Eu não conseguia encontrar palavras para descrever o que sentia naquele momento. A vergonha me consumia de tal forma que eu não conseguia sequer olhar para ele. Era como se meu orgulho tivesse sido completamente esmagado.Jean, percebendo meu desconforto e o quanto eu queria desaparecer dali, foi extremamente gentil e disse, com um tom tranquilizador:— De vez em quando, é bom se divertir com os amigos, ajuda a aliviar o estresse e deixar os problemas de lado. Além disso, ninguém além de mim viu o que aconteceu naquela noite. Pode ficar tranquila, eu guardo esse segredo.A última frase dele veio carregada de um humor leve, mas seus olhos brilhavam com algo mais... uma leve insinuação, talvez? Meu rosto ficou paralisado em um misto de surpresa e constrangimento. Segundos depois, senti o calor subindo para minhas bochechas, que pareciam estar em chamas. Meu coração começou a bater rápido, e minha cabeça, como sempre, decidiu imaginar coisas.O meu sexto sentido me dizia que havia algo d
Eu não esperava que Jean soubesse disso. A situação ficou ainda mais constrangedora, especialmente ao lembrar que eu havia mentido para Davi, dizendo que tinha dormido com Jean... várias vezes. A vergonha me fez gaguejar antes de conseguir falar: — Então... ele não concordou com o acordo de divórcio, por isso eu precisei entrar com uma ação no tribunal. A audiência está marcada para o dia 6 do próximo mês. — Evitei olhar para Jean diretamente, lançando um olhar rápido e desviando logo em seguida, enquanto explicava. — Dia 6 do próximo mês? Ainda faltam mais de duas semanas. — Sim, foi a data que o tribunal determinou, não há muito o que fazer. — Entendi. Não se preocupe. — Jean disse num tom reconfortante, mas logo acrescentou, após uma breve pausa. — Mas, normalmente, na primeira audiência de divórcio, o tribunal tenta uma conciliação. Se não der certo, só depois de seis meses você pode entrar com um novo pedido. E aí, geralmente, o divórcio é concedido. — Sim, meu advogad
Eu finalmente entendi. Não era à toa que Davi parecia tão abatido e com o rosto pálido. — Kiara, por favor, ajude a Clara. Tudo o que aconteceu no passado foi culpa nossa. Se você quiser, eu peço desculpas. Está bem assim? Só te peço que tenha piedade e vá até o hospital para ajudá-la... — Disse Isabela, quase implorando. De repente, ela avançou e agarrou minha mão. O movimento brusco assustou Higger, que deu um pulo e se escondeu atrás de mim. Franzi ainda mais a testa, olhando para Isabela enquanto sentia um sorriso frio surgir dentro de mim.— Que surpresa... Nunca imaginei que ouviria um pedido de desculpas vindo de você. — Não consegui conter o tom sarcástico. — Eu estou me desculpando, Kiara. Eu faço o que você quiser, o que for necessário, mas por favor, salve a Clara. Ela é sua irmã, afinal de contas. É uma vida humana! — As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Isabela, e, pela primeira vez, ela parecia sinceramente desesperada. Como mãe, ela estava sendo exemp
Dei algumas voltas na frente do espelho, analisando cada detalhe, e fiquei satisfeita com o que vi. Foi quando o som do meu celular quebrou o silêncio. Olhei para a tela e vi o nome de Jean. — Alô, Sr. Jean. — Kiara, em cerca de dez minutos o motorista estará na frente do seu prédio. — Tudo bem, estou pronta. Vou descer assim que ele chegar. — Respondi animada, mas logo acrescentei, um pouco constrangida. — Desculpe pelo incômodo, você realmente não precisava se preocupar em mandar alguém para me buscar. — Não há problema. Viajar à noite de carro pode ser perigoso. Se eu a convidei, é minha responsabilidade garantir a sua segurança. Ele era sempre assim: atencioso, impecável, sem deixar nenhum detalhe passar. Depois que desliguei, guardei o celular na bolsa e adicionei um último retoque: coloquei dentro o batom e o pó compacto, só para garantir. Fiz uma última checagem no espelho e saí de casa. O caminho até a entrada do prédio foi acompanhado por um misto de excitação e an
— Não, não, de jeito nenhum! — Balancei as mãos no ar, tentando encerrar o assunto enquanto apressava os passos. Mas, mesmo assim, não resisti e olhei de canto para Jean algumas vezes. Por dentro, eu só conseguia rezar para que aquela Bentley naquela noite não tivesse sido dirigida por Pablo. Pena que minhas preces não foram atendidas. Jean notou minha expressão estranha, hesitante, e após uma breve pausa perguntou: — Você viu o Pablo recentemente? Quando ele disse isso, tudo ficou claro para mim. Meu único desejo era desaparecer naquele instante e nunca mais ser encontrada. — Então... o Pablo mencionou alguma coisa para você? — Perguntei, já aceitando meu destino, decidindo jogar limpo. Jean apertou os lábios, e por um segundo sua expressão impecável e aristocrática foi tomada por algo que parecia... uma mistura de constrangimento e diversão. — Você está se referindo àquela discussão com o Davi... quando você disse que tinha dormido comigo? E não apenas uma vez, mas vári
— E como você pretende explicar?— Vou dizer que não tem nada entre nós, que eu não dormi com você e que você também não dormiu comigo.— Uma moça ir explicar algo assim? Isso só vai me fazer parecer ainda mais… sem moral. — Isso… — Eu estava à beira de um colapso, coberta de vergonha. — Então o que a gente faz? Enquanto tentávamos encontrar uma solução, uma voz inesperada nos interrompeu: — Jean, disseram que você saiu pessoalmente para buscar um convidado especial. Qual foi a herdeira tão importante que mereceu esse esforço todo? Olhei na direção da voz e vi um homem alto e imponente se aproximando, com uma postura confiante e um sorriso fácil no rosto. Jean nem precisou se virar para saber quem era. Sua expressão ficou ainda mais sutil, quase resignada. — Falando no diabo… — Murmurou ele. Meus olhos se arregalaram. O quê? Esse é o Pablo? Eu não o conhecia pessoalmente. Afinal, a família Braga, sendo tão prestigiada quanto a família Auth, estava em um patamar completame
Mas, na frente de Pablo, não era o momento certo para perguntar nada. Eu só podia esperar por outra oportunidade. Percebendo o meu evidente constrangimento, Jean, sempre atento, tratou de me tirar daquela situação: — Vamos? Os convidados já estão quase todos aqui, e a festa está prestes a começar. Segui Jean até o salão de festas e, mais uma vez, fiquei impressionada com o que vi. Dentro do Condomínio Florensa, havia um prédio independente de três andares, com um grande salão de eventos, salas de reunião multifuncionais e até um clube privativo. A construção ficava separada da mansão principal, garantindo total privacidade aos anfitriões. A decoração era sofisticada e discreta, mas de extremo bom gosto. Cada peça parecia um item de coleção, digna de um museu de arte. O salão estava lotado, um verdadeiro mar de gente. Os convidados conversavam animados, trocando risadas e comentários em tons elegantes. Bastou um olhar rápido para reconhecer algumas figuras que eu já havia vi
Por educação, mesmo não suportando essa família, mantive um sorriso cordial e cumprimentei:— Boa noite, Sra. Eduarda. — Kiara, você está mesmo com o Sr. Jean? Ele sabe que você já foi casada? Que você é... uma mulher divorciada? Isso não é algo que... — Disse Eduarda. — Mãe, divorciada nada! Ela nem terminou o casamento com o meu irmão ainda. Se está com o Sr. Jean agora, então é traição! — Tânia interrompeu, cruzando os braços e franzindo a testa, com uma expressão de desprezo e indignação. Depois, murmurou, como se reclamasse sozinha. — O que deu no Sr. Jean para se interessar por ela? Fora ser bonita, não sei o que mais ela tem de especial. Eu nem precisei abrir a boca e já estava sendo acusada de traição. Era quase cômico, se não fosse tão irritante.— Tânia, o cérebro é uma coisa maravilhosa, pena que você não tem. Quer que a gente pergunte para qualquer pessoa aqui quem traiu quem no meu casamento com seu irmão? — Falei, sem perder o tom calmo, mas com um sorriso cortante.
Mas eu já tinha entregado o celular para Davi. Do outro lado, Eduarda também esticou o pescoço, curiosa, para ver a tela.Em questão de segundos, o rosto de Davi ficou cada vez mais sombrio, enquanto o olhar de Eduarda se enchia de surpresa.— Tânia... — Eduarda virou-se para a filha que estava deitada na cama, completamente chocada, gaguejando ao falar. — Isso... você e a Kiara, vocês...Eduarda ainda nem tinha terminado a frase quando Davi se virou de repente, explodindo:— Tânia! Fala logo a verdade! O que aconteceu ontem à noite?— Irmão, eu... ontem à noite, eu... — Tânia tentou responder, mas seu rosto estava pálido e ela mal conseguia formar uma frase completa, gaguejando entre soluços.Davi, tomado por uma fúria avassaladora, deu dois passos largos até a cama e enfiou o celular na frente dela:— Olha isso! Olha o que você estava fazendo! Foi você quem colocou o remédio e ainda teve a coragem de mentir para mim e para todos os outros!— Eu não menti! — Tânia gritou, chorando. —
Era mesmo impressionante como a culpa sempre encontra uma desculpa. — Depois de ouvir o que Davi disse, eu sequer tive vontade de me defender.Agora ele gritava com toda a convicção do mundo, mas quanto mais alto for o tom, maior seria a vergonha dele quando a verdade viesse à tona.— A verdade sobre a noite passada, eu vou te mostrar. — Falei calmamente e, em seguida, perguntei. — Vocês estão no hospital ou em casa?— No hospital.A família de Davi tinha um hospital particular de confiança. Se algo realmente tivesse acontecido com Tânia na noite passada, eles certamente fariam de tudo para encobrir a situação, recorrendo a médicos conhecidos.Passei em uma floricultura e encomendei um buquê de flores antes de dirigir diretamente para o hospital. Por coincidência, assim que saí do elevador e entrei no corredor, vi Davi.Ele estava ao celular, com uma expressão séria. Quando me aproximei, ouvi parte da conversa; ele falava com o advogado e mencionava a palavra "estupro".Era exatamente
Eu levantei a cabeça e vi Davi descendo do carro. Como ele já estava ali, desisti de ir atrás de Tânia. Apenas joguei as palavras para ele:— Sua irmã está com problemas. Vai atrás dela!Davi caminhou a passos largos em minha direção, com o rosto franzido de confusão:— O que você quer dizer com isso? A Tânia me pediu para vir te buscar porque vocês beberam e não podiam dirigir.— Beber? Não bebemos nada! Eu não preciso de você e sugiro que vá atrás dela agora! Ela está dirigindo de forma perigosa.Davi percebeu pelo meu tom que eu não estava brincando. Seu rosto ficou pálido, e ele rapidamente pegou o celular para ligar. No entanto, a ligação não completou. Ele apertou os lábios, com uma expressão sombria, virou-se e entrou no carro apressado.Eu observei enquanto ele arrancava com o veículo em alta velocidade. Em seguida, entrei no meu carro e fui embora também.O destino de Tânia, para mim, não era mais problema. Eu já havia cumprido meu papel ao alertar a família dela.No entanto,
O copo ficou um pouco cheio demais. Tânia, sem pensar muito, pegou o canudo e deu dois goles.Eu a observei em silêncio, sentindo meu coração acelerar. Não havia problema de higiene, afinal, eu nem sequer tinha tocado naquele suco.O problema, no entanto, era outro se ela realmente tivesse colocado algo no meu suco, agora ela havia bebido. E se isso causasse algum efeito colateral?A incerteza sobre o que poderia acontecer deixou meu coração inquieto. Mas, ao mesmo tempo, pensei: se algo acontecer, é apenas o resultado das ações dela. Ela merece.Enquanto Tânia estava ao telefone com Davi, eu aproveitei para trocar os copos e enviei uma mensagem para Tatiana. Pedi que ela me ligasse em dez minutos com uma desculpa urgente, algo ligado à empresa, para que eu pudesse sair dali rapidamente. Agora, restavam apenas cinco ou seis minutos.Tânia, ainda presa à sua irritação, terminou de engolir o suco e me olhou com desprezo antes de começar a disparar suas ofensas:— Kiara, você não acha que
Ao observar com mais atenção, percebi algo estranho: a parte da parede da canudo que estava molhada pelo suco ultrapassava o nível que deveria estar se ele tivesse apenas sido colocado ali, parado.Mas eu tinha certeza de que não encostei no suco, nem sequer tomei um gole desde que foi servido. Então, por que a parede do canudo parecia mais molhada do que deveria?A única explicação lógica era que alguém mexera no meu suco, talvez usando o canudo para misturar algo. Mas por quê?Então, um pensamento alarmante passou pela minha cabeça. Tânia teria colocado alguma coisa no meu suco? Algum tipo de droga?A ideia fez meu coração acelerar.Eu não queria acreditar que ela fosse capaz de algo tão ousado, especialmente em um lugar público. Mas, se fosse verdade, qual seria o propósito dela? Ela não seria burra o suficiente para tentar me envenenar. Matar alguém significaria assinar sua própria sentença.Não… não era algo tão extremo. Meu instinto dizia que, se ela realmente tivesse colocado al
As feridas e humilhações que Davi me causou não eram algo simples como uma traição. Ele praticamente destruiu minha vida naquele momento.— Kiara! Não fale como se fosse tão simples. Meu irmão não teve escolha naquela época. Clara estava com uma doença terminal. O que ele fez foi por obrigação moral. Isso só prova que ele é um homem fiel e com um grande senso de responsabilidade! — Tânia começou a argumentar, tentando justificar o que era injustificável.Eu franzi a testa, incomodada com cada palavra dela. A família Castro está claramente cheia de problemas. Esses irmãos parecem viver em uma realidade paralela. Com essas pessoas no comando, a queda da família é apenas uma questão de tempo.Não me dei ao trabalho de responder. Apenas foquei no que realmente importava:— Mostre o vídeo. Caso contrário, estou indo embora.Tânia permaneceu imóvel, como se estivesse tentando ganhar tempo. Minha paciência acabou. Peguei minha bolsa e me levantei.— Espere! — Ela se apressou, me chamando, cla
— Tudo bem, eu vou. — Fingi ter cedido à chantagem de Tânia, como se ela tivesse conseguido me manipular.Depois de desligar, me dei ao luxo de refletir com mais calma. Era verdade que havia certa tensão e flerte entre mim e Jean, mas nunca tivemos qualquer interação pública que pudesse ser considerada íntima ou comprometedora.Com a personalidade de Tânia, se ela realmente tivesse algo sólido contra mim, já teria usado isso há tempos para me humilhar publicamente. Não esperaria até agora, quando minha relação com Davi estava prestes a acabar, para jogar suas cartas.Provavelmente, esse "vídeo" que ela mencionou não mostrava nada relevante. Era mais uma tentativa desesperada de me assustar, de me fazer recuar, talvez até de ajudar Davi a reverter a situação.Ao entender isso, me senti mais tranquila. Ainda assim, decidi ir ao encontro dela. Não por mim, mas por Jean. A posição dele era delicada, e eu não podia correr o risco, por menor que fosse, de algo prejudicar a reputação dele.Po
— Se ainda não decidiram, talvez não seja o momento certo para se divorciarem. Problemas acontecem em qualquer casamento, e uma boa conversa pode resolver. — O funcionário empurrou os papéis da separação de volta para nós, tentando nos convencer a desistir.Fiquei irritada imediatamente. Virei o rosto para Davi e, em um tom baixo e severo, questionei:— O que você está tentando fazer? Mesmo que você adie hoje, não vai escapar da audiência no tribunal na quinta-feira. Por que insistir nisso?Davi manteve o olhar fixo no meu, com uma expressão indecifrável. Depois de alguns momentos de silêncio, ele finalmente respondeu ao funcionário:— Estou aqui por vontade própria. Nosso relacionamento acabou. Não há mais como voltar atrás.Soltei um suspiro aliviado, embora ainda estivesse tensa.— Certo, então… — O funcionário pegou os documentos novamente, assumindo seu tom profissional. — A partir de hoje, começa o período de 30 dias de reflexão obrigatória. Durante esse tempo, qualquer uma das p
A liberdade de se vestir como quiser era, de fato, uma escolha pessoal. Mas, em certas situações, a exposição involuntária de partes do corpo feminino pode, infelizmente, colocar uma mulher em perigo. Isso também é uma realidade.Lembrei-me de uma aula de Direito Penal que fiz na faculdade. O professor mencionou que, do momento em que um homem é estimulado até sentir um impulso, podem bastar apenas 40 segundos. Como Jean disse, alguns homens podem, em um instante, se transformar em verdadeiros predadores.— Então, vou indo. Obrigado pelo trabalho. — Jean inclinou levemente a cabeça, com a mesma cortesia de sempre.Eu ainda estava com o rosto em chamas e, como de costume, falei de forma completamente desajeitada:— N-não foi nada… Assim que as roupas estiverem ajustadas, eu… eu levo para você.— Tudo bem. — Ele respondeu calmamente.Insisti em descer com ele até a saída, mas Jean me olhou de cima a baixo e, percebendo que eu estava sem o casaco, recusou. Ele me pediu para ficar, dizendo