Quando Clarice viu o título da notícia nos trending topics, sua mente ficou em branco por alguns segundos. Túlio não havia dito que Sterling deveria entregar o bracelete da família Davis como presente de aniversário para ela? Ela respirou fundo, tentando conter a avalanche de emoções, e clicou na notícia. A publicação tinha sido feita há cerca de meia hora, logo depois da meia-noite. Clarice se lembrou: hoje era o aniversário de Teresa. Na foto, Sterling estava sentado ao lado da cama de hospital, com um olhar cheio de ternura enquanto colocava o bracelete no pulso da mulher. Teresa, recostada no travesseiro, exibia um sorriso doce, um retrato perfeito de felicidade. Clarice segurava o celular com força. Não conseguiu sequer ler o texto da notícia. O frio que tomou conta de seu corpo parecia vir de dentro. Sterling havia dado o bracelete que era para ser dela... Para Teresa. Nesse instante, uma notificação de mensagem chegou. Era de um número desconhecido. Clarice abr
Jaqueline, apavorada, pegou o celular e ligou imediatamente para a emergência. Ao chegarem ao hospital, Clarice foi levada às pressas para a sala de emergência. Jaqueline ficou andando de um lado para o outro na frente da porta, com o coração apertado. Estava preocupada, aterrorizada. E se algo sério acontecesse com Clarice? O que ela faria? …Na suíte VIP do Hospital Esperança, propriedade do Grupo Davis, Sterling estava parado ao lado da cama de hospital, com uma expressão sombria. Ele segurava o celular na mão enquanto repreendia Teresa: — Você está grávida, Teresa. No meio da noite, ao invés de dormir, resolve discutir com a Clarice? Que maturidade a sua! Os olhos de Teresa se encheram de lágrimas, e ela respondeu, com a voz carregada de mágoa: — Foi ela quem ligou, Sterling. Eu percebi que você não estava por perto e achei que poderia ser algo urgente, então atendi. Mas, assim que atendi, ela começou a me insultar, me chamando de sem vergonha, dizendo que eu roubei o b
— Dorme logo. A Clarice sabe tomar as próprias decisões, você não precisa se preocupar com isso. — Sterling falou enquanto ajeitava o cobertor de Teresa. — Já está tarde, vou para o sofá tirar um cochilo. O tom frio e indiferente do homem não denunciava nada, e Teresa, sem conseguir interpretar suas intenções, decidiu não insistir. — Tá bom. Vai descansar. Eu também vou dormir. — Disse, fechando os olhos. Sterling ficou parado ao lado da cama por alguns instantes, depois se virou e saiu do quarto silenciosamente. Assim que a porta se fechou, Teresa abriu os olhos e murmurou para si mesma: — Clarice, espera só. Eu vou tirar o Sterling de você, custe o que custar! Do lado de fora do quarto, Sterling já estava ao telefone com Isaac. …Quando Clarice abriu os olhos, percebeu que estava deitada em uma cama de hospital. O cheiro forte de desinfetante a fez franzir a testa. Mais uma vez no hospital. — Clarinha, você acordou! Está sentindo alguma coisa? — A voz de Jaqueline vei
Foi só então que Clarice se lembrou do celular que havia sido entregue na casa de Jaqueline na noite anterior. Assim que entendeu a situação, atendeu a ligação. — A família de Fernanda precisa vir ao hospital imediatamente. Fernanda está em procedimento de emergência e precisamos da sua assinatura para confirmar o tratamento. — A voz da enfermeira do outro lado da linha era fria e direta. O coração de Clarice disparou. Ela respondeu rapidamente: — Tudo bem, eu estou indo agora! Fernanda Figueiredo era sua avó. Quando criança, Clarice havia passado alguns anos morando com a avó, que sempre fora extremamente carinhosa com ela. Nos últimos anos, porém, Fernanda havia adoecido e estava internada permanentemente, sobrevivendo graças a nutrição intravenosa e medicamentos especiais. Há poucos dias, Clarice havia ido visitá-la e achou que ela parecia melhor. Chegou até a acreditar que a avó estava se recuperando e poderia sair do hospital em breve. Como ela podia ter ido parar na
Clarice cambaleou, e Jaqueline imediatamente a segurou pelo braço. — Clarinha, você está bem? Clarice forçou um sorriso para tranquilizá-la e se virou para o médico: — Doutor, eu vou tentar resolver a questão do remédio. Agora vou ver minha avó. Com licença. Sem esperar pela resposta, ela puxou Jaqueline e saiu do consultório. O médico observou as duas se afastarem e soltou um suspiro pesado. Sabia que, no fundo, Clarice entendia que gastar dinheiro com os medicamentos apenas prolongaria o inevitável. Mesmo assim, ela insistia, como se carregasse o peso do mundo nas costas. O que ele não sabia era que para Clarice não se tratava apenas da vida de sua avó. Ela queria desesperadamente preservar algo que considerava ainda mais valioso: um lar. Se sua avó partisse, ela não teria mais ninguém. Ficaria sozinha no mundo. …No quarto da UTI, a avó de Clarice ainda estava inconsciente, conectada a diversos aparelhos. Seu corpo, antes cheio de vida, agora estava reduzido a pele e o
Desde que não ouvisse falar de Sterling e Teresa, o humor de Clarice permanecia leve. Assim que chegou ao elevador, as portas se abriram.O rosto de Teresa surgiu abruptamente em sua frente. Clarice ficou imóvel por um momento. Que coincidência.— Clarice, você veio me visitar também? — Teresa se aproximou com um sorriso doce e, sem cerimônias, segurou delicadamente o braço dela. Sua voz era suave, quase íntima, como se fossem grandes amigas.Clarice, com um movimento discreto, afastou o braço:— Um cliente meu está internado. Vim verificar o estado dele.No fundo, ela não queria que Teresa soubesse que sua avó estava naquele hospital, e acabou dizendo mais do que o necessário.— Não veio me ver? Não tem problema! Já que nos encontramos, vamos sentar e conversar um pouco. Tenho tantas coisas pra te contar! — Teresa sorriu gentilmente, ignorando completamente a expressão fria e distante de Clarice.Clarice olhou para ela, e um sorriso irônico surgiu em seus lábios:— Mesmo que você tenh
Ao ver Sterling, os olhos de Teresa brilharam com um lampejo de cálculo. Num movimento rápido, ela se atirou nos braços dele e começou a chorar baixinho:— Sterling, me desculpa. Eu não devia ter pedido o bracelete para você! Se não fosse isso, a Clarice não estaria tão chateada comigo!— O médico já não disse que você precisa manter a calma? Por que está chorando agora? — Sterling franziu as sobrancelhas, o rosto mostrando uma leve irritação. No entanto, sua voz era suave, quase afetuosa, como se estivesse tentando acalmar a mulher que segurava em seus braços.— Sterling, é melhor devolvermos o bracelete para quem ele pertence. Eu não mereço usá-lo. — Disse Teresa, pegando a mão de Sterling e colocando o bracelete em sua palma com uma expressão de mágoa e humilhação.Por dentro, no entanto, ela estava furiosa. Afinal, ela também era mulher de Sterling. Mas, no dia do aniversário dela, aquele velho da família Davis sequer lhe enviou um mísero envelope com dinheiro, enquanto Clarice não
Teresa ficou boquiaberta. O que Sterling quis dizer com isso? Que não queria o divórcio? Como isso era possível?— Eu até não me importo. — Disse Clarice, com um sorriso irônico. — Mas temo que a barriguinha da sua querida não fique escondida por muito tempo. Quando começarem a apontar nas costas dela, não vai ser nada agradável.Ela pensava consigo mesma que, como esposa, sua paciência e generosidade eram raras de se encontrar.Sterling lançou um olhar sombrio para Clarice e segurou Teresa pelos ombros, ajudando-a a se equilibrar. Em seguida, caminhou até Clarice, agarrou seu pulso e a puxou para dentro do elevador. Assim que as portas se fecharam, ele segurou delicadamente a nuca dela com uma das mãos e, sem aviso, inclinou-se para beijá-la.Clarice rapidamente levou a mão à boca, e os lábios dele tocaram os dedos dela. Estavam quentes, queimando.Sterling soltou um resmungo baixo, afastou a mão dela e pressionou os próprios lábios contra os dela. O beijo era calmo, quase hipnotizant
— Não tenho motivos para ir. Melhor deixar pra lá. — A voz do homem carregava um leve tom de melancolia. — Você não quer ver sua mãe? — Sei que ela está bem na família Bennett. Isso me basta. — Por que não a levou com você? Você tem plenas condições de sustentá-la, não tem? — Na família Bennett, ela tem alguém que ama. Ao meu lado, não teria ninguém. Se eu a forçasse a vir comigo, ela murcharia. O caminho que sua mãe escolheu foi voluntário. Se ele a arrancasse dali, ela não seria feliz. E sem felicidade, a vida dela se esvairia mais rápido. Então, para quê? Sterling permaneceu em silêncio. Ele nunca havia pensado sobre amar e ser amado. Desde pequeno, só aprendera a sobreviver e conquistar o que queria, sem nunca refletir sobre sentimentos. O que era, afinal, o amor? — Esquece. Falar disso com você é perda de tempo. Quando um dia amar alguém de verdade, vai entender o que estou dizendo. A ligação caiu. Sterling ficou segurando o celular, se perguntando: o que era
Agora que Clarice não gostava mais dele, Sterling também achava isso irritante. Não entendia por que se importava tanto com isso. O toque do celular interrompeu seus pensamentos. Ele atendeu. — Sr. Sterling, encontramos os outros dois mercenários. Mas já era tarde. Arrancaram a língua deles e quebraram seus braços e pernas. Estão vivos, mas... Vegetando. Não conseguem falar, não podem escrever. Não há nada que possamos extrair deles. Quem fez isso não teve piedade. — A voz do outro lado soava despreocupada, mas carregava um certo tom de provocação. — Ah, e sobre aquilo... Você já perguntou para sua esposa sobre o mentor dela, Thiago? Ou ainda não fizeram as pazes? A última frase veio carregada de um humor malicioso. Sterling soltou um riso frio. — Eu e minha esposa estamos muito bem. Quem disse que brigamos? No entanto, não pôde evitar que um pensamento surgisse. Quando, exatamente, as coisas entre ele e Clarice começaram a desandar? Provavelmente no dia em que ela pediu
— Se eu não digo, você não diz e Teresa também não diz, quem vai saber que você é minha esposa? — Sterling soltou uma risada fria. — Clarice, não testa a minha paciência. Sobe agora e cuida da Teresa! Clarice sentia cada fibra do seu corpo rejeitar aquela ordem. Ainda tentava lutar, agarrando-se à última esperança. — Sterling, eu preciso mesmo fazer isso? Se aceitasse cuidar de Teresa, essa mulher se sentiria ainda mais no direito de pisar nela. — Você pode recusar. Mas, nesse caso, o tratamento da sua avó será interrompido imediatamente. Desde pequeno, tudo que Sterling viveu e todas as pessoas com quem teve contato o transformaram em alguém frio, incapaz de sentir amor ou sequer entender seu significado. Para ele, usar Fernanda para controlar Clarice não era errado. No fim das contas, o mundo não funcionava assim? As pessoas não faziam tudo o que fosse necessário para alcançar seus objetivos? O corpo de Clarice tremia de raiva. Sterling era cruel. Para agradar Teresa, não
— Clarinha, vamos almoçar? — A voz de Jaqueline soou atrás dela. Clarice afastou os pensamentos e se virou para encará-la. — Jaque, me desculpa, mas preciso ir ao hospital. Não vou conseguir almoçar com você hoje. Fica para a próxima, eu te convido! Ela tentou manter a voz estável, sem demonstrar emoção. Mas Jaqueline percebeu que havia algo errado. — Clarinha, foi o Sterling… — Minha avó precisa de mim. Vou lá ver como ela está. — Clarice a interrompeu antes que pudesse terminar a frase. Não queria que Jaqueline soubesse que, diante de Sterling, ela não tinha a menor liberdade. Que era como uma marionete, sempre sendo puxada para onde ele queria. — Então vai logo! Marcamos outro dia. — Jaqueline não insistiu. Sabia que Clarice jamais usaria a avó como desculpa, então, se ela estava dizendo que havia um problema, era porque realmente havia. — Até mais! — Clarice acenou, lançou um breve olhar para o homem ao lado de Jaqueline e saiu apressada. Ela caminhava rápido. N
Clarice ficou momentaneamente surpresa, mas logo recompôs os pensamentos e sorriu antes de responder: — E os funcionários da Villa Serenidade? Por que você não menciona eles? Além disso, hoje em dia qualquer hacker pode modificar um endereço de IP. Quer mesmo me acusar com uma prova tão frágil? De manhã, quando Sterling tocou no assunto, ela nem levou a sério. Afinal, ela sabia que não tinha feito nada de errado e sua consciência estava limpa. Mas agora estava claro que alguém queria incriminá-la, como já havia acontecido antes. Talvez fosse hora de jogar na cara de Sterling as provas que havia reunido das armadilhas anteriores. — Os funcionários da casa têm mais de quarenta, cinquenta anos. Nenhum deles entende disso! Clarice riu com ironia. Então, segundo ele, pessoas de quarenta ou cinquenta anos não poderiam saber nada sobre tecnologia? Ele estava subestimando a inteligência de quem? — Meu avô quer que a gente marque logo a cerimônia de casamento. — Sterling continuou
— Jaque... — Clarice estava prestes a falar quando a porta da sala de descanso se abriu. Jaqueline levantou a cabeça e encontrou diretamente o olhar do homem, um meio sorriso brincando nos lábios dele. Pensou consigo mesma que Clarinha tinha acertado em cheio—ele chegou rápido mesmo. — Ele veio te procurar. Conversem aí, eu te espero lá fora! — Clarice empurrou levemente Jaqueline, levantou-se e ajeitou a roupa antes de se virar. Ao ver o homem, sorriu educadamente e cumprimentou. — Sr. Simão. — Sra. Davis. — O homem respondeu formalmente. Clarice corrigiu suavemente: — Pode me chamar de Clarice. Antes, ela adorava ser chamada de Sra. Davis. Agora, esse título soava como uma piada amarga, algo que não lhe pertencia mais. O homem arqueou ligeiramente a sobrancelha, mas não disse nada. Clarice saiu sem hesitar. Assim que passou pela porta, o celular tocou. — A Giulia caiu na rua e foi parar no hospital. Está na emergência. O rosto de Clarice mudou sutilmente. — O qu
— Giulia, o que você disse? — A voz do outro lado da linha soou cortante, carregada de descontentamento.— Thi... Thiago! — Giulia estava apavorada, mal conseguia falar.Thiago. O advogado que morreu ao cair de um prédio há cinco anos. O mentor de Clarice.— Ele morreu há cinco anos! — O homem do outro lado reforçou, a voz grave e impaciente. — Pare de se assustar à toa!— Ele... Ele não morreu! Ele está vivo! Está bem na minha frente! — Giulia soltou outro grito, a voz trêmula de puro terror.— Alguém está tentando te assustar. Não diga besteira! — O homem a alertou com frieza.— Não é truque, é real! — O rosto diante dela era tão vívido, tão real, que o pânico tomou conta de seu corpo. O mundo girou, e, sem conseguir suportar o choque, Giulia desmaiou, caindo no chão.Seu celular escorregou de sua mão, batendo com força no chão. A tela rachou instantaneamente.— Giulia! Fale comigo! — O homem do outro lado da linha chamou por ela várias vezes, mas não obteve resposta.Ela estava inco
Então, ela se virou apressada e saiu quase correndo.Jaqueline fez menção de ir atrás, mas Clarice segurou seu braço.— Não adianta correr atrás. Vai ser inútil.A reação daquela mulher só confirmava que ela era mesmo Giulia. Se não fosse, por que teria fugido tão desesperada?— Então, vamos embora? — Jaqueline suspirou, aceitando que não havia mais o que fazer.— Você entregou o cartão à vendedora e nem olhou as joias. Vai sair assim, sem comprar nada? — Clarice sorriu de canto. — Aposto que ele vai aparecer aqui daqui a pouco.Afinal, para confirmar a autenticidade do cartão, a funcionária certamente ligaria para o dono.Quanto a Giulia, Clarice já tinha um plano. Agora que ela havia reaparecido, não escaparia tão fácil.Jaqueline apertou os lábios.— Na verdade, eu não quero gastar o dinheiro dele. Mas se eu não gastar, ele diz que eu fico esperando amor, e amor ele não pode me dar.Ela dormia com ele, mas tudo era consensual. Não tinha nada a ver com romance.Se aceitasse o dinheir
Naquele momento, Clarice e Jaqueline passavam em frente a uma joalheria quando, sem querer, Clarice viu uma mulher escolhendo anéis dentro da loja. O rosto dela parecia familiar. Sentindo um aperto no peito, Clarice segurou o braço de Jaqueline e entrou. Assim que se aproximou, reconheceu a mulher de imediato.Era Giulia.Cinco anos atrás, Giulia havia procurado o escritório de advocacia onde Clarice estagiava para dar entrada no divórcio. O marido, além de infiel, era violento. Quem assumiu o caso foi Thiago, seu mentor.Mas o processo sequer chegou ao fim. Antes disso, Thiago morreu ao cair do alto de um prédio.Clarice conhecia bem Thiago. Ele era explosivo, gritava por qualquer coisa, mas nunca, jamais, seria alguém que tiraria a própria vida.Após a morte dele, Clarice tentou encontrar Giulia para entender melhor os acontecimentos. Mas, antes que pudesse conseguir qualquer resposta, Giulia vendeu a casa e desapareceu.Nos últimos cinco anos, Clarice investigou discretamente a mort