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Capítulo 4

- A Esther parece que não está muito bem hoje, ela não quis vir entregar os documentos, então só eu vim. - Sofia colocou sua mão queimada na frente dele. - Marcelo, você também não precisa culpar a Esther, acho que não foi de propósito, não atrasou nada, né.

Os documentos da empresa acabaram indo parar nas mãos erradas, e esta foi a primeira vez que Esther fez algo assim.

Marcelo estava com o semblante fechado, mas diante de Sofia ele conteve a raiva, apenas ajustou a gravata e falou num tom neutro:

- Não tem problema. - Mudando de assunto, ele continuou. - Já que está aqui, que tal sentar um pouco?

Ouvindo ele dizer isso, Sofia se sentiu um pouco animada. Pelo menos ele a aceitava, não a detestava.

- Você não ia ter uma reunião? Não vou te atrapalhar?

Marcelo então fez uma ligação:

- A reunião foi adiada em meia hora.

Sofia sorriu de canto, antes de vir, ela estava preocupada se ele guardava rancor por ela ter partido sem avisar, mas as coisas não pareciam tão ruins quanto imaginava.

O tempo perdido ainda podia ser recuperado.

Sofia se sentou no sofá, com expectativas e ao mesmo tempo querendo explicar:

- Marcelo, tenho muitas coisas para te dizer, sei que fui errada em partir sem avisar, mas estou de volta...

- Eu preciso resolver algumas coisas do trabalho primeiro. - Marcelo a interrompeu.

Sofia engoliu as palavras de volta ao ver ele ocupado, só pôde dizer:

- Então vou esperar até você terminar.

Sofia não queria incomodar, mas também não sabia quanto tempo demoraria essa meia hora para que pudessem ter uma conversa cara a cara.

Ela não conseguia entender muito bem o humor dele.

Foi só quando Gilberto entrou que Marcelo parou de trabalhar.

Ele se aproximou e Sofia sorriu, chamando:

- Marcelo, eu...

- Sua mão ainda está doendo?

Ele notou que ela se machucou e estava preocupado com ela?

Sofia balançou a cabeça rapidamente:

- Já não dói mais.

- Está bem. - Marcelo respondeu suavemente, pegando uma tigela de sopa medicinal do assistente Gilberto. - Ouvi dizer que você voltou ao país e está se sentindo mal por causa do clima, com a garganta incomodada. Tome esse remédio, vai fazer bem para a sua garganta.

Sofia olhou para a fumegante tigela de remédio e imediatamente se sentiu melhor.

Ele estava acompanhando as notícias sobre ela por trás, sabendo até mesmo que a garganta dela não estava bem recentemente. Isso mostrava que ele ainda se importava muito com ela.

Ela prontamente pegou o remédio, sorrindo radiante:

- Marcelo, você sempre cuida tão bem de mim. Estou muito grata. Vou tomar tudo.

Antes mesmo de se aproximar, ela sentiu um cheiro desagradável.

Ela não gostava do cheiro de medicamentos de ervas, mas se essa tigela foi dada por Marcelo, ela iria beber até o fim.

Mesmo com um gosto amargo, fazendo uma careta e sentindo a garganta apertada, ela não disse nada.

Ao ver ela beber tudo de uma vez, sem deixar nada, Marcelo só então desviou o olhar.

- Sr. Marcelo, a reunião está prestes a começar. - Lembrou o assistente Gilberto ao lado.

Marcelo olhou para Sofia:

- Eu tenho que trabalhar agora, você pode ir embora.

Sofia limpou os lábios e, sem ter muito o que dizer, apenas expressou compreensão:

- Tudo bem, então eu venho te ver mais tarde.

Marcelo saiu.

Sofia observou suas costas se afastando, com um olhar de nostalgia, até que ele desapareceu completamente.

Ela estava muito feliz e mandou uma mensagem para seu agente:

- Dessa vez eu acertei, ele ainda me ama.

Do lado de fora, caminhando em direção à sala de reuniões, Gilberto perguntou atrás de Marcelo:

- Sr. Marcelo, por que nós colocamos contraceptivos na sopa?

Marcelo sem expressão, até mesmo cruel, respondeu:

- A Sofia foi ao hotel.

Gilberto entendeu, ele estava com medo de que a mulher da noite passada fosse a Sofia e que ela acabasse engravidando.

Tomar os contraceptivos era mais seguro.

Durante todo o dia, Esther não apareceu no escritório, nem deu um telefonema avisando que faltaria.

Normalmente, ela estava sempre ao lado dele, como sua mão direita, nunca dando problemas.

Ultimamente, ela tinha ficado cada vez mais rebelde, nem apareceu para trabalhar e nem avisou com antecedência.

Marcelo estava com raiva, com o rosto fechado o dia todo, sem sorrir, o que deixava os funcionários da empresa apreensivos, com medo de fazer algo errado.

Depois do expediente, Marcelo voltou para a mansão.

Neste momento, Esther já havia sido libertada.

No quarto, Esther estava deitada na cama, com as mãos tremendo e os olhos vermelhos, em estado de choque.

As feridas em suas mãos ainda não tinham sido tratadas e estavam formando bolhas. Em comparação com as cicatrizes emocionais, a dor física já não era perceptível.

Marcelo chegou à porta de casa e o empregado veio até ele para ajudá-lo a tirar os sapatos.

Com uma expressão sombria, ele perguntou:

- E onde está a Esther?

- A senhora está lá em cima. - Respondeu o empregado. - Desde que voltou de fora, ela não saiu.

Recebendo a resposta, Marcelo subiu as escadas.

Ao abrir a porta do quarto, viu um monte de cobertores na cama, sem conseguir ver a cabeça dela.

O comportamento estranho dela deixou Marcelo confuso. Ele foi até o lado da cama e se inclinou para tocar levemente o cobertor.

- Não me toque! - Esther reagiu, afastando a mão dele.

Ela tinha ouvido os sons do lado de fora havia um bom tempo, pensando que estavam vindo para prender ela novamente naquele quarto escuro. Cada passo parecia pisar em seu coração.

Ela segurou firmemente o cobertor, mergulhada em um pânico interminável.

Só quando alguém levantou o cobertor foi que ela se sentou na cama e afastou a mão dele.

Marcelo ficou surpreso ao ver a reação dela tão intensa. Sua expressão ficou séria e sua voz se tornou fria:

- Esther, se não fosse você causando confusão, acha mesmo que eu teria interesse em te tocar?

Ao perceber que era Marcelo, o coração inquieto de Esther se acalmou um pouco.

Mas ao ouvir suas palavras, seu coração, cheio de feridas, ainda doeu um pouco. Ela tentou acalmar as coisas:

- Sr. Marcelo, eu não sabia que era você.

- Se não sou eu nessa casa, quem mais seria? - Marcelo zombou. - Será que sua mente já voou para longe?

Esther apertou os lábios, só conseguia pensar nas palavras cruéis de Joana.

Sofia era mais adequada para Marcelo do que ela.

Agora que ela voltou, se eles retomasseem o relacionamento, não seria mais da sua conta.

- Não estou me sentindo muito bem hoje. - Disse Esther. Ela sabia que agora era apenas um incômodo para ele. - A Sofia já enviou os documentos, não é? Espero não ter atrapalhado o trabalho do Sr. Marcelo.

A atitude dela hoje deixou Marcelo irritado:

- Esther, você é a secretária, tão responsável, então por que está arrumando tantos problemas?

Esther pensou, que problemas ela teria causado?

Ela só arranjou confusão com a mãe dele.

Fez a mulher que amava se machucar.

Ela escondeu a mão debaixo do cobertor, sentindo seu coração esfriar aos poucos:

- Não vai acontecer de novo, eu acho.

Depois do divórcio, isso não seria mais um problema.

Ela não atrapalharia mais ninguém.

- Descobriram quem era a mulher de ontem à noite? - Marcelo perguntou.

Esther sentiu um arrepio pelo corpo:

- A câmera quebrou, ainda não conseguimos descobrir.

Marcelo franziu o cenho, seus olhos fixos nela:

- E o que você fez o dia todo em casa então?

Esther olhou para o céu lá fora, já escurecendo.

Um dia sem ir ao trabalho, ele provavelmente a considerava preguiçosa, desleixada.

- Vou lá agora. - Esther não queria prolongar a conversa, depois de pagar a dívida com a família Mendes, estaria livre para seguir em frente.

Sete anos de um relacionamento unilateral finalmente chegariam ao fim.

Ela se levantou, se vestiu e se preparou para sair, contornando ele.

Essa casa, sem ele, ela não tinha nenhum apego.

Ela estava cansada, não queria mais ser maltratada dessa forma.

Mas Marcelo notou algo quando ela estava prestes a sair pela porta. A mão dela também estava queimada. Aquela ferida parecia ser ainda pior do que a de Sofia.

E justo quando Esther estava prestes a sair, ele disse:

- Espere!

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