Esse sorriso deixou Olavo desconfortável, como se algo estivesse realmente escapando de suas mãos.— Olavo, ela aceitou o divórcio. Assinou de verdade!Tereza olhou para o documento e, surpresa, anunciou a notícia, trazendo Olavo de volta à realidade.Ele ficou ligeiramente espantado.Achou que era só mais um truque dela, mas ela realmente assinou?Pegou o acordo de divórcio às pressas, mas aquele nome assinado com letras firmes e decididas parecia um soco no peito.Ela abriu mão tão fácil assim?— Olavo, você é a pessoa mais cruel desse mundo.— Deposite logo 10 milhões na minha conta.Jorge olhou para aqueles dois se abraçando e, sentiu um nojo profundo. Soltou uma risada sarcástica e saiu sem olhar para trás.Era exatamente o que ele queria há tanto tempo, então por que, agora que finalmente aconteceu, Olavo sentia esse vazio irritante no peito?Tereza o abraçou apertado, lágrimas de felicidade escorrendo pelo rosto:— Ótimo, Olavo! Você está livre, finalmente livre! Agora podemos f
Funerária?Olavo ouviu essa palavra e, sem nem pensar, desligou o telefone na hora.Agora até golpe estava chegando nesse nível? Alguém se passando por funcionário de uma funerária? Não tinham mesmo vergonha!Sua Aline estava muito bem. Que história era essa de funerária?O celular tocou de novo pouco depois:— Responsável por Aline Carvalho? Aqui é da funerária. Precisamos que venham quanto antes para providenciar o atestado de óbito e os trâmites da cremação.A ligação foi curta, sem explicações. Antes que Olavo pudesse explodir de raiva, a pessoa do outro lado desligou.Cada palavra daquela ligação era uma provocação direta à paciência dele, que já estava por um fio! Ele já tinha tolerado muita coisa, mas isso?!Isadora era uma louca!Para tentar seduzi-lo, ela realmente conseguia qualquer coisa, até inventar que a própria filha estava morta. Que tipo de mãe fazia uma coisa dessas?!— Olavo.Uma voz familiar o chamou, tirando-o de seus pensamentos. Quando se virou, encontrou Tereza
Tereza suspirou, puxando a manga da camisa dele, com um ar de quem tentava esconder a mágoa:— Olavo, você devia ir ver Isadora, antes que aconteça alguma coisa de verdade.Se havia algo que Olavo não suportava, era vê-la se sentindo injustiçada. Agora, ouvindo aquilo, sentiu a raiva crescer ainda mais.— Se eu for atrás dela, é exatamente isso que ela quer. Quero ver como ela pretende continuar essa encenação sem mim!Olavo soltou um riso frio e, sem hesitar, puxou Tereza para mais perto, envolvendo-a com o braço:— Se ela fosse tão sensata quanto você, tudo seria bem melhor.No entanto, as palavras não fizeram Tereza se sentir particularmente feliz. Mesmo assim, ela encostou a cabeça no peito dele, fingindo satisfação.A voz dela saiu hesitante, os olhos marejados:— Não fica assim... no fim das contas, Isadora só se importa demais com esse título de ser sua esposa. Você devia tentar entender o lado dela. Mas vocês já se divorciaram... até quando ela vai continuar com isso?A palavra
Pela manhã, Isadora acordou mais uma vez com o travesseiro encharcado de lágrimas. Com os olhos inchados, se arrastou para fora da cama e pegou o celular.Nos últimos dias, ela tinha mantido o celular desligado. Estava arrasada e não queria saber de nada do mundo lá fora. Assim que ligou o celular, ouviu o som das notificações e viu uma mensagem de funerária, cobrando que fosse resolver a papelada.Só então se lembrou de que, apesar de já ter enterrado as cinzas de Aline, ainda havia muitos documentos e formalidades a serem resolvidos.— Melhor assim... Depois de terminar tudo isso, posso finalmente ir embora daqui.Ela apertou o pingente que carregava no peito e as lágrimas voltaram a cair:— Aline, senti tanto sua falta...Por mais que tivesse tentado não se entregar à tristeza, sabia que tinha fracassado. Antes de partir, a filha só se preocupava com ela, com medo de que ficasse infeliz.Mas não havia como evitar. Só de pensar em sua filha, seu anjinho, sentia uma dor que a fazia qu
E os outros? Ela já não queria mais saber. Nem precisava, nem importava mais.Tinha chorado tanto que seus olhos ardiam sem parar.Saindo da funerária, Isadora sentiu o sol bater direto em seu rosto. Só então percebeu que ainda estava viva.Ergueu a cabeça para encarar a luz, mas, sem perceber, as lágrimas voltaram a escorrer.— Aline, senti tanto a sua falta...— Minha pequena... minha Aline...Segurando com força o pingente que carregava no peito, se encolheu no chão e chorou, desesperada.Por mais que tentasse se convencer de que Aline queria que ela ficasse bem, não conseguia suportar. Ela não era forte o bastante.Chorou até perder as forças. Só então, com dificuldade, conseguiu se levantar e começou a andar sem rumo, como um fantasma, de volta para a casa onde morava antes.Era a única coisa que seus pais deixaram para ela antes de partirem: um apartamento pequeno e velho, de apenas sessenta metros quadrados. Comparado à mansão de Olavo, não era maior do que um banheiro. Mas, ain
Isadora sentia nojo só de olhar para aquele homem. Cada segundo diante dele era uma ofensa à memória de Aline.Aproveitando-se do silêncio dele, abriu a porta e entrou, deixando bem claro seu desprezo ao bater a porta com força.Ao se virar, seus olhos pousaram na foto em preto e branco sobre a mesa de centro.Aline sorria radiante, os olhos brilhando de felicidade. Aquela foto fora tirada no Dia das Crianças, quando ela se apresentou na escola e recebeu um prêmio. O orgulho e a alegria em seu rosto eram contagiantes.Isadora escolhera propositalmente aquela imagem, queria se lembrar da filha sempre assim: feliz, sorrindo, cheia de vida.— Aline...Ela deslizou pelas costas da porta até o chão, cobrindo a boca com as mãos para conter os soluços, mas as lágrimas escorriam sem controle.Do lado de fora, a voz fria e ríspida de Olavo cortou o ar:— Isadora, não sei qual é o seu joguinho, mas Aline era minha filha. Você não tem o direito de tratá-la como bem entende, muito menos de falar d
Olavo estava com a expressão sombria:— O que você disse?Já fazia dias que ele não via Aline, e, da última vez que foi atrás de Isadora, também não encontrou a menina.Lembrou-se da ligação da funerária, e uma inquietação tomou conta dele. Mesmo sabendo que era mais um truque de Isadora, não conseguiu evitar aquela pontada de nervosismo.Tereza deu um passo à frente e tocou de leve o peito dele, falando com voz suave:— Olavo, não se preocupe. A Isadora só está tentando te provocar, mas ela nunca machucaria a própria filha. Só não sabemos onde ela pode ter deixado a Aline. Ela tem mais algum parente?Parente?Na mesma hora, Olavo se lembrou de Jorge. E da passagem cancelada.Aquele homem era um viciado em jogos, capaz de vender a própria alma por dinheiro. Se Aline realmente estivesse com ele, então ela corria perigo.Sem hesitar, Olavo afastou a mão de Tereza e saiu com passos largos:— Agora mesmo. Vamos para o aeroporto.Não importava o que acontecesse, Aline era uma filha de Famíl
Tereza veio correndo e segurou o braço dele antes que ele pudesse dar mais um passo. Seu olhar mostrava reprovação:— O que está fazendo, Olavo? Por pior que seja, Isadora ainda é uma mulher. Como pode agir desse jeito?Ela se virou e se abaixou para ajudar Isadora a se levantar do chão.Antes de falecer, tudo o que Aline queria era passar mais tempo com o pai, mas aquela mulher nunca deixava Olavo em paz. Até mesmo na noite em que Aline estava internada, ela o arrastou para comemorar um maldito aniversário.Sempre que via Tereza, tudo voltava à mente: o sofrimento de Aline, a tristeza, a solidão. Ela se lembrava da noite em que sua filha morreu, enquanto 600 mil reais em fogos de artifício iluminavam o céu, tudo para agradar aquela mulher!— Não encosta em mim! Que nojo!Isadora deu um tapa na mão de Tereza e reuniu forças para se levantar.Seu olhar estava frio, como se estivesse olhando para um pedaço de lixo.No passado, Isadora nunca culpou Tereza. Sempre achou que a culpa era exc
Rafael falou com firmeza, seus olhos fixos nela, carregados de sentimentos que ele guardava há anos:— Naquela época, quando fui embora, me arrependi no profundo Agora, só quero ficar ao seu lado.— Isadora, você não precisa me responder, mas, por favor, não me expulse.No passado, seu orgulho o impediu de expressar o que sentia, e por isso perdeu a mulher que amava. Agora, depois de tanto tempo, ele não pretendia repetir o mesmo erro.Talvez fosse pela intensidade das palavras dele, ou talvez porque aquela antiga emoção de juventude tivesse sido despertada, mas Isadora sentiu algo dentro dela se aquecer.Ela achava que sua vida já estava definida, que não teria mais surpresas. Mas, para sua surpresa, o destino deu uma reviravolta e colocou de novo em seu caminho o homem que ela gostava na juventude.— Isadora, sua filha morreu, e você, como mãe, parece bem tranquila. Já arrumou um novo homem?A voz fria e cheia de desprezo de Olavo ecoou pelo quarto.Ele estava parado na porta, braços
Isadora sentia uma dor insuportável, mas, comparada ao aperto no coração, aquilo não era nada.Rafael pegou o celular no bolso e o entregou para ela:— Seu celular não parou de vibrar.Ao ver o nome no visor, Isadora soltou um riso de desdém. Ela rejeitou a chamada sem hesitar e jogou o aparelho de lado.Quando precisou de ajuda, ninguém apareceu. Agora queriam se fazer presentes? Para quê?Olavo ficou olhando para a tela do celular, seu rosto tomado por uma expressão sombria.Aquela mulher realmente não sabia o seu lugar. Sempre ingrata, sempre desafiadora.Nesse momento, o assistente, Marcos, entrou na sala.Ele hesitou um instante, mas, no final, colocou sobre a mesa os documentos que havia investigado:— Senhor, verifiquei tudo. A certidão de óbito, o atestado de cremação, os prontuários médicos... estão todos aqui. A pequena senhorita... realmente faleceu.Ao terminar de falar, Marcos recuou imediatamente, evitando o furacão prestes a explodir.Olavo ficou paralisado por um segund
Mas, assim que esse pensamento surgiu, Isadora o reprimiu imediatamente.Ela sabia que não tinha esse direito. Com que justificativa poderia se agarrar a ele e chorar?Rafael Alves a acomodou com cuidado no banco do carona. Ao vê-la naquele estado, soltou um suspiro pesado:— Para de chorar, vou te levar ao hospital.Isadora perguntou, já sabendo a resposta:— Devo estar um desastre, né?Ela riu baixinho, cheia de amargura. Mas Rafael foi direto ao ponto:— Não precisa bancar a durona. Se quiser chorar, chora.Assim que ele terminou de falar, aumentou o volume do som ao máximo.Isadora se encolheu no banco e chorou sem reservas.Rafael sentia o peito apertar de tanta dor por ela, mas não disse nada. Apenas dirigiu em direção ao hospital.O som alto preenchia o carro, mas, mesmo assim, ele conseguia ouvir os soluços abafados e angustiados dela. A culpa o consumia: se soubesse que isso aconteceria, teria voltado antes. Se tivesse voltado antes, ela nunca teria passado por essa humilhação
O frio repentino nas costas fez Isadora estremecer. O desespero tomou conta dela, e, sem pensar, ela se debateu com todas as forças. Em meio à confusão, conseguiu acertar um chute certeiro em Diego, atingindo-o no ponto mais sensível. Ele soltou um gemido de dor, e Isadora aproveitou a brecha. Com um impulso rápido, subiu na mesa e correu até a porta, tentando escapar.Assim que a porta se abriu, uma esperança cresceu dentro dela, mas durou apenas um segundo. Sentiu um puxão forte no cabelo, seguido por um tapa ardido no rosto.Diego gritou, os olhos injetados de raiva:— V*dia! Tá querendo morrer, é?!Isadora gritou, lutando para se soltar:— Socorro! Me larga! Fica longe de mim!Ela se agarrou ao batente da porta com toda a força, recusando-se a ser arrastada de volta. Estava tão perto... não podia desistir!Diego riu com escárnio:— Socorro? Essa casa toda é minha. Quem você acha que vai te salvar? Sua v*dia, tá pedindo para levar uma lição! Vou te mostrar quem manda!Diego rangeu o
— Seu tio me deve dois milhões. Ele já falou: vai pagar a dívida com você!Os olhos de Diego estavam cheios de ganância, e sua presença era opressora. Ele estendeu a mão, segurou o queixo dela com firmeza e a examinou.— Tá meio magrinha, mas até que é bonitinha. 2 milhões... acho que saí no prejuízo, hein?— Não, não faz isso! Posso te dar o dinheiro, eu mesma pago os 2 milhões! Por favor, não faz isso...As lágrimas de Isadora rolaram imediatamente, sua voz saiu trêmula.Ela puxou o celular num reflexo, os dedos apertando as teclas de forma desesperada.Mesmo tendo trocado de aparelho, o sistema ainda era o mesmo: Olavo continuava sendo seu contato de emergência.A chamada foi feita automaticamente, uma vez, duas, três... cinco vezes seguidas, e nada. Sempre a mesma resposta: chamada não atendida.Diego, claro, percebeu que ela estava tentando pedir ajuda. Mas quando ouviu a gravação automática no celular, ele apenas riu:— Garotinha... pelo visto, ninguém vai vir te salvar.Antes qu
Agora que tudo tinha acabado: o casamento, e a relação.Ela não via mais motivo para ficar com aquela porcaria.Sem hesitar, tirou o anel do dedo e disse com frieza:— Isso aqui vale mais do que a casa. Pode vender tudo e sumir da minha vida. Não quero mais contato com você.Os olhos de Jorge brilharam imediatamente. Seu sorriso se alargou em uma expressão bajuladora enquanto pegava o anel:— Isadora, sabia que você era uma garota sensata. No mundo inteiro, sou a única família que te resta. Pode confiar, eu sempre vou te proteger.Ele a observou com um olhar gentil, a voz cheia de carinho:— Você está magrinha, hein? Vamos sair para comer alguma coisa, que tal?Isadora hesitou.O sorriso de Jorge a fez lembrar do passado, quando ainda era criança. Naquela época, ele era o tio mais próximo dela, e ela passava os dias grudada nele, seguindo-o para todo lado.Ela ergueu os olhos para a parede e viu a foto da família. Respirou fundo e, depois de um instante, assentiu, aceitando o convite.
Tereza estava furiosa por dentro, mas não demonstrou. Apenas suspirou levemente e disse com voz triste:— Ah, Olavo, me desculpa... não consigo controlar meus sentimentos. No fim das contas, a culpa é minha. Se eu te amasse um pouco menos, a Isadora não estaria assim.— Para com isso. Que besteira.O olhar de Olavo suavizou enquanto fitava a mulher em seus braços, mas, no fundo, uma pontinha de impaciência crescia dentro dele. Ele só não sabia ao certo o motivo. Sem querer pensar nisso, reprimiu o incômodo e pegou o celular para ligar para seu assistente, Fernando:— Descubra onde está Aline.— Sim, senhor.O rosto de Tereza se contraiu por um instante. Aline estava morta, mas Olavo obviamente ainda não aceitava isso.Ela precisava fazer com que ele enxergasse a verdade quanto antes. Com aquela menina fora do caminho, Olavo e Isadora não teriam mais nada que os ligasse. Então, finalmente, ela poderia ocupar o lugar que acreditava merecer como esposa dele.Mas, antes disso, Isadora prec
— Isadora, não seja tão sem vergonha!Olavo franziu a testa, e o resquício de culpa que tinha sentido desapareceu na mesma hora.Antes, ele sempre achou que essa mulher fosse ardilosa, mas pelo menos sabia se portar. Só que agora, parecia ter enlouquecido de vez.— Quem é que tá sendo sem vergonha aqui? A gente já se divorciou, e você ainda fica insistindo. O que você quer, afinal?Ela soltou uma risada fria e continuou:— Será que só percebeu que me amava depois que me perdeu? Agora quer voltar? E a sua querida Tereza, como fica nessa história?O tom de deboche de Isadora, carregado de desprezo, foi como uma lâmina afiada, cortando fundo no coração de Tereza.As lágrimas de Tereza começaram a rolar:— Olavo, se você realmente gosta dela, posso sair de cena...— Eu... Eu só estou com você porque te amo, não quero mais nada. Mas se você não me quiser mais, é só dizer.Dizendo isso, tentou enxugá-las rapidamente, sem querer parecer fraca diante de Olavo.Ao vê-la chorando, Olavo sentiu u
Ela ergueu a cabeça, segurando as lágrimas com todas as forças. Não queria deixá-las cair. No final, olhou para Olavo e disse:— Você não acredita, né? Então vem comigo. Vou te levar até lá. Quero que veja com seus próprios olhos. Assim, você finalmente acredita.— Isadora, se você estiver mentindo, juro que não vou perdoar nem a você, nem ao Jorge!Jorge era o último parente que restava para Isadora neste mundo, sua única fraqueza. Olavo sempre fora calculista, sabia exatamente como atingir alguém onde mais doía.Mas o problema era que ele ainda não percebia que Isadora já não era mais a mesma. Que se dane o tio! Ela não se importava mais. Na verdade, desejava que Jorge morresse logo!Sem olhar para Olavo nem por um segundo a mais, Isadora o levou para os lugares onde Aline costumava estar.Primeiro, foram até a escola dela. Depois, ao ateliê de pintura. Visitaram até a doceria favorita de Aline e o parque de diversões que ela mais amava. No final, chegaram ao jardim da casa onde mora