Aline tossiu forte mais uma vez.Dessa vez, nem conseguiu se segurar e caiu de joelhos no chão. Seu corpinho frágil se curvou e, num instante, cuspiu uma porção de sangue.A voz de Isadora tremeu, e correu para a filha:— Aline!O rostinho de Aline estava vermelho de febre, mas seus lábios estavam assustadoramente pálidos:— Estou bem, mamãe...Isadora não pensou duas vezes e a pegou nos braços:— Vou te levar para o hospital.Aline agarrou a blusa da mãe com suas mãozinhas, os olhos já completamente vermelhos.Isadora correu para o hospital e, depois que os médicos fizeram um exame de sangue, elas ficaram esperando o resultado no corredor.A voz fraquinha da Aline expôs toda sua fragilidade:— Mamãe... o papai me odeia?Naquele instante, Isadora ficou sem palavras.Ela queria tanto dizer para a filha:— Aline... seu pai não odeia você, ele odeia a mim.— Se você fosse filha da Tereza... com certeza seria feliz.Mas ela mentiu mais uma vez, engoliu o choro e balançou a cabeça:— Não, A
Tereza puxou de leve o canto dos lábios de Olavo, tentando esconder a mágoa no olhar e fugindo uma postura compreensiva:— Olavo, já que a Isadora quer conversar com você, fiquem à vontade. Não briguem na frente da criança.Olavo não gostou muito daquilo, mesmo assim assentiu e se afastou.Fazia tanto tempo que não ficavam sozinhos assim, que Isadora não sabia por onde começar.Mas uma coisa era certa: Olavo não tinha a menor paciência com ela.— O que quer dizer, afinal? Trazer uma criança para aqui e fazer escândalo... Acha que isso é coisa de mãe?Só de pensar que ela tinha usado a própria filha para tentar se reaproximar dele, Olavo sentiu um profundo desprezo.Isadora falou devagar:— Você me prometeu que ficaria com a Aline por um mês. Nesse tempo, será que pode fazer sua namorada sumir da frente dela?Ela já não se importava com as coisas que Olavo dizia sobre ela. Só queria garantir que sua filha tivesse um pouco de felicidade nesse período.— Prometi que ficaria com a Aline. E
Todo o hospital ficou em alvoroço devido à Aline, mas Isadora sentiu que sua mente se esvaziou completamente. Parecia que só restavam os sons dos passos e dos gritos ao redor; não via nem ouvia mais nada.— Sra. Isadora? A senhora tá bem?O médico acenou a mão diante dos olhos dela.Isadora recobrou finalmente os sentidos e olhou para ele. Foi como se, de repente, toda sua racionalidade tivesse voltado de uma vez.Ela preguntou, tremendo: — Como está minha filha?— Estabilizamos por ora, mas o quadro dela se agravou drasticamente. A situação é muito grave. Precisamos internar ela na UTI e esperar que os sinais vitais se estabilizem antes de avaliar se é possível operar.— Sra. Isadora, a cirurgia, agora...O médico não concluiu a frase, mas ela entendeu.A cirurgia tinha pouca chance de sucesso. Seria apenas mais sofrimento para Aline.Mas ela não queria desistir. Não podia aceitar perder sua filha preciosa. Mesmo que restasse só um fio de esperança, não abriria mão.— Entendi. Obriga
— Aline!Isadora gritou com força, e as lágrimas caíram pelo seu rosto. Sentia como se algo estivesse preso em seu peito, sufocando a ponto de dificultar a respiração.Ela sabia.Sabia que sua Aline tinha partido, que voltara para o céu. Veio a este mundo, viu este mundo, mas não gostou. Ficou decepcionada com tudo e todos, então decidiu ir embora para nunca mais voltar.Abraçando a filha nos braços, ela tremia:— Aline, me perdoa! Me perdoa!Suas mãos vacilantes seguravam o rostinho sem vida da menina, beijando-o uma vez, outra e outra...A culpa era dela, ela insistiu em ficar com Olavo.Foi egoísta.Era uma péssima mãe. Não merecia ter Aline. E agora, sua filha nunca mais voltaria.Com a dor cortando sua alma, Isadora respirou fundo, tentando manter a calma. Com suas próprias mãos, lavou e vestiu Aline com o vestido rosa de princesa que ela mais amava. Queria que sua menina partisse linda, impecável. No último momento, faria o melhor para sua filha.Os médicos e enfermeiros gostava
Olavo perguntou ansioso:— Tereza, o que aconteceu? Onde está?A voz feroz de Jorge veio pelo telefone:— Olavo, você machucou minha sobrinha, e não vou deixar isso barato! Você não dizia que essa mulher era preciosa para você? Pois se prepare, porque vai ter de enterrar ela!A voz de Olavo tremia, o medo era evidente:— Pare com essa loucura!Ele sempre foi arrogante e intocável, mas quando se tratava de Tereza, era a única vez que demonstrava medo, que se descontrolava.— Se não quer que ela morra, venha para cá agora!Jorge rosnou essas palavras e desligou.Logo em seguida, mandou um endereço.Ele então lançou um olhar cheio de ódio para Tereza e cuspiu com desprezo:— Tudo por culpa sua! Sem vergonha! Sua amante sem vergonha!Tereza balançava a cabeça desesperadamente, se recusando a aceitar a acusação de ser amante:— Não, não é verdade! Eu já estava com o Olavo antes da Isadora!Mas Jorge não era como Olavo, ele não tinha paciência para delicadezas. Só sabia que, se perdesse o ca
Esse sorriso deixou Olavo desconfortável, como se algo estivesse realmente escapando de suas mãos.— Olavo, ela aceitou o divórcio. Assinou de verdade!Tereza olhou para o documento e, surpresa, anunciou a notícia, trazendo Olavo de volta à realidade.Ele ficou ligeiramente espantado.Achou que era só mais um truque dela, mas ela realmente assinou?Pegou o acordo de divórcio às pressas, mas aquele nome assinado com letras firmes e decididas parecia um soco no peito.Ela abriu mão tão fácil assim?— Olavo, você é a pessoa mais cruel desse mundo.— Deposite logo 10 milhões na minha conta.Jorge olhou para aqueles dois se abraçando e, sentiu um nojo profundo. Soltou uma risada sarcástica e saiu sem olhar para trás.Era exatamente o que ele queria há tanto tempo, então por que, agora que finalmente aconteceu, Olavo sentia esse vazio irritante no peito?Tereza o abraçou apertado, lágrimas de felicidade escorrendo pelo rosto:— Ótimo, Olavo! Você está livre, finalmente livre! Agora podemos f
Funerária?Olavo ouviu essa palavra e, sem nem pensar, desligou o telefone na hora.Agora até golpe estava chegando nesse nível? Alguém se passando por funcionário de uma funerária? Não tinham mesmo vergonha!Sua Aline estava muito bem. Que história era essa de funerária?O celular tocou de novo pouco depois:— Responsável por Aline Carvalho? Aqui é da funerária. Precisamos que venham quanto antes para providenciar o atestado de óbito e os trâmites da cremação.A ligação foi curta, sem explicações. Antes que Olavo pudesse explodir de raiva, a pessoa do outro lado desligou.Cada palavra daquela ligação era uma provocação direta à paciência dele, que já estava por um fio! Ele já tinha tolerado muita coisa, mas isso?!Isadora era uma louca!Para tentar seduzi-lo, ela realmente conseguia qualquer coisa, até inventar que a própria filha estava morta. Que tipo de mãe fazia uma coisa dessas?!— Olavo.Uma voz familiar o chamou, tirando-o de seus pensamentos. Quando se virou, encontrou Tereza
Tereza suspirou, puxando a manga da camisa dele, com um ar de quem tentava esconder a mágoa:— Olavo, você devia ir ver Isadora, antes que aconteça alguma coisa de verdade.Se havia algo que Olavo não suportava, era vê-la se sentindo injustiçada. Agora, ouvindo aquilo, sentiu a raiva crescer ainda mais.— Se eu for atrás dela, é exatamente isso que ela quer. Quero ver como ela pretende continuar essa encenação sem mim!Olavo soltou um riso frio e, sem hesitar, puxou Tereza para mais perto, envolvendo-a com o braço:— Se ela fosse tão sensata quanto você, tudo seria bem melhor.No entanto, as palavras não fizeram Tereza se sentir particularmente feliz. Mesmo assim, ela encostou a cabeça no peito dele, fingindo satisfação.A voz dela saiu hesitante, os olhos marejados:— Não fica assim... no fim das contas, Isadora só se importa demais com esse título de ser sua esposa. Você devia tentar entender o lado dela. Mas vocês já se divorciaram... até quando ela vai continuar com isso?A palavra
Rafael falou com firmeza, seus olhos fixos nela, carregados de sentimentos que ele guardava há anos:— Naquela época, quando fui embora, me arrependi no profundo Agora, só quero ficar ao seu lado.— Isadora, você não precisa me responder, mas, por favor, não me expulse.No passado, seu orgulho o impediu de expressar o que sentia, e por isso perdeu a mulher que amava. Agora, depois de tanto tempo, ele não pretendia repetir o mesmo erro.Talvez fosse pela intensidade das palavras dele, ou talvez porque aquela antiga emoção de juventude tivesse sido despertada, mas Isadora sentiu algo dentro dela se aquecer.Ela achava que sua vida já estava definida, que não teria mais surpresas. Mas, para sua surpresa, o destino deu uma reviravolta e colocou de novo em seu caminho o homem que ela gostava na juventude.— Isadora, sua filha morreu, e você, como mãe, parece bem tranquila. Já arrumou um novo homem?A voz fria e cheia de desprezo de Olavo ecoou pelo quarto.Ele estava parado na porta, braços
Isadora sentia uma dor insuportável, mas, comparada ao aperto no coração, aquilo não era nada.Rafael pegou o celular no bolso e o entregou para ela:— Seu celular não parou de vibrar.Ao ver o nome no visor, Isadora soltou um riso de desdém. Ela rejeitou a chamada sem hesitar e jogou o aparelho de lado.Quando precisou de ajuda, ninguém apareceu. Agora queriam se fazer presentes? Para quê?Olavo ficou olhando para a tela do celular, seu rosto tomado por uma expressão sombria.Aquela mulher realmente não sabia o seu lugar. Sempre ingrata, sempre desafiadora.Nesse momento, o assistente, Marcos, entrou na sala.Ele hesitou um instante, mas, no final, colocou sobre a mesa os documentos que havia investigado:— Senhor, verifiquei tudo. A certidão de óbito, o atestado de cremação, os prontuários médicos... estão todos aqui. A pequena senhorita... realmente faleceu.Ao terminar de falar, Marcos recuou imediatamente, evitando o furacão prestes a explodir.Olavo ficou paralisado por um segund
Mas, assim que esse pensamento surgiu, Isadora o reprimiu imediatamente.Ela sabia que não tinha esse direito. Com que justificativa poderia se agarrar a ele e chorar?Rafael Alves a acomodou com cuidado no banco do carona. Ao vê-la naquele estado, soltou um suspiro pesado:— Para de chorar, vou te levar ao hospital.Isadora perguntou, já sabendo a resposta:— Devo estar um desastre, né?Ela riu baixinho, cheia de amargura. Mas Rafael foi direto ao ponto:— Não precisa bancar a durona. Se quiser chorar, chora.Assim que ele terminou de falar, aumentou o volume do som ao máximo.Isadora se encolheu no banco e chorou sem reservas.Rafael sentia o peito apertar de tanta dor por ela, mas não disse nada. Apenas dirigiu em direção ao hospital.O som alto preenchia o carro, mas, mesmo assim, ele conseguia ouvir os soluços abafados e angustiados dela. A culpa o consumia: se soubesse que isso aconteceria, teria voltado antes. Se tivesse voltado antes, ela nunca teria passado por essa humilhação
O frio repentino nas costas fez Isadora estremecer. O desespero tomou conta dela, e, sem pensar, ela se debateu com todas as forças. Em meio à confusão, conseguiu acertar um chute certeiro em Diego, atingindo-o no ponto mais sensível. Ele soltou um gemido de dor, e Isadora aproveitou a brecha. Com um impulso rápido, subiu na mesa e correu até a porta, tentando escapar.Assim que a porta se abriu, uma esperança cresceu dentro dela, mas durou apenas um segundo. Sentiu um puxão forte no cabelo, seguido por um tapa ardido no rosto.Diego gritou, os olhos injetados de raiva:— V*dia! Tá querendo morrer, é?!Isadora gritou, lutando para se soltar:— Socorro! Me larga! Fica longe de mim!Ela se agarrou ao batente da porta com toda a força, recusando-se a ser arrastada de volta. Estava tão perto... não podia desistir!Diego riu com escárnio:— Socorro? Essa casa toda é minha. Quem você acha que vai te salvar? Sua v*dia, tá pedindo para levar uma lição! Vou te mostrar quem manda!Diego rangeu o
— Seu tio me deve dois milhões. Ele já falou: vai pagar a dívida com você!Os olhos de Diego estavam cheios de ganância, e sua presença era opressora. Ele estendeu a mão, segurou o queixo dela com firmeza e a examinou.— Tá meio magrinha, mas até que é bonitinha. 2 milhões... acho que saí no prejuízo, hein?— Não, não faz isso! Posso te dar o dinheiro, eu mesma pago os 2 milhões! Por favor, não faz isso...As lágrimas de Isadora rolaram imediatamente, sua voz saiu trêmula.Ela puxou o celular num reflexo, os dedos apertando as teclas de forma desesperada.Mesmo tendo trocado de aparelho, o sistema ainda era o mesmo: Olavo continuava sendo seu contato de emergência.A chamada foi feita automaticamente, uma vez, duas, três... cinco vezes seguidas, e nada. Sempre a mesma resposta: chamada não atendida.Diego, claro, percebeu que ela estava tentando pedir ajuda. Mas quando ouviu a gravação automática no celular, ele apenas riu:— Garotinha... pelo visto, ninguém vai vir te salvar.Antes qu
Agora que tudo tinha acabado: o casamento, e a relação.Ela não via mais motivo para ficar com aquela porcaria.Sem hesitar, tirou o anel do dedo e disse com frieza:— Isso aqui vale mais do que a casa. Pode vender tudo e sumir da minha vida. Não quero mais contato com você.Os olhos de Jorge brilharam imediatamente. Seu sorriso se alargou em uma expressão bajuladora enquanto pegava o anel:— Isadora, sabia que você era uma garota sensata. No mundo inteiro, sou a única família que te resta. Pode confiar, eu sempre vou te proteger.Ele a observou com um olhar gentil, a voz cheia de carinho:— Você está magrinha, hein? Vamos sair para comer alguma coisa, que tal?Isadora hesitou.O sorriso de Jorge a fez lembrar do passado, quando ainda era criança. Naquela época, ele era o tio mais próximo dela, e ela passava os dias grudada nele, seguindo-o para todo lado.Ela ergueu os olhos para a parede e viu a foto da família. Respirou fundo e, depois de um instante, assentiu, aceitando o convite.
Tereza estava furiosa por dentro, mas não demonstrou. Apenas suspirou levemente e disse com voz triste:— Ah, Olavo, me desculpa... não consigo controlar meus sentimentos. No fim das contas, a culpa é minha. Se eu te amasse um pouco menos, a Isadora não estaria assim.— Para com isso. Que besteira.O olhar de Olavo suavizou enquanto fitava a mulher em seus braços, mas, no fundo, uma pontinha de impaciência crescia dentro dele. Ele só não sabia ao certo o motivo. Sem querer pensar nisso, reprimiu o incômodo e pegou o celular para ligar para seu assistente, Fernando:— Descubra onde está Aline.— Sim, senhor.O rosto de Tereza se contraiu por um instante. Aline estava morta, mas Olavo obviamente ainda não aceitava isso.Ela precisava fazer com que ele enxergasse a verdade quanto antes. Com aquela menina fora do caminho, Olavo e Isadora não teriam mais nada que os ligasse. Então, finalmente, ela poderia ocupar o lugar que acreditava merecer como esposa dele.Mas, antes disso, Isadora prec
— Isadora, não seja tão sem vergonha!Olavo franziu a testa, e o resquício de culpa que tinha sentido desapareceu na mesma hora.Antes, ele sempre achou que essa mulher fosse ardilosa, mas pelo menos sabia se portar. Só que agora, parecia ter enlouquecido de vez.— Quem é que tá sendo sem vergonha aqui? A gente já se divorciou, e você ainda fica insistindo. O que você quer, afinal?Ela soltou uma risada fria e continuou:— Será que só percebeu que me amava depois que me perdeu? Agora quer voltar? E a sua querida Tereza, como fica nessa história?O tom de deboche de Isadora, carregado de desprezo, foi como uma lâmina afiada, cortando fundo no coração de Tereza.As lágrimas de Tereza começaram a rolar:— Olavo, se você realmente gosta dela, posso sair de cena...— Eu... Eu só estou com você porque te amo, não quero mais nada. Mas se você não me quiser mais, é só dizer.Dizendo isso, tentou enxugá-las rapidamente, sem querer parecer fraca diante de Olavo.Ao vê-la chorando, Olavo sentiu u
Ela ergueu a cabeça, segurando as lágrimas com todas as forças. Não queria deixá-las cair. No final, olhou para Olavo e disse:— Você não acredita, né? Então vem comigo. Vou te levar até lá. Quero que veja com seus próprios olhos. Assim, você finalmente acredita.— Isadora, se você estiver mentindo, juro que não vou perdoar nem a você, nem ao Jorge!Jorge era o último parente que restava para Isadora neste mundo, sua única fraqueza. Olavo sempre fora calculista, sabia exatamente como atingir alguém onde mais doía.Mas o problema era que ele ainda não percebia que Isadora já não era mais a mesma. Que se dane o tio! Ela não se importava mais. Na verdade, desejava que Jorge morresse logo!Sem olhar para Olavo nem por um segundo a mais, Isadora o levou para os lugares onde Aline costumava estar.Primeiro, foram até a escola dela. Depois, ao ateliê de pintura. Visitaram até a doceria favorita de Aline e o parque de diversões que ela mais amava. No final, chegaram ao jardim da casa onde mora