Era tarde da noite, e o carro estava aquecido. Helena sentiu o cheiro fresco de tabaco no homem ao seu lado. O cigarro que Manuel fumava era o mesmo que Bruno costumava fumar. Por um instante, sua mente ficou confusa, e, atordoada, ela pensou que o homem ao seu lado fosse Bruno... Seus olhos se fecharam suavemente, e ela segurou a mão dele, chamando em um sussurro: — Bruno. Seus pensamentos estavam uma bagunça, e, por um momento, ela sentiu como se tivesse voltado ao passado. Ao passado que compartilhou com Bruno... Manuel não afastou a mão, nem disse nada. Apenas virou o rosto, encarando a escuridão à frente do carro. A noite estava tão densa e escura quanto uma noite chuvosa, macia e úmida, semelhante ao que ele sentia naquele momento. Manuel já teve mulheres antes. Mas eram relações baseadas apenas em necessidade mútua, sem qualquer carga emocional. Ele nunca havia experimentado sentimentos tão intensos quanto os de Helena. De repente, se sentiu curioso... Como seria
Logo pela manhã, Helena despertou com uma dor de cabeça latejante. A empregada da casa, sempre atenciosa, trouxe um comprimido para ela. Depois de tomar o remédio, Helena se sentiu muito melhor. Justo quando se preparava para tomar um banho, ouviu a empregada resmungar irritada: — O Sr. Bruno foi seduzido por aquela mulher de fora. Ontem à noite, ele voltou para casa, viu a Sra. Lima nesse estado de embriaguez e, ainda assim, pegou o carro e foi embora. Foi assim que Helena soube que Bruno havia voltado na noite anterior. A empregada, se lembrando de outro assunto, acrescentou: — Sra. Lima, o Sr. Bruno mandou lavar o paletó do Advogado Manuel e pediu que fosse entregue diretamente a ele. No fim das contas, ele ainda tem um pouco de consciência e sabe cuidar da senhora. A empregada, sem conhecer os verdadeiros pensamentos de Bruno, acreditava que ele apenas queria demonstrar consideração por Helena. Mas Helena sabia a verdade: Bruno tinha medo de que ela o traísse. Se
Helena estava no estacionamento quando encontrou Manuel. Ele parecia um pouco surpreso também. Após pensar por um instante, caminhou até ela, os olhos profundos e insondáveis. — Você vai mesmo deixar o Grupo Glory? Helena respondeu com um aceno sutil. — Sim, estou me preparando para sair. Ela jogou no porta-malas do carro a mala que segurava. Depois de fechar a tampa, se virou para Manuel e disse com indiferença: — Obrigada pelo que fez naquela noite. Manuel a observou atentamente. A expressão serena, o olhar frio... Era a Helena que ele conhecia. Naquela noite, sua beleza frágil foi como um sonho passageiro. Os olhos de Manuel se obscureceram. Comedidamente, ele assentiu. — Não há de quê. Seu tom era distante, mas, quando o carro de Helena se afastou lentamente, ele permaneceu ali, imóvel, olhando por um longo tempo, com um semblante carregado de pensamentos. ...Às oito da noite, Helena chegou à Mansão Belezas. Assim que saiu do carro, uma brisa carregada
Aquele pedaço de papel, cada palavra impressa nele Bruno leu e releu incontáveis vezes, até que seus olhos ficaram ardendo de cansaço. De repente, ele compreendeu a dor de Helena, as lágrimas de Helena. De repente, ele entendeu por que, naquela noite no estacionamento, Helena desmoronou e o questionou desesperadamente: "Bruno, você não pode me dar nem um minuto do seu tempo? Depois de quatro anos de casamento, eu não valho ao menos isso para você?" Sua Helena não podia mais ter filhos! Ele não amava Helena. Mas Helena era uma pessoa importante para ele. Ela esteve ao seu lado por quatro anos, acompanhando ele durante os momentos mais sombrios de sua vida, testemunhando sua ascensão ao topo do poder. Quando se casaram, prometeram ter dois filhos, depositando neles seus mais belos desejos. Um se chamaria Sofia Lima. O outro, Gonçalo Lima. Bruno se sentou lentamente na beira da cama. Seu rosto, sempre tão marcante e imponente, naquele instante carregava uma rara expressão
O desejo de Bruno foi despertado por ela. Helena estava um pouco irritada. Não queria vê-lo; os advogados cuidariam do divórcio. Ela tentou fechar a porta, mas Bruno foi mais rápido. Com um simples movimento do pé, impediu que ela se fechasse e, sem esforço algum, entrou no apartamento... Assim que a porta se fechou, Helena foi envolvida pelos braços do homem. Bruno a segurou pela cintura fina, puxando ela com força contra si. Ele a beijava com uma intensidade quase insana, e Helena não conseguia se desvencilhar. Entre tropeços e suspiros entrecortados, os dois acabaram diante do sofá. No macio estofado, Bruno claramente tinha vantagem. Ele nunca havia sido assim! A luz intensa iluminava a sala, e a voz suave e ofegante de Helena parecia incapaz de trazê-lo de volta à razão. Só quando Bruno avistou uma pequena pinta avermelhada é que seu ímpeto cego arrefeceu um pouco. Com a respiração pesada, ele aproximou os lábios quentes da orelha de Helena e perguntou, com a voz ro
Helena sentia que havia algo errado com ele. Com certeza, tinha levado um fora. Mas a vida pessoal do ex-marido não era da sua conta. Uma mulher sensata sabia que esse era um princípio básico. Helena não podia expulsá-lo, mas também não tinha o menor interesse em ficar observando ele fumar. Então, prendeu os cabelos úmidos para trás com um simples grampo, calçou os chinelos e seguiu para a cozinha, disposta a preparar algo simples para si mesma. Na verdade, Helena cozinhava bem, mas, depois de se casar com Bruno, raramente tinha a oportunidade de pôr a mão na massa. Agora que morava sozinha, fazia suas próprias refeições no dia a dia. Em pouco tempo, o aroma dos pratos começou a se espalhar pela cozinha, impregnando o ambiente com um leve toque de aconchego. Bruno estava sentado no sofá e, por acaso, avistou o perfil dela. Ainda vestia aquela camisa preta que revelava as pernas, exalando sensualidade, mas, ao vê-la inclinada sobre o fogão, preparando a comida, havia nela
No amanhecer, o primeiro caminhão-pipa da cidade passou sob o prédio do apartamento. A música que tocava no alto-falante era uma das favoritas de Helena, chamada "O adeus é um estranho". Um raio tímido de luz da manhã atravessou o quarto, fazendo a cortina ondular suavemente. Bruno já não estava ao seu lado na cama. Na noite anterior, ele não a forçou a nada, apenas despertou várias vezes e a beijou outras incontáveis vezes... Parecia estar se contendo havia muito tempo. E, entre aqueles beijos sonolentos e entrecortados, Helena teve a impressão de ouvir Bruno murmurar: — Helena, vamos recomeçar. Recomeçar... Essas palavras tinham um poder quase irresistível para Helena, mas os sofrimentos do passado a deixavam receosa. Aquele dia no Clube Furtivo, a expressão furiosa de Bruno também a assustou. Ela temia que, no fim, tudo não passasse de um sonho efêmero. Nos dias que se seguiram, Bruno veio vê-la por três ou quatro noites seguidas. Nada de extraordinário aconteceu.
Ela não pôde deixar de pensar: — Quanta devoção é necessária para ignorar os rumores do mundo? Helena não quis olhar por mais tempo. Se virou para ir embora, mas, às suas costas, ouviu a voz delicada de Camila chamando: — Sra. Lima. Helena se virou e os encarou. Camila envolvia o pescoço de Bruno com os braços e, com um tom ainda mais manhoso, chamou novamente: — Sra. Lima, não há nada entre mim e o Bruno! Eu não estava me sentindo bem, por isso ele me carregou. Antes que Helena pudesse responder, a Sra. Fernandes, com uma cortesia fria e distante, interveio: — Você é a esposa do Bruno, não é? Ele e a Camila se conhecem desde a infância, são grandes amigos. É natural que ele cuide dela de vez em quando. Você não se importa com isso, não é? Helena olhou para Bruno. Seu marido ainda segurava Camila nos braços, sem soltá-la, apenas franzindo levemente as sobrancelhas. Ela não tinha disposição para se importar. O que lhe causava verdadeiro desgosto era a família Fernand
Depois que Helena se foi, Bruno foi a um lugar.O terraço do Edifício Coolidge.O vento da noite soprava forte, levantando os casacos negros de dois homens, como se fossem águias negras prestes a se lançar na caça. O clima entre eles estava tenso, sem que fosse possível dizer quem ganharia a disputa.Bruno, de costas para o vento, acendeu um cigarro e deu uma tragada profunda. Seu rosto magro, ainda mais marcado pela força do gesto, fazia seus traços parecerem mais intensos e profundos, aumentando a sua imponência.Depois de fumar metade do cigarro, Bruno olhou para Manuel e, com a voz gélida, disse:— Cancelaremos a parceria. E, sobre o processo de divórcio com a Helena, não será mais necessário seguir com ele por enquanto. Se algum dia eu precisar, outro advogado irá cuidar disso...Manuel, surpreso, perguntou:— Por quê?Bruno atirou o resto do cigarro no chão e o apagou com a sola do sapato. Seu tom de voz ficou ainda mais frio e cortante.— Manuel, você me pergunta o por quê?No i
Helena, claro, sabia muito bem o que estava acontecendo. Por isso, ela não rejeitou diretamente a proposta. Quem não gostaria de dinheiro, não é? Mas ela também não era boba. Bruno, naturalmente, não daria aquilo de graça. O dinheiro dele não era fácil de se conseguir. Ela sorriu levemente e disse:— O que eu preciso fazer em troca?Bruno a olhou com franqueza, sem rodeios:— Colaborar com o Plano Mia, colaborar comigo na cama.— Bruno Lima!— Eu tenho necessidades fisiológicas como homem.Helena não aceitou imediatamente, mas respondeu com calma:— Vou pensar a respeito.Bruno então tirou um contrato do bolso e o entregou para ela.— Aqui está o contrato. Você pode levar para um advogado analisar. Se tiver outras condições, podemos negociar. Helena, não há sentimentos de amor entre nós, mas ao menos fomos casados. Pondere bem.Helena concordou em pensar, mas ainda assim decidiu ir embora. Disse que não ficaria para passar a noite. Bruno não a impediu.Naquela noite, ele ainda tinha
Bruno entrou no quarto de hotel, com Helena ao seu lado. Era a primeira vez que ficavam em um hotel juntos. No ambiente sem luz, tudo ao redor parecia mais intenso. Enquanto Helena ainda tentava se recompor, foi pressionada contra a porta dura e forçada a beijar Bruno. Ele exalava um aroma suave de perfume, misturado com o cheiro fresco de tabaco, e ambos se misturaram no beijo urgente, invadindo seu corpo de forma implacável. Ela sentiu suas pernas tremendo, incapaz de se manter em pé... Os dois se moveram desajeitados até o sofá, e Bruno tirou o casaco, seguido pelas meias de Helena. Suas pernas finas, ainda cobertas pela peça, roçaram contra o tecido preto das calças dele, tremendo de uma maneira desconfortável. O homem acariciou o rosto dela e, com um tom imperativo, perguntou: — Diga que não gosta do Manuel. Helena jamais diria isso. Ela não tinha nenhum tipo de interesse em Manuel, mas também não queria ser forçada a afirmar lealdade diante de Bruno. Ele, por sua
Naquele dia, foi a primeira vez em que Manuel sentiu o desejo de abraçar uma mulher. Não por desejo carnal. Ele só queria segurá-la nos braços, enxugar suas lágrimas, beijar seus lábios trêmulos e vermelhos. No silêncio que pairava, Manuel perguntou novamente: — Por que você quer se divorciar? À porta, Bruno se virou com Helena, seu olhar gélido fixo no antigo amigo, e sua voz, fria como gelo, cortou o ar. — Manuel, você sabe o que está fazendo? Se não está bem, vá ao hospital. Manuel se levantou lentamente. — Eu estou muito bem! Sempre estive muito bem. E você, Bruno? Está tão certo de si? Se estivesse mesmo claro de tudo, saberia que a Helena não te ama mais. Você pode segurá-la por um ano, dois, mas não por uma vida inteira. Bruno riu friamente. — Ela ainda é minha esposa. Manuel permaneceu em silêncio após eles saírem. Ao lado, Alice puxou a manga de sua camisa, com cautela, e perguntou: — Irmão, você gosta da Helena? Manuel respondeu com um leve som de
No canto ao lado, Bruno se inclinou e apagou o restante do cigarro. Seu perfil era perfeito, os dedos longos e elegantes. Mesmo o simples movimento parecia ter uma graça natural. Ele se levantou e, com seu corpo alto e esguio, caminhou até Helena, colocando suavemente a mão sobre seu ombro. — Helena, vamos embora. O ambiente no reservado ficou em um silêncio profundo. Ninguém imaginava que Bruno fosse tão mesquinho, não era ele quem dizia não se importar com Helena? Além disso, Manuel tinha sempre um bom senso de limites. Ele só trocou algumas palavras brincando, não estava realmente cutucando o coração de Bruno. Por que essa reação tão forte? Naquele tempo, ele jamais foi tão protetor. Casou e tudo mudou! Todos acreditavam que, com Bruno se mostrando tão submisso, Helena certamente iria seguir seu conselho, voltando para casa como uma esposa dedicada, deixando de lado os boatos sobre Bruno lá fora e agindo com inteligência ao não dar importância a eles. Surpreendente
— A esposa do Bruno, escondida dele, está celebrando o aniversário de outro homem. — O Bruno sabe. — Mas o Bruno não ama a Helena, então não há certeza de que isso causará um grande alvoroço.Os amigos apenas murmuravam discretamenteBruno estava recostado no sofá do canto, se vestindo inteiramente de preto, se fundindo com as sombras ao seu redor. Mesmo em um ambiente tão sombrio, ele exalava uma aura de nobreza inabalável, como se fosse imune ao toque do mundo, frio e ao mesmo tempo imponente. Seus olhos estavam fixos, profundos, observando Helena que acabava de entrar pela porta. Era evidente que Helena havia se preparado especialmente para essa ocasião. Ela usava um vestido azul de seda, que acentuava sua cintura esbelta. Ao redor do pescoço tinha uma longa corrente de madrepérola branca, enquanto seus lóbulos estavam adornados com delicados brincos de diamantes. O conjunto era complementado por uma bolsa e um relógio da mesma cor. Ela parecia sofisticada, mas também
Uma semana depois, Helena alugou aquele estabelecimento.Por causa da excelente localização e do preço vantajoso, Helena assinou um contrato de locação com prazo de cinco anos, escrevendo um conjunto de cheques para entregar ao proprietário.O mercado de locações estava em baixa, então, o proprietário ficou muito satisfeito com o contrato de cinco anos que Helena assinou.O homem se retirou, e Helena, sentada, terminou de beber o restante de seu café, um hábito que cultivava há anos.De repente, uma voz doce soou em seus ouvidos:— Helena.Helena se surpreendeu um instante.Era Alice Rocha, irmã de Manuel.Alice ainda estava na faculdade e, normalmente, não tinha tanta familiaridade com Helena. Porém, naquele dia, estava especialmente calorosa. Correu até ela, abraçou seu braço e começou a conversar de forma afetuosa, quase grudenta demais.Ela era animada e doce, e até Helena, que tinha uma personalidade mais fria, sentia uma certa simpatia por ela. Helena chamou o garçom e pediu para
Helena voltou para casa depois de sair do hospital, e Bruno a seguiu de perto.Quando ela estacionou o carro, viu Bruno parado do lado de fora. O carro dele já estava estacionado debaixo da árvore.Assim que Helena saiu do carro, Bruno bloqueou o caminho dela.— Precisamos conversar.Helena tentou contornar o corpo dele e seguiu em direção ao elevador.— Bruno, não temos nada a conversar. Nos vemos no tribunal.Ela subiu, e ele foi atrás...Helena não deixou que ele entrasse.Depois de fechar a porta, Helena ficou com as costas apoiadas na madeira. Bruno foi a sua juventude inteira, deixá-lo para trás doía muito... Realmente muito...Ela levou um tempo para se recompor e, então, foi pegar um pijama, tomar um banho e descansar. Quanto a saber se Bruno iria embora ou não, ela já não se importava mais.A noite foi se aprofundando.As luzes das janelas, uma a uma, se apagavam.Dentro do carro preto, estacionado no andar inferior, uma luz fraca ainda iluminava o ambiente. Um homem vestido d
Helena não queria enfrentá-lo e, como desculpa, foi até o banheiro.Encostada na parede, ela ficou em silêncio, perdida em seus próprios pensamentos, esperando que Bruno tivesse a sensatez de ir embora.Cerca de dez minutos depois, a porta do banheiro se abriu, e uma luz branca e suave se infiltrou pela fresta da porta, seguida pela entrada de Bruno.No espaço sombrio, estavam apenas os dois.Helena não o olhou, se recusando a estabelecer qualquer comunicação.Bruno se aproximou dela, sua silhueta alta a envolveu, e ele estendeu a mão, tocando levemente seu rosto. Sua voz, rouca e suave, soou como um sussurro:— Ainda dói?Helena virou bruscamente o rosto para o lado.Ela detestava o toque dele, deixando isso claro de maneira incontestável.Mas Bruno nunca foi um homem que desistia facilmente. Seu corpo se posicionou entre ela e a parede, enquanto uma de suas mãos segurava suavemente seu queixo, acariciando seu rosto com um gesto de grande afeto, mas, para Helena, aquilo tudo não passa