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CAPÍTULO 2

Author: Jade de Acácia
Ver os dois entrelaçados fez a mente de Moana ficar em branco.

Era... a Cecília?

A mesma aluna que ela patrocinava há oito anos!!!

Cecília vinha de uma região pobre, no interior do sudoeste. Anos atrás, quando Moana foi dar aulas como voluntária, soube por acaso que a menina havia perdido os pais e vivia com a avó já idosa.

Por compaixão, e por se enxergar nela, Moana decidiu ajudá-la.

Durante oito anos, custeou seus estudos. Mesmo depois que Cecília entrou na Universidade A, Moana continuou bancando as despesas.

E era assim que ela retribuía?

Desde que se casou, Moana nunca tinha visto Henrique olhar para outra mulher com tanta ternura.

Mesmo quando a repreendia, sua voz parecia envolta em doçura.

— Henrique... você pode entregar meu presente pra vovó?

Dentro da caixa havia um broche de pérola, era aquele que Moana havia mandado fazer, sob medida, com um designer amigo, para o aniversário de dezoito anos de Cecília. Peça única.

Agora, além de ter roubado o marido dela, Cecília ainda usava seu presente para agradar a matriarca.

Quanta ironia...

— Boa menina. Vou oferecer em meu nome. — Respondeu Henrique, tentando acalmá-la.

Cecília, cheia de charme, se enroscou ao redor das pernas dele. Com um sorriso travesso, sussurrou algo ao seu ouvido.

Mal terminou de falar, seus lábios beijaram na garganta de Henrique.

Nos olhos de Henrique, o desejo acendeu instantaneamente.

Ele segurou a nuca de Cecília com força e retribuiu o beijo, feroz.

As pupilas de Moana se contraíram num estalo.

Uma dor aguda atravessou seu peito, como uma lâmina fina perfurando o coração, como se a estivessem abrindo em carne viva. Doía tanto que mal conseguia respirar.

Henrique já havia jurado inúmeras vezes que a amaria para sempre, que a faria ser invejada por todas as mulheres de Cidade J.

Naquele momento, Moana percebeu que afinal tudo não passava de piada.

O amor da juventude... no fim, era só ilusão.

Moana desviou o olhar. Não aguentava mais ver aquilo.

Faltava só um mês. Era só aguentar mais um pouco... e tudo ficaria bem.

Ela repetia isso para si mesma como um mantra, tentando se convencer. Mas, ao se virar para sair, deu de cara com um peito masculino firme.

Ao erguer os olhos, ficou completamente sóbria.

Diante dela estava ninguém menos que Hugo Moreira — o novo magnata de Cidade J. Oficialmente, o “tio” de Henrique.

Diziam que Hugo era como um filho para o velho patriarca da família. Voltou do exército há pouco mais de um ano e, desde então, criou uma empresa que já estava na bolsa. Um fenômeno.

Hoje, no aniversário de 80 anos da matriarca, ele havia voltado discretamente ao país.

— Já que viu tudo… por que quis fugir? — A voz de Hugo era baixa, mas carregada de desconfiança.

Suas sobrancelhas bem desenhadas franziram com leve desaprovação, enquanto dava um passo à frente, ameaçador.

Moana, assustada, o segurou pelo braço.

— Tio... por favor, não conte nada a ninguém. Eu vou resolver isso sozinha.

Os olhos dela brilhavam de angústia, fixos no rosto frio e impassível de Hugo, como se estivesse implorando piedade a um juiz.

Ela havia calculado cada passo. Mas nunca previu Hugo, o imprevisto.

Afinal, ela iria embora. Revelar tudo agora só colocaria tudo a perder.

Hugo apenas a olhou de cima a baixo, sem dizer nada.

Quando os dois voltaram, Henrique e Cecília já tinham desaparecido.

Moana soltou um suspiro aliviado.

— Tio, por favor... isso é assunto meu. Peço que não conte a ninguém. — Ela pediu mais uma vez.

Mas o olhar de Hugo era cortante. A sombra sob o nariz reto parecia trazer consigo uma arrogância natural, quase cruel.

Moana recuou um passo, instintivamente.

Mesmo a poucos passos, Hugo parecia uma montanha imponente: fria, distante, inalcançável.

Hugo agarrou Moana pela gola do vestido.

— Vem comigo. Vamos até a vovó.

— Tio Hugo! — O coração dela quase saltou pela boca.

Já estavam quase na porta.

Num ato de desespero, Moana se desvencilhou dos braços dele e saiu correndo, sem olhar para trás.

De volta ao apartamento, ela ainda sentia o corpo trêmulo.

Vasculhou gavetas, armários, baús. Reuniu tudo que Henrique havia lhe dado ao longo dos anos: presentes, cartas, lembranças. E colocou tudo à venda online. Preço único: nove e noventa.

Depois, queimou todas as fotos deles juntos.

As imagens da adolescência ingênua, da juventude apaixonada, do início da vida adulta. Quase dez anos... consumidos pelo fogo.

E, estranhamente, seu coração não doía tanto quanto ela imaginava.

Pegou o telefone e ligou para o administrador das bolsas. Pediu para suspender toda a ajuda financeira à Cecília.

A menina já estava no terceiro ano de universidade. Se quisesse, podia trabalhar e estudar. Se faltasse dinheiro, que pedisse um empréstimo estudantil.

Depois de oito anos de apoio, ela já havia feito mais do que o suficiente.

Mas mal encerrou a ligação, o telefone tocou. Era Henrique.

— Moana, você cancelou o apoio da Cecília?

— Ela é só uma estudante... não combinamos de apoiá-la até se formar?

O tom de Henrique soava aflito.

— Querida, não faz isso. Vai magoar a Cecília. Depois de tantos anos, ela já é parte da família. Se você cortar agora... como ela vai sobreviver?

Moana apertou os punhos com força.

— Quando estava no primeiro ano de faculdade, já trabalhava em part-time. Ela está no terceiro ano. Se quiser, ela consegue se sustentar.

Do outro lado da linha, silêncio por alguns segundos.

Depois, Henrique suspirou.

— Tá bem... então deixa que eu continuo. Só mais um ano. Eu assumo o restante, tudo bem?

Apesar do tom de negociação, Moana sabia: mesmo se dissesse não, Henrique daria um jeito de sustentar Cecília.

— Tudo bem. — Disse, toda derrotada.

Henrique fazia parte de toda a juventude dela.

No primeiro ano da faculdade, a família dele cortou o dinheiro para que aprendesse a se virar.

E foi Moana quem trabalhou em três lugares ao mesmo tempo para ajudá-lo a começar.

Nos tempos mais difíceis, eles venderam coisas na rua, dividiram o mesmo prato de comida.

Em seis meses, Henrique já havia conseguido parcerias e montou o bar Henri & Moa do outro lado da faculdade.

Em um ano, o negócio prosperou. Quando se formaram, ele já tinha quase um milhão.

Mas entregou tudo a ela, sem restar nada.

Disse que tudo o que tinha, seu tempo, seu amor, o título de esposa, era dela.

Prometeu que tudo sempre seria dela.

Mas só três anos depois do casamento... tudo mudou.

— Moana? — A voz familiar soou do outro lado da linha, bem no instante em que ela se perdeu por um segundo.

Ela ainda parecia sentir, naquela boca quente, o vestígio da intimidade entre Henrique e Cecília.

Aquilo lhe causava náuseas.

— O Leon e os outros me chamaram. Vamos tomar um drink no bar. Assim que terminar a festa da vovó, vou te buscar, tá?

Henrique nunca saía sozinho.

Se fosse um evento grande ou só uma reunião com amigos, ele sempre fazia questão de levá-la.

Moana não queria ir.

Mas depois de cruzar com Hugo naquela tarde, estava inquieta.

Se recusasse, Henrique poderia desconfiar.

— Tá bom.

Ele voltou por volta das sete da noite.

Assim que entrou, sentiu cheiro de queimado no ar.

Correu e abraçou Moana, apavorado.

— Que cheiro é esse? Pegou fogo? Você tá bem?

Ela se afastou com calma, forçando um sorriso.

— Tá tudo bem. Só queimei alguns papéis... que eu não precisava mais.
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