Larissa puxava sua mala enquanto saía pelo portão da mansão, de frente para o movimento intenso das ruas, com uma sensação de perda e desorientação.Aquela foi sua casa por oito anos. Ou pelo menos, ela achava que era.Embora tivesse decidido terminar o relacionamento e se mudar, ainda não tinha tido tempo de procurar um lugar para morar. Agora, para onde poderia ir?Enquanto estava perdida nesses pensamentos, seu celular vibrou duas vezes.Viu uma mensagem de Almir.[Tô fora do país agora, o tempo tá bom, mas o trabalho tá pegando. De manhã só comi um pão, difícil de engolir, acho que é porque prefiro comida de casa. Não almocei porque foi corrido, e de noite vou ter um jantar de negócios. Provavelmente vou acabar bebendo bastante, o que eu detesto... mas faz parte, né?]A mensagem em áudio era longa, cheia de detalhes triviais, como se ele estivesse fazendo um relatório de trabalho. Larissa achou aquilo um tanto estranho, mas a última frase chamou sua atenção.Ele mandou mais mensage
Leandro a observou por um tempo, depois deu uma risada alta:— Casar com outro? Tá brincando, né? Você é minha. Quem mais ia querer você? Já falei que vou casar com você, você ganho. Está feliz, né?Ele olhou ao redor, pegou uma lata de cerveja que ainda não foi aberta do chão e tirou o lacre. E olhou para latinha, fez uma careta e caminhou até Larissa.Depois, pegou a mão de Larissa, fez uma cara de desdém e, em seguida, colocou o lacre no dedo dela:— Agora acredita?Larissa olhou o lacre em seu dedo e deu um sorriso silencioso.No fundo, ela pensava como era ridículo que Leandro pensasse que um simples lacre fosse a chave para prendê-la.Ela puxou a mão dele com força, tirou o lacre e jogou de volta para Leandro:— Deixa pra Bianca, eu não mereço.Dito isso, ela saiu apressada.Leandro gritou atrás dela:— Às nove da manhã, estarei na porta do cartório, chegue na hora certa!Ao ouvir isso, ela sorriu com sarcasmo e não parou, seguindo em frente até sair do salão.— Larissa!Felipe s
Quando Larissa saiu do quarto, viu que Leandro já estava agachado no corredor. Ele parecia estar exausto.Na noite anterior, ele levou uma garrafada na cabeça, perdeu bastante sangue, ficou furioso, saiu do hospital e voltou correndo para cá, cheio de preocupação e raiva, passando a noite em claro.Que homem apaixonado, não? Do tipo que ama até o fim. Larissa se perguntou como nunca percebeu isso antes e ainda teve a ilusão de que poderia fazê-lo se apaixonar por ela.Leandro se levantou ao vê-la, passando a mão pelos cabelos:— Como ela tá?— O corte no pulso dela é bem superficial, parece que a vontade de morrer não era tão grande assim.— Que jeito de falar é esse!— Só tô dizendo a verdade.Leandro olhou para Larissa com um certo desprezo e soltou um grunhido:— Ontem à noite eu te pedi em casamento. Você deve ter ficado animada, né? Acordou cedo, pegou seus documentos e foi pro cartório, mas não me encontrou lá. Aí tá brava agora, falando desse jeito.Larissa ficou em silêncio, ap
Assuntos do Momento: Leandro Cruz traindo com médica; Bianca Mendes tenta suicídio por amor.Os comentários embaixo do vídeo eram cruéis:[Tô chocada, até médica agora vira amante.][A cara dela já entrega, bem típico de vagabunda.][Com jaleco é médica, sem jaleco é p*ta.][Essa aí não merece nem lamber os pés da Bianca.][Então a Bianca tentou se matar por causa dessa mulher?][Aposto que o Leandro foi enfeitiçado por ela, mas agora já caiu na real e tá tentando se livrar dela com dinheiro. Sem vergonha!] [Conheço essa mulher, ela trabalha no Hospital Luz. Acho que o nome dela é Larissa.][Hospital Luz não é da Família Cruz? Vai ver ela conseguiu o emprego dormindo com alguém.][Uma pessoa dessas não tem ética nenhuma. O hospital precisa demitir essa mulher imediatamente!]Os comentários eram baixíssimos, cheios de ódio. A maioria vinha dos fãs de Bianca, que não sabiam da verdade e já tinham rotulado Larissa como amante. E quanto mais sujos os xingamentos, melhor.Larissa olhou só
Larissa sabia seus limites com álcool, então não tinha bebido o suficiente para ficar completamente bêbada.Mesmo assim, quando saiu do bar, já passava da meia-noite. As ruas estavam quase desertas, com poucos carros e pedestres. O caminho até sua casa ainda era longo, e aquela área não era fácil conseguir um táxi.Ela desceu os degraus da calçada com calma, apoiando-se no corrimão enquanto tentava se equilibrar para iniciar a caminhada. Foi quando um Bentley preto parou repentinamente na sua frente. Seu coração deu um pulo, e, sem pensar, ela deu dois passos para trás, indo em direção à entrada do bar.Um homem de cerca de cinquenta anos, cabelos grisalhos, desceu do carro. Ele perguntou, mantendo uma distância respeitosa:— A senhorita é Larissa Alves, certo?Larissa franziu os lábios, hesitante:— Sou.O homem abriu um sorriso amigável:— Sou o motorista do Sr. Almir, meu nome é José. Ele pediu pra eu vir te buscar e te levar pra casa com segurança.Almir?Larissa pegou rapidament
Meia hora depois, Larissa apareceu na ala de internação, ainda com a roupa manchada de tinta. Enquanto caminhava pelos corredores, atraía olhares curiosos de médicos e enfermeiros, mas ela não parou. Foi direto para a ala VIP.Ela abriu a porta do quarto de Bianca sem bater, e viu a mulher deitada na cama, mexendo no celular. Bianca estava rindo de algo que acabou de ver.Larissa entrou com passos firmes, e Bianca, ao perceber sua presença, olhou para ela ainda com um sorriso no rosto.Bianca começou a falar, mas não teve tempo de terminar:— Larissa, você tá...Sem dizer uma palavra, Larissa ergueu a garrafa de tinta que trouxe e a arremessou com força.Leandro, que estava sentado ao lado da cama, se levantou rapidamente e se colocou no caminho. A garrafa atingiu suas costas, e a tinta preta se espalhou, manchando sua camisa branca.Bianca gritou com surpresa.Leandro se virou para Larissa com o rosto cheio de raiva:— Tá louca? Que tá fazendo? Você...Ele parou de falar ao perceber o
Abaixo da postagem, Larissa adicionou o texto:[Eu e Leandro terminamos no início deste mês. Não há muito o que explicar sobre os motivos, mas isso não apaga os bons momentos que tivemos juntos nesses oito anos.]A declaração de Larissa rapidamente entrou nos Assuntos do Momento, ainda que numa posição mais baixa. No entanto, o número de visualizações crescia rapidamente.Camila, que estava ao lado dela, não conseguiu se conter e começou a comentar na postagem enquanto exclamava surpresa:— Então é verdade? Você e o Leandro eram mesmo um casal!Larissa revirou os olhos:— E o que você achava?— Sei lá... achei que você era tipo a credora dele, cobrando alguma dívida ou algo assim.Larissa riu e espiou o celular de Camila, que digitava freneticamente, tentando disputar espaço com os comentários negativos, que apareciam a cada segundo.Camila explicou:— Olha só, os fãs dela estão controlando os comentários.— Controlando como? — Ah, você não entende dessas coisas. No mundo dos fãs, iss
Esse vídeo tinha sido gravado alguns dias antes do aniversário de Bianca. Na época, Leandro perguntou para Larissa qual era o melhor lugar em Cidade A para fazer um pedido de casamento. Ela realmente acreditou que ele queria pedi-la em casamento.Larissa sempre gostou do café ao ar livre no terraço do Hotel Estrela, um lugar famoso por sediar eventos e celebrações importantes.Depois do trabalho, ela decidiu passar lá para gravar um vídeo e mostrar para Leandro. Por acaso, encontrou Bianca e algumas amigas tomando café no local e, sem querer, Bianca acabou aparecendo no vídeo:— Ouvi você perguntando pro gerente se dava pra fazer um jantar de noivado aqui.— O Leandro vai te pedir em casamento, é isso?Bianca disse com um sorriso provocador:— Você se acha, né? Quer apostar? Meu aniversário tá chegando. Vamos ver se ele vai pedir você em casamento ou a mim.Larissa achou a provocação de Bianca engraçada. Leandro tinha perguntado a ela, como namorada dele, sobre o local. Como ele pode
— Então, o que o senhor vai querer para o jantar? — Larissa perguntou.— Eu quero comer joelho de porco alemão...— Está muito barulhento aqui, pode repetir?— Ele disse que quer comer chucrute com joelho de porco alemão! — Ketty gritou ao fundo.— Quem disse que eu quero comer joelho de porco alemão? Quer me matar? Não inventa! — Lorenzo gritou de volta para Ketty, irritado.Larissa segurou o riso antes de responder:— Eu vou lhe mandar uma receita mais saudável para o jantar. E lembre-se: marcamos o check-up para segunda-feira. Almir também estará de volta, então não tem desculpa para não ir.Lorenzo murmurou, tentando parecer firme:— Eu estou bem saudável, não preciso disso.— Tudo bem. Se os resultados estiverem ótimos, eu autorizo que o senhor coma uma refeição especial.— Posso comer joelho de porco?— Pode.Lorenzo sorriu, satisfeito:— Certo, segunda-feira está combinado.Ketty pegou o telefone, sorrindo:— Só você consegue fazer ele obedecer. Apareça em casa para um jantar qu
Com apenas um telefonema, o diretor Nuno convocou os dois diretores executivos, Renata e o agente dela para uma reunião de emergência. Larissa e Luana ficaram no corredor do hotel, aguardando. Elas poderiam ser chamadas a qualquer momento para confrontar Renata, caso necessário.Casos de bullying em sets de filmagem eram situações delicadas. Não eram exatamente raros, mas o impacto podia variar dependendo de como fossem tratados. A postura do diretor Nuno era clara: ele não toleraria abusos, mas isso também dependia das negociações e interesses dos investidores.Antes de entrar na sala, Renata lançou um olhar de desprezo para Larissa e Luana, soltando uma risada sarcástica:— Vocês estão sonhando se acham que eu vou ser substituída. — Ela disse com arrogância. — Já estou com metade das minhas cenas gravadas. Se me tirarem agora, o prejuízo para o estúdio será enorme. E vocês acham que eu entrei nesse projeto sem ter um bom apoio nos bastidores?Luana, indignada, respondeu:— Você humil
— Diretor, me desculpe. Vamos gravar mais uma vez. Desta vez, prometo que vou captar a emoção certa. — Renata disse, fingindo arrependimento.O diretor Nuno, já segurando sua irritação, suspirou com força e, sem querer prolongar a discussão, acenou com a mão:— Vamos fazer uma pausa. Use esse tempo para pensar melhor na cena.— Sim, senhor.Enquanto todos se afastavam, Larissa correu para ajudar Luana, tirando um lenço de papel e secando seu rosto. O rosto de Luana estava levemente arroxeado, provavelmente por ter ficado muito tempo submersa. Mesmo que tentasse parecer forte, estava claro que ela havia chegado ao seu limite.— Estou bem. — Luana assegurou, ofegante.Larissa levantou-se e olhou diretamente para Renata:— Você fez isso de propósito, não foi?Renata cruzou os braços, com um sorriso cheio de deboche:— Se é isso que você acha, então foi mesmo.— Legal. Então vamos até o diretor Nuno agora, para resolver isso. Espero que não mude de ideia na frente dele.Os olhos de Renata
— Ele realmente deveria ir a um psiquiatra! — Luana disse, balançando a cabeça em descrença.Larissa deu um sorriso amargo:— Na verdade, depois de pensar bastante, percebi que talvez ele tenha razão em uma coisa: nossas famílias realmente não deveriam morar tão perto.— Mas isso não significa que você e o Almir tenham que se mudar!— Por isso, eu perguntei: por que não você e a Bianca se mudam?— E o que ele respondeu? — Luana perguntou, curiosa.Larissa suspirou:— Ele disse que mora lá há oito anos, que tem muitas lembranças e que não pode simplesmente abandonar tudo.— Ele está claramente fazendo isso só para te irritar!— Foi o que pensei. Então, fechei a porta na cara dele e não dei mais atenção.Enquanto dizia isso, Larissa olhou ao redor. Ela estava no set de filmagens do diretor Nuno.— Você termina de gravar hoje?— Só falta a última cena.— E depois, qual é o plano?Luana suspirou:— A empresa não está me oferecendo muitos projetos. Vou ter que procurar por conta própria.—
Leandro só deixou transparecer a dor quando finalmente entrou em casa. Ele pressionou o estômago com a mão, contorcendo o rosto. Por causa de sua rotina desregrada e do consumo excessivo de álcool, sua gastrite havia atacado novamente. Se fosse antes, Larissa já estaria ao seu lado, reclamando sem parar, insistindo para que ele parasse de se destruir desse jeito.O armário de remédios estava vazio, sem nenhum medicamento para o estômago, mas, ao abrir uma gaveta na cozinha, encontrou a receita que Larissa havia deixado para preparar uma sopa reconfortante para o estômago.— Larissa, você acha que, sem você, eu vou morrer de dor? Eu mesmo faço a sopa. Que dificuldade isso pode ter? — Resmungou, enquanto colocava uma panela no fogão e começava a preparar tudo conforme a receita. Por sorte, Larissa já havia deixado os ingredientes devidamente organizados antes de se mudar.Embora os ingredientes estivessem ali, o processo era mais trabalhoso do que ele esperava. Ele precisou lavar tudo, d
Era Leandro. Ele segurava o batente da porta, impedindo-a de fechar, enquanto a encarava com um olhar furioso e fixo.Larissa franziu as sobrancelhas:— O que você quer?Ele não respondeu, apenas continuou a encará-la, sem piscar.Larissa respirou fundo:— Se você não sair agora, eu vou chamar a polícia!Ao ouvir isso, Leandro ficou ainda mais irritado e socou a parede com força.— O que você está fazendo aqui, no meio da noite, enlouquecendo na porta da minha casa?! — Larissa também perdeu a paciência.— Aquela casa velha dos seus pais… eu comprei para te dar! — Ele disse entre os dentes, com raiva.— Mas você não deu. Pelo contrário, usou essa casa repetidamente para me ameaçar. — Larissa retrucou com frieza.— Eu ia te dar!— Escute o que está dizendo. Não parece ridículo?Leandro, visivelmente frustrado, passou a mão pelos cabelos com força, como se tentasse aliviar a tensão.— Eu ia te dar, mas você não deveria ter deixado o Almir pegar de mim! Quem ele pensa que é? Aquela casa fo
A melodia que Almir tocava ao piano era calma e acolhedora, e Larissa caminhou até ele, observando-o enquanto ele parecia imerso na música, com um olhar cheio de ternura. Quando a música terminou, ele estendeu a mão e puxou-a para que sentasse ao seu lado.— Como se chama essa música? — Ela perguntou.Almir pensou por um momento, depois sorriu e balançou a cabeça:— Não faço ideia. Foi algo que improvisei.— Seu pai disse que você tocava violino muito mal, mas que no piano você se sai bem.— Foi porque eu percebi que não tinha talento para o violino. Então resolvi aprender piano.— Esse piano é seu? — Larissa perguntou, olhando para o instrumento, que estava cheio de adesivos de desenhos animados, algo que não parecia combinar com Almir.— Não, ele pertence à irmã do Bruno. Lembra que eu te falei do Bruno?Larissa assentiu. Almir já havia contado sobre o ano em que fugiu de casa e fez amizade com três grandes companheiros: Arthur, Omo e Bruno. Bruno, no entanto, havia perdido a vida du
Ao ouvir a pergunta de Larissa, Lorenzo imediatamente se arrependeu de ter tocado no assunto.— Pelo visto, o Almir não te contou nada sobre o passado dele.Larissa pensou por um instante e deduziu que Almir provavelmente havia tido uma namorada antes, alguém com quem ele teve um relacionamento profundo e que, após o término, o deixou bastante abalado. Talvez por isso ele nunca tivesse se envolvido seriamente com mais ninguém, o que fez Lorenzo e Ketty acreditarem que ele não iria se casar. Para Larissa, não era nada demais. Ela tinha um passado com Leandro, e era natural que Almir também tivesse alguém em seu passado.— Não tem problema. Quando ele quiser me contar, ele vai contar. — Disse Larissa, com calma.Lorenzo suspirou aliviado e acrescentou:— Pode ficar tranquila. O Almir não é do tipo que não sabe ser leal. Se ele te escolheu para ser sua esposa, ele será completamente fiel a você. Mas, se ele te tratar mal, venha nos contar. Nós sempre estaremos do seu lado.Larissa sentiu-
Lorenzo lançou mais um olhar reprovador para Almir. Sem ter mais desculpas, acabou concordando.— Tudo bem, eu vou com você.Após o jantar, Larissa chamou Lorenzo, que estava prestes a subir as escadas, pedindo que ele fosse caminhar com ela. Almir quis ir junto, mas Lorenzo declarou que, se ele fosse, então ele mesmo não iria.Almir soltou um suspiro exagerado e disse:— Se não fosse para acompanhar minha esposa, pode ter certeza de que eu não iria também.A antiga casa da família Freitas era enorme, com bosques e gramados, perfeita para uma caminhada. Larissa estava um pouco tímida no começo, mas, ao perceber que Lorenzo parecia ainda mais desconfortável do que ela, acabou relaxando.— Com quantos anos o senhor começou a assumir os negócios da família? — Perguntou Larissa, puxando um assunto aleatório para quebrar o gelo.Lorenzo imediatamente lembrou-se de seus tempos de juventude:— Foi logo depois de me formar na faculdade. Eu estava planejando ir para o exterior, mas o avó do Alm