Ao ouvir o nome de Asher, Clarice lembrou-se de como ele havia salvado sua vida recentemente. Preocupada que Sterling pudesse querer causar problemas para ele, apressou-se em explicar:— Eu e o Asher somos completamente inocentes! Não é nada do que você está pensando!Sterling observou o desespero nos olhos dela, e um brilho sombrio tomou conta de seu olhar. Seus dedos apertaram ainda mais o braço de Clarice.— Está preocupada que eu vá atrás dele? — Perguntou Sterling com a voz baixa, carregada de malícia.Ela mal havia se recuperado do que ele fazia em seu corpo, mas ao ouvir o nome de Asher, toda a resposta física desapareceu. Sterling percebeu isso imediatamente. Clarice realmente estava disposta a proteger Asher, não estava?O corpo dela enrijeceu, e ela sacudiu a cabeça com pressa, tentando negar:— Não é isso! Eu não quis dizer isso!Sterling sentiu a mudança em seu corpo. Sua expressão ficou séria, e ele franziu as sobrancelhas.— A Sra. Davis está se tornando uma mentirosa cad
— Ele me carregou porque minha roupa tinha sido rasgada, e eu estava aterrorizada, sem conseguir andar! — Explicou Clarice, tentando manter a calma. — Mas ele só me levou até o carro. Depois disso, fui para casa com a Jaque.Sua voz era firme, como se quisesse deixar claro que, independentemente de Sterling acreditar ou não, o que ela dizia era a verdade.Sterling ouviu as palavras dela, mas seus olhos ficaram ainda mais frios:— Não houve nenhuma notícia sobre algo assim no viaduto ontem à noite.A implicação era óbvia: ele não acreditava nela.Uma pontada de tristeza atravessou o coração de Clarice. Sterling podia aparecer ao lado de Teresa o tempo todo, estampando os tabloides, vivendo como um casal feliz, até mesmo tendo filhos. E, mesmo assim, nunca se deu ao trabalho de explicar nada a ela.Agora, ela estava ali, expondo sua vulnerabilidade, deixando suas feridas abertas, e ele sequer acreditava em suas palavras. Era isso que significava não ser amada?— Por que parou de falar? E
Sterling arqueou a sobrancelha, com um olhar cortante:— O que você quer dizer com isso?Clarice sorriu de leve, com um ar despreocupado:— Ué, o que eu disse: exatamente isso. Só guarde bem as minhas palavras. Ah, a propósito, já se acalmou? Solta a gravata e me deixa ir embora, vai! Ela falava como se nada tivesse acontecido entre eles.Sterling não respondeu. Apenas abriu a porta do carro e desceu.Isaac, que estava a uma distância segura, fingia olhar para outro lado, mas mantinha a atenção. Assim que viu Sterling sair do carro, apressou-se em ir até ele, mostrando respeito na postura:— Sr. Sterling.— Quero que descubra o que aconteceu ontem à noite na Ponte do Horizonte. E mais: veja os registros de internação da Clarice nos últimos dias. — Ordenou Sterling.Ele não achava que Clarice estivesse mentindo, mas preferia confiar em provas concretas.Isaac achou o pedido estranho, mas apenas assentiu com seriedade:— Sim, senhor.Enquanto Isaac tratava de fazer as ligações, Sterling
— A Sra. Clarice pode passar na empresa? O Sr. Sterling tem algo muito importante para tratar com a senhora. — A voz de Isaac soou firme pelo telefone.Clarice ergueu levemente a sobrancelha, com um sorriso frio nos lábios:— Estou ocupada com trabalho agora. Se o Sr. Sterling tem tanta pressa, ele que venha ao meu escritório. Caso contrário, ele vai ter que esperar até eu terminar aqui.Se fosse em outra época, bastava Isaac ligar e dizer que Sterling queria vê-la, e Clarice largaria tudo para correr até ele. Sterling sempre ocupou o primeiro lugar na vida dela. Mas agora, com o divórcio em curso, não havia mais nenhuma razão para se curvar aos caprichos dele.Abandonar o trabalho para atender ao chamado de Sterling? Nem pensar!— Certo... — Isaac respondeu, resignado, desligando em seguida. Sem alternativa, foi até a sala do chefe para relatar exatamente o que Clarice havia dito.Sterling franziu a testa, surpreso com a recusa. Ele se lembrava bem de como Clarice adorava ir até o esc
Teresa sempre mandava mensagens dizendo que estava grávida, ou falando sobre o quanto Sterling a amava. Depois de tantas vezes, Clarice já achava aquilo irritante.Não era como se ela estivesse impedindo o divórcio. Na verdade, era Sterling quem não queria assinar os papéis.E ao pensar bem, Sterling não parecia amar Teresa tanto quanto ela dizia. Afinal, mesmo com Teresa alegando estar grávida, ele nunca tomara a iniciativa de pedir o divórcio. Que tipo de homem deixaria a mulher que ama ser chamada de amante sem mover um dedo?Enquanto refletia, o toque do celular quebrou seus pensamentos.Clarice suspirou levemente ao ver o número na tela. Depois de um breve momento, atendeu.— Hoje é meu aniversário. Gostaria de te convidar para jantar comigo no restaurante Chá Verde, lá na Praça do Século. A voz de Teresa era suave e melódica, quase encantadora.Clarice curvou os lábios em um sorriso discreto.— Jantar? Não precisa. Mais tarde eu mando alguém entregar um presente para você. — Res
Lilian era uma verdadeira admiradora de Clarice. Para ela, a Sra. Clarice era simplesmente a melhor em tudo.— Se me permite dizer, ser líder de equipe é pouco para você. Com sua competência, deveria ser sócia sênior do escritório. — Comentou Lilian, cheia de convicção.Clarice, no entanto, não compartilhou do entusiasmo. Seu sorriso desapareceu, e ela respondeu com seriedade:— Eu talvez nem seja a escolhida. Esse tipo de coisa, você só comenta comigo aqui dentro. Se falar isso lá fora, vão rir de você... e de mim.Ela sabia que sua popularidade no escritório não era das melhores. Se esse tipo de comentário chegasse aos ouvidos das pessoas erradas e, no fim, ela não fosse promovida, seria alvo de chacota.— Só estou desabafando com você, Sra. Clarice. Claro que não vou sair por aí contando para os outros. Mas, me diga, vai ao jantar hoje à noite? — Perguntou Lilian, com uma casualidade que só existia graças à convivência de dois anos como assistente de Clarice.Clarice olhou para o re
Sterling apertou os lábios, em um misto de hesitação e frustração:— Vovô, não há mesmo nenhuma chance de reconsiderar essa questão?Ele sabia muito bem que Túlio era capaz de pegar o telefone e exigir que Teresa devolvesse o bracelete.— Nenhuma! — Túlio respondeu com firmeza, sua expressão rígida.O bracelete era para Clarice, e só poderia pertencer a ela.Isaac, que estava no canto da sala, manteve-se em silêncio, com a cabeça baixa. Ele também achava errado Sterling ter dado o bracelete da Sra. Davis para Teresa, ainda mais agora que o escândalo estava nos holofotes. Mas, como assistente, sabia que não era o seu lugar opinar.— Talvez... talvez a gente espere a Clarice chegar e decida isso com ela.A voz de Sterling soou rouca, quase incerta.Na mente dele, imagens do passado começaram a surgir. Lembrou-se de quando Teresa, anos atrás, havia lhe dado uma pilha de dinheiro. Aqueles trocados, na época, haviam sido sua salvação durante uma fuga desesperada. Ela tinha salvado sua vida.
Ela não precisava se prender ao que ganhava ou perdia naquele momento.Túlio soltou um resmungo, tirou do bolso um lenço e começou a limpá-lo meticulosamente, alheio ao que acontecia ao seu redor.Teresa, ao observar a cena, sentiu uma humilhação profunda que queimava por dentro. Queria sair dali o mais rápido possível, então disse:— Eu te devolvo a pulseira. Eu vou embora.Sua voz era doce, e o olhar que lançou a Sterling era igualmente carinhoso.— Eu te levo. — Disse Sterling, com um tom firme.— Não precisa. Eu vou sozinha. Fique aqui e cuide melhor do seu avô. — Respondeu Teresa, embora, no fundo, desejasse que ele insistisse em acompanhá-la. Sabia, porém, que enquanto aquele velho teimoso não mudasse de ideia, qualquer gesto de gentileza de Sterling só pioraria a situação.Ela carregava um filho no ventre, o que tornava indispensável garantir seu lugar na família Davis. Um confronto direto com aquele velho insuportável só traria problemas. Por ora, engolir o orgulho era a melhor
Jaqueline se virou bruscamente, surpresa, seus belos olhos fixos no homem. — Do que você está falando? Que absurdo é esse?! — Você sabe melhor do que ninguém se é absurdo ou não. Jaqueline, já que está comigo, é melhor se comportar. Caso contrário, veremos como eu cuido de você. — Os dedos longos dele brincavam com o pequeno sino no tornozelo dela, enquanto sua voz fria carregava uma ameaça sombria. Há poucos instantes, os dois estavam envolvidos em carícias e sussurros íntimos. Agora, as palavras do homem eram cortantes e impiedosas. Jaqueline respirou fundo e, ignorando a dor no corpo, se ergueu lentamente. Com um gesto gracioso, puxou os cabelos longos e ondulados para trás da orelha e soltou uma risada suave. — Se eu não obedecer, perco tudo, né? Seu estúdio. Sua melhor amiga. Tudo o que havia conquistado. O sorriso dela era encantador, sedutor até, mas nos olhos havia um brilho úmido, quase imperceptível. O homem sentiu uma irritação inexplicável crescer dentro del
Quanto à punição que Sterling decidiria para ela, isso era um problema para depois. Guardando o celular, Clarice seguiu diretamente até o posto de enfermagem para falar com as enfermeiras e pedir que ficassem atentas a Teresa no quarto. Depois disso, saiu do hospital. Ela já tinha avisado Sterling que iria embora e também se certificou de que Teresa receberia os devidos cuidados. Se algo acontecesse nesse meio tempo, ninguém poderia culpá-la. Ao descer as escadas, enquanto esperava o carro, pegou o celular e ligou para Jaqueline. — Clarinha, o que foi? — Jaque, preciso ir ao hospital fazer mais um ultrassom. Você está livre para ir comigo? — Outro exame? O bebê está bem? — A preocupação na voz de Jaqueline foi imediata. — Existe a possibilidade de serem gêmeos! — Clarice respondeu, lembrando-se de como Jaqueline havia brincado com essa ideia antes. No fim, parecia que a boca dela realmente tinha poder. — O quê? Meu Deus! Que surpresa incrível! Onde você está? Espera aí
— Sterling, eu preciso sair agora e quis avisar você.Se não avisasse, com certeza Teresa arranjaria um jeito de armar contra ela pelas costas. Antes, quando estava sozinha, não se importava com o que Sterling fazia para atormentá-la. Mas agora, grávida de gêmeos, não podia se dar ao luxo de deixar que ele causasse problemas. Toda a esperteza que adquiriu no mercado de trabalho agora era usada para lidar com Sterling e Teresa. Se não fosse por ela mesma, ao menos precisava pensar nos bebês que carregava no ventre.— Você não acabou de voltar da rua? Vai aonde de novo? — Sterling perguntou, claramente irritado. Essa mulher agora queria sair o tempo todo!— Enviei meu currículo pela internet e uma empresa me chamou para uma entrevista agora. — Clarice, obviamente, não podia dizer a verdade, então inventou qualquer desculpa. Mentir não era nenhum desafio para ela.— Você ainda nem pediu demissão e já está fazendo entrevista em outra empresa? Clarice, você é advogada, por acaso não conhec
— Tem um projeto de paisagismo que precisa de um estúdio para elaborar as plantas. Parece que a melhor amiga da Sra. Davis abriu um escritório de design de jardins e tem uma boa reputação. Quer que eu entre em contato com ela? — Isaac perguntou com cautela, tentando entender o que Sterling pensava sobre o assunto. — Por acaso só existe esse estúdio de paisagismo em toda Londa? — Sterling retrucou friamente. — Entendi. — Isaac compreendeu na hora. Sterling obviamente não queria envolvimento com esse estúdio, então melhor deixar pra lá. Sterling massageou as têmporas, sentindo um leve incômodo. — Espalhe a notícia de que estamos buscando parceiros para esse projeto. O resto não é problema seu. Agora, traga os documentos urgentes para eu assinar. Se Clarice e Jaqueline eram tão próximas, era apenas questão de tempo até que ela viesse pedir um favor. E quando isso acontecesse, ele poderia impor suas condições. Isaac, mesmo sem entender a intenção de Sterling, apenas assentiu e
O olhar de Sterling pousou no rosto dela, e um sorriso frio curvou seus lábios. — Você realmente é uma esposa exemplar. Será que devo te recompensar? Clarice sorriu de leve e balançou a cabeça. — Não quero nada. As recompensas que ele oferecia eram um peso que ela não podia carregar. — Hmph... — Sterling franziu a testa, sua expressão sombria. — Fique aqui e cuide bem da Teresa. Vou para a empresa. A indiferença dela o incomodava. — Então vá com calma. — Clarice acenou com a mão, o sorriso radiante no rosto. Sterling soltou um resmungo frio pelo nariz e virou-se para sair. Antes, Clarice nunca o tratava assim. Sempre que ele saía, ela o acompanhava até a porta e ainda pedia um beijo de despedida. Agora, tudo que ele recebia era um simples “vá com calma”. A diferença era gritante. Com o humor azedo, Sterling entrou no carro. O celular tocou. Era Túlio. Mesmo irritado, ele atendeu a chamada. — Vô, já prometi que vou para o jantar. Se eu disse que vou, então eu v
Clarice hesitou por um instante, mas não teve escolha senão sair do elevador e pegar o celular para ligar para Sterling. A chamada, no entanto, estava ocupada. Provavelmente, ele estava falando com Teresa. Sem alternativa, ela se dirigiu à recepção para buscar informações. Assim que terminou de perguntar, ao se virar, seus olhos pousaram diretamente em Teresa, que caminhava em direção ao elevador de braços dados com Sterling. O sorriso doce no rosto dela contrastava com a expressão serena de Sterling. Naquele instante, um aperto desconfortável tomou conta do peito de Clarice. Ela respirou fundo, desviou o olhar e seguiu para a escada. Ao chegar ao andar da internação, parou diante da porta do quarto da avó e permaneceu ali por alguns segundos, tentando reunir forças antes de finalmente empurrar a porta e entrar. O quarto estava silencioso, apenas o som ritmado dos aparelhos monitorando os sinais vitais preenchia o ambiente. A imagem da avó, deitada na cama, com um tubo
— Não tenho motivos para ir. Melhor deixar pra lá. — A voz do homem carregava um leve tom de melancolia. — Você não quer ver sua mãe? — Sei que ela está bem na família Bennett. Isso me basta. — Por que não a levou com você? Você tem plenas condições de sustentá-la, não tem? — Na família Bennett, ela tem alguém que ama. Ao meu lado, não teria ninguém. Se eu a forçasse a vir comigo, ela murcharia. O caminho que sua mãe escolheu foi voluntário. Se ele a arrancasse dali, ela não seria feliz. E sem felicidade, a vida dela se esvairia mais rápido. Então, para quê? Sterling permaneceu em silêncio. Ele nunca havia pensado sobre amar e ser amado. Desde pequeno, só aprendera a sobreviver e conquistar o que queria, sem nunca refletir sobre sentimentos. O que era, afinal, o amor? — Esquece. Falar disso com você é perda de tempo. Quando um dia amar alguém de verdade, vai entender o que estou dizendo. A ligação caiu. Sterling ficou segurando o celular, se perguntando: o que era
Agora que Clarice não gostava mais dele, Sterling também achava isso irritante. Não entendia por que se importava tanto com isso. O toque do celular interrompeu seus pensamentos. Ele atendeu. — Sr. Sterling, encontramos os outros dois mercenários. Mas já era tarde. Arrancaram a língua deles e quebraram seus braços e pernas. Estão vivos, mas... Vegetando. Não conseguem falar, não podem escrever. Não há nada que possamos extrair deles. Quem fez isso não teve piedade. — A voz do outro lado soava despreocupada, mas carregava um certo tom de provocação. — Ah, e sobre aquilo... Você já perguntou para sua esposa sobre o mentor dela, Thiago? Ou ainda não fizeram as pazes? A última frase veio carregada de um humor malicioso. Sterling soltou um riso frio. — Eu e minha esposa estamos muito bem. Quem disse que brigamos? No entanto, não pôde evitar que um pensamento surgisse. Quando, exatamente, as coisas entre ele e Clarice começaram a desandar? Provavelmente no dia em que ela pediu
— Se eu não digo, você não diz e Teresa também não diz, quem vai saber que você é minha esposa? — Sterling soltou uma risada fria. — Clarice, não testa a minha paciência. Sobe agora e cuida da Teresa! Clarice sentia cada fibra do seu corpo rejeitar aquela ordem. Ainda tentava lutar, agarrando-se à última esperança. — Sterling, eu preciso mesmo fazer isso? Se aceitasse cuidar de Teresa, essa mulher se sentiria ainda mais no direito de pisar nela. — Você pode recusar. Mas, nesse caso, o tratamento da sua avó será interrompido imediatamente. Desde pequeno, tudo que Sterling viveu e todas as pessoas com quem teve contato o transformaram em alguém frio, incapaz de sentir amor ou sequer entender seu significado. Para ele, usar Fernanda para controlar Clarice não era errado. No fim das contas, o mundo não funcionava assim? As pessoas não faziam tudo o que fosse necessário para alcançar seus objetivos? O corpo de Clarice tremia de raiva. Sterling era cruel. Para agradar Teresa, não