. Essas duas coisas não podem se misturar. Caso contrário, qual seria a diferença entre mim e uma sugar baby que vive às custas de um homem?Jean assentiu com seriedade:— Você tem razão. Eu não considerei isso completamente. Foi um erro meu.Eu sorri de forma travessa e brinquei:— Mas os juros podem ser negociados, né? Um desconto seria bem-vindo.Ele respondeu prontamente:— Claro, e sem prazo para pagar.— Obrigada, Mestre Jean.Achei que, ao recusar a generosidade dele, Jean ficaria incomodado ou talvez até chateado. Mas, enquanto trocávamos essas provocações, percebi que ele continuava o mesmo, com a expressão tranquila de sempre. Isso me deixou aliviada.Jean, de fato, era incrivelmente tolerante e educado. Sua elegância não era uma fachada, mas algo genuíno e enraizado em sua personalidade.O julgamento do meu caso contra Tânia aconteceu no dia marcado. Quando a vi novamente, quase não a reconheci. Ela estava magra como um esqueleto, com as bochechas
Eu fiquei boquiaberta, arregalando os olhos para ele.Jean rapidamente explicou:— Não entenda mal. Só acho que aquele apartamento alugado é muito apertado para você. E também para o Higger. Ele mal tem espaço para se movimentar.— Até com a minha cachorra você se preocupa? — Eu lancei um olhar de lado para ele, fingindo indiferença, mas, por dentro, estava radiante.Que namorado generoso eu arrumei.Jean percebeu o sorriso contido nos meus lábios e, encorajado, avançou um pouco mais. Ele segurou minha mão, acariciando as costas dela com o polegar, em movimentos suaves.— Amar você significa aceitar tudo o que vem com você. Seu cachorro foi muito simpático comigo, então, claro, eu também penso nele.Ele disse isso em um tom doce e envolvente, e os olhos dele ficaram ainda mais calorosos, como se quisessem me envolver por completo. Então, perguntou novamente:— Que tal? Se você gostar daqui, pode se mudar para cá. Prometo respeitar você completamente, até o momento em que estiver pronta
Jean me levou em direção à parte principal da casa, explicando a estrutura e o layout ao nosso redor.Eu pensei comigo mesma:“Quem sou eu para não gostar? Uma mansão independente que vale mais de bilhões... Não deve haver muitas assim na cidade inteira.”Assim que entrei, meu olhar se ampliou para os detalhes dentro da casa. Não importava para onde eu olhasse, tudo parecia digno de uma exposição de arte.Eu não respondi ao que Jean estava dizendo. Em vez disso, me virei, curiosa, e perguntei:— Você mora aqui sozinho? Não sente que o lugar é grande e vazio demais?Jean sorriu e abaixou o olhar para mexer no celular. Com alguns toques, ele ativou o sistema de automação da casa, e todos os equipamentos inteligentes começaram a funcionar.— Eu gosto de silêncio, por isso não tenho empregados aqui. O pessoal do Condomínio Florensa vem de tempos em tempos para limpar.Eu assenti, em silêncio:— É realmente muito bom.Mas, então, me perguntei:“Ele me trouxe aqui para quê? Será que ele está