Capítulo 9

Larissa sabia seus limites com álcool, então não tinha bebido o suficiente para ficar completamente bêbada.

Mesmo assim, quando saiu do bar, já passava da meia-noite. As ruas estavam quase desertas, com poucos carros e pedestres.

O caminho até sua casa ainda era longo, e aquela área não era fácil conseguir um táxi.

Ela desceu os degraus da calçada com calma, apoiando-se no corrimão enquanto tentava se equilibrar para iniciar a caminhada. Foi quando um Bentley preto parou repentinamente na sua frente.

Seu coração deu um pulo, e, sem pensar, ela deu dois passos para trás, indo em direção à entrada do bar.

Um homem de cerca de cinquenta anos, cabelos grisalhos, desceu do carro. Ele perguntou, mantendo uma distância respeitosa:

— A senhorita é Larissa Alves, certo?

Larissa franziu os lábios, hesitante:

— Sou.

O homem abriu um sorriso amigável:

— Sou o motorista do Sr. Almir, meu nome é José. Ele pediu pra eu vir te buscar e te levar pra casa com segurança.

Almir?

Larissa pegou rapidamente o celular e, de fato, havia uma mensagem dele:

[Pedi pro José ir te buscar. Volte pra casa e descanse cedo.]

Ao ler a mensagem, ela relaxou um pouco:

— Certo, muito obrigada.

José era um homem rechonchudo, com uma expressão bastante simpática:

— Não precisa agradecer, é um prazer.

Ao entrar no carro, Larissa estava cheia de perguntas.

Almir não era apenas um trabalhador comum? Talvez um executivo de alta patente, mas ainda assim, alguém que trabalhava para outros. Como ele podia ter condições de comprar uma das casas mais caras da cidade e ainda ter um motorista particular? Era algo difícil de entender.

— O Sr. Almir também pediu pra te avisar que, sempre que precisar, é só me chamar pra dirigir pra você. E, se precisar de qualquer outra ajuda, é só falar.

— Ok, obrigada.

Apesar das dúvidas, Larissa não era do tipo que ficava especulando demais.

Ao chegar em casa, a primeira coisa que fez foi avisar Almir que chegou bem.

Ela achou que ele não responderia, mas ele enviou:

[Boa noite.]

Larissa sorriu e respondeu:

[Bom dia.]

Após tomar banho, Larissa percebeu que o quarto estava parcialmente iluminado pela luz de fora. Também podia ouvir vozes ao longe.

Curiosa, ela foi até a sacada conectada ao quarto e viu um carro estacionado na diagonal do outro lado da rua. Na entrada da casa em frente, Luís e Leandro estavam discutindo algo perto da porta.

Luís falava, claramente irritado:

— Sério, cara? Essa é sua casa, e você não sabe nem a senha da porta?

Leandro bagunçou os cabelos com as mãos, visivelmente frustrado:

— Normalmente eu só venho quando sei que ela tá em casa, então sempre bato e ela abre.

— E sua digital?

— Nunca cadastrei.

Luís soltou um longo suspiro:

— Só tem um jeito: ligar pra Larissa. Liga você.

Leandro chutou a porta com raiva:

— Ela me bloqueou!

— Então não tem o que fazer.

— Você liga pra ela.

Luís fez uma careta:

— Eu? Larissa me avisou que, se eu ligasse pra ela de novo por sua causa, ela ia cortar relações comigo.

— Pode cortar, quem liga?

— Eu ligo! Você pode terminar com ela, mas eu não posso perder a amizade dela.

— Tá pedindo pra apanhar, Luís?

Luís riu, mas logo mudou o tom:

— Pensa bem, cara. A senha deve ser algo importante pra ela. Talvez o aniversário de vocês ou alguma data especial.

Leandro ficou pensativo e finalmente lembrou:

— Acho que é o dia que começamos a namorar.

Luís estalou os dedos:

— Tá vendo? Resolveu. Vai lá, tenta.

Leandro bufou:

— Quem disse que lembro a data?

— Como assim você não lembra?

— E daí? Tem muita data importante, não dá pra lembrar tudo.

— Mas essa data é diferente.

— Não tem nada de especial.

— 160805.

Leandro franziu o cenho:

— Como você sabe?

— Porque foi no aniversário dela que você se declarou e começaram a namorar. Eu e Felipe estávamos lá. Até ficamos emocionados na época.

— O aniversário dela?

— Isso mesmo. Mas, de todos os anos que vocês estiveram juntos, você nunca comemorou o aniversário dela, né?

— Qual o sentido de comemorar aniversário?

— Mas todo ano, você faz questão de organizar uma festa incrível pra Bianca.

Leandro lançou um olhar mortal para Luís, mas digitou a senha mesmo assim. A porta se abriu na hora. Luís comentou:

— Muda essa senha depois, coloca o aniversário da Bianca ou do casamento de vocês. Aí você nunca esquece.

— Cala a boca!

Do outro lado, Larissa observava tudo. Como Luís não ligou para ela, ela ainda sentia que, mesmo depois do término com Leandro, não perdeu o amigo.

Naquela noite, Larissa dormiu melhor do que nunca.

Ela ainda queria comprar de volta a casa dos pais, mas sabia que agora não era o momento certo. Leandro dificultaria provavelmente as coisas.

Seria melhor esperar. Quando ele e Bianca estivessem casados, talvez ele perdesse o interesse em atrapalhá-la.

Na manhã seguinte, Larissa estava atendendo pacientes.

Durante um intervalo, Camila apareceu com uma notícia:

— Larissa, a equipe da Bianca finalmente se pronunciou sobre as polêmicas. Disseram que ela não tem nenhuma relação com o Rafael e que vão processar quem espalhar esses boatos. Também afirmaram que ela e o Leandro começaram a namorar ainda na faculdade e que sempre foram fiéis um ao outro.

Larissa soltou uma risada sarcástica.

Namoro desde a faculdade? Fidelidade mútua?

— Mas sobre a tentativa de suicídio da Bianca, eles não negaram. Só falaram que ela andava passando por uns problemas, mas decidiu confiar no noivo.

Larissa estreitou os olhos. Algo parecia errado.

Camila continuou:

— Claro que tá errado. Eles limparam o nome da Bianca, mas jogaram toda a culpa em você. Praticamente insinuaram que você tentou roubar o Leandro e isso levou a Bianca ao limite.

E os comentários online confirmavam isso:

[Essa mulher se aproveitou de ser médica da Bianca pra dar em cima do Leandro.]

[Foi rejeitada e continuou insistindo até a Bianca não aguentar mais.]

[Que mulher nojenta. Nem merece ser chamada de médica.]

[Médico ganha tão pouco... Normal querer um ricaço. Só deitar na cama já resolve.]

Camila desligou o celular, irritada:

— Larissa, você precisa fazer alguma coisa. Ficar calada não vai adiantar.

Larissa franziu o cenho, claramente incomodada.

Ela não queria se envolver nesse escândalo, mas sabia que, se a situação continuasse se espalhando, poderia prejudicar sua vida e carreira.

Enquanto pensava no que fazer, uma mulher jovem usando óculos escuros entrou no consultório.

Larissa disse, tentando se recompor:

— Pode se sentar. O que você tá sentindo?

A mulher não respondeu nem se sentou.

Larissa continuou perguntando:

— Você...

Antes que Larissa terminasse a frase, a mulher sacou um frasco de tinta preta e jogou nela.

Foi tão rápido que Larissa não teve tempo de reagir.

A tinta, com cheiro forte e barato, manchou seu rosto, cabelo e jaleco branco.

Camila foi a primeira a reagir:

— O que você tá fazendo?! Segurança!

A mulher riu alto, com expressão arrogante:

— Tá desesperada por homem, hein? Não consegue arrumar um pra você, tem que roubar o noivo das outras? Se tá tão carente, vai pra rua e pega qualquer um! E, por favor, olha no espelho antes. Com essa cara horrível, acha que pode competir com a Bianca?

Após terminar a provocação, a mulher saiu correndo. Larissa estava tão chocada que não conseguiu dizer nada.

Do lado de fora, uma multidão já tinha se formado, muitos gravando vídeos com os celulares.

Camila gritou, fechando a porta e ficando com tanta raiva ao ver a bagunça de Larissa:

— Saiam daqui! Não tem nada pra ver!

Ela trouxe uma toalha molhada e começou a limpar Larissa:

— Larissa, você tá bem?

Larissa permaneceu sentada, imóvel, sem dizer nada. Finalmente perguntou:

— Tem tinta aí?

— O quê?

— Tinta. Me arruma uma.

Camila ficou confusa, mas foi procurar.