Tânia mexeu a boca várias vezes, o rosto visivelmente corado de vergonha:— Pre… preparando um show particular…Sra. Auth, com a mesma calma e elegância de sempre, respondeu:— Minha filha é a primeira violinista de uma orquestra internacionalmente renomada, mas eu nem comento isso com ninguém.— Ma… — Tânia tentou continuar, mas Eduarda a cutucou discretamente no braço.Eduarda, com sua habilidade impressionante de se adaptar às situações, sorriu e emendou:— Sra. Auth, a senhora é muito modesta. Quem não sabe que a família Auth é composta por verdadeiros gigantes nas suas áreas? Elite da sociedade! Nós só podemos admirar de longe. Kiara é realmente incrível, sempre a admirei muito.Depois de elogiar Sra. Auth com maestria, Eduarda imediatamente se virou para mim com um olhar quase maternal:— Kiara, veja só o quanto Sra. Auth confia em você. Aproveite bem essa oportunidade, é uma honra enorme!Eu apenas sorri:— Com certeza. Não precisa se preocupar, Sra. Eduarda.Eduarda riu, acenan
— Como é que você fala assim? Cega é você! — Gritou a garota.— Minha visão está perfeita. Tanto que deu para perceber que o vestido que você está usando é uma falsificação. — Respondi.Bem nesse momento, o discurso de Sra. Auth no palco chegou ao fim, e os convidados aplaudiram calorosamente.Eu me virei para o palco, juntando-me ao aplauso com entusiasmo. Mas a jovem não gostou nem um pouco. Ela olhou para o próprio vestido, murmurando para si mesma:— Falsificação? Impossível! Paguei uma fortuna por ele, mandando buscar especialmente.As amigas ao seu redor a encararam, igualmente surpresas:— Será que você foi enganada?— Não pode ser! Eu sempre compro com o mesmo fornecedor. Ela tem ótimos contatos e consegue peças exclusivas, inclusive de coleções de celebridades. — A garota ergueu a cabeça, me encarando com dureza. — E você, com que direito fala isso? Quer me humilhar na frente de todo mundo, é isso? Olha só para o que você está vestindo. Aposto que nem falsificação é. Deve ter
As palavras de Amélia fizeram todos ao redor soltarem risadas.Eu, no entanto, ainda estava imersa no choque de descobrir a verdadeira identidade de Amélia, demorando alguns segundos a mais para reagir."Amélia é a pequena princesa da família Auth. Isso significa que ela é irmã de Jean."Lembrei-me imediatamente do nosso primeiro encontro, na frente do hospital. Naquele dia, ela estava disfarçada de motorista de aplicativo e dirigia um Porsche quando me levou para casa.Naquele momento, enquanto estávamos no carro, ela recebeu uma ligação. Era Jean. Pelo retrovisor, lembro-me de ter notado uma figura alta e elegante à porta do hospital. Aquele porte me parecia familiar, mas só agora percebo: era ele.O segundo encontro foi na festa surpresa que Bela organizou para o meu aniversário. Amélia apareceu de repente, e Bela a apresentou como a "benfeitora" que tinha ajudado a tirar meu nome dos trending topics. Naquela ocasião, todos ficaram curiosos sobre quem ela era, mas ninguém conseguiu
Mas Leona estava tão apressada que, ao puxar o vestido, não só não o soltou, como ainda fez o tecido desfiar.As outras garotas ao redor rapidamente se aproximaram, todas muito "solidárias", mas, na verdade, só estavam atrapalhando. Um grupo inteiro de gente mexendo e, ainda assim, não conseguiram desfazer o enrosco.— Que tipo de roupa é essa que você está usando? É praticamente uma arma! — Leona reclamou, irritada, culpando a amiga.A outra não deixou por menos e rebateu na mesma hora:— Você que veio se enroscar, Leona! Não fui eu que fui atrás de você.— A culpa é sua! Um vestido desses nem deveria existir!— Melhor isso do que usar um vestido falso, como você! Que vergonha!Quando percebi que a discussão estava prestes a virar uma briga, dei um passo à frente:— Chega, parem de brigar. Deixem que eu resolvo!Se não fosse o aniversário de Dona Auth, eu provavelmente deixaria as duas se engalfinharem. Mas, dadas as circunstâncias, era melhor evitar confusões.Assim que falei, as gar
Amélia nos levou, a mim e a Leona, até uma sala de descanso no segundo andar e pediu para alguém trazer agulha e linha.Leona queria tirar o vestido para facilitar o conserto, mas como não tinha outra roupa para vestir no lugar, tive que fazer o reparo com ela usando a peça, o que deixou o trabalho um pouco mais complicado.Depois de quase meia hora, consegui finalmente resolver o problema. As linhas desfiadas voltaram para o lugar, e o bordado deformado foi restaurado. O vestido parecia intocado, como se nada tivesse acontecido.— Leona, tá vendo? Isso é o que chamam de “retribuir mal com bondade”. Aprende um pouco, para de andar com aquelas amigas idiotas que só te puxam para baixo. — Amélia, que estava ao lado comendo um doce enquanto eu trabalhava, não perdeu a chance de soltar mais uma provocação.Leona mordeu os lábios, claramente se sentindo humilhada, mas não teve coragem de responder. Apenas resmungou:— A culpa é da Tânia. Vou cortar relações com ela quando voltar!Amélia bat
Jean levantou levemente a mão, indicando com um gesto:— Vamos, vamos até o terraço. Lá tem menos gente.Eu fiquei um pouco surpresa, franzindo a testa antes de perguntar:— Você… não precisa ficar com os outros convidados?— Você também é minha convidada, não é? — Ele respondeu com naturalidade, mas o subtexto era claro:“Estar comigo também fazia parte de sua hospitalidade.”Senti minhas bochechas esquentarem novamente, o que parecia ser uma reação involuntária toda vez que ele falava algo assim. Caminhei ao lado dele até o terraço no segundo andar. O ar fresco da noite trouxe uma brisa leve, carregada com o perfume natural das plantas e da terra da montanha. Mas, mesmo com o ambiente relaxante, a pergunta que eu vinha guardando não saía da minha cabeça.— Sr. Jean, eu…— Srta. Kiara, você…Por um breve momento, nós dois viramos a cabeça ao mesmo tempo, nossos olhares se cruzaram, e começamos a falar juntos. Isso nos fez parar de imediato, trocando sorrisos involuntários.Jean fez um
Segui o olhar dele e fixei a atenção onde ele indicava.De fato, na lateral direita da testa, bem na linha do cabelo, havia uma cicatriz fina e clara. Era tão discreta que, se ele não tivesse apontado, eu jamais teria notado.— Depois que me recuperei, soube que foi graças a alguém que chamou a polícia que conseguimos ser salvos. Então, fui até a delegacia no vilarejo para descobrir quem tinha feito a denúncia. Quando finalmente encontrei a sua casa, sua avó já tinha ido embora com você, e acabamos nos desencontrando.Fiquei com os olhos arregalados, encarando Jean como se estivesse em um transe. Não sabia nem o que dizer. Nunca imaginei que minha história com ele pudesse remontar à infância. Era surreal!— E… e a outra vez? — Perguntei com curiosidade crescente. Afinal, se nos desencontramos, como foi possível eu tê-lo ajudado novamente?Jean assentiu levemente e continuou:— A segunda vez foi no verão do ano seguinte. Eu estava nadando no rio com dois garotos do condomínio militar. E
Eu gesticulava sem jeito, tentando encontrar as palavras certas para expressar o que queria dizer.Na verdade, o que eu queria perguntar era:"Se você sempre esteve prestando atenção em mim, por que nunca apareceu antes? E por que só agora resolveu se aproximar de repente?"Jean, percebendo minha dúvida, respondeu calmamente:— Eu só fiquei em Cidade Dondo por três anos. Depois, quando o batalhão do meu avô foi transferido, eu fui com ele. Na verdade, eu nunca imaginei que o destino nos faria nos reencontrar.Fiquei ainda mais curiosa. Franzi as sobrancelhas e perguntei:— E quando foi que nos encontramos de novo?— No ano em que você entrou na universidade.— O quê? — Minha surpresa só aumentava. Depois de pensar um pouco, perguntei. — Eu estudei na Universidade Nexoto. Você também é formado lá?— Sou, sim.Fiquei pasma. Nós éramos colegas de universidade!A Universidade Nexoto ficava em Cidade Saurimo, uma das melhores do país, com um ranking nacional entre os cinco primeiros. No ent
— Tudo bem, eu vou. — Fingi ter cedido à chantagem de Tânia, como se ela tivesse conseguido me manipular.Depois de desligar, me dei ao luxo de refletir com mais calma. Era verdade que havia certa tensão e flerte entre mim e Jean, mas nunca tivemos qualquer interação pública que pudesse ser considerada íntima ou comprometedora.Com a personalidade de Tânia, se ela realmente tivesse algo sólido contra mim, já teria usado isso há tempos para me humilhar publicamente. Não esperaria até agora, quando minha relação com Davi estava prestes a acabar, para jogar suas cartas.Provavelmente, esse "vídeo" que ela mencionou não mostrava nada relevante. Era mais uma tentativa desesperada de me assustar, de me fazer recuar, talvez até de ajudar Davi a reverter a situação.Ao entender isso, me senti mais tranquila. Ainda assim, decidi ir ao encontro dela. Não por mim, mas por Jean. A posição dele era delicada, e eu não podia correr o risco, por menor que fosse, de algo prejudicar a reputação dele.Po
— Se ainda não decidiram, talvez não seja o momento certo para se divorciarem. Problemas acontecem em qualquer casamento, e uma boa conversa pode resolver. — O funcionário empurrou os papéis da separação de volta para nós, tentando nos convencer a desistir.Fiquei irritada imediatamente. Virei o rosto para Davi e, em um tom baixo e severo, questionei:— O que você está tentando fazer? Mesmo que você adie hoje, não vai escapar da audiência no tribunal na quinta-feira. Por que insistir nisso?Davi manteve o olhar fixo no meu, com uma expressão indecifrável. Depois de alguns momentos de silêncio, ele finalmente respondeu ao funcionário:— Estou aqui por vontade própria. Nosso relacionamento acabou. Não há mais como voltar atrás.Soltei um suspiro aliviado, embora ainda estivesse tensa.— Certo, então… — O funcionário pegou os documentos novamente, assumindo seu tom profissional. — A partir de hoje, começa o período de 30 dias de reflexão obrigatória. Durante esse tempo, qualquer uma das p
A liberdade de se vestir como quiser era, de fato, uma escolha pessoal. Mas, em certas situações, a exposição involuntária de partes do corpo feminino pode, infelizmente, colocar uma mulher em perigo. Isso também é uma realidade.Lembrei-me de uma aula de Direito Penal que fiz na faculdade. O professor mencionou que, do momento em que um homem é estimulado até sentir um impulso, podem bastar apenas 40 segundos. Como Jean disse, alguns homens podem, em um instante, se transformar em verdadeiros predadores.— Então, vou indo. Obrigado pelo trabalho. — Jean inclinou levemente a cabeça, com a mesma cortesia de sempre.Eu ainda estava com o rosto em chamas e, como de costume, falei de forma completamente desajeitada:— N-não foi nada… Assim que as roupas estiverem ajustadas, eu… eu levo para você.— Tudo bem. — Ele respondeu calmamente.Insisti em descer com ele até a saída, mas Jean me olhou de cima a baixo e, percebendo que eu estava sem o casaco, recusou. Ele me pediu para ficar, dizendo
— Tudo bem. — Jean respondeu com um simples aceno de cabeça.Fiquei surpresa. O que ele queria dizer com isso? Ele realmente estava disposto a ficar e continuar tomando chá? Então por que, minutos atrás, ele estava tão indiferente? Não conseguia entender esse homem.Jean voltou ao sofá e se sentou para tomar o chá. Enquanto isso, minha mente trabalhava freneticamente tentando encontrar um assunto para preencher o silêncio.— A Amélia já tem data para a apresentação no exterior? — Perguntei, tentando soar casual.— Ela não me disse. Está bastante ocupada ultimamente.— Ah, entendi. Bom, já terminei o vestido dela. Quando ela tiver um tempo, pode vir experimentar. Se estiver tudo certo, ela já pode levar e não atrasa a viagem.Jean levantou os olhos da xícara de chá e me ofereceu um sorriso elegante:— Obrigado. Você tem trabalhado duro por nós, sempre cuidando de tudo com tanto capricho.Falei com sinceridade:— Não, quem deve agradecer sou eu. Vocês me dão trabalho, ajudam a construir
Meu rosto estava quente, e eu agradeci por estar de cabeça baixa, evitando que Jean percebesse. Contudo, meus olhos, inevitavelmente, se desviaram para a área da cintura dele, onde o tecido da calça formava uma leve curva.Naquele instante, minha mente me pregou uma peça, trazendo à tona um vídeo que as designers da minha equipe haviam compartilhado certa vez no grupo do trabalho. Era um clipe de um alfaiate experiente ajustando as roupas de um cliente masculino. Em certo momento, o alfaiate perguntou ao cliente de forma direta e séria: "Você costuma posicionar... à esquerda ou à direita?"O cliente ficou confuso, mas a mulher que o acompanhava entendeu imediatamente a pergunta e, envergonhada, levantou-se e saiu de perto.Lembro que, depois desse vídeo, o grupo foi tomado por discussões acaloradas. As designers que trabalhavam com moda masculina perguntaram se essa era uma prática comum. A conversa, claro, acabou descambando para piadas sobre tamanhos, posições e "certos homens que ne
— Certo. — Jean pegou o terno e caminhou em direção ao provador.Fiquei sozinha no meu espaço de trabalho, mas minha mente estava longe. Sem perceber, comecei a pensar nele, imaginando-o no provador, tirando a camisa, ajustando a roupa. E, inevitavelmente, a lembrança de quando ele me puxou no meio da rua, me segurando firme em seus braços, voltou à tona.Foi um instante tão breve, mas o impacto desse momento continuava reverberando em mim. Meu coração ainda batia mais rápido só de pensar nisso.O barulho vindo do provador me trouxe de volta à realidade. Balancei a cabeça para espantar esses pensamentos e me aproximei.Quando o vi sair do provador, fiquei sem palavras.Jean vestia o terno preto feito sob medida. O tecido se ajustava perfeitamente ao seu corpo, destacando sua postura impecável e seu porte elegante. A combinação da cor sóbria com o caimento perfeito exalava um tipo de imponência que era impossível ignorar. Ele parecia frio e distante, mas ao mesmo tempo, sofisticado e ir
— Tantas modelos paradas assim… parece que entrei em outra dimensão. — Jean comentou, com um tom de curiosidade e admiração.Eu sorri:— Sim, à noite fica ainda mais interessante.A escolha do prédio onde fica minha empresa foi algo que Davi e eu fizemos com muito cuidado no passado. Alugamos quatro andares inteiros. As três primeiras são dedicadas às áreas de trabalho, com escritórios, academia e espaço de suporte. O ambiente geral é muito agradável.Já o quarto andar, com mais de 200 metros quadrados, é exclusivamente meu. É o meu estúdio privado, meu santuário de criação.A Lustre & Gala trabalha com alta-costura, e muitas peças exigem sigilo absoluto. Meu closet contém uma coleção de peças exclusivas e acessórios valiosíssimos. Por isso, a entrada no meu espaço é extremamente restrita. Além de mim, apenas Tatiana tem acesso livre. Ninguém mais pode entrar sem minha autorização, e, mesmo que subam, não conseguem passar da porta sem permissão.— Essas são peças de alta-costura. Muito
Depois de alguns instantes em silêncio, ele finalmente falou, com o tom mais leve:— Tudo bem, vamos comer.Ao terminar a frase, Jean se levantou e voltou para o seu lugar.Eu mantive a cabeça baixa, soltando um suspiro de alívio. No entanto, uma sensação de culpa e tristeza começou a pesar no meu peito.Não tive coragem de levantar os olhos para encará-lo. Depois de um momento de silêncio, falei baixinho, com a voz abafada:— Desculpa. Eu sei que você está tentando me ajudar, mas agora eu…Eu não consegui terminar a frase. A verdade era que, nesse momento, eu não me sentia capaz de aceitar o apoio dele, nem achava que merecia. Mas essas palavras simplesmente não saíam.Por sorte, Jean parecia entender o que se passava na minha cabeça. Ele respondeu com um tom gentil e calmo:— Quem deve pedir desculpas sou eu. Fui um pouco impulsivo e ultrapassei os limites.Jean… pedindo desculpas para mim?Fiquei surpresa. Levantei a cabeça às pressas e balbuciei:— Não, não, não foi culpa sua. Você
Aquela aura imponente e inquestionável de Jean fez com que minha mão, escondida debaixo da mesa, se retraísse automaticamente.— Não foi nada sério, só me machuquei fechando a porta ontem à noite. — Ainda tentei disfarçar, forçando um sorriso tranquilizador.Mas ele não se convenceu. Sem dizer nada, ele levantou-se, contornou a pequena mesa quadrada entre nós e sentou-se ao meu lado.Fiquei tão surpresa que instintivamente me movi para o lado, tentando manter alguma distância, mas foi inútil. Jean simplesmente segurou minha mão e a puxou para examinar. Ao ver os hematomas, ele franziu o cenho, e o brilho em seus olhos escureceu.— E a outra mão? — Ele perguntou, olhando diretamente para mim.Engoli em seco. Não tinha como evitar. Relutante, estendi a outra mão. Ele a segurou, e, no instante em que nossas peles se tocaram, meu coração começou a bater descompassadamente.— Fechar uma porta pode machucar as duas mãos ao mesmo tempo? — Jean perguntou, sua voz baixa e carregada de desconfia