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Capítulo 3

Ela levantou a cabeça e viu Sofia com um avental, segurando uma concha.

Quando viu Esther, seu sorriso vacilou por um instante, mas logo voltou a ser acolhedor:

- É uma amiga da tia? Acabei de fazer uma sopa, entre e se sente.

Sua postura era tranquila, com uma atitude totalmente de dona da casa.

Parecia que Esther era a visitante de longe.

De fato, em breve ela seria uma estranha.

Esther franziu a testa, se sentindo extremamente desconfortável.

Quando se casou com Marcelo, fez um anúncio para toda a cidade. Sofia até enviou uma carta de felicitações. Então não tinha como ela não saber que ela era a esposa do Marcelo.

Vendo que Esther não se mexia na porta, Sofia logo se aproximou e segurou sua mão:

- Quem vem é sempre bem-vindo. Não seja tímida, entre.

Quando ela se aproximou, o ar trouxe um leve aroma de jasmim, o mesmo perfume que Marcelo tinha dado a Esther no aniversário do ano passado, exatamente igual.

Esther sentiu a garganta doer e a respiração ficar pesada, como se tivesse um peso de mil quilos nos pés, impedindo ela de se mover.

Joana viu Esther parada ali, sem se mexer, e franziu a testa com desaprovação:

- Esther, o que você está fazendo parada aí? Temos visitas em casa e você nem oferece um chá!

Esther olhou para ela. Sabia que não devia discutir, mas ainda assim perguntou:

- Mãe, por que ela está aqui na nossa casa?

Joana respondeu:

- A Sofia voltou para o país, é claro que ela vem me ver. O que tem de errado com isso? Além do mais, eu já perguntei ao Marcelo e ele não disse nada contra. Por que você está reclamando?

- Eu não quis dizer isso. - Esther abaixou a cabeça.

- Ah, é a mana Esther, né? Quando o Marcelo casou, ele não me mostrou nenhuma foto sua, por isso não te reconheci na hora, não fique brava, tá?

Esther olhou para o sorriso radiante dela e riu friamente por dentro.

Como o Marcelo deixaria a mulher que ele mais gostava ver as fotos do casamento dele com outra mulher?

- Vá logo pegar um pouco de chá para Sofia! - A voz autoritária de Joana ecoou novamente.

Esther assentiu e pegou o chá quente ao lado.

Nesse momento, Sofia já estava sentada no sofá, conversando e rindo com Joana, que estava até ajudando ela a tirar o avental. Joana sorria de um jeito tão carinhoso como Esther nunca tinha visto antes.

Ela segurou o desconforto no coração e serviu chá para Sofia.

Sofia tocou no chá com a mão.

Esther sabia que o chá estava quente e não queria que Sofia se queimasse, então tentou impedir ela, mas Sofia acabou derrubando a xícara, e a água quente caiu toda na mão dela...

Esther engoliu em seco e, de repente, ouviu um grito agudo de Sofia:

- Ah!

Joana, ao escutar o barulho, se virou nervosa:

- O que está acontecendo?

Os olhos de Sofia estavam cheios de lágrimas:

- Não foi nada, tia, ela não fez de propósito.

Ao ver os dedos de Sofia vermelhos e inchados, Joana ficou com a expressão fechada, olhou para Esther e deu a ela um tapa na cara.

Com um estrondo, Esther ficou atordoada.

Ela não podia acreditar que Joana seria tão impulsiva a ponto de agredir ela.

- O que você fez? Você sabe que as mãos da Sofia são para tocar piano. Se elas se machucarem, você acha que pode pagar com a condição financeira da sua família? - A voz de Joana era afiada.

O rosto de Esther ardia de dor, mas por dentro, se sentia gelada, como se um balde de água fria tivesse sido jogado sobre ela. Ela virou a cabeça e olhou para elas:

- Foi ela mesma que fez isso, o que eu tenho a ver com isso?

Joana a olhou com raiva:

- Você ainda tem a coragem de discutir comigo? Alguém, venha aqui e prenda ela!

Imediatamente, dois empregados vieram e agarraram Esther.

O rosto de Esther ficou pálido na hora. Ela sabia o que iam fazer e começou a lutar:

- Me soltem, me soltem!

Mas sua força era muito pequena e foi arrastada pelos empregados para um quarto escuro.

No momento em que Esther foi jogada lá dentro, ela não conseguia ver nada. Ela bateu na porta trancada e depois caiu no chão, as pernas ficaram fracas.

Ela parecia que ela tinha perdido todas as suas forças de repente, começou a tremer por todo o corpo, com as mãos segurando a cabeça, sofrendo na escuridão.

Na sala de estar, o celular de Esther continuava tocando.

Joana estava ajudando Sofia a cuidar de um ferimento quando ouviu o som e foi ver. Quando viu as palavras "Marcelo" na tela, ela não hesitou em atender:

- Alô, Marcelo.

Do outro lado da linha, Marcelo ficou surpreso, exclamando:

- Mãe?

Joana respondeu:

- Sou eu.

Marcelo hesitou por um momento, seus olhos se estreitaram levemente:

- E a Esther?

- Ela está bem em casa.

Marcelo não pensou muito:

- Peça a ela para me enviar um documento, está na gaveta da escrivaninha.

Quando desligou o telefone, os olhos de Sofia já estavam fixos nela, cheia de expectativa:

- Tia, era o Marcelo ao telefone?

- Sim. - Disse Joana. - Esther vai enviar o documento, foi graças a isso que ela conseguiu se aproveitar para se tornar esposa do Marcelo, sendo a secretária dele. - Seu olhar se voltou para Sofia, segurou sua mão e sorriu levemente. - Ah, querida, se você não tivesse ido embora anos atrás... O Marcelo gostava tanto de você. Se você fosse a escolhida, não seria a Esther. Se você fosse a esposa da família Mendes, já teria tido filhos. Como acabamos criando aquela galinha que não põe ovos? Então, vá você mesma entregar os documentos para o Marcelo.

- Assim está bom? - Sofia perguntou, incerta.

- Claro que está! O Marcelo não te vê há anos, vai ficar super feliz em te ver. - Joana disse. - E eu ainda estou na torcida para você me dar um netinho!

Sofia ficou toda envergonhada.

- Tia, não fale assim, eu vou lá entregar os documentos primeiro.

As palavras da Joana deram esperança à Sofia.

Esther foi casada com o Marcelo por obra do avô, e depois de tantos anos, sem filhos, o casamento deles era sem amor.

Quem saberia se o Marcelo não ficou esse tempo todo pensando nela, esperando ela voltar.

Ela colocou os óculos escuros, a máscara, com medo de ser reconhecida, e entrou no carro da empregada para sair da mansão.

Ela queria fazer uma surpresa para ele e manter segredo com as pessoas da empresa.

Marcelo estava no escritório, olhou para o relógio, viu que a reunião estava prestes a começar, e a Esther ainda não tinha chegado.

Até que ouviu um barulho na porta.

Marcelo fechou a cara, virou a cadeira, sem levantar a cabeça, e disse friamente:

- Você tem noção da hora que é?

Ninguém respondeu.

Marcelo achou estranho e levantou os olhos, só para ver a Sofia parada na porta.

- Marcelo.

Sofia estava um pouco nervosa, mas principalmente excitada, o rosto da pessoa em que ela pensava dia e noite estava bem na sua frente, fazendo ela sentir como se estivesse em um sonho.

Marcelo pareceu perceber algo, então rapidamente desviou o olhar.

- Por que é você?

Sofia sorriu:

- Hoje fui ver a Sra. Joana na mansão.

Marcelo franziu ainda mais a testa, falando friamente:

- Quem te deu permissão para ir lá?

Essa pergunta deixou o sorriso de Sofia constrangido, seu coração deu um pequeno salto, como se ela não devesse ter ido.

Ela tentou controlar suas emoções, olhando para baixo:

- Voltei ao país, é claro que tinha que ver a Sra. Joana assim que cheguei, estou aqui para te trazer algumas coisas.

Ela tentou sondar com cuidado, tirando documentos da bolsa.

Marcelo deu uma olhada, os documentos que deveriam estar com Esther estavam com ela.

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