Capítulo 8

Assuntos do Momento: Leandro Cruz traindo com médica; Bianca Mendes tenta suicídio por amor.

Os comentários embaixo do vídeo eram cruéis:

[Tô chocada, até médica agora vira amante.]

[A cara dela já entrega, bem típico de vagabunda.]

[Com jaleco é médica, sem jaleco é p*ta.]

[Essa aí não merece nem lamber os pés da Bianca.]

[Então a Bianca tentou se matar por causa dessa mulher?]

[Aposto que o Leandro foi enfeitiçado por ela, mas agora já caiu na real e tá tentando se livrar dela com dinheiro. Sem vergonha!]

[Conheço essa mulher, ela trabalha no Hospital Luz. Acho que o nome dela é Larissa.]

[Hospital Luz não é da Família Cruz? Vai ver ela conseguiu o emprego dormindo com alguém.]

[Uma pessoa dessas não tem ética nenhuma. O hospital precisa demitir essa mulher imediatamente!]

Os comentários eram baixíssimos, cheios de ódio. A maioria vinha dos fãs de Bianca, que não sabiam da verdade e já tinham rotulado Larissa como amante. E quanto mais sujos os xingamentos, melhor.

Larissa olhou só alguns e saiu do aplicativo. O assunto, que estava em 13º lugar nos Assuntos do Momento, logo subiu para o topo e explodiu.

Camila comentou, analisando:

— Isso tá na cara que foi a equipe da Bianca que fez. Eles compraram o espaço pra esse vídeo ficar no topo.

Larissa não entendeu:

— Mas isso vai bom ela. Por que fariam isso?

Camila suspirou:

— Olha, acho que a equipe dela tá usando esse vídeo pra desviar a atenção do rolo com o Rafael. Sabe aquele lance que te falei de manhã? O vazamento da tentativa de suicídio da Bianca e o pessoal começando a achar que o bebê é do Rafael. Eles dizem que ela tentou se matar porque ele não quis assumir.

Larissa franziu o cenho:

— Então você tá dizendo que eles estão me jogando no fogo pra desviar a atenção?

— Isso mesmo. E tá funcionando. Olha aí, o ódio que antes era todo pra cima dela agora tá todo em cima de você.

— Mas eu nem sou famosa.

— Pois é, é isso. Se não tiver ninguém pra te defender, vão te atacar sem parar. E enquanto a Bianca e o Leandro não falarem nada pra te livrar disso, você vai continuar sendo chamada de amante. E já estão começando a descobrir coisas sobre você. Se isso continuar assim, vai acabar mexendo com sua vida e seu trabalho.

Larissa ficou em silêncio por um momento, respirando fundo. Ser xingada por estranhos não a incomodava tanto, mas ser usada pela Bianca dessa forma era nojento.

Sem pensar duas vezes, ela foi até a ala VIP. Quando saiu do elevador, deu de cara com Leandro, que estava esperando o elevador para descer. Não havia mais ninguém no corredor.

Ela disse, direta e sem rodeios:

— Você viu o que tá rolando na internet? Quero que você e a Bianca resolvam isso o quanto antes.

Leandro respondeu com desprezo:

— É só não entrar na internet que resolve.

Larissa perdeu a paciência:

— Vocês não têm vergonha na cara, não? Por que tenho que levar a culpa pela Bianca?

Leandro franziu o cenho:

— Do que tá falando? Que culpa?

— Não se faça de idiota. Ela é a amante, não eu!

— Não fala assim dela! Ela não é amante!

Leandro chutou a porta do elevador com raiva, virando-se para Larissa com os olhos cheios de ódio:

— Ela só se apaixonou por um canalha. Ela é a vítima!

Vítima? Larissa soltou uma risada irônica.

Aquilo era a coisa mais absurda que já tinha ouvido na vida.

— E eu? Que culpa tenho de tá sendo xingada por todo mundo?

Leandro deu de ombros:

— A gente já terminou, não terminou?

— Leandro, você é um...!

O elevador abriu, e Leandro entrou.

Aí ele soltou uma frase:

— O que estão falando de você não é problema meu.

Quando voltou para o andar do escritório, Larissa percebeu que os outros médicos e enfermeiros estavam olhando para ela de canto, cochichando. Até alguns pacientes nos quartos estavam comentando:

— É aquela médica bonita? Nossa, nunca imaginei que ela fosse desse tipo.

— Pois é, né? A gente nunca sabe. Se eu fosse bonita assim, também ia dar em cima de um rico.

— Mas ela é médica! Isso suja a imagem da profissão toda.

Larissa voltou para seu escritório e, assim que se sentou, recebeu uma ligação de Paula, a corretora:

— Larissa, eu tentei falar com o proprietário várias vezes e finalmente consegui, mas...

O coração de Larissa disparou:

— E aí, Paula? O que ele disse?

— Ele quer 10 milhões.

— O quê?

— Olha, pelo jeito ele não quer vender. Só falou esse valor absurdo pra dispensar você. Larissa, eu conhecia seus pais e queria muito te ajudar, mas acho que você deveria desistir.

Larissa apertou o celular com força, ficando em silêncio por um tempo:

— Obrigada, Paula. Mas será que você pode me passar o número do proprietário? Quero tentar falar com ele pessoalmente.

— Claro. Vou te mandar agora mesmo.

Paula enviou o número por mensagem, mas Larissa estava com tanta pressa que nem abriu na hora. Foi só quando se sentou no metrô que decidiu dar uma olhada. Quando leu o número, ficou paralisada.

Ela só sabia dois números de cor: o dela e... o de Leandro. E aquele número era o de Leandro.

Ficou encarando a tela por muito tempo, sem acreditar.

Ele era o dono da casa... e comprou a casa dos pais dela, mas nunca contou nada.

Pior ainda, teve uma vez que ele a levou até aquela mesma casa. A porta estava trancada, e ela só conseguiu olhar para dentro pela janela.

Ela contou várias histórias de infância sobre aquele lugar. Disse querer muito entrar lá de novo.

Mas ele só respondeu:

— É só uma casa velha. Por que ainda liga pra isso?

— Quero comprar de volta.

— Então trabalha pra isso. Mas, olha, se você me agradar hoje à noite, quem sabe eu te ajudo.

Quando saiu do metrô, Larissa passou por um bar que costumava frequentar. Em vez de pedir um copo, pediu uma garrafa de vinho.

Ela se lembrou dos últimos oito anos com Leandro. Cada cena parecia parte de uma comédia, e ela era a palhaça principal. Como pôde ser tão idiota? Amar alguém que não merecia, se entregar inteiramente, achando que ele valorizava aquilo.

No final, era só diversão para ele.

Ela foi bebendo um copo atrás do outro, como se o álcool pudesse apagar aquela memória humilhante. Em pouco tempo, metade da garrafa foi embora e ela já estava zonza.

Nesse momento, o celular vibrou. Era uma mensagem de Almir. Ele enviou uma foto: uma rua deserta, iluminada por um poste, com o céu ainda escuro, mas já começando a clarear. Longe, uma silhueta de alguém com os cabelos ao vento.

Larissa olhou para a foto por um tempo, pensando que nunca tinha visto o rosto de Almir. Sua tia só disse que ele era ‘muito bonito, mais que qualquer atriz de TV.

Ela riu na hora, dizendo que homem bonito tinha que ser ‘bonito como ator’. Mas sua tia insistiu que ele era bonito com atriz, sem ser afeminado.

E agora, mesmo sendo só uma sombra, havia algo na foto que parecia confirmar isso. Até a sombra dele era atraente.

Ele escreveu:

[Passei a noite em um jantar de negócios. Bebi demais]

Larissa sorriu e tirou uma foto da garrafa quase vazia, enviando como resposta:

[Eu ainda tô bebendo.]

[Sozinha?]

[Sim.]

[Quando eu voltar, bebo com você.]

Larissa leu aquilo e sentiu o coração aquecer. Ele não disse que ela não deveria beber, nem que era perigoso estar sozinha à noite. Só disse que a acompanharia.

Ela respondeu:

[Você não disse que não gosta de beber?]

[Não gosto. Me dá dor no estômago. Mas não é impossível.]

[Tá com dor agora?]

[Um pouco.]

[Vou fazer uma sopa pra você.]

[Me ensina. Faço pra você.]

Larissa começou a rir, mas as lágrimas começaram a cair. Durante os oito anos que passou com Leandro, ela já tinha ficado bêbada várias vezes, mas ele nunca ofereceu nada além de desprezo. Muito menos uma sopa para curar a ressaca.