Clarice cambaleou, e Jaqueline imediatamente a segurou pelo braço. — Clarinha, você está bem? Clarice forçou um sorriso para tranquilizá-la e se virou para o médico: — Doutor, eu vou tentar resolver a questão do remédio. Agora vou ver minha avó. Com licença. Sem esperar pela resposta, ela puxou Jaqueline e saiu do consultório. O médico observou as duas se afastarem e soltou um suspiro pesado. Sabia que, no fundo, Clarice entendia que gastar dinheiro com os medicamentos apenas prolongaria o inevitável. Mesmo assim, ela insistia, como se carregasse o peso do mundo nas costas. O que ele não sabia era que para Clarice não se tratava apenas da vida de sua avó. Ela queria desesperadamente preservar algo que considerava ainda mais valioso: um lar. Se sua avó partisse, ela não teria mais ninguém. Ficaria sozinha no mundo. …No quarto da UTI, a avó de Clarice ainda estava inconsciente, conectada a diversos aparelhos. Seu corpo, antes cheio de vida, agora estava reduzido a pele e o
Desde que não ouvisse falar de Sterling e Teresa, o humor de Clarice permanecia leve. Assim que chegou ao elevador, as portas se abriram.O rosto de Teresa surgiu abruptamente em sua frente. Clarice ficou imóvel por um momento. Que coincidência.— Clarice, você veio me visitar também? — Teresa se aproximou com um sorriso doce e, sem cerimônias, segurou delicadamente o braço dela. Sua voz era suave, quase íntima, como se fossem grandes amigas.Clarice, com um movimento discreto, afastou o braço:— Um cliente meu está internado. Vim verificar o estado dele.No fundo, ela não queria que Teresa soubesse que sua avó estava naquele hospital, e acabou dizendo mais do que o necessário.— Não veio me ver? Não tem problema! Já que nos encontramos, vamos sentar e conversar um pouco. Tenho tantas coisas pra te contar! — Teresa sorriu gentilmente, ignorando completamente a expressão fria e distante de Clarice.Clarice olhou para ela, e um sorriso irônico surgiu em seus lábios:— Mesmo que você tenh
Ao ver Sterling, os olhos de Teresa brilharam com um lampejo de cálculo. Num movimento rápido, ela se atirou nos braços dele e começou a chorar baixinho:— Sterling, me desculpa. Eu não devia ter pedido o bracelete para você! Se não fosse isso, a Clarice não estaria tão chateada comigo!— O médico já não disse que você precisa manter a calma? Por que está chorando agora? — Sterling franziu as sobrancelhas, o rosto mostrando uma leve irritação. No entanto, sua voz era suave, quase afetuosa, como se estivesse tentando acalmar a mulher que segurava em seus braços.— Sterling, é melhor devolvermos o bracelete para quem ele pertence. Eu não mereço usá-lo. — Disse Teresa, pegando a mão de Sterling e colocando o bracelete em sua palma com uma expressão de mágoa e humilhação.Por dentro, no entanto, ela estava furiosa. Afinal, ela também era mulher de Sterling. Mas, no dia do aniversário dela, aquele velho da família Davis sequer lhe enviou um mísero envelope com dinheiro, enquanto Clarice não
Teresa ficou boquiaberta. O que Sterling quis dizer com isso? Que não queria o divórcio? Como isso era possível?— Eu até não me importo. — Disse Clarice, com um sorriso irônico. — Mas temo que a barriguinha da sua querida não fique escondida por muito tempo. Quando começarem a apontar nas costas dela, não vai ser nada agradável.Ela pensava consigo mesma que, como esposa, sua paciência e generosidade eram raras de se encontrar.Sterling lançou um olhar sombrio para Clarice e segurou Teresa pelos ombros, ajudando-a a se equilibrar. Em seguida, caminhou até Clarice, agarrou seu pulso e a puxou para dentro do elevador. Assim que as portas se fecharam, ele segurou delicadamente a nuca dela com uma das mãos e, sem aviso, inclinou-se para beijá-la.Clarice rapidamente levou a mão à boca, e os lábios dele tocaram os dedos dela. Estavam quentes, queimando.Sterling soltou um resmungo baixo, afastou a mão dela e pressionou os próprios lábios contra os dela. O beijo era calmo, quase hipnotizant
Ao ouvir o nome de Asher, Clarice lembrou-se de como ele havia salvado sua vida recentemente. Preocupada que Sterling pudesse querer causar problemas para ele, apressou-se em explicar:— Eu e o Asher somos completamente inocentes! Não é nada do que você está pensando!Sterling observou o desespero nos olhos dela, e um brilho sombrio tomou conta de seu olhar. Seus dedos apertaram ainda mais o braço de Clarice.— Está preocupada que eu vá atrás dele? — Perguntou Sterling com a voz baixa, carregada de malícia.Ela mal havia se recuperado do que ele fazia em seu corpo, mas ao ouvir o nome de Asher, toda a resposta física desapareceu. Sterling percebeu isso imediatamente. Clarice realmente estava disposta a proteger Asher, não estava?O corpo dela enrijeceu, e ela sacudiu a cabeça com pressa, tentando negar:— Não é isso! Eu não quis dizer isso!Sterling sentiu a mudança em seu corpo. Sua expressão ficou séria, e ele franziu as sobrancelhas.— A Sra. Davis está se tornando uma mentirosa cad
— Ele me carregou porque minha roupa tinha sido rasgada, e eu estava aterrorizada, sem conseguir andar! — Explicou Clarice, tentando manter a calma. — Mas ele só me levou até o carro. Depois disso, fui para casa com a Jaque.Sua voz era firme, como se quisesse deixar claro que, independentemente de Sterling acreditar ou não, o que ela dizia era a verdade.Sterling ouviu as palavras dela, mas seus olhos ficaram ainda mais frios:— Não houve nenhuma notícia sobre algo assim no viaduto ontem à noite.A implicação era óbvia: ele não acreditava nela.Uma pontada de tristeza atravessou o coração de Clarice. Sterling podia aparecer ao lado de Teresa o tempo todo, estampando os tabloides, vivendo como um casal feliz, até mesmo tendo filhos. E, mesmo assim, nunca se deu ao trabalho de explicar nada a ela.Agora, ela estava ali, expondo sua vulnerabilidade, deixando suas feridas abertas, e ele sequer acreditava em suas palavras. Era isso que significava não ser amada?— Por que parou de falar? E
Sterling arqueou a sobrancelha, com um olhar cortante:— O que você quer dizer com isso?Clarice sorriu de leve, com um ar despreocupado:— Ué, o que eu disse: exatamente isso. Só guarde bem as minhas palavras. Ah, a propósito, já se acalmou? Solta a gravata e me deixa ir embora, vai! Ela falava como se nada tivesse acontecido entre eles.Sterling não respondeu. Apenas abriu a porta do carro e desceu.Isaac, que estava a uma distância segura, fingia olhar para outro lado, mas mantinha a atenção. Assim que viu Sterling sair do carro, apressou-se em ir até ele, mostrando respeito na postura:— Sr. Sterling.— Quero que descubra o que aconteceu ontem à noite na Ponte do Horizonte. E mais: veja os registros de internação da Clarice nos últimos dias. — Ordenou Sterling.Ele não achava que Clarice estivesse mentindo, mas preferia confiar em provas concretas.Isaac achou o pedido estranho, mas apenas assentiu com seriedade:— Sim, senhor.Enquanto Isaac tratava de fazer as ligações, Sterling
— A Sra. Clarice pode passar na empresa? O Sr. Sterling tem algo muito importante para tratar com a senhora. — A voz de Isaac soou firme pelo telefone.Clarice ergueu levemente a sobrancelha, com um sorriso frio nos lábios:— Estou ocupada com trabalho agora. Se o Sr. Sterling tem tanta pressa, ele que venha ao meu escritório. Caso contrário, ele vai ter que esperar até eu terminar aqui.Se fosse em outra época, bastava Isaac ligar e dizer que Sterling queria vê-la, e Clarice largaria tudo para correr até ele. Sterling sempre ocupou o primeiro lugar na vida dela. Mas agora, com o divórcio em curso, não havia mais nenhuma razão para se curvar aos caprichos dele.Abandonar o trabalho para atender ao chamado de Sterling? Nem pensar!— Certo... — Isaac respondeu, resignado, desligando em seguida. Sem alternativa, foi até a sala do chefe para relatar exatamente o que Clarice havia dito.Sterling franziu a testa, surpreso com a recusa. Ele se lembrava bem de como Clarice adorava ir até o esc
Sterling massageava as têmporas, mas seu olhar inevitavelmente recaía sobre Clarice, que estava ao seu lado. Ele nunca conseguiu entender por que o avô tinha tanta preferência por ela. As ações do Grupo Davis? Ele entregou para ela sem pestanejar. O antigo tesouro de família? Presenteado como se não tivesse valor algum. Para Sterling, Clarice era uma mulher astuta e cruel. O que ela tinha de especial? — Estou quase chegando no hospital. Algumas coisas a gente resolve pessoalmente. — Ele fez uma pausa antes de acrescentar. — Clarice está comigo. Do outro lado da linha, a voz de Túlio mudou instantaneamente, suavizando-se. — Tudo bem, vou esperar por vocês. Sterling desligou a ligação e respirou fundo. O fato de Túlio querer mandar Teresa para o exterior de repente não era algo simples. Havia algo por trás disso. E se ele descobrisse que Clarice tinha algum envolvimento, ela podia se preparar. Ele não teria piedade. O carro logo parou em frente ao hospital. Sterling desceu
— Teresa está sozinha e grávida. O que tem de errado em ajudá-la? — Sterling respondeu, indiferente. Teresa já havia salvado sua vida no passado. Agora que ela estava passando por dificuldades, ele sentia que tinha a obrigação de ajudá-la. Clarice, por outro lado, sempre fazia questão de discutir quando se tratava de Teresa. Para ele, isso era um sinal de mesquinhez, algo que o irritava profundamente. Clarice observou o rosto despreocupado de Sterling e percebeu que não valia a pena insistir. — Tudo bem. Então só precisamos ir ao cartório para resolver o divórcio. Depois disso, você pode ajudá-la ou até se casar com ela, tanto faz. — Clarice disse com um tom tranquilo. Ela já tinha decidido sair sem nada, literalmente abrir espaço para eles. Não havia outra mulher naquele círculo social tão generosa quanto ela. Sterling deveria estar agradecido. Sterling a encarou e soltou uma gargalhada fria. — Clarice... Antes que ele pudesse continuar, o toque do celular interrompeu su
Teresa havia se metido em encrenca, e para Sterling, a culpa era de Clarice. O avô estava furioso e decidiu mandar Teresa para o exterior? Clarice também era a responsável. Tudo o que envolvia Teresa, na cabeça de Sterling, era culpa dela. O favoritismo dele por Teresa era tão óbvio que chegava a ser insuportável. Sterling ficou visivelmente irritado e, com uma voz baixa e carregada de raiva, ordenou: — Clarice! Me dê uma explicação decente agora! Clarice respirou fundo, tentando manter a calma. O sorriso que estava em seu rosto desapareceu, dando lugar a uma expressão fria. — Sterling, se eu digo que não liguei para o seu avô e você não acredita, o que mais há para explicar? Sempre que o assunto envolvia Teresa, Sterling parecia perder completamente o senso. Ele agia como se não tivesse cérebro, incapaz de raciocinar de forma lógica. Isaac, notando a tensão no ar, rapidamente levantou a divisória do carro e ligou o motor. Ele também achava injusta a forma como Sterling tra
Clarice virou o rosto para ele e perguntou, com um tom tranquilo: — Por quê? Antes, ela amava Sterling tanto que não conseguia ficar longe dele nem por um minuto. Queria estar ao lado dele vinte e quatro horas por dia. Mas, depois de ouvir aquelas palavras cruéis, como poderia continuar agindo assim? Agora, tudo o que queria era se afastar o máximo possível dele. Isaac ficou desconcertado com a pergunta dela. Como poderia dizer que Sterling estava furioso? — O Sr. Sterling não está ocupado? Por que ele ainda não entrou no carro? Se quiser, podemos sair agora. — Clarice falou calmamente, com um tom indiferente. — Eu ainda tenho coisas para fazer mais tarde, preciso aproveitar o tempo. Com o remédio garantido para uma semana, ela teria um pouco de tranquilidade durante aquele período. Por isso, ela sabia que precisava ir até Teresa e pedir desculpas. Não importava o quanto odiasse a ideia, faria isso de cabeça erguida. Quanto às armações de Teresa, ela lidaria com elas no f
Logo, Isaac abriu a porta e entrou no escritório. Sterling ergueu os olhos e olhou para trás dele, franzindo as sobrancelhas. — Onde está a Clarice? Isaac hesitou por um instante antes de responder: — Pedi para verificarem o banheiro feminino, mas ela não está lá. Assim que terminou a frase, o rosto de Sterling se fechou, suas feições ficaram sombrias. — Ligue para ela! Diga para voltar imediatamente! Caso contrário, ela vai arcar com as consequências! Isaac lançou um olhar para Sterling e, em silêncio, sentiu pena de Clarice. O que ela teria feito para deixá-lo tão furioso? — Ligue agora! — Sterling ordenou, impaciente, a voz cortante. Enquanto isso, Clarice estava sentada no jardim ao lado da empresa, falando ao telefone. O médico de sua avó lhe informava que haviam recebido uma semana de medicamentos experimentais e que a avó já havia começado o tratamento. Ele ainda mencionou que o estado dela parecia bem melhor, e ela estava mais animada. Ao ouvir isso, as lá
— Clarice, eu sei que você me odeia, mas eu realmente quero conversar com você. Não precisa se preocupar, eu não vou fazer nada contra você! — Teresa disse, com um tom sério, quase convincente. Clarice curvou os lábios em um sorriso frio. — Tudo bem, então venha agora para o escritório do Sterling. Nós três podemos conversar juntos. Clarice sabia que Teresa não tinha boas intenções. Ela não era do tipo que usava truques baixos, mas, se fosse, Teresa jamais teria tido a chance de pisar nela como estava fazendo agora. — Você foi falar com o Sterling? O que você foi fazer lá? — Teresa perguntou, a voz subindo vários tons, claramente alarmada. — Fui fazer o que qualquer esposa faz com o próprio marido. Por que a pressa? — Clarice respondeu com desprezo, antes de desligar na cara dela. Não era difícil imaginar que Teresa tinha segundas intenções com aquele telefonema. Clarice jamais iria se encontrar com ela sozinha. Após guardar o celular, Clarice lavou o rosto com água fria.
Enquanto a verdade por trás daquele incidente não fosse revelada, todas as evidências apontavam para Clarice como a mandante. Para todos os efeitos, ela era culpada. Teresa só precisava denunciá-la e, inevitavelmente, ela teria que enfrentar as consequências legais. Agora, Sterling só estava pedindo que ela fosse pedir desculpas a Teresa. Por que tanta resistência? Clarice cerrou os dentes, lutando contra a raiva, e disse, pausadamente, como se cada palavra fosse cortada a ferro e fogo: — Sterling, você já parou para pensar que, se continuar me machucando assim, pode chegar o dia em que eu simplesmente vou embora? Sterling deu uma risada curta, desdenhosa. — Se você fosse capaz de ir embora, já teria feito isso há muito tempo. Não teria esperado três anos. — Seu tom era carregado de sarcasmo. As palavras dele bateram como um soco no peito de Clarice. Ele estava certo. Ela realmente não tinha conseguido ir embora. Mesmo sendo ferida uma vez após a outra, ela sempre encontr
Sterling apertou os lábios e respondeu com indiferença: — Certo. — Quando a Clarice me pedir desculpas, eu mesma irei à delegacia retirar a denúncia contra ela. Sterling, você acha que está bom assim? — Teresa perguntou, com um tom nitidamente cheio de tentativa de agradá-lo. Sterling lançou um olhar para Clarice e respondeu de forma breve: — Entendi. Por enquanto, deixemos assim. — Sterling... — Teresa hesitou, como se estivesse guardando algo, tentando decidir se deveria ou não falar. — O que você quer dizer? — Sterling perguntou, sua voz baixa e carregada de impaciência. Clarice não conseguiu evitar e lançou um olhar para ele. A camisa dele estava molhada, grudando no peito, destacando seu corpo com uma sensualidade séria e contida. Sem querer, ela se lembrou da primeira vez que o viu, anos atrás. Naquele momento, ela havia sido completamente arrebatada pela beleza quase irreal dele. Agora, pensando nisso, percebeu o quanto tinha sido superficial naquela época. Do
Clarice levantou-se de repente, sem hesitar, pegou o copo de água e jogou-o na cara de Sterling. — Três anos de casamento, dividindo a mesma cama todas as noites... Antes de vir aqui, eu ainda tinha a ilusão de que, mesmo sem provas, você acreditaria na minha inocência! Mas parece que eu me enganei. — Sua voz tremia de raiva, mas ela manteve o tom firme. — Se você realmente quer descobrir a verdade, pare de interferir nos bastidores! Eu vou te mostrar o que realmente aconteceu. Ela sabia que não deveria ter vindo ali. O certo teria sido ir direto ao hospital e dar uma surra em Teresa. Sterling limpou a água do rosto com as mãos e a encarou com um sorriso frio nos lábios. — Se você é tão competente assim, por que veio até aqui gritar? A ousadia de Clarice o pegou de surpresa. Quem ela pensava que era para jogar água nele? Os olhos de Clarice fixaram-se nos dele. Por dentro, seu coração já estava em pedaços. Era como se, naquele momento, algo dentro dela tivesse se quebrado p