— Dorme logo. A Clarice sabe tomar as próprias decisões, você não precisa se preocupar com isso. — Sterling falou enquanto ajeitava o cobertor de Teresa. — Já está tarde, vou para o sofá tirar um cochilo. O tom frio e indiferente do homem não denunciava nada, e Teresa, sem conseguir interpretar suas intenções, decidiu não insistir. — Tá bom. Vai descansar. Eu também vou dormir. — Disse, fechando os olhos. Sterling ficou parado ao lado da cama por alguns instantes, depois se virou e saiu do quarto silenciosamente. Assim que a porta se fechou, Teresa abriu os olhos e murmurou para si mesma: — Clarice, espera só. Eu vou tirar o Sterling de você, custe o que custar! Do lado de fora do quarto, Sterling já estava ao telefone com Isaac. …Quando Clarice abriu os olhos, percebeu que estava deitada em uma cama de hospital. O cheiro forte de desinfetante a fez franzir a testa. Mais uma vez no hospital. — Clarinha, você acordou! Está sentindo alguma coisa? — A voz de Jaqueline vei
Foi só então que Clarice se lembrou do celular que havia sido entregue na casa de Jaqueline na noite anterior. Assim que entendeu a situação, atendeu a ligação. — A família de Fernanda precisa vir ao hospital imediatamente. Fernanda está em procedimento de emergência e precisamos da sua assinatura para confirmar o tratamento. — A voz da enfermeira do outro lado da linha era fria e direta. O coração de Clarice disparou. Ela respondeu rapidamente: — Tudo bem, eu estou indo agora! Fernanda Figueiredo era sua avó. Quando criança, Clarice havia passado alguns anos morando com a avó, que sempre fora extremamente carinhosa com ela. Nos últimos anos, porém, Fernanda havia adoecido e estava internada permanentemente, sobrevivendo graças a nutrição intravenosa e medicamentos especiais. Há poucos dias, Clarice havia ido visitá-la e achou que ela parecia melhor. Chegou até a acreditar que a avó estava se recuperando e poderia sair do hospital em breve. Como ela podia ter ido parar na
Clarice cambaleou, e Jaqueline imediatamente a segurou pelo braço. — Clarinha, você está bem? Clarice forçou um sorriso para tranquilizá-la e se virou para o médico: — Doutor, eu vou tentar resolver a questão do remédio. Agora vou ver minha avó. Com licença. Sem esperar pela resposta, ela puxou Jaqueline e saiu do consultório. O médico observou as duas se afastarem e soltou um suspiro pesado. Sabia que, no fundo, Clarice entendia que gastar dinheiro com os medicamentos apenas prolongaria o inevitável. Mesmo assim, ela insistia, como se carregasse o peso do mundo nas costas. O que ele não sabia era que para Clarice não se tratava apenas da vida de sua avó. Ela queria desesperadamente preservar algo que considerava ainda mais valioso: um lar. Se sua avó partisse, ela não teria mais ninguém. Ficaria sozinha no mundo. …No quarto da UTI, a avó de Clarice ainda estava inconsciente, conectada a diversos aparelhos. Seu corpo, antes cheio de vida, agora estava reduzido a pele e o
Desde que não ouvisse falar de Sterling e Teresa, o humor de Clarice permanecia leve. Assim que chegou ao elevador, as portas se abriram.O rosto de Teresa surgiu abruptamente em sua frente. Clarice ficou imóvel por um momento. Que coincidência.— Clarice, você veio me visitar também? — Teresa se aproximou com um sorriso doce e, sem cerimônias, segurou delicadamente o braço dela. Sua voz era suave, quase íntima, como se fossem grandes amigas.Clarice, com um movimento discreto, afastou o braço:— Um cliente meu está internado. Vim verificar o estado dele.No fundo, ela não queria que Teresa soubesse que sua avó estava naquele hospital, e acabou dizendo mais do que o necessário.— Não veio me ver? Não tem problema! Já que nos encontramos, vamos sentar e conversar um pouco. Tenho tantas coisas pra te contar! — Teresa sorriu gentilmente, ignorando completamente a expressão fria e distante de Clarice.Clarice olhou para ela, e um sorriso irônico surgiu em seus lábios:— Mesmo que você tenh
Ao ver Sterling, os olhos de Teresa brilharam com um lampejo de cálculo. Num movimento rápido, ela se atirou nos braços dele e começou a chorar baixinho:— Sterling, me desculpa. Eu não devia ter pedido o bracelete para você! Se não fosse isso, a Clarice não estaria tão chateada comigo!— O médico já não disse que você precisa manter a calma? Por que está chorando agora? — Sterling franziu as sobrancelhas, o rosto mostrando uma leve irritação. No entanto, sua voz era suave, quase afetuosa, como se estivesse tentando acalmar a mulher que segurava em seus braços.— Sterling, é melhor devolvermos o bracelete para quem ele pertence. Eu não mereço usá-lo. — Disse Teresa, pegando a mão de Sterling e colocando o bracelete em sua palma com uma expressão de mágoa e humilhação.Por dentro, no entanto, ela estava furiosa. Afinal, ela também era mulher de Sterling. Mas, no dia do aniversário dela, aquele velho da família Davis sequer lhe enviou um mísero envelope com dinheiro, enquanto Clarice não
Teresa ficou boquiaberta. O que Sterling quis dizer com isso? Que não queria o divórcio? Como isso era possível?— Eu até não me importo. — Disse Clarice, com um sorriso irônico. — Mas temo que a barriguinha da sua querida não fique escondida por muito tempo. Quando começarem a apontar nas costas dela, não vai ser nada agradável.Ela pensava consigo mesma que, como esposa, sua paciência e generosidade eram raras de se encontrar.Sterling lançou um olhar sombrio para Clarice e segurou Teresa pelos ombros, ajudando-a a se equilibrar. Em seguida, caminhou até Clarice, agarrou seu pulso e a puxou para dentro do elevador. Assim que as portas se fecharam, ele segurou delicadamente a nuca dela com uma das mãos e, sem aviso, inclinou-se para beijá-la.Clarice rapidamente levou a mão à boca, e os lábios dele tocaram os dedos dela. Estavam quentes, queimando.Sterling soltou um resmungo baixo, afastou a mão dela e pressionou os próprios lábios contra os dela. O beijo era calmo, quase hipnotizant
Ao ouvir o nome de Asher, Clarice lembrou-se de como ele havia salvado sua vida recentemente. Preocupada que Sterling pudesse querer causar problemas para ele, apressou-se em explicar:— Eu e o Asher somos completamente inocentes! Não é nada do que você está pensando!Sterling observou o desespero nos olhos dela, e um brilho sombrio tomou conta de seu olhar. Seus dedos apertaram ainda mais o braço de Clarice.— Está preocupada que eu vá atrás dele? — Perguntou Sterling com a voz baixa, carregada de malícia.Ela mal havia se recuperado do que ele fazia em seu corpo, mas ao ouvir o nome de Asher, toda a resposta física desapareceu. Sterling percebeu isso imediatamente. Clarice realmente estava disposta a proteger Asher, não estava?O corpo dela enrijeceu, e ela sacudiu a cabeça com pressa, tentando negar:— Não é isso! Eu não quis dizer isso!Sterling sentiu a mudança em seu corpo. Sua expressão ficou séria, e ele franziu as sobrancelhas.— A Sra. Davis está se tornando uma mentirosa cad
— Ele me carregou porque minha roupa tinha sido rasgada, e eu estava aterrorizada, sem conseguir andar! — Explicou Clarice, tentando manter a calma. — Mas ele só me levou até o carro. Depois disso, fui para casa com a Jaque.Sua voz era firme, como se quisesse deixar claro que, independentemente de Sterling acreditar ou não, o que ela dizia era a verdade.Sterling ouviu as palavras dela, mas seus olhos ficaram ainda mais frios:— Não houve nenhuma notícia sobre algo assim no viaduto ontem à noite.A implicação era óbvia: ele não acreditava nela.Uma pontada de tristeza atravessou o coração de Clarice. Sterling podia aparecer ao lado de Teresa o tempo todo, estampando os tabloides, vivendo como um casal feliz, até mesmo tendo filhos. E, mesmo assim, nunca se deu ao trabalho de explicar nada a ela.Agora, ela estava ali, expondo sua vulnerabilidade, deixando suas feridas abertas, e ele sequer acreditava em suas palavras. Era isso que significava não ser amada?— Por que parou de falar? E
— Clarinha, você já está casada há alguns anos. Está na hora de ter um filho.Clarice sentiu uma mistura de sentimentos. Ela levantou os olhos para Paula e respondeu:— Estou no auge da minha carreira agora. Não pretendo ter filhos.Ela estava prestes a se divorciar de Sterling e não queria que ninguém soubesse de sua gravidez. Se essa informação chegasse aos ouvidos de Sterling, ela sabia que seu filho estaria em perigo. Não podia correr esse risco.— Uma mulher, depois que se casa, deve cuidar da casa e dos filhos. Carreira é coisa de homem! Clarinha, você sabe da posição do Sr. Sterling em Londa. Além disso, ele é bonito, e não faltam mulheres querendo se aproximar dele. Você, como Sra. Davis, precisa pensar em como manter o coração dele ao seu lado. Quando vocês tiverem um filho, ele vai se estabilizar. — Disse Paula, com um tom direto. Apesar de ter um casamento feliz, ela conhecia bem o mundo das elites e sabia o quanto os homens desse meio podiam ser frios e egoístas.Nos último
Clarice não conseguiu segurar o riso:— Você não trabalha direito e só fica atrás de fofocas! Vai, conta logo o que é.— Aquele Henriques... De repente começaram a dizer que ele é filho ilegítimo da família Martinez, uma das quatro grandes famílias de Londa. Todo mundo está apostando se ele vai ou não reconhecer a família e voltar para os Martinez! — Disse Lilian, quase sussurrando.Esse assunto já tinha se espalhado pelo escritório, mas Lilian ainda falava baixo. Era algo muito delicado, e se o próprio Henriques ouvisse, seria uma situação bem constrangedora.Clarice ficou surpresa. Ela imediatamente pensou em Callum. Henriques e Callum eram meio-irmãos por parte de pai?— Você precisava ver como a Isabelly estava hoje. Toda cheia de si, andando como se já fosse esposa de um milionário! — Lilian soltou uma risada fria.Isabelly, uma mulher que não hesitava em destruir famílias, ainda tinha coragem de se portar daquela forma. Era o cúmulo da falta de vergonha.— Fique longe dela. Cuida
Clarice tinha acabado de demonstrar um comportamento que não parecia ser fingido. Se ela realmente não sabia de nada, como aqueles dois poderiam ter se encontrado? — Depois do almoço, vou passar no hospital. — Disse Clarice enquanto servia café para Paula. Em seguida, perguntou suavemente. — Tia, já escolheu os pratos? Se ainda não pediu, eu posso ir fazer o pedido agora.— Vai lá e resolve isso. — Disse Paula, fazendo um gesto com a mão para dispensá-la.Clarice se levantou e saiu da sala para ir até o salão.Paula observou a silhueta da Clarice enquanto ela se afastava. Seus olhos se estreitaram, e um peso tomou conta de seu coração. Ela conhecia bem o filho. Apesar de parecer calmo por fora, Asher era teimoso e obstinado. Durante todos esses anos, ele nunca conseguiu tirar Clarice do coração. Paula temia que ele pudesse cometer alguma loucura por causa dela.Há três anos, no dia em que Clarice foi flagrada na cama com Sterling, Asher tinha decidido fugir com ela. Se não tivesse des
— Srta. Clarice, pode ir, a senhora está esperando você. — Disse Renata em voz baixa, olhando para Clarice.Ela havia servido Paula por mais de vinte anos, mas ainda não conseguia entender por que a senhora estava de tão mau humor naquele dia.— Tudo bem, vamos.Renata então a guiou para dentro da casa.Paula era uma pessoa gentil e tranquila, e o temperamento de Asher certamente vinha dela. Clarice havia passado boa parte da infância e adolescência ao lado de Paula, e sabia que Paula gostava muito dela.Mas, depois que Clarice se apaixonou por Sterling, suas visitas à Paula se tornaram raras. Ela sempre sentiu um peso na consciência por não retribuir o carinho de Paula como deveria.Nos três anos de casamento com Sterling, mesmo sabendo que Asher havia desaparecido, Clarice nunca procurou a família Bennett para saber como ele estava.Ela havia decidido cortar os laços com os Bennett em silêncio. Isso não era apenas por causa da vigilância constante da família Preston, mas também porqu
Ao ouvir a voz de Clarice, Esther imediatamente se virou. Ao vê-la entrando pela porta, ela perguntou, quase sem pensar:— Você não tinha ido embora? Por que voltou?Clarice caminhou até sua mesa e, calmamente, pegou um pequeno dispositivo de um vaso de flores. Era uma câmera escondida.— Eu vi você entrando aqui, é claro que eu tinha que voltar! — Disse Clarice, com um leve sorriso no rosto.— Você instalou uma câmera na sua própria mesa? — Esther retrucou, virando o rosto para Lilian. — Está vendo? Ela está te espionando! Ela não confia nem um pouco em você!Lilian soltou uma risada curta:— A Dra. Clarice pode colocar o que quiser na mesa dela. E você pode parar com essas tentativas ridículas de nos colocar uma contra a outra.Nos últimos tempos, muitos no escritório estavam agindo de forma traiçoeira, cada um tentando puxar o tapete do outro. Mas Lilian confiava apenas em Clarice, e todas as decisões de Clarice ela apoiava sem hesitar.Clarice olhou para Esther e, com um sorriso af
Clarice apertou levemente os lábios antes de responder:— Agora posso almoçar com você, tudo bem?Do outro lado da linha estava Paula, a mãe de Asher. Uma mulher que, no passado, havia lhe dado muito carinho.Clarice sempre gostou muito de Paula e era imensamente grata a ela. No entanto, por diversos motivos, as duas perderam contato há bastante tempo. Agora, com aquela ligação repentina, Clarice tinha quase certeza de que Paula queria conversar sobre algo importante.— O que você quer comer? Posso pedir para alguém reservar uma mesa. — Paula perguntou em um tom suave, como se temesse que uma voz mais alta pudesse assustar Clarice.— Lembro que a senhora gosta de comida mexicana. Que tal aquele restaurante chamado El Pirata, na Avenida da República? — Clarice sugeriu. Ela se lembrava perfeitamente dos gostos de cada membro da família Bennett, já que passava muito tempo com eles e frequentemente jantava em sua casa.— Depois de tantos anos, você ainda se lembra... Está bem, vamos ao res
O ar de Asher ficou preso por um instante, e sua mão apertou inconscientemente a taça que segurava. Sterling havia transformado o Grupo Davis em uma potência mundial, parte da lista das quinhentas maiores empresas do mundo, em questão de poucos anos. Alguém assim não chegaria tão longe sem métodos implacáveis. Sterling era frio, calculista e completamente desprovido de compaixão.Clarice já sofria o suficiente convivendo com ele. Se Sterling decidisse descontar sua raiva nela, seria ela quem pagaria o preço. Apenas imaginar isso fazia o peito de Asher doer, a ponto de quase não conseguir respirar. Ele não conseguia conceber a ideia de permitir que Clarice enfrentasse tanto sofrimento.Asher respirou fundo antes de falar, num tom controlado:— O que o Sr. Sterling quer?Sterling observou o desconforto de Asher e, por algum motivo, sentiu-se ainda mais irritado. Aquele homem estava assim por causa da esposa dele! Um estranho, e ainda assim, tão devotado à sua mulher.— Ouvi dizer que o G
Era claro que Isaac jamais teria coragem de dizer aquelas palavras para Sterling. Quando voltou ao seu escritório, ele fechou a porta e ligou para Asher.Depois de encerrar a ligação, Isaac soltou um suspiro de alívio e, em seguida, foi até a sala do presidente para fazer seu relatório. Assim que terminou, saiu rapidamente para continuar com suas tarefas.Ele recebia um salário alto, sem dúvida, mas a carga de trabalho era extenuante. Estava de prontidão vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. Isaac estava sempre ocupado, sempre cansado. Nos últimos tempos, com o humor de Sterling piorando, ele frequentemente ficava até altas horas no escritório. O estresse era tanto que ele notava tufos de cabelo caindo. Ele já começava a temer que ficaria careca antes mesmo de completar trinta anos.No horário de almoço, assim que o relógio marcou meio-dia, Isaac desligou o computador e foi direto para a sala de Sterling:— Sr. Sterling, podemos ir agora?O Sr. Asher já havia reservado o
Teresa ficou tensa no mesmo instante, agarrando inconscientemente o lençol da cama com força. Sterling e Clarice não estavam em pé de guerra? Por que ele estava defendendo-a? “Aquela vagabunda deve estar se insinuando para o Sterling pelas minhas costas. Que mulher sem vergonha!” Teresa pensou, furiosa. — Cuide da sua recuperação. Quando estiver melhor, pode ter alta e sair do hospital. Já falei com minha mãe para você ir morar com ela. Pedi ao Isaac que contratasse uma nutricionista e uma babá. Assim, você será bem cuidada e não precisará se preocupar com nada. — Sterling disse, com um tom prático, virando-se para sair. A empresa estava mesmo muito ocupada ultimamente. Havia uma licitação importante com o governo e uma das filiais no exterior estava em fase de preparação para o IPO. — Sterling, eu não quero morar com a sua mãe. Posso morar sozinha? — Teresa disse rapidamente, tentando esconder o nervosismo. Ela realmente não queria viver com Virgínia. Afinal, Virgínia não