— Ele me carregou porque minha roupa tinha sido rasgada, e eu estava aterrorizada, sem conseguir andar! — Explicou Clarice, tentando manter a calma. — Mas ele só me levou até o carro. Depois disso, fui para casa com a Jaque.Sua voz era firme, como se quisesse deixar claro que, independentemente de Sterling acreditar ou não, o que ela dizia era a verdade.Sterling ouviu as palavras dela, mas seus olhos ficaram ainda mais frios:— Não houve nenhuma notícia sobre algo assim no viaduto ontem à noite.A implicação era óbvia: ele não acreditava nela.Uma pontada de tristeza atravessou o coração de Clarice. Sterling podia aparecer ao lado de Teresa o tempo todo, estampando os tabloides, vivendo como um casal feliz, até mesmo tendo filhos. E, mesmo assim, nunca se deu ao trabalho de explicar nada a ela.Agora, ela estava ali, expondo sua vulnerabilidade, deixando suas feridas abertas, e ele sequer acreditava em suas palavras. Era isso que significava não ser amada?— Por que parou de falar? E
Sterling arqueou a sobrancelha, com um olhar cortante:— O que você quer dizer com isso?Clarice sorriu de leve, com um ar despreocupado:— Ué, o que eu disse: exatamente isso. Só guarde bem as minhas palavras. Ah, a propósito, já se acalmou? Solta a gravata e me deixa ir embora, vai! Ela falava como se nada tivesse acontecido entre eles.Sterling não respondeu. Apenas abriu a porta do carro e desceu.Isaac, que estava a uma distância segura, fingia olhar para outro lado, mas mantinha a atenção. Assim que viu Sterling sair do carro, apressou-se em ir até ele, mostrando respeito na postura:— Sr. Sterling.— Quero que descubra o que aconteceu ontem à noite na Ponte do Horizonte. E mais: veja os registros de internação da Clarice nos últimos dias. — Ordenou Sterling.Ele não achava que Clarice estivesse mentindo, mas preferia confiar em provas concretas.Isaac achou o pedido estranho, mas apenas assentiu com seriedade:— Sim, senhor.Enquanto Isaac tratava de fazer as ligações, Sterling
— A Sra. Clarice pode passar na empresa? O Sr. Sterling tem algo muito importante para tratar com a senhora. — A voz de Isaac soou firme pelo telefone.Clarice ergueu levemente a sobrancelha, com um sorriso frio nos lábios:— Estou ocupada com trabalho agora. Se o Sr. Sterling tem tanta pressa, ele que venha ao meu escritório. Caso contrário, ele vai ter que esperar até eu terminar aqui.Se fosse em outra época, bastava Isaac ligar e dizer que Sterling queria vê-la, e Clarice largaria tudo para correr até ele. Sterling sempre ocupou o primeiro lugar na vida dela. Mas agora, com o divórcio em curso, não havia mais nenhuma razão para se curvar aos caprichos dele.Abandonar o trabalho para atender ao chamado de Sterling? Nem pensar!— Certo... — Isaac respondeu, resignado, desligando em seguida. Sem alternativa, foi até a sala do chefe para relatar exatamente o que Clarice havia dito.Sterling franziu a testa, surpreso com a recusa. Ele se lembrava bem de como Clarice adorava ir até o esc
Teresa sempre mandava mensagens dizendo que estava grávida, ou falando sobre o quanto Sterling a amava. Depois de tantas vezes, Clarice já achava aquilo irritante.Não era como se ela estivesse impedindo o divórcio. Na verdade, era Sterling quem não queria assinar os papéis.E ao pensar bem, Sterling não parecia amar Teresa tanto quanto ela dizia. Afinal, mesmo com Teresa alegando estar grávida, ele nunca tomara a iniciativa de pedir o divórcio. Que tipo de homem deixaria a mulher que ama ser chamada de amante sem mover um dedo?Enquanto refletia, o toque do celular quebrou seus pensamentos.Clarice suspirou levemente ao ver o número na tela. Depois de um breve momento, atendeu.— Hoje é meu aniversário. Gostaria de te convidar para jantar comigo no restaurante Chá Verde, lá na Praça do Século. A voz de Teresa era suave e melódica, quase encantadora.Clarice curvou os lábios em um sorriso discreto.— Jantar? Não precisa. Mais tarde eu mando alguém entregar um presente para você. — Res
Lilian era uma verdadeira admiradora de Clarice. Para ela, a Sra. Clarice era simplesmente a melhor em tudo.— Se me permite dizer, ser líder de equipe é pouco para você. Com sua competência, deveria ser sócia sênior do escritório. — Comentou Lilian, cheia de convicção.Clarice, no entanto, não compartilhou do entusiasmo. Seu sorriso desapareceu, e ela respondeu com seriedade:— Eu talvez nem seja a escolhida. Esse tipo de coisa, você só comenta comigo aqui dentro. Se falar isso lá fora, vão rir de você... e de mim.Ela sabia que sua popularidade no escritório não era das melhores. Se esse tipo de comentário chegasse aos ouvidos das pessoas erradas e, no fim, ela não fosse promovida, seria alvo de chacota.— Só estou desabafando com você, Sra. Clarice. Claro que não vou sair por aí contando para os outros. Mas, me diga, vai ao jantar hoje à noite? — Perguntou Lilian, com uma casualidade que só existia graças à convivência de dois anos como assistente de Clarice.Clarice olhou para o re
Sterling apertou os lábios, em um misto de hesitação e frustração:— Vovô, não há mesmo nenhuma chance de reconsiderar essa questão?Ele sabia muito bem que Túlio era capaz de pegar o telefone e exigir que Teresa devolvesse o bracelete.— Nenhuma! — Túlio respondeu com firmeza, sua expressão rígida.O bracelete era para Clarice, e só poderia pertencer a ela.Isaac, que estava no canto da sala, manteve-se em silêncio, com a cabeça baixa. Ele também achava errado Sterling ter dado o bracelete da Sra. Davis para Teresa, ainda mais agora que o escândalo estava nos holofotes. Mas, como assistente, sabia que não era o seu lugar opinar.— Talvez... talvez a gente espere a Clarice chegar e decida isso com ela.A voz de Sterling soou rouca, quase incerta.Na mente dele, imagens do passado começaram a surgir. Lembrou-se de quando Teresa, anos atrás, havia lhe dado uma pilha de dinheiro. Aqueles trocados, na época, haviam sido sua salvação durante uma fuga desesperada. Ela tinha salvado sua vida.
Ela não precisava se prender ao que ganhava ou perdia naquele momento.Túlio soltou um resmungo, tirou do bolso um lenço e começou a limpá-lo meticulosamente, alheio ao que acontecia ao seu redor.Teresa, ao observar a cena, sentiu uma humilhação profunda que queimava por dentro. Queria sair dali o mais rápido possível, então disse:— Eu te devolvo a pulseira. Eu vou embora.Sua voz era doce, e o olhar que lançou a Sterling era igualmente carinhoso.— Eu te levo. — Disse Sterling, com um tom firme.— Não precisa. Eu vou sozinha. Fique aqui e cuide melhor do seu avô. — Respondeu Teresa, embora, no fundo, desejasse que ele insistisse em acompanhá-la. Sabia, porém, que enquanto aquele velho teimoso não mudasse de ideia, qualquer gesto de gentileza de Sterling só pioraria a situação.Ela carregava um filho no ventre, o que tornava indispensável garantir seu lugar na família Davis. Um confronto direto com aquele velho insuportável só traria problemas. Por ora, engolir o orgulho era a melhor
Teresa olhou para Sterling com os olhos marejados, sua voz embargada pelo choro. — Sterling. Não foi culpa da Clarice. Eu que me distraí e acabei caindo. Não precisa pedir desculpas por mim! Clarice permaneceu em silêncio, observando Teresa com um olhar indiferente. Se ela queria fingir, que fingisse à vontade. Contanto que não a envolvesse, tudo bem. Sterling lançou um olhar severo para Clarice. — Você não olha por onde anda? Clarice, sem paciência para discutir, respondeu de forma sarcástica: — Tudo bem. Na próxima vez eu presto atenção. Era Teresa quem tinha esbarrado nela, mas, de alguma forma, a culpa sempre recaía sobre Clarice. Sterling a odiava tanto que até o fato de respirar parecia errado aos olhos dele. Túlio, que acompanhava a cena, mantinha uma expressão fechada. Seus olhos afiados fitavam Teresa, que continuava no chão. Ele sabia que ela falava de forma ambígua de propósito, só para que Sterling a interpretasse mal. A habilidade de manipulação dela não er
— Clarinha, você já está casada há alguns anos. Está na hora de ter um filho.Clarice sentiu uma mistura de sentimentos. Ela levantou os olhos para Paula e respondeu:— Estou no auge da minha carreira agora. Não pretendo ter filhos.Ela estava prestes a se divorciar de Sterling e não queria que ninguém soubesse de sua gravidez. Se essa informação chegasse aos ouvidos de Sterling, ela sabia que seu filho estaria em perigo. Não podia correr esse risco.— Uma mulher, depois que se casa, deve cuidar da casa e dos filhos. Carreira é coisa de homem! Clarinha, você sabe da posição do Sr. Sterling em Londa. Além disso, ele é bonito, e não faltam mulheres querendo se aproximar dele. Você, como Sra. Davis, precisa pensar em como manter o coração dele ao seu lado. Quando vocês tiverem um filho, ele vai se estabilizar. — Disse Paula, com um tom direto. Apesar de ter um casamento feliz, ela conhecia bem o mundo das elites e sabia o quanto os homens desse meio podiam ser frios e egoístas.Nos último
Clarice não conseguiu segurar o riso:— Você não trabalha direito e só fica atrás de fofocas! Vai, conta logo o que é.— Aquele Henriques... De repente começaram a dizer que ele é filho ilegítimo da família Martinez, uma das quatro grandes famílias de Londa. Todo mundo está apostando se ele vai ou não reconhecer a família e voltar para os Martinez! — Disse Lilian, quase sussurrando.Esse assunto já tinha se espalhado pelo escritório, mas Lilian ainda falava baixo. Era algo muito delicado, e se o próprio Henriques ouvisse, seria uma situação bem constrangedora.Clarice ficou surpresa. Ela imediatamente pensou em Callum. Henriques e Callum eram meio-irmãos por parte de pai?— Você precisava ver como a Isabelly estava hoje. Toda cheia de si, andando como se já fosse esposa de um milionário! — Lilian soltou uma risada fria.Isabelly, uma mulher que não hesitava em destruir famílias, ainda tinha coragem de se portar daquela forma. Era o cúmulo da falta de vergonha.— Fique longe dela. Cuida
Clarice tinha acabado de demonstrar um comportamento que não parecia ser fingido. Se ela realmente não sabia de nada, como aqueles dois poderiam ter se encontrado? — Depois do almoço, vou passar no hospital. — Disse Clarice enquanto servia café para Paula. Em seguida, perguntou suavemente. — Tia, já escolheu os pratos? Se ainda não pediu, eu posso ir fazer o pedido agora.— Vai lá e resolve isso. — Disse Paula, fazendo um gesto com a mão para dispensá-la.Clarice se levantou e saiu da sala para ir até o salão.Paula observou a silhueta da Clarice enquanto ela se afastava. Seus olhos se estreitaram, e um peso tomou conta de seu coração. Ela conhecia bem o filho. Apesar de parecer calmo por fora, Asher era teimoso e obstinado. Durante todos esses anos, ele nunca conseguiu tirar Clarice do coração. Paula temia que ele pudesse cometer alguma loucura por causa dela.Há três anos, no dia em que Clarice foi flagrada na cama com Sterling, Asher tinha decidido fugir com ela. Se não tivesse des
— Srta. Clarice, pode ir, a senhora está esperando você. — Disse Renata em voz baixa, olhando para Clarice.Ela havia servido Paula por mais de vinte anos, mas ainda não conseguia entender por que a senhora estava de tão mau humor naquele dia.— Tudo bem, vamos.Renata então a guiou para dentro da casa.Paula era uma pessoa gentil e tranquila, e o temperamento de Asher certamente vinha dela. Clarice havia passado boa parte da infância e adolescência ao lado de Paula, e sabia que Paula gostava muito dela.Mas, depois que Clarice se apaixonou por Sterling, suas visitas à Paula se tornaram raras. Ela sempre sentiu um peso na consciência por não retribuir o carinho de Paula como deveria.Nos três anos de casamento com Sterling, mesmo sabendo que Asher havia desaparecido, Clarice nunca procurou a família Bennett para saber como ele estava.Ela havia decidido cortar os laços com os Bennett em silêncio. Isso não era apenas por causa da vigilância constante da família Preston, mas também porqu
Ao ouvir a voz de Clarice, Esther imediatamente se virou. Ao vê-la entrando pela porta, ela perguntou, quase sem pensar:— Você não tinha ido embora? Por que voltou?Clarice caminhou até sua mesa e, calmamente, pegou um pequeno dispositivo de um vaso de flores. Era uma câmera escondida.— Eu vi você entrando aqui, é claro que eu tinha que voltar! — Disse Clarice, com um leve sorriso no rosto.— Você instalou uma câmera na sua própria mesa? — Esther retrucou, virando o rosto para Lilian. — Está vendo? Ela está te espionando! Ela não confia nem um pouco em você!Lilian soltou uma risada curta:— A Dra. Clarice pode colocar o que quiser na mesa dela. E você pode parar com essas tentativas ridículas de nos colocar uma contra a outra.Nos últimos tempos, muitos no escritório estavam agindo de forma traiçoeira, cada um tentando puxar o tapete do outro. Mas Lilian confiava apenas em Clarice, e todas as decisões de Clarice ela apoiava sem hesitar.Clarice olhou para Esther e, com um sorriso af
Clarice apertou levemente os lábios antes de responder:— Agora posso almoçar com você, tudo bem?Do outro lado da linha estava Paula, a mãe de Asher. Uma mulher que, no passado, havia lhe dado muito carinho.Clarice sempre gostou muito de Paula e era imensamente grata a ela. No entanto, por diversos motivos, as duas perderam contato há bastante tempo. Agora, com aquela ligação repentina, Clarice tinha quase certeza de que Paula queria conversar sobre algo importante.— O que você quer comer? Posso pedir para alguém reservar uma mesa. — Paula perguntou em um tom suave, como se temesse que uma voz mais alta pudesse assustar Clarice.— Lembro que a senhora gosta de comida mexicana. Que tal aquele restaurante chamado El Pirata, na Avenida da República? — Clarice sugeriu. Ela se lembrava perfeitamente dos gostos de cada membro da família Bennett, já que passava muito tempo com eles e frequentemente jantava em sua casa.— Depois de tantos anos, você ainda se lembra... Está bem, vamos ao res
O ar de Asher ficou preso por um instante, e sua mão apertou inconscientemente a taça que segurava. Sterling havia transformado o Grupo Davis em uma potência mundial, parte da lista das quinhentas maiores empresas do mundo, em questão de poucos anos. Alguém assim não chegaria tão longe sem métodos implacáveis. Sterling era frio, calculista e completamente desprovido de compaixão.Clarice já sofria o suficiente convivendo com ele. Se Sterling decidisse descontar sua raiva nela, seria ela quem pagaria o preço. Apenas imaginar isso fazia o peito de Asher doer, a ponto de quase não conseguir respirar. Ele não conseguia conceber a ideia de permitir que Clarice enfrentasse tanto sofrimento.Asher respirou fundo antes de falar, num tom controlado:— O que o Sr. Sterling quer?Sterling observou o desconforto de Asher e, por algum motivo, sentiu-se ainda mais irritado. Aquele homem estava assim por causa da esposa dele! Um estranho, e ainda assim, tão devotado à sua mulher.— Ouvi dizer que o G
Era claro que Isaac jamais teria coragem de dizer aquelas palavras para Sterling. Quando voltou ao seu escritório, ele fechou a porta e ligou para Asher.Depois de encerrar a ligação, Isaac soltou um suspiro de alívio e, em seguida, foi até a sala do presidente para fazer seu relatório. Assim que terminou, saiu rapidamente para continuar com suas tarefas.Ele recebia um salário alto, sem dúvida, mas a carga de trabalho era extenuante. Estava de prontidão vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. Isaac estava sempre ocupado, sempre cansado. Nos últimos tempos, com o humor de Sterling piorando, ele frequentemente ficava até altas horas no escritório. O estresse era tanto que ele notava tufos de cabelo caindo. Ele já começava a temer que ficaria careca antes mesmo de completar trinta anos.No horário de almoço, assim que o relógio marcou meio-dia, Isaac desligou o computador e foi direto para a sala de Sterling:— Sr. Sterling, podemos ir agora?O Sr. Asher já havia reservado o
Teresa ficou tensa no mesmo instante, agarrando inconscientemente o lençol da cama com força. Sterling e Clarice não estavam em pé de guerra? Por que ele estava defendendo-a? “Aquela vagabunda deve estar se insinuando para o Sterling pelas minhas costas. Que mulher sem vergonha!” Teresa pensou, furiosa. — Cuide da sua recuperação. Quando estiver melhor, pode ter alta e sair do hospital. Já falei com minha mãe para você ir morar com ela. Pedi ao Isaac que contratasse uma nutricionista e uma babá. Assim, você será bem cuidada e não precisará se preocupar com nada. — Sterling disse, com um tom prático, virando-se para sair. A empresa estava mesmo muito ocupada ultimamente. Havia uma licitação importante com o governo e uma das filiais no exterior estava em fase de preparação para o IPO. — Sterling, eu não quero morar com a sua mãe. Posso morar sozinha? — Teresa disse rapidamente, tentando esconder o nervosismo. Ela realmente não queria viver com Virgínia. Afinal, Virgínia não