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Capítulo 8

Author: Chuva Solitária
Helena estava no estacionamento quando encontrou Manuel.

Ele parecia um pouco surpreso também. Após pensar por um instante, caminhou até ela, os olhos profundos e insondáveis.

— Você vai mesmo deixar o Grupo Glory?

Helena respondeu com um aceno sutil.

— Sim, estou me preparando para sair.

Ela jogou no porta-malas do carro a mala que segurava. Depois de fechar a tampa, se virou para Manuel e disse com indiferença:

— Obrigada pelo que fez naquela noite.

Manuel a observou atentamente.

A expressão serena, o olhar frio... Era a Helena que ele conhecia.

Naquela noite, sua beleza frágil foi como um sonho passageiro.

Os olhos de Manuel se obscureceram. Comedidamente, ele assentiu.

— Não há de quê.

Seu tom era distante, mas, quando o carro de Helena se afastou lentamente, ele permaneceu ali, imóvel, olhando por um longo tempo, com um semblante carregado de pensamentos.

...

Às oito da noite, Helena chegou à Mansão Belezas.

Assim que saiu do carro, uma brisa carregada de perfume floral veio ao seu encontro, refrescante e delicada.

As empregadas da mansão se aproximaram, solícitas e respeitosas:

— A senhora vai jantar sozinha hoje ou prefere esperar pelo Sr. Bruno? A comida já está pronta, basta aquecer.

Helena ponderou por um momento antes de responder com serenidade:

— A partir de hoje, não precisam mais preparar minhas refeições.

As empregadas ficaram surpresas. Uma delas quis perguntar algo, mas Helena já havia atravessado o corredor e entrado no salão, subindo as escadas lentamente.

No segundo andar, as luzes brilhavam suavemente.

Helena diminuiu o passo. Seus olhos vagaram pelo corredor luxuoso, e ela avançou devagar. A cada passo, as lembranças vinham à tona, o passado que compartilhou com Bruno, as dificuldades, a intensidade de tudo o que viveram, a dor...

"Bruno, você queria poder e influência... Eu te ajudei... Bruno, nós não vamos viver para sempre nessa luta, não é? Bruno, está doendo... Meu ventre dói tanto..."

Ela também se lembrou de suas consultas: "Sinto muito, Sra. Lima. Após os exames, verificamos que suas chances de engravidar são muito pequenas. Talvez seja melhor considerar a adoção. "

...

Aqueles poucos metros pareciam o percurso de toda a sua vida. Ou, talvez, a caminhada final de seus sentimentos por Bruno.

A brisa noturna soprou suave, mas o rosto de Helena estava gélido como uma pedra.

Helena empurrou a porta do quarto, acendendo a luz suavemente. A iluminação delicada revelou cada detalhe ao seu redor.

Nos últimos quatro anos, sua vida inteira parecera girar em torno de Bruno. Ela esteve ao lado dele, ajudando ele a ascender ao auge do poder. Quanto mais ele prosperava, mais ela se perdia de si mesma.

Mas, finalmente, estava livre.

Helena entrou no closet, puxou algumas malas grandes e começou a arrumar seus pertences. Separou todas as roupas que costumava usar e, sem hesitar, pegou também suas joias valiosas. Nada ficaria para o Bruno, ela levaria tudo consigo.

Depois de terminar, ergueu o corpo e, de repente, seus olhos pousaram sobre a pintura pendurada na parede.

Era uma obra sua, o retrato de Bruno na juventude.

Um rapaz radiante.

Agora que o amor tinha acabado, aquela pintura não fazia mais sentido.

Helena abriu a bolsa e pegou um batom. Com força, deslizou a cor escarlate sobre a tela, deixando marcas intensas e caóticas.

Em poucos instantes, a imagem se transformou por completo. Os traços de Bruno começaram a se desfazer, sua expressão desapareceu sob os riscos vermelhos.

O amor que Helena colocou naquela tela um dia, agora se transformava em ódio.

E não foi só a pintura. Ela pegou uma faca e, sem hesitação, rasgou em pedaços a foto do casamento deles.

O vidro se estilhaçou. O sentimento se rompeu.

O retrato de sorrisos felizes jamais poderia ser reconstruído.

A faca caiu de suas mãos, tilintando no chão. Seus braços tremiam incontrolavelmente. De repente, Helena levou uma mão aos olhos, tentando conter as lágrimas que ardiam, como se condensassem toda a sua juventude perdida, como se ecoassem a dor daquela noite, quando seu ventre se contorceu de sofrimento...

Ela saiu sem olhar para trás.

O quarto, agora sem sua dona, ficou vazio e frio. No criado-mudo, apenas um anel de diamante permaneceu, refletindo um brilho rígido e impassível...

No estacionamento do primeiro andar, as empregadas tentaram impedi-la, mas tudo o que puderam fazer foi vê-la partir.

Assim que recobraram o fôlego, ligaram imediatamente para Bruno.

...

Hospital do Povo.

Ala de internação de luxo.

No final do corredor, uma janela panorâmica estava aberta, deixando a brisa noturna invadir o ambiente.

Bruno estava ali, seu porte imponente e firme.

O telefone tocava. Ele atendeu, e a voz aflita do empregado da Mansão Belezas soou do outro lado da linha:

— Sr. Bruno, a Sra. Lima foi embora.

Bruno mostrou um traço de impaciência.

— Ela disse para onde foi?

Ele não se preocupou. Achou que Helena apenas estivesse de mau humor e tinha saído para espairecer. Não foi há poucos dias que ela saiu para beber?

Ele considerou exagerada a reação da empregada.

A mulher permaneceu em silêncio por um instante antes de falar, bem baixinho:

— A Sra. Lima não quis dizer. Ela levou várias malas grandes. Quando subimos para conferir, vimos que todas as joias e roupas, que ela costumava usar, tinham sumido. O quarto está uma bagunça... O senhor deveria vir ver!

O coração de Bruno apertou. Segurando o celular, permaneceu imóvel por um longo tempo, incapaz de reagir.

Só depois de um bom tempo desligou a chamada e caminhou apressado até o elevador. A luz do corredor iluminava seu rosto, ressaltando o perfil perfeito e austero, enquanto a sombra de seus cílios tremulava levemente...

Bruno voltou às pressas para a Mansão Belezas. A noite havia caído.

Subiu as escadas até o segundo andar e empurrou a porta do quarto que dividia com Helena.

A porta se abriu suavemente, revelando um cenário caótico.

O retrato de casamento, antes pendurado na cabeceira da cama, foi brutalmente arremessado ao chão, com os cacos de vidro espalhados por toda parte. O olhar trocado entre eles naquela foto, o sorriso sutil capturado no instante da sessão, agora estavam destruídos por um corte profundo de lâmina. Era impossível enxergar qualquer traço do passado.

Seguiu até o closet. As portas do armário de Helena estavam escancaradas, como se o local tivesse sido saqueado.

Suas roupas, suas joias... Tudo desapareceu.

Na parede, ainda pendia uma tela a óleo. Aquela era a pintura favorita de Helena. Na época, recém-casados, ela insistiu tanto até convencê-lo a posar como modelo. Um dos raros momentos de doçura em sua vida a dois.

Bruno não compreendia. Agora que tinham tudo, que estavam no topo do poder, por que Helena se afastava dele? Por que discutiam tanto?

O lugar de esposa dele era o sonho de tantas mulheres...

Ela estava abrindo mão de tudo?

Ele se recusava a acreditar!

Bruno permaneceu sobre os cacos espalhados pelo chão e, sem hesitar, começou a ligar para Helena.

Bruno achou que Helena só estava brincando de desaparecer, querendo chamar sua atenção.

Mas, para sua surpresa, o telefone dela chamou normalmente, e ela atendeu quase de imediato.

No mesmo instante, ele começou a questioná-la. Com frieza, disse que todo esse alarde só faria com que surgissem rumores desagradáveis sobre o casamento deles. A imprensa especularia, e as ações do Grupo Glory poderiam ser afetadas.

Bruno ordenou que Helena voltasse.

— Você pode ser mimada, mas com moderação! Helena, você precisa pensar no cenário como um todo.

A noite estava silenciosa. Do outro lado da linha, a voz de Helena soou calma:

— Não existe mais cenário nenhum. Bruno, eu já pedi para prepararem a petição de divórcio. Em breve, você receberá a intimação do tribunal.

A garganta de Bruno se contraiu. Demorou um longo tempo para conseguir pronunciar algo:

— O que você quer dizer com isso?

Após um silêncio que pareceu durar uma eternidade, Helena respondeu com frieza:

— Exatamente o que você entendeu. Bruno, acabou.

Ela desligou.

Bruno tentou ligar de volta, mas o telefone já estava desligado. Do outro lado da linha, a voz automática da operadora informou, impessoal:

— Desculpe, o número para o qual você ligou está desligado...

...

Bruno permaneceu parado por um longo tempo.

À porta, uma empregada falou com cautela:

— A Srta. Camila ligou. Ela gostaria de falar com o senhor.

A veia em sua têmpora pulsou. Seu olhar ficou sombrio, e sua voz veio fria e impiedosa:

— Mande ela sumir!

Helena havia ido embora.

Helena não queria mais saber dele.

A sua Helena... Não queria mais saber dele.

A mulher que um dia prometeu ficar ao seu lado para sempre, que jurou nunca abandoná-lo...

Bruno sentia a respiração pesada, o peito queimando com uma raiva sufocante que tentava controlar.

Foi então que algo chamou sua atenção.

No chão, meio escondida sob a cama, havia uma folha de papel amarelada pelo tempo, como se tivesse sido guardada ali havia muito tempo.

Seus olhos se estreitaram.

"O que é isso?"

Ele se abaixou para pegá-la.

No instante seguinte, ficou completamente imóvel.

Era um diagnóstico médico de um hospital obstétrico.

E o nome da paciente... Era Helena.

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