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CAPÍTULO 6

Author: Jade de Acácia
Assim que chegaram em casa, Henrique correu direto para a cozinha.

Moana mal havia se sentado no sofá quando recebeu uma nova mensagem de Cecília.

"Moana, você é mesmo uma manipuladora. Finge que não sabe que o bebê é do Henrique, mas no fundo sabe sim. Você me dá nojo!"

"Ele pode ter ido embora com você, mas o filho tá no meu ventre. E você? Só é uma casca vazia. Nem um filho consegue dar."

Moana respirou fundo. Seu peito subia e descia, tentando conter a avalanche por dentro.

Desligou o celular no mesmo instante em que Henrique apareceu por trás, abraçando-a.

— O que estava vendo, meu amor? — Perguntou ele, entregando-lhe um cardápio.

— Escolhe o que quiser, só com as comidas que você mais gosta. Seu marido faz tudo por você.

Ao encarar a tela preta do celular, uma pontada de inquietação subiu no peito de Henrique.

O aparelho de Moana tinha proteção contra olhares. Ela virou levemente o corpo, fechou a tela da mensagem e abriu o navegador.

A primeira notícia exibida era sobre o novo lançamento de joalheria.

— Estava vendo colares, tem uns lindos aqui. — Respondeu e folheou o cardápio sem atenção. — Faz o que souber fazer melhor.

Com os olhos ligeiramente vermelhos, ela olhou pela janela. O vazio no peito era como as folhas secas do outono, caindo uma a uma, silenciosamente.

Henrique achou que era desejo real.

Apoiou o queixo na curva do pescoço dela, cheio de carinho.

— Se gostou de um colar, não importa o preço. Eu compro pra você.

Mas, de repente, o celular dele tocou.

O som cortou a atmosfera íntima como uma lâmina.

Henrique franziu o cenho. Ao ver quem ligava, gaguejou, e correu pra atender na cozinha.

Na mesma hora, o celular de Moana vibrou novamente.

Era mais uma mensagem de Cecília:

"Moana, Você acredita que, com um único telefonema meu, ele volta pra mim?"

Poucos segundos depois, Henrique tirou o avental e saiu da cozinha.

Com um sorriso constrangido, disse:

— Amor, fiquei com receio de não acertar o seu gosto... melhor deixar a Dona Rosa cozinhar, tá?

— E aquele colar que você gostou? Eu posso ir comprar agora!

Moana o encarou em silêncio. Depois, soltou um leve sorriso.

Aquela risada, suave, mas impossível de decifrar, fez o peito de Henrique apertar de forma estranha.

Com o rosto tenso, ele saiu às pressas, como se fugisse da próxima frase dela.

Horas depois, Cecília mandou outra mensagem.

"Moana, parece que você perdeu de novo, né? Mesmo grávida de quatro meses, o Henrique ainda me mima como nunca. Você tem noção de como ele é louco por mim?"

Logo em seguida, veio uma foto.

Meias pretas rasgadas, poses provocantes, a imagem doía nos olhos.

Mas Moana... estava anestesiada.

Contagem regressiva: 25 dias.

Em breve. Muito em breve, ela iria embora.

E nada disso... nada mais disso seria capaz de feri-la.

No meio do sufoco, recebeu uma ligação de Lili Carvalho.

— Moana, o que você anda fazendo? Mandei várias mensagens e nem respondeu!

Lili era sua colega do apartamento da faculdade, grande amiga de anos.

Nos últimos dias, as mensagens provocativas de Cecília tinham deixado Moana arrasada, ela mal falava com os outros.

— Sai com a gente! Tô no bar, hoje tem uns gatos aqui!

O som da festa do outro lado era alto e animado.

Moana nunca gostou desses lugares. Mas, dessa vez... aceitou.

Logo recebeu o endereço.

Escolheu um vestido justo, vinho escuro, com barra acima dos joelhos e as costas à mostra. Nos pés, salto alto preto da YSL. O cabelo, solto até a cintura. Tinha uma beleza com um toque de charme sedutor.

Por anos, viveu para ser a “Senhora Teves”... e esqueceu o quanto era deslumbrante.

Meia hora depois, estava no mesmo bar de antes.

Lili chamou algumas amigas da faculdade e quatro homens lindos.

Nada de sala reservada. Sentaram-se à mostra, no sofá redondo, para provocar.

Bastou Moana aparecer para os olhares masculinos se acenderem.

Dançaram, beberam sete, oito garrafas. Quando o clima estava no auge, Moana já estava visivelmente embriagada.

Dias de frustração, enfim, extravasados.

— Vou ao banheiro. — Disse ela, com as bochechas ruborizadas, a cintura fina e solta nos braços. Irresistível.

Lili quis acompanhá-la, mas um dos rapazes se adiantou e a segurou pela cintura, indo junto.

O calor do corpo de Moana era intenso. A mente, turva.

Chegando ao corredor do banheiro, um rosto masculino surgiu em sua frente, sombrio, frio... familiar.

Só um pouco de força, Moana foi puxada para um peito sólido.

— Quem é você? — Perguntou Hugo, com o olhar afiado.

O garoto tremeu, derrotado antes mesmo de tentar reagir. Explicou com pressa:

— Somos só amigos! Só viemos beber juntos.

— Amigos?

Hugo apertou a cintura de Moana, já prestes a explodir.

Mas, antes disso, ela envolveu seus braços ao redor do pescoço dele, carinhosa.

Respiração quente, os lábios tocaram o pescoço dele com desejo.

Um fogo se acendeu dentro de Hugo.

Furioso e confuso, ele simplesmente pegou Moana no colo e a jogou no canto mais escuro do bar.

Ele ia ligar para Henrique. A mandar aquele idiota vir buscá-la.

Mas Moana começou a escalar sua perna, os dedos subiram, tocaram seus abdominais definidos.

— Moana! Olha pra mim! Vê quem eu sou!

Ele é o seu Tio!

— Você é... humm... Tô zonza. Me beija? Só um beijo, vai...

Ela começou a falar coisas desconexas, mas a voz... tão doce e suave, que era impossível não se distrair.

Moana tinha péssima resistência ao álcool, e, naquela noite, já tinha chegado ao seu limite.

A mente de Moana parecia ter parado no último ano da faculdade, os dias em que ela e Henrique eram mais felizes.

Naquelas noites de loucura depois de embriagada.

Ela o encarava com desejo, olhando de baixo como uma gatinha manhosa.

Subiu devagar, envolvendo a cintura dele com os braços, suas mãos pequenas deslizaram por dentro da camisa.

Hugo prendeu a respiração no ato.

Maldita feiticeira da família Teves!

Desfez a gravata, amarrou os pulsos dela com força.

O colarinho se abriu, mostrando o pomo-de-adão marcado, que subia e descia com força.

Era a primeira vez que... ele reagia assim a uma mulher.

A diferença de idade, o laço familiar, tudo isso era vergonhoso.

Com raiva, ligou para Henrique.

— Dou-te quinze minutos.

— Vem pro bar buscar sua mulher. Agora!

Henrique chegou e pediu desculpas mil vezes, até conseguir levar Moana embora.

De longe, Hugo assistia os dois saindo juntos, o olhar cada vez mais sombrio.

Chamou seu assistente.

— Quero todos os dados dos dois. De todos esses anos.

Ele quer saber que joguinho essa mulher tá tentando jogar.

Aquela noite, Moana dormiu como uma pedra.

No sonho, ela revivia o casamento.

As palavras dos votos ainda ecoavam com nitidez em sua mente.

Lágrimas de felicidade escorriam por seu rosto, enquanto, sob os olhares de bênçãos e inveja, ela se tornava a esposa dele...

Mas, quando virou devagar para trás...

Todas aquelas pessoas haviam se transformado em cadáveres cobertos de sangue.
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