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CAPÍTULO 4

Author: Jade de Acácia
— Sempre que a gente transa até tarde, fico sem voz no dia seguinte. Até esse bebê... é o presente mais precioso que ele já me deu.

Cecília falava com doçura.

Moana, no entanto, estava calma. Tão calma que parecia um lago morto.

— Por quê? Foram oito anos. Eu te dei uma nova vida. Por que destruir a minha? — Perguntou ela.

Com as mãos trêmulas, ela apertou o botão de gravação.

Do outro lado, Cecília ainda não tinha se dado conta.

Cecília hesitou por três segundos, e então caiu na risada, sem o menor pudor.

Como se tivesse acabado de ouvir a piada mais absurda do mundo.

— Moana Andrade, você tá mesmo pagando de santa?

— Eu te chamei de irmã e você levou isso a sério?

— Você me dava dois mil por mês. Em duas parcelas. Tem ideia de como eu me sentia suja cada vez que aceitava esse seu favorzinho podre durante esses oito anos?

— Sabia que eu não tinha dinheiro, e mesmo assim usava isso pra me humilhar. Se achava superior, né? A grande esposa do Henrique. Você acha que é muito especial?

— Deixa eu te contar uma coisa, quando meu filho nascer, quem vai ser a verdadeira esposa Teves sou eu!

— Faz o favor de se tocar e pedir logo o divórcio. Para de atrapalhar a felicidade da minha família!

As palavras de Cecília vinham cheias de veneno.

A mulher que ela ajudou por oito anos... agora a tratava como inimiga.

No começo da ajuda, Moana ainda era estudante. Ela economizava cada centavo, dividia o dinheiro em várias partes. A menor parte era o que sobrava pra ela mesma.

Dois mil reais era tudo o que ela podia oferecer.

Dividir em duas parcelas não era humilhação, era cuidado.

Ela só não queria que Cecília se acostumasse a gastar sem pensar.

Tinha medo de não conseguir sustentá-la até o fim.

Mas agora, tudo isso... era uma faca cravada no peito.

Ela ajudou uma cobra ingrata.

— Ah, é verdade... ouvi dizer que você suspendeu a ajuda?

Cecília riu.

— Obrigada, viu? Se não fosse por isso, o Henrique não teria me dado dez mil reais de uma vez. Nem me comprado aquela bolsa de grife, só pra me compensar.

— Moana, você é mesmo a minha...

— Grande benfeitora!

Moana desligou. Não queria ouvir mais nada.

Dez mil?

O salário de Henrique caía todo mês direto com ela.

Ele entregava tudo, sem falhar.

Então... ele tinha uma conta escondida?

O homem que dormia com ela todas as noites.

O homem que dizia amá-la inúmeras vezes.

O homem que os amigos elogiavam como “o melhor marido do mundo”。

E nada disso era real.

Moana enviou a gravação ao advogado responsável pelo divórcio.

Encostou-se na cabeceira da cama, os olhos abertos na escuridão.

Só depois das quatro da manhã, Henrique voltou.

Entrou devagar, silencioso. Mas viu que ela ainda estava acordada.

O coração disparou. Pela primeira vez, ele sentiu medo.

— Tá brava comigo por eu ter demorado? Me desculpa por ter te deixado preocupada.

Tirou as roupas rapidamente e deitou, abraçando-a.

— Você tá gelada, amor. O que aconteceu?

Tantas palavras doces... soavam como uma grande piada.

Moana ergueu os olhos e fitou atentamente o rosto dele.

— Se eu não estivesse mais aqui... com quem você ficaria? — Perguntou, com a voz fria.

A pergunta soou especialmente gelada no silêncio da noite, ecoando pelo quarto.

Os olhos de Henrique se avermelharam na hora. Ele apertou a mão de Moana com força, insistindo sem parar:

— Por que você não estaria aqui?

— Moana, foi porque eu cheguei tarde, né? Você tá brava comigo, não é isso?

Desesperado, ajoelhou-se na cama, segurou a mão dela e começou a se bater com ela.

— Me desculpa Moana! Eu não posso viver sem você!

— Não fala essas coisas. Você me assusta.

— Eu posso perder tudo. Dinheiro, fama... qualquer coisa. Menos você. Você é tudo pra mim!

As lágrimas dele escorriam, caindo nas mãos de Moana.

Quentes, intensas... mas falsas.

Ela forçou um sorriso amargo, puxando a mão.

Com delicadeza, os dedos tocaram o rosto dele, só por um segundo, antes que ele a segurasse de novo.

— Fui um idiota. Nunca mais volto tão tarde.

— Juro, se acontecer de novo... você pode me proibir de deitar na cama, tá bom?

Naquela noite, ele a abraçou forte, como se ela pudesse evaporar.

Na manhã seguinte, ele preparou café, separou chinelos e pijama. E tentou convencer Moana a ficar em casa para descansar.

— Vai pra onde? — Ela perguntou.

O horário de trabalho de Henrique era às nove, e agora mal passava das sete ou oito.

Henrique sorriu, servindo leite morno.

— Eu... tô me sentindo meio mal. Só vou no hospital fazer uns exames. Descansa, eu volto logo.

Moana abaixou os talheres.

Observou Henrique com atenção, tentando enxergar qualquer traço de culpa.

Nada.

— Eu vou com você. — Disse.

O olhar de Henrique tremeu. Por um segundo, se perdeu.

Quis dizer não, mas ela já estava se arrumando. Engoliu o que queria dizer.

Foi até o corredor e fez uma chamada.

— Calma, amor. Eu já tô indo. Cuida do nosso bebê, tá bom? — Henrique disse com doçura.

Assim que Moana saiu do quarto, Henrique desligou o telefone rapidamente e, com toda a delicadeza, pegou a bolsa dela.

— Tá usando essa bolsa ainda? — Ele sorriu ao ver a tote preta. — Vou te dar uma nova, tá?

Esta bolsa, Henrique havia comprado com a própria bolsa de estudos.

Para Moana, era um tesouro.

Custou só trezentos reais, e ela já a usava há cinco anos.

Já Cecília, só por ter parado o apoio, ganhou uma bolsa nova de dez mil como forma de “compensação”.

— Não precisa. Não vai durar muito.

Henrique não percebeu, achou que ela falava da bolsa.

O carro seguiu direto até o hospital.

Mas Henrique, quase por instinto, foi em direção à ala de obstetrícia.

Olhou ao redor com cuidado e sugeriu que Moana esperasse na sala de descanso, enquanto ele ia fazer a ficha.

Moana assentiu com um leve aceno.

Mas não demorou muito para que, ao passar por outra recepção no corredor ao lado, ela ouvisse um nome da Cecília Silva sendo chamada.

O marido que deveria estar fazendo a ficha, naquele momento, estava ali, ao lado dela.

Uma mão segurava seu braço com cuidado. Na outra, carregava a bolsa que custava dez mil reais.

Ele sabia que a avó cobrava um neto há anos.

E mesmo assim... Henrique teve um filho com outra mulher.

Naquele instante, Moana entendeu. Ela era a estranha naquela história.

O celular mostrava: faltam 28 dias.

Ela olhou para as costas de Henrique.

— É isso, Henrique. Por mim, acaba aqui.

Daqui um mês, em outro lugar, seriam dois estranhos.

Moana sumiria da vida dos Teves, sumiria do Henrique, para sempre.

Moana chegou até a ansiar...

Ansiar pelo momento em que Henrique descobrisse que ela já havia pedido o divórcio, para ver a expressão dele naquela hora.

Será que ia ficar tão nervoso quanto hoje?

Com os punhos cerrados, todas as lembranças invadiram Moana como uma enxurrada, sufocando-a.

E, como se sentisse aquele olhar ardente, Henrique ergueu os olhos de repente.
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