Share

Capítulo 5

Author: Aurora Mendes
Aline tossiu forte mais uma vez.

Dessa vez, nem conseguiu se segurar e caiu de joelhos no chão. Seu corpinho frágil se curvou e, num instante, cuspiu uma porção de sangue.

A voz de Isadora tremeu, e correu para a filha:

— Aline!

O rostinho de Aline estava vermelho de febre, mas seus lábios estavam assustadoramente pálidos:

— Estou bem, mamãe...

Isadora não pensou duas vezes e a pegou nos braços:

— Vou te levar para o hospital.

Aline agarrou a blusa da mãe com suas mãozinhas, os olhos já completamente vermelhos.

Isadora correu para o hospital e, depois que os médicos fizeram um exame de sangue, elas ficaram esperando o resultado no corredor.

A voz fraquinha da Aline expôs toda sua fragilidade:

— Mamãe... o papai me odeia?

Naquele instante, Isadora ficou sem palavras.

Ela queria tanto dizer para a filha:

— Aline... seu pai não odeia você, ele odeia a mim.

— Se você fosse filha da Tereza... com certeza seria feliz.

Mas ela mentiu mais uma vez, engoliu o choro e balançou a cabeça:

— Não, Aline. O papai não te odeia, ele só está muito ocupado...

Aline sorriu de leve, seu rostinho pálido parecia ainda mais frágil. Com sua mãozinha, acariciou os cabelos de Isadora:

— A mamãe vai ficar feliz.

Essas palavras quase fizeram as lágrimas de Isadora caírem, mas ela precisava se segurar.

Forçou um sorriso pior que o choro.

— Doutor!

Uma voz fria e cortante ecoou pelo corredor.

Isadora congelou.

Ela e Aline levantaram a cabeça ao mesmo tempo e, então, viram Olavo, que deveria estar ocupado no trabalho. Mas ali estava ele, no hospital, carregando outra mulher nos braços.

Era Tereza.

Aline chamou por ele sem pensar:

— Papai!

Os olhos de Olavo captaram o chamado, e ele olhou em direção às duas. Ficou surpreso ao vê-las.

Naquele momento, Tereza também percebeu a presença delas.

Então, agarrou o braço de Olavo e disse, com uma expressão de dor:

— Olavo... está doendo...

A lucidez voltou a ele por um momento:

— O doutor já está chegando.

Logo em seguida, o médico apareceu às pressas.

Olavo desviou o olhar, trocou algumas palavras com o médico e saiu sem hesitação, acompanhando-o.

Aline viu Olavo indo embora e ficou atordoada:

— Mamãe... por que o papai estava carregando aquela senhora?

O peito de Isadora se apertou como se alguém tivesse pisado forte nele. Prendeu a respiração e forçou um sorriso:

— Deve ser uma colega do trabalho dele que se machucou.

Aline piscou, confusa:

— É mesmo? Mas também estamos no hospital... por que ele se preocupa com os outros, mas não conosco?

Naquele momento, Isadora percebeu: não importava quantas mentiras contasse... a verdade sempre viria à tona.

Afinal, se até uma criança conseguia perceber, significava que a preferência de Olavo era escancarada.

Os olhos de Isadora ficaram vermelhos, tentou responder com calma:

— Talvez a senhora esteja mais machucada...

Aline ficou em silêncio.

E quanto mais ficava calada, mais Isadora se sentia inquieta.

Uma hora depois, quando foram buscar o resultado do exame, deram de cara com Olavo. E Tereza, agora estava sentada em uma cadeira de rodas.

Isadora parou no meio do caminho, sentindo um aperto sufocante no peito.

Naquele instante, sentiu um arrependimento profundo por conhecer Olavo.

Ela podia aceitar a humilhação de nunca ter sido amada por ele, mas não aceitava que sua filha passasse pela mesma dor.

Aline chamou baixinho:

— Papai...

Olavo e Tereza olharam ao mesmo tempo.

O rosto dele mudou de expressão, mas sua voz se manteve fria:

— Aline.

Ela desviou o olhar para Tereza:

— Papai... quem é essa senhora?

Os traços firmes de Olavo ficaram ligeiramente tensos, ele hesitou um pouco antes de responder: — Ela é...

Antes que ele terminasse, Tereza segurou a mão dele e sorriu gentilmente:

— Pequena, sou... amiga do seu pai.

Ao dizer isso, seu rosto ficou ainda mais pálido, e sua voz trêmula parecia carregada de sofrimento.

Que cena comovente.

Até mesmo Isadora sentiu uma pontada no coração ao vê-la assim.

Olavo ficou sério, e sua voz saiu grave:

— Aline, essa é a namorada do papai.

Aquelas palavras caíram sobre Isadora como uma lâmina afiada.

Ela não demonstrou nenhuma reação exagerada. Afinal, já esperava por isso.

Como esperado, ele nunca permitiria que Tereza passasse por um único desconforto.

Então, Isadora sorriu, como se nada tivesse acontecido:

— Aline, essa é a Sra. Tereza, namorada do seu pai.

O rostinho da menina ficou ainda mais pálido.

Isadora se abaixou, alisando suavemente a bochecha da filha:

— Querida, tem algo que ainda não te contei. O seu pai e eu já não estamos mais juntos... mas, não importa quanto tempo passe, ele sempre será seu pai, e eu sempre serei sua mãe.

Olavo achava que Isadora tinha levado a filha até ali só para criar confusão. Afinal, ela já tinha aprontado de tudo no passado.

Foi por isso que, ao apresentar Tereza como sua namorada, ele quis provocá-la.

Mas não esperava que Isadora dissesse tudo assim, sem hesitar.

Ele estava enganado?

Aline ficou atordoada, mas, acima de tudo, triste:

— E a mamãe?

Isadora hesitou.

Aline começou a chorar, as lágrimas rolando sem parar:

— Tenho papai e mamãe... mas, mamãe, e você? Você não tem ninguém...

Naquele momento, Isadora sentiu como se seu coração tivesse sido esmagado, e foi a própria filha que o juntou de volta, pedacinho por pedacinho.

Sim... Ela já não tinha mais ninguém.

E agora, estava prestes a perder sua filha também.

Ela estava sozinha no mundo.

Mas forçou um sorriso e bagunçou os cabelos da Aline:

— Tenho você. Agora, cumprimente a Sra. Tereza.

O peito da Aline estava sufocado de tanta amargura, mas mamãe ensinou que ela precisava ser educada.

Engolindo o choro, ela olhou para o pai segurando a mão de outra mulher e forçou um sorriso:

— Olá, Sra. Tereza...

O rosto da Tereza se contraiu levemente, mas como Olavo estava ao lado, ela apenas sorriu sem graça:

— Olá, Aline.

Olavo ficou observando.

Aline não disse mais nada e voltou para o lado da mãe. Isadora também não olhou mais para eles.

Era uma cena harmoniosa...

Mas por que ele se sentia tão incomodado?

Nesse momento, Daniel chegou com os papéis da internação.

Isadora entregou a filha para ele e olhou para Olavo:

— Podemos conversar?

Olavo franziu o cenho, impaciente, já recusando antes mesmo de ouvir:

— Diante da filha, vai fazer um escândalo de novo?
Continue to read this book for free
Scan code to download App

Related chapters

  • Brindou a Outra, Enterrei o Passado   Capítulo 6

    Tereza puxou de leve o canto dos lábios de Olavo, tentando esconder a mágoa no olhar e fugindo uma postura compreensiva:— Olavo, já que a Isadora quer conversar com você, fiquem à vontade. Não briguem na frente da criança.Olavo não gostou muito daquilo, mesmo assim assentiu e se afastou.Fazia tanto tempo que não ficavam sozinhos assim, que Isadora não sabia por onde começar.Mas uma coisa era certa: Olavo não tinha a menor paciência com ela.— O que quer dizer, afinal? Trazer uma criança para aqui e fazer escândalo... Acha que isso é coisa de mãe?Só de pensar que ela tinha usado a própria filha para tentar se reaproximar dele, Olavo sentiu um profundo desprezo.Isadora falou devagar:— Você me prometeu que ficaria com a Aline por um mês. Nesse tempo, será que pode fazer sua namorada sumir da frente dela?Ela já não se importava com as coisas que Olavo dizia sobre ela. Só queria garantir que sua filha tivesse um pouco de felicidade nesse período.— Prometi que ficaria com a Aline. E

  • Brindou a Outra, Enterrei o Passado   Capítulo 7

    Todo o hospital ficou em alvoroço devido à Aline, mas Isadora sentiu que sua mente se esvaziou completamente. Parecia que só restavam os sons dos passos e dos gritos ao redor; não via nem ouvia mais nada.— Sra. Isadora? A senhora tá bem?O médico acenou a mão diante dos olhos dela.Isadora recobrou finalmente os sentidos e olhou para ele. Foi como se, de repente, toda sua racionalidade tivesse voltado de uma vez.Ela preguntou, tremendo: — Como está minha filha?— Estabilizamos por ora, mas o quadro dela se agravou drasticamente. A situação é muito grave. Precisamos internar ela na UTI e esperar que os sinais vitais se estabilizem antes de avaliar se é possível operar.— Sra. Isadora, a cirurgia, agora...O médico não concluiu a frase, mas ela entendeu.A cirurgia tinha pouca chance de sucesso. Seria apenas mais sofrimento para Aline.Mas ela não queria desistir. Não podia aceitar perder sua filha preciosa. Mesmo que restasse só um fio de esperança, não abriria mão.— Entendi. Obriga

  • Brindou a Outra, Enterrei o Passado   Capítulo 8

    — Aline!Isadora gritou com força, e as lágrimas caíram pelo seu rosto. Sentia como se algo estivesse preso em seu peito, sufocando a ponto de dificultar a respiração.Ela sabia.Sabia que sua Aline tinha partido, que voltara para o céu. Veio a este mundo, viu este mundo, mas não gostou. Ficou decepcionada com tudo e todos, então decidiu ir embora para nunca mais voltar.Abraçando a filha nos braços, ela tremia:— Aline, me perdoa! Me perdoa!Suas mãos vacilantes seguravam o rostinho sem vida da menina, beijando-o uma vez, outra e outra...A culpa era dela, ela insistiu em ficar com Olavo.Foi egoísta.Era uma péssima mãe. Não merecia ter Aline. E agora, sua filha nunca mais voltaria.Com a dor cortando sua alma, Isadora respirou fundo, tentando manter a calma. Com suas próprias mãos, lavou e vestiu Aline com o vestido rosa de princesa que ela mais amava. Queria que sua menina partisse linda, impecável. No último momento, faria o melhor para sua filha.Os médicos e enfermeiros gostava

  • Brindou a Outra, Enterrei o Passado   Capítulo 9

    Olavo perguntou ansioso:— Tereza, o que aconteceu? Onde está?A voz feroz de Jorge veio pelo telefone:— Olavo, você machucou minha sobrinha, e não vou deixar isso barato! Você não dizia que essa mulher era preciosa para você? Pois se prepare, porque vai ter de enterrar ela!A voz de Olavo tremia, o medo era evidente:— Pare com essa loucura!Ele sempre foi arrogante e intocável, mas quando se tratava de Tereza, era a única vez que demonstrava medo, que se descontrolava.— Se não quer que ela morra, venha para cá agora!Jorge rosnou essas palavras e desligou.Logo em seguida, mandou um endereço.Ele então lançou um olhar cheio de ódio para Tereza e cuspiu com desprezo:— Tudo por culpa sua! Sem vergonha! Sua amante sem vergonha!Tereza balançava a cabeça desesperadamente, se recusando a aceitar a acusação de ser amante:— Não, não é verdade! Eu já estava com o Olavo antes da Isadora!Mas Jorge não era como Olavo, ele não tinha paciência para delicadezas. Só sabia que, se perdesse o ca

  • Brindou a Outra, Enterrei o Passado   Capítulo 10

    Esse sorriso deixou Olavo desconfortável, como se algo estivesse realmente escapando de suas mãos.— Olavo, ela aceitou o divórcio. Assinou de verdade!Tereza olhou para o documento e, surpresa, anunciou a notícia, trazendo Olavo de volta à realidade.Ele ficou ligeiramente espantado.Achou que era só mais um truque dela, mas ela realmente assinou?Pegou o acordo de divórcio às pressas, mas aquele nome assinado com letras firmes e decididas parecia um soco no peito.Ela abriu mão tão fácil assim?— Olavo, você é a pessoa mais cruel desse mundo.— Deposite logo 10 milhões na minha conta.Jorge olhou para aqueles dois se abraçando e, sentiu um nojo profundo. Soltou uma risada sarcástica e saiu sem olhar para trás.Era exatamente o que ele queria há tanto tempo, então por que, agora que finalmente aconteceu, Olavo sentia esse vazio irritante no peito?Tereza o abraçou apertado, lágrimas de felicidade escorrendo pelo rosto:— Ótimo, Olavo! Você está livre, finalmente livre! Agora podemos f

  • Brindou a Outra, Enterrei o Passado   Capítulo 11

    Funerária?Olavo ouviu essa palavra e, sem nem pensar, desligou o telefone na hora.Agora até golpe estava chegando nesse nível? Alguém se passando por funcionário de uma funerária? Não tinham mesmo vergonha!Sua Aline estava muito bem. Que história era essa de funerária?O celular tocou de novo pouco depois:— Responsável por Aline Carvalho? Aqui é da funerária. Precisamos que venham quanto antes para providenciar o atestado de óbito e os trâmites da cremação.A ligação foi curta, sem explicações. Antes que Olavo pudesse explodir de raiva, a pessoa do outro lado desligou.Cada palavra daquela ligação era uma provocação direta à paciência dele, que já estava por um fio! Ele já tinha tolerado muita coisa, mas isso?!Isadora era uma louca!Para tentar seduzi-lo, ela realmente conseguia qualquer coisa, até inventar que a própria filha estava morta. Que tipo de mãe fazia uma coisa dessas?!— Olavo.Uma voz familiar o chamou, tirando-o de seus pensamentos. Quando se virou, encontrou Tereza

  • Brindou a Outra, Enterrei o Passado   Capítulo 12

    Tereza suspirou, puxando a manga da camisa dele, com um ar de quem tentava esconder a mágoa:— Olavo, você devia ir ver Isadora, antes que aconteça alguma coisa de verdade.Se havia algo que Olavo não suportava, era vê-la se sentindo injustiçada. Agora, ouvindo aquilo, sentiu a raiva crescer ainda mais.— Se eu for atrás dela, é exatamente isso que ela quer. Quero ver como ela pretende continuar essa encenação sem mim!Olavo soltou um riso frio e, sem hesitar, puxou Tereza para mais perto, envolvendo-a com o braço:— Se ela fosse tão sensata quanto você, tudo seria bem melhor.No entanto, as palavras não fizeram Tereza se sentir particularmente feliz. Mesmo assim, ela encostou a cabeça no peito dele, fingindo satisfação.A voz dela saiu hesitante, os olhos marejados:— Não fica assim... no fim das contas, Isadora só se importa demais com esse título de ser sua esposa. Você devia tentar entender o lado dela. Mas vocês já se divorciaram... até quando ela vai continuar com isso?A palavra

  • Brindou a Outra, Enterrei o Passado   Capítulo 13

    Pela manhã, Isadora acordou mais uma vez com o travesseiro encharcado de lágrimas. Com os olhos inchados, se arrastou para fora da cama e pegou o celular.Nos últimos dias, ela tinha mantido o celular desligado. Estava arrasada e não queria saber de nada do mundo lá fora. Assim que ligou o celular, ouviu o som das notificações e viu uma mensagem de funerária, cobrando que fosse resolver a papelada.Só então se lembrou de que, apesar de já ter enterrado as cinzas de Aline, ainda havia muitos documentos e formalidades a serem resolvidos.— Melhor assim... Depois de terminar tudo isso, posso finalmente ir embora daqui.Ela apertou o pingente que carregava no peito e as lágrimas voltaram a cair:— Aline, senti tanto sua falta...Por mais que tivesse tentado não se entregar à tristeza, sabia que tinha fracassado. Antes de partir, a filha só se preocupava com ela, com medo de que ficasse infeliz.Mas não havia como evitar. Só de pensar em sua filha, seu anjinho, sentia uma dor que a fazia qu

Latest chapter

  • Brindou a Outra, Enterrei o Passado   Capítulo 30

    Rafael falou com firmeza, seus olhos fixos nela, carregados de sentimentos que ele guardava há anos:— Naquela época, quando fui embora, me arrependi no profundo Agora, só quero ficar ao seu lado.— Isadora, você não precisa me responder, mas, por favor, não me expulse.No passado, seu orgulho o impediu de expressar o que sentia, e por isso perdeu a mulher que amava. Agora, depois de tanto tempo, ele não pretendia repetir o mesmo erro.Talvez fosse pela intensidade das palavras dele, ou talvez porque aquela antiga emoção de juventude tivesse sido despertada, mas Isadora sentiu algo dentro dela se aquecer.Ela achava que sua vida já estava definida, que não teria mais surpresas. Mas, para sua surpresa, o destino deu uma reviravolta e colocou de novo em seu caminho o homem que ela gostava na juventude.— Isadora, sua filha morreu, e você, como mãe, parece bem tranquila. Já arrumou um novo homem?A voz fria e cheia de desprezo de Olavo ecoou pelo quarto.Ele estava parado na porta, braços

  • Brindou a Outra, Enterrei o Passado   Capítulo 29

    Isadora sentia uma dor insuportável, mas, comparada ao aperto no coração, aquilo não era nada.Rafael pegou o celular no bolso e o entregou para ela:— Seu celular não parou de vibrar.Ao ver o nome no visor, Isadora soltou um riso de desdém. Ela rejeitou a chamada sem hesitar e jogou o aparelho de lado.Quando precisou de ajuda, ninguém apareceu. Agora queriam se fazer presentes? Para quê?Olavo ficou olhando para a tela do celular, seu rosto tomado por uma expressão sombria.Aquela mulher realmente não sabia o seu lugar. Sempre ingrata, sempre desafiadora.Nesse momento, o assistente, Marcos, entrou na sala.Ele hesitou um instante, mas, no final, colocou sobre a mesa os documentos que havia investigado:— Senhor, verifiquei tudo. A certidão de óbito, o atestado de cremação, os prontuários médicos... estão todos aqui. A pequena senhorita... realmente faleceu.Ao terminar de falar, Marcos recuou imediatamente, evitando o furacão prestes a explodir.Olavo ficou paralisado por um segund

  • Brindou a Outra, Enterrei o Passado   Capítulo 28

    Mas, assim que esse pensamento surgiu, Isadora o reprimiu imediatamente.Ela sabia que não tinha esse direito. Com que justificativa poderia se agarrar a ele e chorar?Rafael Alves a acomodou com cuidado no banco do carona. Ao vê-la naquele estado, soltou um suspiro pesado:— Para de chorar, vou te levar ao hospital.Isadora perguntou, já sabendo a resposta:— Devo estar um desastre, né?Ela riu baixinho, cheia de amargura. Mas Rafael foi direto ao ponto:— Não precisa bancar a durona. Se quiser chorar, chora.Assim que ele terminou de falar, aumentou o volume do som ao máximo.Isadora se encolheu no banco e chorou sem reservas.Rafael sentia o peito apertar de tanta dor por ela, mas não disse nada. Apenas dirigiu em direção ao hospital.O som alto preenchia o carro, mas, mesmo assim, ele conseguia ouvir os soluços abafados e angustiados dela. A culpa o consumia: se soubesse que isso aconteceria, teria voltado antes. Se tivesse voltado antes, ela nunca teria passado por essa humilhação

  • Brindou a Outra, Enterrei o Passado   Capítulo 27

    O frio repentino nas costas fez Isadora estremecer. O desespero tomou conta dela, e, sem pensar, ela se debateu com todas as forças. Em meio à confusão, conseguiu acertar um chute certeiro em Diego, atingindo-o no ponto mais sensível. Ele soltou um gemido de dor, e Isadora aproveitou a brecha. Com um impulso rápido, subiu na mesa e correu até a porta, tentando escapar.Assim que a porta se abriu, uma esperança cresceu dentro dela, mas durou apenas um segundo. Sentiu um puxão forte no cabelo, seguido por um tapa ardido no rosto.Diego gritou, os olhos injetados de raiva:— V*dia! Tá querendo morrer, é?!Isadora gritou, lutando para se soltar:— Socorro! Me larga! Fica longe de mim!Ela se agarrou ao batente da porta com toda a força, recusando-se a ser arrastada de volta. Estava tão perto... não podia desistir!Diego riu com escárnio:— Socorro? Essa casa toda é minha. Quem você acha que vai te salvar? Sua v*dia, tá pedindo para levar uma lição! Vou te mostrar quem manda!Diego rangeu o

  • Brindou a Outra, Enterrei o Passado   Capítulo 26

    — Seu tio me deve dois milhões. Ele já falou: vai pagar a dívida com você!Os olhos de Diego estavam cheios de ganância, e sua presença era opressora. Ele estendeu a mão, segurou o queixo dela com firmeza e a examinou.— Tá meio magrinha, mas até que é bonitinha. 2 milhões... acho que saí no prejuízo, hein?— Não, não faz isso! Posso te dar o dinheiro, eu mesma pago os 2 milhões! Por favor, não faz isso...As lágrimas de Isadora rolaram imediatamente, sua voz saiu trêmula.Ela puxou o celular num reflexo, os dedos apertando as teclas de forma desesperada.Mesmo tendo trocado de aparelho, o sistema ainda era o mesmo: Olavo continuava sendo seu contato de emergência.A chamada foi feita automaticamente, uma vez, duas, três... cinco vezes seguidas, e nada. Sempre a mesma resposta: chamada não atendida.Diego, claro, percebeu que ela estava tentando pedir ajuda. Mas quando ouviu a gravação automática no celular, ele apenas riu:— Garotinha... pelo visto, ninguém vai vir te salvar.Antes qu

  • Brindou a Outra, Enterrei o Passado   Capítulo 25

    Agora que tudo tinha acabado: o casamento, e a relação.Ela não via mais motivo para ficar com aquela porcaria.Sem hesitar, tirou o anel do dedo e disse com frieza:— Isso aqui vale mais do que a casa. Pode vender tudo e sumir da minha vida. Não quero mais contato com você.Os olhos de Jorge brilharam imediatamente. Seu sorriso se alargou em uma expressão bajuladora enquanto pegava o anel:— Isadora, sabia que você era uma garota sensata. No mundo inteiro, sou a única família que te resta. Pode confiar, eu sempre vou te proteger.Ele a observou com um olhar gentil, a voz cheia de carinho:— Você está magrinha, hein? Vamos sair para comer alguma coisa, que tal?Isadora hesitou.O sorriso de Jorge a fez lembrar do passado, quando ainda era criança. Naquela época, ele era o tio mais próximo dela, e ela passava os dias grudada nele, seguindo-o para todo lado.Ela ergueu os olhos para a parede e viu a foto da família. Respirou fundo e, depois de um instante, assentiu, aceitando o convite.

  • Brindou a Outra, Enterrei o Passado   Capítulo 24

    Tereza estava furiosa por dentro, mas não demonstrou. Apenas suspirou levemente e disse com voz triste:— Ah, Olavo, me desculpa... não consigo controlar meus sentimentos. No fim das contas, a culpa é minha. Se eu te amasse um pouco menos, a Isadora não estaria assim.— Para com isso. Que besteira.O olhar de Olavo suavizou enquanto fitava a mulher em seus braços, mas, no fundo, uma pontinha de impaciência crescia dentro dele. Ele só não sabia ao certo o motivo. Sem querer pensar nisso, reprimiu o incômodo e pegou o celular para ligar para seu assistente, Fernando:— Descubra onde está Aline.— Sim, senhor.O rosto de Tereza se contraiu por um instante. Aline estava morta, mas Olavo obviamente ainda não aceitava isso.Ela precisava fazer com que ele enxergasse a verdade quanto antes. Com aquela menina fora do caminho, Olavo e Isadora não teriam mais nada que os ligasse. Então, finalmente, ela poderia ocupar o lugar que acreditava merecer como esposa dele.Mas, antes disso, Isadora prec

  • Brindou a Outra, Enterrei o Passado   Capítulo 23

    — Isadora, não seja tão sem vergonha!Olavo franziu a testa, e o resquício de culpa que tinha sentido desapareceu na mesma hora.Antes, ele sempre achou que essa mulher fosse ardilosa, mas pelo menos sabia se portar. Só que agora, parecia ter enlouquecido de vez.— Quem é que tá sendo sem vergonha aqui? A gente já se divorciou, e você ainda fica insistindo. O que você quer, afinal?Ela soltou uma risada fria e continuou:— Será que só percebeu que me amava depois que me perdeu? Agora quer voltar? E a sua querida Tereza, como fica nessa história?O tom de deboche de Isadora, carregado de desprezo, foi como uma lâmina afiada, cortando fundo no coração de Tereza.As lágrimas de Tereza começaram a rolar:— Olavo, se você realmente gosta dela, posso sair de cena...— Eu... Eu só estou com você porque te amo, não quero mais nada. Mas se você não me quiser mais, é só dizer.Dizendo isso, tentou enxugá-las rapidamente, sem querer parecer fraca diante de Olavo.Ao vê-la chorando, Olavo sentiu u

  • Brindou a Outra, Enterrei o Passado   Capítulo 22

    Ela ergueu a cabeça, segurando as lágrimas com todas as forças. Não queria deixá-las cair. No final, olhou para Olavo e disse:— Você não acredita, né? Então vem comigo. Vou te levar até lá. Quero que veja com seus próprios olhos. Assim, você finalmente acredita.— Isadora, se você estiver mentindo, juro que não vou perdoar nem a você, nem ao Jorge!Jorge era o último parente que restava para Isadora neste mundo, sua única fraqueza. Olavo sempre fora calculista, sabia exatamente como atingir alguém onde mais doía.Mas o problema era que ele ainda não percebia que Isadora já não era mais a mesma. Que se dane o tio! Ela não se importava mais. Na verdade, desejava que Jorge morresse logo!Sem olhar para Olavo nem por um segundo a mais, Isadora o levou para os lugares onde Aline costumava estar.Primeiro, foram até a escola dela. Depois, ao ateliê de pintura. Visitaram até a doceria favorita de Aline e o parque de diversões que ela mais amava. No final, chegaram ao jardim da casa onde mora

Explore and read good novels for free
Free access to a vast number of good novels on GoodNovel app. Download the books you like and read anywhere & anytime.
Read books for free on the app
SCAN CODE TO READ ON APP
DMCA.com Protection Status