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Capítulo 5

Esther parou de repente, não havia aquela harmonia de casal entre eles, mas sim uma distância mais como de um superior para uma subordinada.

- Sr. Marcelo, tem mais alguma ordem? - Ela perguntou.

Marcelo se virou para encarar o rosto distante de Esther, com um tom de comando em sua voz.

- Se sente.

Esther de repente não entendeu o que ele queria fazer.

Marcelo se aproximou.

Esther o observava se aproximando, e nesse momento, algo parecia diferente, fazendo ela sentir o ar rarefeito.

Era puro ervosismo, com uma sensação estranha.

Ela não se moveu, mas Marcelo tomou a iniciativa de segurar sua mão.

Quando a palma quente dele tocou a dela, foi como se fosse queimada, queria puxar ela para longe, mas Marcelo segurou firmemente, não dando a ela a chance de se soltar, levando ela para o lado e perguntando com a testa franzida:

- Você machucou sua mão, e não percebeu?

Sua preocupação surpreendeu Esther.

- Eu... Está tudo bem.

- Sua mão está com bolhas. - Marcelo perguntou. - Por que não me disse?

Ela baixou os olhos para aquelas mãos grandes, agora examinando o ferimento dela.

Ao longo dos anos, em muitas ocasiões, ela quis segurar a mão dele, querendo ser aquecida, querendo ser guiada em uma direção.

Mas nunca teve essa oportunidade.

Quando estava prestes a desistir, ele ofereceu um pouco de calor a ela.

- É só uma coisa pequena, acho que vai melhorar em alguns dias. - Respondeu Esther.

- Vou mandar alguém trazer um remédio para queimadura.

Esther sentiu os olhos se encherem de lágrimas, depois de tantos anos de firmeza, parecia que estava recebendo um pouco de retribuição.

Ela estava consciente, sabia que ele não a amava.

Marcelo pegou a pomada para queimaduras e passou no ferimento dela. Ela o observava agachado na sua frente, todo cuidadoso, o que a fez sentir que talvez pudesse vir a ser a mulher por quem ele se apaixonaria.

Parecia que qualquer machucado a faria receber mais atenção dele.

Ela até teve um pensamento ridículo: depois de sete anos ao seu lado, cuidando dele diligentemente todos os dias, talvez fosse melhor provocar um pequeno ferimento para chamar sua atenção.

Esse machucado realmente valia a pena.

Uma lágrima escorreu pelo seu rosto e caiu exatamente na mão de Marcelo.

Ele ergueu os olhos e viu os olhos úmidos de Esther, pela primeira vez ela mostrava emoção na frente dele.

- Por que está chorando? Machuquei você? - Perguntou Marcelo.

Esther sentiu que suas emoções estavam muito instáveis, não parecia muito com ela mesma:

- Não, não dói, é só que meus olhos estão incomodando. Sr. Marcelo, eu prometo que não vai acontecer de novo.

Marcelo já havia ouvido suas palavras polidas inúmeras vezes e estava um pouco cansado disso. Ele franziu a testa:

- Em casa, não é como no escritório. Você não precisa ser tão formal na minha frente. Em casa, pode me chamar só pelo nome.

Mas Esther havia vivido assim nos últimos sete anos.

No escritório, ela era uma secretária competente.

Em casa, com o título de Sra. Mendes, ela só fazia o que uma secretária deveria fazer.

Esther olhou para o rosto dele, aquele rosto que ela admirou por tantos anos, e sentiu que suas emoções não correspondidas finalmente a estavam cansando. Ela hesitou por um momento e então decidiu falar:

- Marcelo, quando é que nós vamos... Fazer os papéis do divórcio?

Mas Marcelo a abraçou antes que ela pudesse terminar a frase.

Isso fez com que Esther ficasse tensa, com a cabeça apoiada no ombro dele, incapaz de dizer uma palavra.

Com uma expressão séria, Marcelo disse:

- Estou cansado hoje, podemos conversar sobre isso amanhã.

Esther teve que aceitar não falar sobre o assunto nesse momento.

Deitada na cama, Esther sentiu que ele estava diferente, seu corpo pressionado contra o dela, transmitindo o calor dele.

Ele envolveu sua cintura com os braços, e o aroma dele, fresco como pinheiros, trouxe um certo conforto para ela.

Sua grande mão repousava em seu ventre, fazendo ela se encolher ligeiramente, enquanto sua respiração quente ecoava em seus ouvidos:

- Tem cócegas?

Esther baixou o olhar:

- Não estou acostumada.

Ouvindo isso, Marcelo tornou-se mais proativo, envolvendo ela com os braços e a apertando firmemente contra si:

- Então você vai se acostumar aos poucos, um dia você vai se acostumar.

Esther se recostou nos braços dele, sentindo o calor intenso que emanava, fazendo suas bochechas corarem levemente.

Ela olhou para cima e se perguntou se o casamento deles ainda teria uma chance.

Ela também ansiava por uma mudança de status.

Ela disse:

- Marcelo... Se pudermos, você acha que podemos...

Nesse momento, o celular de Marcelo tocou.

Ele concentrou sua atenção no celular.

As palavras que estavam prestes a sair da boca dela foram retidas.

Poderia ela, em seu papel de esposa...

Ela poderia deixar de ser apenas uma secretária diante dele.

Mas esse devaneio durou apenas um segundo, quando ele pegou o celular e ela viu o nome "Sofia" na tela. Isso a trouxe de volta à realidade.

O semblante de Marcelo voltou a ser sereno, ele a soltou, se levantou da cama e não deu importância ao que ela disse.

- Alô. - Ele atendeu o telefone.

Ela observou Marcelo com sua expressão séria, ele se levantando da cama e, sem olhar para trás, saindo do quarto para atender o telefonema de Sofia.

O coração de Esther afundou, um sorriso irônico apareceu em seus lábios.

Esther, oh Esther, como você poderia ter essas fantasias?

O coração dele estava com a Sofia, e ele já disse que não teria sentimentos por ela quando se casaram há três anos atrás.

Esther levantou a cabeça e, por alguma razão, sentiu um aperto no coração, lágrimas começaram a encher seus olhos.

Ela fechou os olhos, decidida a não derramar mais lágrimas por ele.

Na verdade, desde que soube que havia alguém em seu coração, ela só choraria secretamente por ele, nunca permitindo que ele visse.

Ela se lembrava bem de seu lugar, apenas uma secretária ao seu lado.

Marcelo voltou após atender o telefone e, vendo que Esther ainda não havia dormido, lembrou:

- Há algo urgente na empresa, preciso ir lá. Descanse cedo.

Esther não o encarou, não queria mostrar seu lado frágil:

- Entendi, vá em frente. Amanhã estarei no trabalho pontualmente.

- Está bem. - Marcelo concordou e saiu com seu casaco.

Ouvindo o motor do carro partir, o som ficando cada vez mais distante, o coração dela se partia como se fosse de vidro.

Esther mal dormiu durante a noite.

No dia seguinte, ela ainda tinha que ir trabalhar.

Esther chegou cedo, poucas pessoas estavam na empresa. Ela, como de costume, cuidava das responsabilidades dela e organizava as coisas do trabalho do Marcelo de forma impecável.

Mas hoje o Marcelo não veio para o trabalho.

Esther ligou para ele várias vezes, mas o celular estava desligado.

Fernanda estava ficando preocupada:

- Esther, o Sr. Marcelo não veio hoje e a gente não sabe onde ele está. As inspeções no canteiro de obras vão ter que ficar com você.

Esther, sendo a secretária do Marcelo, estava envolvida na maioria das atividades da empresa, incluindo esse projeto, que ela conhecia bem.

Depois de tentar uma última vez, sem sucesso de encontrar o Marcelo, ela desistiu.

Então ela se lembrou que ontem à noite ele recebeu uma ligação da Sofia.

Ele não veio para o trabalho, passou a noite fora... Com certeza foi ver ela.

Esther engoliu o amargo da tristeza:

- Não vamos esperar pelo Sr. Marcelo, vamos logo.

Lá fora o sol estava forte, a temperatura alta, ela foi para o local da obra.

O prédio em construção tinha apenas a estrutura, ainda estava bagunçado, nada tinha forma ainda.

Ela entrou no local, com poeira e vergalhões pelo chão, máquinas fazendo um barulho ensurdecedor.

Esther já tinha ido algumas vezes ali, então estava familiarizada e rapidamente começou a seguir o procedimento.

Mas de repente, alguém gritou:

- Cuidado!

Esther olhou para cima e viu um pedaço de vidro caindo em sua direção...

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