Share

Capítulo 4

Author: Chuva Solitária
Às nove da noite, os dois deixaram a mansão da família Lima.

Enquanto Bruno afivelava o cinto de segurança, perguntou como quem não quer nada:

— O que você estava conversando com o Eduardo? Pareciam bem animados.

Helena respondeu com indiferença:

— Ah, estávamos falando sobre sua amiga de infância.

Bruno ficou sem palavras.

Depois de um tempo, ele segurou delicadamente a mão de Helena. Sua voz, pela primeira vez em muito tempo, trazia um traço raro de ternura.

— Eu nunca tive nada com ela.

Helena se recostou no banco, os olhos úmidos, refletindo um brilho contido de lágrimas.

Ela sabia bem que essa súbita gentileza de Bruno não passava de um reflexo do seu período fértil. Ele queria que ela engravidasse.

Não tinha nada a ver com amor. E muito menos com ela!

Ela se perguntava: se Bruno descobrisse que ela não podia mais ter filhos, será que ainda tentaria mantê-la ao seu lado? Ou assinaria o divórcio sem hesitar, ansioso para encontrar a próxima mulher ideal para ser sua esposa?

Naquela noite, Bruno parecia disposto a investir mais do que o habitual. Se aproximou de Helena, tentando provocar o desejo da esposa.

Mas Helena apenas sentiu um profundo desalento.

Seu marido não a amava. Para ele, ela não passava de uma máquina de trabalho e de reprodução. Ele nem sequer sentia prazer em estar com ela, mas, mês após mês, fazia questão de cumprir esse "dever" apenas para conceber um herdeiro. Qual era a diferença entre isso e o instinto de um animal?

Ela desviou dos lábios dele, sua voz rouca, carregada por uma tristeza inexplicável:

— Bruno, eu estou falando sério sobre o divórcio. Se acha que estou pedindo demais, podemos renegociar.

No interior escuro do carro, Bruno encarou intensamente o rosto da esposa, como se quisesse enxergar cada detalhe sob aquela fraca iluminação.

Após um longo silêncio, sua voz soou fria como gelo:

— Eu já disse, não vamos nos divorciar. Helena, quando tivermos um filho, você vai parar de pensar nessas bobagens!

Helena fechou os olhos devagar, se sentindo exausta demais para argumentar:

— Bruno... E se eu não puder ter filhos?

Ele franziu a testa, sem aceitar a possibilidade:

— Isso é impossível. Nós fizemos exames antes do casamento, lembra? Estava tudo certo.

Helena sorriu, mas foi um sorriso amargo.

Os resultados daquele exame pré-nupcial, feitos quatro anos atrás, já não significavam mais nada.

Assim como as promessas que Bruno fez ao pedi-la em casamento... Promessas que haviam sido engolidas pela sua falta de consciência e apagadas pelo calor de outras mulheres.

Quando chegaram de volta à Mansão Belezas, já passava das dez da noite.

Bruno tomou um banho no banheiro e, inicialmente, queria convencer Helena a fazer amor com ele, mas acabou recebendo uma ligação e saiu apressado.

Helena suspeitou que ele tivesse ido se encontrar com a amante.

Ela não se importou. Pelo menos naquela noite não precisaria lidar com Bruno.

Durante toda a madrugada, ele não voltou.

As luzes da Mansão Belezas permaneceram acesas até o amanhecer, mas o dono da casa não retornou...

Na semana seguinte, Bruno continuou sem voltar para casa à noite.

Quanto ao divórcio, ele não fez nenhum avanço.

E durante aquelas noites frias, o que Helena fazia?

Frequentemente, ela ficava diante da janela panorâmica do quarto, observando as folhas lá fora, que começavam a amarelar. Em meio àquele silêncio, pensava, com indiferença, se teria sido mais feliz caso não tivesse desistido da pintura, se não tivesse se casado tão cedo, se não tivesse entrado no mundo dos negócios.

Quanto ao Bruno, ela nem sequer lhe fez uma ligação. Um homem que se divertia por aí... Para ela, era como se já estivesse morto.

Os dois passaram muito tempo sem se ver. Quando se encontraram novamente, foi em um evento de negócios.

...

Clube Furtivo.

O clube de negócios mais luxuoso da Cidade D.

Assim que entrou na sala privativa, Helena avistou Camila sentada bem próxima a Bruno, adotando uma postura delicada e gentil. Ao perceber a presença de Helena, ela simplesmente abaixou a cabeça e começou a mexer no celular, sem demonstrar qualquer preocupação.

A secretária, Ana, ficou indignada.

Helena a interrompeu e disse com indiferença:

— Agora ela é a amante do Sr. Bruno. Deixe que ele a mime.

Sem um lugar disponível ao lado de Bruno, Helena não queria se sentar junto ao "time adversário". Então, aproveitou a desculpa de ir ao banheiro, dando tempo suficiente para que Bruno resolvesse a questão com sua amante.

O banheiro era iluminado por lustres de cristal brilhantes.

Helena lavava as mãos quando, de repente, o som de passos femininos ecoou atrás dela...

Ela ergueu o olhar e, pelo reflexo do espelho, viu Camila.

Ela se aproximou e, diferente de sua habitual postura respeitosa, exibiu um sorriso afiado, carregado de provocação.

— Eu me mudei de volta para aquela mansão. O Bruno disse que posso ficar lá o tempo que quiser.

Helena fechou a torneira.

No espelho, observou o rosto jovem e angelical da outra.

Tão pura, tão nova... Diferente dela, que, após anos imersa no mundo dos negócios, carregava sempre um leve traço de cansaço na expressão. Ah, a juventude era mesmo uma coisa boa.

E então, de repente, lhe ocorreu que, no fim das contas, ela também tinha apenas 26 anos.

Helena abaixou o olhar e girou levemente a aliança de seis quilates em seu anelar, antes de dizer com indiferença:

— Srta. Camila, se eu fosse você, apenas me comportaria como a mulher ao lado do Bruno. Sem dramas, sem escândalos, apenas se pendurando no pescoço dele para pedir dinheiro. E, mais importante, jamais saia por aí espalhando os segredos de vocês. Além disso, por que veio causar confusão aqui? Esse tipo de ambiente não combina com você.

Camila curvou os lábios em um sorriso provocador.

— O Bruno me protege. Ele não tem coragem de me deixar beber.

— É mesmo? — Helena continuou sorrindo, mas sem emoção. — Srta. Camila, talvez você não saiba, mas para o Bruno, o dinheiro sempre vem em primeiro lugar. Negócios e mulheres, ele separa muito bem. Logo mais, não será apenas uma taça de vinho... Se for necessário, ele pode muito bem mandar você engolir veneno.

O rosto delicado de Camila empalideceu.

— Eu não acredito.

O sorriso de Helena se tornou ainda mais frio.

Quando Camila saiu, Helena permaneceu diante do espelho, encarando sua própria imagem, absorta em pensamentos. As palavras que havia dito, propositalmente exageradas, soavam até mesmo ridículas para si mesma. Ela sabia que, se quisesse, poderia facilmente continuar sendo a esposa de Bruno. Mas esse tipo de vida, esse casamento... Não era o que desejava.

Ela estava cansada. Cansada a ponto de querer virar a mesa.

...

Quando voltou para a sala privativa, encontrou um espaço vago ao lado de Bruno. Se sentou com a expressão serena, retomando o papel da esposa perfeita ao lado dele, como se nada tivesse acontecido.

Camila, por outro lado, se afastou.

Seu rosto exibia uma expressão de mágoa, como se estivesse prestes a chorar.

Bruno franziu a testa e disse, com um tom de leve descontentamento:

— Por que você precisa dificultar as coisas para uma garotinha?

Helena não respondeu. Ele não fazia ideia de que cada palavra que dizia para defender Camila era como uma lâmina cortando ela por dentro.

Ele se importava com Camila...

E tudo o que ela havia vivido ao lado dele? Todos os anos em que estiveram juntos, enfrentando dificuldades? O que aquilo significava?

Sim... O que significava?

Seu coração sangrava, mas sua expressão permanecia impecável. Com um sorriso tranquilo, chamou Camila para brindar com os representantes da outra empresa. O homem ao lado demonstrou evidente interesse pelo tipo de pureza que Camila exalava.

Ela hesitou, tentando se esquivar, certa de que, sendo "mulher de Bruno", não precisava se sujeitar àquilo.

Sob o brilho dos lustres de cristal, o rosto impecavelmente belo de Bruno ganhou um traço sutil de descontentamento.

Ele sabia.

Sabia que Helena estava fazendo de propósito.

Bruno segurou a taça de vinho com leveza, seu olhar pousava sobre Helena, mas suas palavras foram dirigidas a Camila.

— O Plano Mia envolve uma parceria de centenas de bilhões de reais. De qualquer forma, Assistente Camila, você precisa levar em consideração os sentimentos do Presidente Vasco.

Camila não ousou mais protestar. Seus lábios trêmulos cederam em concordância.

Enquanto ela, humilhada, acompanhava o Presidente Vasco em um brinde, Helena e Bruno estavam sentados lado a lado.

No rosto de Bruno, não havia a menor expressão. Já Helena se sentia uma mulher cruel, como se tivesse enterrado com as próprias mãos o grande amor do Sr. Bruno.

Naquele instante, ambos esqueceram que, desde a juventude, sempre estiveram juntos como marido e mulher.

...

Quando a noite caiu, no estacionamento subterrâneo...

A secretária Ana segurava Helena, abrindo a porta do banco traseiro do carro com a outra mão.

— Presidente Helena, cuidado para não bater a cabeça. A senhora bebeu um pouco demais esta noite.

Helena apoiou a testa com a mão e murmurou:

— Estou de mau humor.

Ana compreendia bem. O Sr. Bruno tinha passado dos limites hoje.

Desde o início, o Plano Mia havia sido conduzido pela Presidente Helena, que investiu tempo, esforço e conexões para torná-lo possível. No entanto, naquela noite, o Sr. Bruno apareceu acompanhado de Camila. Se fosse Ana no lugar de Helena, também teria ficado furiosa.

Mas, pelo menos, Camila terminou a noite no hospital. Isso era, no mínimo, reconfortante.

Quando Helena se preparava para entrar no carro, um braço masculino agarrou seu pulso.

Um estrondo ecoou. Seu corpo foi lançado contra a lataria negra do veículo.

O frio do metal ressaltava ainda mais sua fragilidade e desamparo.

Levou alguns instantes até que a dor diminuísse o suficiente para que ela recobrasse os sentidos. Ao erguer a cabeça, encontrou o rosto do marido tomado pela fúria iminente. Sua voz soou baixa:

— Ana, me deixe a sós com ele.

Ana hesitou, preocupada.

— Você não está bem...

Os olhos de Helena se tingiram de um rubor úmido.

Diante da expressão sombria de Bruno, Ana não teve coragem de insistir e saiu, ainda relutante.

Assim que ficaram sozinhos, Bruno explodiu. Se aproximou bruscamente, segurando o queixo de Helena com força, sua voz gélida pressionando ela:

— Por que você dificultou as coisas para ela? Ela precisou ir ao hospital para fazer uma lavagem gástrica! Helena, já te disse que ela é apenas filha de um dos nossos velhos amigos. Só estou cuidando um pouco mais dela...

...

Um tapa estalou no rosto de Bruno.

A palma de Helena latejava, enquanto seu corpo inteiro tremia de forma incontrolável.

Helena olhou para Bruno e soltou uma risada fria.

— Você pretende cuidar dela até na cama da mansão? Bruno, me diga... Você realmente não faz questão de esconder seu amor por ela ou acha que sou uma completa idiota?

O rosto másculo de Bruno foi jogado para o lado com o impacto do tapa.

Ele virou a cabeça devagar, passando a língua pelo interior da boca. Seu olhar se cravou em Helena, carregado de uma fúria assassina, mas sua voz permaneceu fria e controlada.

— Você quer tanto o meu amor assim? A ponto de não medir consequências?

Helena imitou seu tom, repleta de sarcasmo:

— Não seja tão convencido!

Bruno pareceu se acalmar.

Após um longo silêncio, sua mão deslizou suavemente pelo rosto dela.

— Helena, você não é mais tão obediente quanto antes... O que há de errado em desempenhar bem o papel de minha esposa? Ter um filho para garantir seu lugar ao meu lado não seria melhor? Por que você insiste tanto em se opor a mim?

A noite estava fria e silenciosa.

O rosto de Helena estava coberto de lágrimas, mas ela nem sequer percebeu.

— Antes? Então você sabe que foi no passado? Bruno, nós ainda estamos vivendo naquele passado? O Bruno de antes não tinha outra mulher ao lado. O Bruno de antes voltava para casa todas as noites. O Bruno de antes não calculava o meu período fértil como se eu fosse apenas um instrumento para gerar um filho! Bruno, quem mudou afinal? Você ou eu?

...

Compartilhando a mesma cama por quatro anos, naquela noite, eles finalmente se romperam.

Bruno encarou Helena em silêncio, observando a mulher que o acompanhou ao longo de sua ascensão no mundo dos negócios.

Depois de um longo tempo, seu olhar se tornou gélido, como se, naquele instante, tivesse tomado uma decisão.

A noite estava quieta, como um funeral para o amor.

Bruno soltou Helena e recuou um passo.

— A partir de amanhã, você não será mais responsável pelo Plano Mia. Quanto ao seu cargo, convocarei uma reunião com os acionistas para decidir o que fazer.

Helena soltou um leve riso.

Todos os homens, ao conquistarem o sucesso, descartavam a mulher que esteve ao seu lado na jornada.

No fundo, tanto ela quanto Bruno sabiam que a presença de Camila não era o único abismo entre eles.

Bruno havia se esquecido de tudo que Helena fez por ele. Ele queria forçá-la a voltar para casa, a ser apenas uma esposa, a gerar um filho para ele, e chamava isso de amor.

Amor... Filhos...

Naquele instante, a dor e a revolta atingiram Helena com força.

Uma súbita sensação de desespero tomou conta dela.

Ela percebeu, com uma clareza cruel, que tudo o que fez no passado havia sido por vontade própria. Amar Bruno não tinha sido seu destino, tinha sido seu castigo.

E ela não queria mais esconder a verdade.

Ela precisava dizer naquele momento.

Ela precisava contar ao Bruno que... Ela não podia ter filhos!

Related chapters

  • Depois que Fui Embora, o Canalha Ficou Louco   Capítulo 5

    Helena sabia muito bem que, ao dizer a verdade, não haveria mais possibilidade de convivência pacífica entre ela e Bruno. Mas, quando a decepção de uma pessoa se acumulava até o limite, chegava um momento em que ela já não se importava mais com nada e só desejava deixar tudo para trás. Ela ergueu a cabeça e encarou o marido que um dia amou profundamente. Com crueldade, expôs sua própria ferida, rasgando ela sem piedade diante de Bruno. Ao falar, sentiu seu coração doer tanto que quase ficou dormente. — Bruno, você não precisa mais considerar nada. Não só o cargo no Grupo Glory, mas até o título de sua esposa... Eu também não quero mais, porque eu não posso... A palavra "engravidar" nunca chegou a ser dita por completo. O celular de Bruno tocou. Ele manteve o olhar fixo no rosto de Helena enquanto atendeu a ligação. Do outro lado da linha, a voz aflita da secretária Juliana soou apressada: — Sr. Bruno, a situação da Srta. Camila é muito grave. O senhor precisa vir agora.

  • Depois que Fui Embora, o Canalha Ficou Louco   Capítulo 6

    Era tarde da noite, e o carro estava aquecido. Helena sentiu o cheiro fresco de tabaco no homem ao seu lado. O cigarro que Manuel fumava era o mesmo que Bruno costumava fumar. Por um instante, sua mente ficou confusa, e, atordoada, ela pensou que o homem ao seu lado fosse Bruno... Seus olhos se fecharam suavemente, e ela segurou a mão dele, chamando em um sussurro: — Bruno. Seus pensamentos estavam uma bagunça, e, por um momento, ela sentiu como se tivesse voltado ao passado. Ao passado que compartilhou com Bruno... Manuel não afastou a mão, nem disse nada. Apenas virou o rosto, encarando a escuridão à frente do carro. A noite estava tão densa e escura quanto uma noite chuvosa, macia e úmida, semelhante ao que ele sentia naquele momento. Manuel já teve mulheres antes. Mas eram relações baseadas apenas em necessidade mútua, sem qualquer carga emocional. Ele nunca havia experimentado sentimentos tão intensos quanto os de Helena. De repente, se sentiu curioso... Como seria

  • Depois que Fui Embora, o Canalha Ficou Louco   Capítulo 7

    Logo pela manhã, Helena despertou com uma dor de cabeça latejante. A empregada da casa, sempre atenciosa, trouxe um comprimido para ela. Depois de tomar o remédio, Helena se sentiu muito melhor. Justo quando se preparava para tomar um banho, ouviu a empregada resmungar irritada: — O Sr. Bruno foi seduzido por aquela mulher de fora. Ontem à noite, ele voltou para casa, viu a Sra. Lima nesse estado de embriaguez e, ainda assim, pegou o carro e foi embora. Foi assim que Helena soube que Bruno havia voltado na noite anterior. A empregada, se lembrando de outro assunto, acrescentou: — Sra. Lima, o Sr. Bruno mandou lavar o paletó do Advogado Manuel e pediu que fosse entregue diretamente a ele. No fim das contas, ele ainda tem um pouco de consciência e sabe cuidar da senhora. A empregada, sem conhecer os verdadeiros pensamentos de Bruno, acreditava que ele apenas queria demonstrar consideração por Helena. Mas Helena sabia a verdade: Bruno tinha medo de que ela o traísse. Se

  • Depois que Fui Embora, o Canalha Ficou Louco   Capítulo 8

    Helena estava no estacionamento quando encontrou Manuel. Ele parecia um pouco surpreso também. Após pensar por um instante, caminhou até ela, os olhos profundos e insondáveis. — Você vai mesmo deixar o Grupo Glory? Helena respondeu com um aceno sutil. — Sim, estou me preparando para sair. Ela jogou no porta-malas do carro a mala que segurava. Depois de fechar a tampa, se virou para Manuel e disse com indiferença: — Obrigada pelo que fez naquela noite. Manuel a observou atentamente. A expressão serena, o olhar frio... Era a Helena que ele conhecia. Naquela noite, sua beleza frágil foi como um sonho passageiro. Os olhos de Manuel se obscureceram. Comedidamente, ele assentiu. — Não há de quê. Seu tom era distante, mas, quando o carro de Helena se afastou lentamente, ele permaneceu ali, imóvel, olhando por um longo tempo, com um semblante carregado de pensamentos. ...Às oito da noite, Helena chegou à Mansão Belezas. Assim que saiu do carro, uma brisa carregada

  • Depois que Fui Embora, o Canalha Ficou Louco   Capítulo 9

    Aquele pedaço de papel, cada palavra impressa nele Bruno leu e releu incontáveis vezes, até que seus olhos ficaram ardendo de cansaço. De repente, ele compreendeu a dor de Helena, as lágrimas de Helena. De repente, ele entendeu por que, naquela noite no estacionamento, Helena desmoronou e o questionou desesperadamente: "Bruno, você não pode me dar nem um minuto do seu tempo? Depois de quatro anos de casamento, eu não valho ao menos isso para você?" Sua Helena não podia mais ter filhos! Ele não amava Helena. Mas Helena era uma pessoa importante para ele. Ela esteve ao seu lado por quatro anos, acompanhando ele durante os momentos mais sombrios de sua vida, testemunhando sua ascensão ao topo do poder. Quando se casaram, prometeram ter dois filhos, depositando neles seus mais belos desejos. Um se chamaria Sofia Lima. O outro, Gonçalo Lima. Bruno se sentou lentamente na beira da cama. Seu rosto, sempre tão marcante e imponente, naquele instante carregava uma rara expressão

  • Depois que Fui Embora, o Canalha Ficou Louco   Capítulo 10

    O desejo de Bruno foi despertado por ela. Helena estava um pouco irritada. Não queria vê-lo; os advogados cuidariam do divórcio. Ela tentou fechar a porta, mas Bruno foi mais rápido. Com um simples movimento do pé, impediu que ela se fechasse e, sem esforço algum, entrou no apartamento... Assim que a porta se fechou, Helena foi envolvida pelos braços do homem. Bruno a segurou pela cintura fina, puxando ela com força contra si. Ele a beijava com uma intensidade quase insana, e Helena não conseguia se desvencilhar. Entre tropeços e suspiros entrecortados, os dois acabaram diante do sofá. No macio estofado, Bruno claramente tinha vantagem. Ele nunca havia sido assim! A luz intensa iluminava a sala, e a voz suave e ofegante de Helena parecia incapaz de trazê-lo de volta à razão. Só quando Bruno avistou uma pequena pinta avermelhada é que seu ímpeto cego arrefeceu um pouco. Com a respiração pesada, ele aproximou os lábios quentes da orelha de Helena e perguntou, com a voz ro

  • Depois que Fui Embora, o Canalha Ficou Louco   Capítulo 11

    Helena sentia que havia algo errado com ele. Com certeza, tinha levado um fora. Mas a vida pessoal do ex-marido não era da sua conta. Uma mulher sensata sabia que esse era um princípio básico. Helena não podia expulsá-lo, mas também não tinha o menor interesse em ficar observando ele fumar. Então, prendeu os cabelos úmidos para trás com um simples grampo, calçou os chinelos e seguiu para a cozinha, disposta a preparar algo simples para si mesma. Na verdade, Helena cozinhava bem, mas, depois de se casar com Bruno, raramente tinha a oportunidade de pôr a mão na massa. Agora que morava sozinha, fazia suas próprias refeições no dia a dia. Em pouco tempo, o aroma dos pratos começou a se espalhar pela cozinha, impregnando o ambiente com um leve toque de aconchego. Bruno estava sentado no sofá e, por acaso, avistou o perfil dela. Ainda vestia aquela camisa preta que revelava as pernas, exalando sensualidade, mas, ao vê-la inclinada sobre o fogão, preparando a comida, havia nela

  • Depois que Fui Embora, o Canalha Ficou Louco   Capítulo 12

    No amanhecer, o primeiro caminhão-pipa da cidade passou sob o prédio do apartamento. A música que tocava no alto-falante era uma das favoritas de Helena, chamada "O adeus é um estranho". Um raio tímido de luz da manhã atravessou o quarto, fazendo a cortina ondular suavemente. Bruno já não estava ao seu lado na cama. Na noite anterior, ele não a forçou a nada, apenas despertou várias vezes e a beijou outras incontáveis vezes... Parecia estar se contendo havia muito tempo. E, entre aqueles beijos sonolentos e entrecortados, Helena teve a impressão de ouvir Bruno murmurar: — Helena, vamos recomeçar. Recomeçar... Essas palavras tinham um poder quase irresistível para Helena, mas os sofrimentos do passado a deixavam receosa. Aquele dia no Clube Furtivo, a expressão furiosa de Bruno também a assustou. Ela temia que, no fim, tudo não passasse de um sonho efêmero. Nos dias que se seguiram, Bruno veio vê-la por três ou quatro noites seguidas. Nada de extraordinário aconteceu.

Latest chapter

  • Depois que Fui Embora, o Canalha Ficou Louco   Capítulo 30

    Depois que Helena se foi, Bruno foi a um lugar.O terraço do Edifício Coolidge.O vento da noite soprava forte, levantando os casacos negros de dois homens, como se fossem águias negras prestes a se lançar na caça. O clima entre eles estava tenso, sem que fosse possível dizer quem ganharia a disputa.Bruno, de costas para o vento, acendeu um cigarro e deu uma tragada profunda. Seu rosto magro, ainda mais marcado pela força do gesto, fazia seus traços parecerem mais intensos e profundos, aumentando a sua imponência.Depois de fumar metade do cigarro, Bruno olhou para Manuel e, com a voz gélida, disse:— Cancelaremos a parceria. E, sobre o processo de divórcio com a Helena, não será mais necessário seguir com ele por enquanto. Se algum dia eu precisar, outro advogado irá cuidar disso...Manuel, surpreso, perguntou:— Por quê?Bruno atirou o resto do cigarro no chão e o apagou com a sola do sapato. Seu tom de voz ficou ainda mais frio e cortante.— Manuel, você me pergunta o por quê?No i

  • Depois que Fui Embora, o Canalha Ficou Louco   Capítulo 29

    Helena, claro, sabia muito bem o que estava acontecendo. Por isso, ela não rejeitou diretamente a proposta. Quem não gostaria de dinheiro, não é? Mas ela também não era boba. Bruno, naturalmente, não daria aquilo de graça. O dinheiro dele não era fácil de se conseguir. Ela sorriu levemente e disse:— O que eu preciso fazer em troca?Bruno a olhou com franqueza, sem rodeios:— Colaborar com o Plano Mia, colaborar comigo na cama.— Bruno Lima!— Eu tenho necessidades fisiológicas como homem.Helena não aceitou imediatamente, mas respondeu com calma:— Vou pensar a respeito.Bruno então tirou um contrato do bolso e o entregou para ela.— Aqui está o contrato. Você pode levar para um advogado analisar. Se tiver outras condições, podemos negociar. Helena, não há sentimentos de amor entre nós, mas ao menos fomos casados. Pondere bem.Helena concordou em pensar, mas ainda assim decidiu ir embora. Disse que não ficaria para passar a noite. Bruno não a impediu.Naquela noite, ele ainda tinha

  • Depois que Fui Embora, o Canalha Ficou Louco   Capítulo 28

    Bruno entrou no quarto de hotel, com Helena ao seu lado. Era a primeira vez que ficavam em um hotel juntos. No ambiente sem luz, tudo ao redor parecia mais intenso. Enquanto Helena ainda tentava se recompor, foi pressionada contra a porta dura e forçada a beijar Bruno. Ele exalava um aroma suave de perfume, misturado com o cheiro fresco de tabaco, e ambos se misturaram no beijo urgente, invadindo seu corpo de forma implacável. Ela sentiu suas pernas tremendo, incapaz de se manter em pé... Os dois se moveram desajeitados até o sofá, e Bruno tirou o casaco, seguido pelas meias de Helena. Suas pernas finas, ainda cobertas pela peça, roçaram contra o tecido preto das calças dele, tremendo de uma maneira desconfortável. O homem acariciou o rosto dela e, com um tom imperativo, perguntou: — Diga que não gosta do Manuel. Helena jamais diria isso. Ela não tinha nenhum tipo de interesse em Manuel, mas também não queria ser forçada a afirmar lealdade diante de Bruno. Ele, por sua

  • Depois que Fui Embora, o Canalha Ficou Louco   Capítulo 27

    Naquele dia, foi a primeira vez em que Manuel sentiu o desejo de abraçar uma mulher. Não por desejo carnal. Ele só queria segurá-la nos braços, enxugar suas lágrimas, beijar seus lábios trêmulos e vermelhos. No silêncio que pairava, Manuel perguntou novamente: — Por que você quer se divorciar? À porta, Bruno se virou com Helena, seu olhar gélido fixo no antigo amigo, e sua voz, fria como gelo, cortou o ar. — Manuel, você sabe o que está fazendo? Se não está bem, vá ao hospital. Manuel se levantou lentamente. — Eu estou muito bem! Sempre estive muito bem. E você, Bruno? Está tão certo de si? Se estivesse mesmo claro de tudo, saberia que a Helena não te ama mais. Você pode segurá-la por um ano, dois, mas não por uma vida inteira. Bruno riu friamente. — Ela ainda é minha esposa. Manuel permaneceu em silêncio após eles saírem. Ao lado, Alice puxou a manga de sua camisa, com cautela, e perguntou: — Irmão, você gosta da Helena? Manuel respondeu com um leve som de

  • Depois que Fui Embora, o Canalha Ficou Louco   Capítulo 26

    No canto ao lado, Bruno se inclinou e apagou o restante do cigarro. Seu perfil era perfeito, os dedos longos e elegantes. Mesmo o simples movimento parecia ter uma graça natural. Ele se levantou e, com seu corpo alto e esguio, caminhou até Helena, colocando suavemente a mão sobre seu ombro. — Helena, vamos embora. O ambiente no reservado ficou em um silêncio profundo. Ninguém imaginava que Bruno fosse tão mesquinho, não era ele quem dizia não se importar com Helena? Além disso, Manuel tinha sempre um bom senso de limites. Ele só trocou algumas palavras brincando, não estava realmente cutucando o coração de Bruno. Por que essa reação tão forte? Naquele tempo, ele jamais foi tão protetor. Casou e tudo mudou! Todos acreditavam que, com Bruno se mostrando tão submisso, Helena certamente iria seguir seu conselho, voltando para casa como uma esposa dedicada, deixando de lado os boatos sobre Bruno lá fora e agindo com inteligência ao não dar importância a eles. Surpreendente

  • Depois que Fui Embora, o Canalha Ficou Louco   Capítulo 25

    — A esposa do Bruno, escondida dele, está celebrando o aniversário de outro homem. — O Bruno sabe. — Mas o Bruno não ama a Helena, então não há certeza de que isso causará um grande alvoroço.Os amigos apenas murmuravam discretamenteBruno estava recostado no sofá do canto, se vestindo inteiramente de preto, se fundindo com as sombras ao seu redor. Mesmo em um ambiente tão sombrio, ele exalava uma aura de nobreza inabalável, como se fosse imune ao toque do mundo, frio e ao mesmo tempo imponente. Seus olhos estavam fixos, profundos, observando Helena que acabava de entrar pela porta. Era evidente que Helena havia se preparado especialmente para essa ocasião. Ela usava um vestido azul de seda, que acentuava sua cintura esbelta. Ao redor do pescoço tinha uma longa corrente de madrepérola branca, enquanto seus lóbulos estavam adornados com delicados brincos de diamantes. O conjunto era complementado por uma bolsa e um relógio da mesma cor. Ela parecia sofisticada, mas também

  • Depois que Fui Embora, o Canalha Ficou Louco   Capítulo 24

    Uma semana depois, Helena alugou aquele estabelecimento.Por causa da excelente localização e do preço vantajoso, Helena assinou um contrato de locação com prazo de cinco anos, escrevendo um conjunto de cheques para entregar ao proprietário.O mercado de locações estava em baixa, então, o proprietário ficou muito satisfeito com o contrato de cinco anos que Helena assinou.O homem se retirou, e Helena, sentada, terminou de beber o restante de seu café, um hábito que cultivava há anos.De repente, uma voz doce soou em seus ouvidos:— Helena.Helena se surpreendeu um instante.Era Alice Rocha, irmã de Manuel.Alice ainda estava na faculdade e, normalmente, não tinha tanta familiaridade com Helena. Porém, naquele dia, estava especialmente calorosa. Correu até ela, abraçou seu braço e começou a conversar de forma afetuosa, quase grudenta demais.Ela era animada e doce, e até Helena, que tinha uma personalidade mais fria, sentia uma certa simpatia por ela. Helena chamou o garçom e pediu para

  • Depois que Fui Embora, o Canalha Ficou Louco   Capítulo 23

    Helena voltou para casa depois de sair do hospital, e Bruno a seguiu de perto.Quando ela estacionou o carro, viu Bruno parado do lado de fora. O carro dele já estava estacionado debaixo da árvore.Assim que Helena saiu do carro, Bruno bloqueou o caminho dela.— Precisamos conversar.Helena tentou contornar o corpo dele e seguiu em direção ao elevador.— Bruno, não temos nada a conversar. Nos vemos no tribunal.Ela subiu, e ele foi atrás...Helena não deixou que ele entrasse.Depois de fechar a porta, Helena ficou com as costas apoiadas na madeira. Bruno foi a sua juventude inteira, deixá-lo para trás doía muito... Realmente muito...Ela levou um tempo para se recompor e, então, foi pegar um pijama, tomar um banho e descansar. Quanto a saber se Bruno iria embora ou não, ela já não se importava mais.A noite foi se aprofundando.As luzes das janelas, uma a uma, se apagavam.Dentro do carro preto, estacionado no andar inferior, uma luz fraca ainda iluminava o ambiente. Um homem vestido d

  • Depois que Fui Embora, o Canalha Ficou Louco   Capítulo 22

    Helena não queria enfrentá-lo e, como desculpa, foi até o banheiro.Encostada na parede, ela ficou em silêncio, perdida em seus próprios pensamentos, esperando que Bruno tivesse a sensatez de ir embora.Cerca de dez minutos depois, a porta do banheiro se abriu, e uma luz branca e suave se infiltrou pela fresta da porta, seguida pela entrada de Bruno.No espaço sombrio, estavam apenas os dois.Helena não o olhou, se recusando a estabelecer qualquer comunicação.Bruno se aproximou dela, sua silhueta alta a envolveu, e ele estendeu a mão, tocando levemente seu rosto. Sua voz, rouca e suave, soou como um sussurro:— Ainda dói?Helena virou bruscamente o rosto para o lado.Ela detestava o toque dele, deixando isso claro de maneira incontestável.Mas Bruno nunca foi um homem que desistia facilmente. Seu corpo se posicionou entre ela e a parede, enquanto uma de suas mãos segurava suavemente seu queixo, acariciando seu rosto com um gesto de grande afeto, mas, para Helena, aquilo tudo não passa

Scan code to read on App
DMCA.com Protection Status