Dizia que o casamento era o túmulo do amor, mas ainda era melhor ser enterrado com dignidade do que apodrecer ao relento. Depois de mais de dois meses de trabalho árduo, finalmente terminei de costurar, com minhas próprias mãos, o meu vestido de noiva.Sob a luz do abajur, ele parecia tão branco e elegante, brilhando com um esplendor indescritível. Uma verdadeira obra-prima.Eu já podia me imaginar, em poucos dias, caminhando pelo corredor vestida de noiva, em direção ao homem que amava. Só de pensar nisso, eu quase sorria nos meus sonhos. Dos 19 aos 25 anos, foram seis longos anos de amor. Finalmente, meu relacionamento seria "enterrado" no altar.Mas, ao acordar certa manhã, tudo desmoronou. Todos os meus sonhos se transformaram em pó.— Kiara, o Sr. Davi veio ao ateliê esta manhã para buscar o vestido. Ele o levou para casa? — Perguntou minha assistente, Tatiana, ao telefone, com a voz cheia de curiosidade.Eu tinha acabado de acordar e ainda estava meio grogue. Ao ouvir aquilo, fra
Achei que Davi ficaria furioso, que me acusaria de estar exigindo demais. Mas, para minha surpresa, ele apenas fez uma breve pausa antes de responder:— Certo, nos vemos à noite.Há três anos, nós dois fundamos uma marca de roupas chamada Lustre & Gala, que hoje é um verdadeiro sucesso.Na época, Davi entrou com o capital, e eu entrei com a expertise criativa, como sócia técnica. Agora, a empresa está avaliada em centenas de milhões, pronta para abrir capital na bolsa. O futuro é promissor. Mas, para ficar com Clara, ele está disposto a me entregar tudo. Parece que isso é o que chamam de amor verdadeiro, não é?Olhei para a casa abarrotada de itens do casamento e senti um nojo que me corroía. Tudo parecia tão ofensivo aos meus olhos que, por um instante, desejei tacar fogo em tudo. Chamei uma equipe de mudanças e dei ordens claras: que empacotassem tudo que fosse relacionado a Davi e levassem embora.Graças a Deus! Ainda bem que eu sempre insisti em esperar pela noite de núpcias para c
Quando terminei de falar, joguei o contrato com força no rosto de Davi e me levantei, apontando a porta:— Quero descansar. Vocês podem ir embora. E, por favor, levem todo o lixo de vocês com vocês.Inacreditável. Eu gostava desse homem desde os 16 anos. Foram oito anos de sentimentos e seis anos de relacionamento. Como só hoje consegui enxergar o verdadeiro caráter dele?Na verdade, deveria até agradecer à Clara. Se não fosse ela, eu teria me casado com um homem tão nojento e hipócrita. Minha vida teria sido um verdadeiro inferno.Eduarda, indignada com minhas palavras, levantou-se apressada, dizendo com raiva:— Kiara, esse é o seu problema. Você é muito explosiva! Olhe para Clara. Ela é doce, educada e sempre me trata com respeito...Segurei o riso e o desprezo que subiam em minha garganta. Nesse instante, vi meu cachorro passando pela sala. Puxei os lábios em um sorriso e chamei:— Higger, pega eles!— Au! Au! Au! — Higger, obediente, correu em direção a eles, latindo ferozmente.—
Davi permaneceu imóvel, sem dizer uma palavra.Isabela, no entanto, ergueu a voz e disse com satisfação:— Finalmente você falou algo sensato, Kiara. Afinal, são da mesma família. Não é natural que a irmã mais velha ceda para a mais nova? Considere isso como um presente de casamento para sua irmã.Ri com desdém e, em seguida, olhei para minha madrasta com um sorriso súbito e gentil:— Nesse caso, acho que ainda falta eu oferecer mais um presente.— Que presente? — Isabela perguntou, desconfiada.— Um caixão. Para colocar no altar da cerimônia de casamento.— Kiara! — Isabela ficou lívida de raiva, com o rosto tremendo de indignação, mas não conseguiu dizer mais nada.Com calma, mas com sarcasmo evidente, continuei a sorrir:— Dizem que, antigamente, em certas culturas da China, as famílias incluíam um caixão no enxoval da noiva, para simbolizar a despedida da casa dos pais. Não é uma tradição linda? Claro, não somos chineses, mas, como irmã mais velha, achei que seria um presente de ca
Eu soltei uma risada irônica, tentando controlar a raiva que fervia dentro de mim. Olhei para o movimento desordenado da rua por alguns segundos, até sentir minha mente esfriar. Quando finalmente me virei para ele, a voz saiu carregada de sarcasmo:— Davi, eu não sou uma lixeira. Não importa o quanto eu tenha te amado ou o quanto fiz por você. No momento em que você escolheu me trair, perdeu o direito ao meu amor.Virei-me para ir embora, mas, incapaz de me conter, voltei a apontar para ele e acrescentei:— Mesmo que não sobrasse nenhum homem no mundo, eu não olharia para você de novo. Você me dá nojo.Talvez minha atitude decidida tenha ferido algo dentro dele, porque Davi deu um passo em minha direção e segurou meu braço. Sua voz, antes tão confiante, agora estava embargada de súplica:— Kiara, eu ainda te amo. Esses seis anos juntos foram os melhores da minha vida. Eu nunca vou esquecer o que vivemos. Mas… a Clara está morrendo. Ela é tão... tão miserável, tão vulnerável. Tudo o que
— Kiara, se acontecer alguma coisa com ela, eu quero ver como você vai se explicar! — Davi me lançou um olhar sombrio antes de sair apressado com Clara nos braços.Fiquei parada ali, atordoada, por um longo tempo. A cena do rosto furioso e implacável de Davi continuava gravada na minha mente. Onde tinham ido parar todas aquelas promessas de amor eterno? Tudo parecia uma piada cruel agora. Quando foi que ele começou a mudar? E como eu pude ser tão cega?O abismo da dor parecia me consumir, até que Tatiana entrou na sala, perguntando com preocupação se eu estava bem. Sua presença me trouxe de volta à realidade. Por que eu estava desperdiçando lágrimas com um homem tão desprezível? Respirei fundo, recompus-me e voltei minha atenção ao trabalho.Perto do horário do almoço, meu celular começou a tocar. Era Isabela. Recusei a ligação sem pensar duas vezes. Mas, alguns minutos depois, o telefone tocou novamente. Dessa vez, era meu pai.Um pensamento atravessou minha mente: Será que Clara não
Com o lenço pressionado contra meus olhos ardentes, respirei fundo, tentando conter a maré de emoções. Não tinha energia nem curiosidade para olhar quem estava sentado ao meu lado.Meu pai, no entanto, apareceu de repente, com uma postura surpreendentemente submissa e a voz cheia de respeito:— Sr. Jean, peço desculpas pelo incômodo. Aquele lugar ali é reservado para os convidados de honra. Por favor, permita-me acompanhá-lo até lá.— Não precisa. Fico bem aqui mesmo. — A voz do homem, identificada como Sr. Jean, soou calma e educada, mas com uma autoridade natural que não deixava espaço para mais insistências.Meu pai parecia prestes a dizer algo mais, mas foi interrompido pelo som do microfone. O mestre de cerimônias chamava os pais dos noivos para subirem ao palco. Isabela, percebendo a situação, apressou-se em puxá-lo para longe.Levantei a cabeça, tentando recuperar a compostura. Antes que pudesse devolver o lenço, o alto-falante ecoou mais uma vez:— Convidamos agora a Srta. Kiar
Clara, com os olhos marejados e a voz embargada, começou a falar:— Quero agradecer à minha irmã por ter permitido que eu e Davi vivêssemos esse amor. Agradeço por ela ter me deixado partir deste mundo sem arrependimentos. Espero que vocês não julguem minha irmã. Ela é a melhor irmã que alguém poderia ter.Ela terminou a frase em meio a soluços, e o salão caiu em silêncio. Todos olhavam para o palco com atenção, sem uma única piada ou comentário maldoso. Olhei para a plateia e, por um instante, achei ter visto um rosto marcante. Um homem de traços fortes, olhos frios como estrelas e lábios que se curvavam num sorriso enigmático. Ele parecia completamente imune ao melodrama de Clara.Clara então se virou para mim, os olhos brilhando de lágrimas e a voz trêmula:— Mana, obrigada por tudo. Mas me diz... você... você me odeia?Senti um calafrio percorrer meu corpo. Não podia acreditar no que estava acontecendo. Clara havia amarrado todos os presentes num jogo moral e estava me forçando a p
— Tudo bem, eu vou. — Fingi ter cedido à chantagem de Tânia, como se ela tivesse conseguido me manipular.Depois de desligar, me dei ao luxo de refletir com mais calma. Era verdade que havia certa tensão e flerte entre mim e Jean, mas nunca tivemos qualquer interação pública que pudesse ser considerada íntima ou comprometedora.Com a personalidade de Tânia, se ela realmente tivesse algo sólido contra mim, já teria usado isso há tempos para me humilhar publicamente. Não esperaria até agora, quando minha relação com Davi estava prestes a acabar, para jogar suas cartas.Provavelmente, esse "vídeo" que ela mencionou não mostrava nada relevante. Era mais uma tentativa desesperada de me assustar, de me fazer recuar, talvez até de ajudar Davi a reverter a situação.Ao entender isso, me senti mais tranquila. Ainda assim, decidi ir ao encontro dela. Não por mim, mas por Jean. A posição dele era delicada, e eu não podia correr o risco, por menor que fosse, de algo prejudicar a reputação dele.Po
— Se ainda não decidiram, talvez não seja o momento certo para se divorciarem. Problemas acontecem em qualquer casamento, e uma boa conversa pode resolver. — O funcionário empurrou os papéis da separação de volta para nós, tentando nos convencer a desistir.Fiquei irritada imediatamente. Virei o rosto para Davi e, em um tom baixo e severo, questionei:— O que você está tentando fazer? Mesmo que você adie hoje, não vai escapar da audiência no tribunal na quinta-feira. Por que insistir nisso?Davi manteve o olhar fixo no meu, com uma expressão indecifrável. Depois de alguns momentos de silêncio, ele finalmente respondeu ao funcionário:— Estou aqui por vontade própria. Nosso relacionamento acabou. Não há mais como voltar atrás.Soltei um suspiro aliviado, embora ainda estivesse tensa.— Certo, então… — O funcionário pegou os documentos novamente, assumindo seu tom profissional. — A partir de hoje, começa o período de 30 dias de reflexão obrigatória. Durante esse tempo, qualquer uma das p
A liberdade de se vestir como quiser era, de fato, uma escolha pessoal. Mas, em certas situações, a exposição involuntária de partes do corpo feminino pode, infelizmente, colocar uma mulher em perigo. Isso também é uma realidade.Lembrei-me de uma aula de Direito Penal que fiz na faculdade. O professor mencionou que, do momento em que um homem é estimulado até sentir um impulso, podem bastar apenas 40 segundos. Como Jean disse, alguns homens podem, em um instante, se transformar em verdadeiros predadores.— Então, vou indo. Obrigado pelo trabalho. — Jean inclinou levemente a cabeça, com a mesma cortesia de sempre.Eu ainda estava com o rosto em chamas e, como de costume, falei de forma completamente desajeitada:— N-não foi nada… Assim que as roupas estiverem ajustadas, eu… eu levo para você.— Tudo bem. — Ele respondeu calmamente.Insisti em descer com ele até a saída, mas Jean me olhou de cima a baixo e, percebendo que eu estava sem o casaco, recusou. Ele me pediu para ficar, dizendo
— Tudo bem. — Jean respondeu com um simples aceno de cabeça.Fiquei surpresa. O que ele queria dizer com isso? Ele realmente estava disposto a ficar e continuar tomando chá? Então por que, minutos atrás, ele estava tão indiferente? Não conseguia entender esse homem.Jean voltou ao sofá e se sentou para tomar o chá. Enquanto isso, minha mente trabalhava freneticamente tentando encontrar um assunto para preencher o silêncio.— A Amélia já tem data para a apresentação no exterior? — Perguntei, tentando soar casual.— Ela não me disse. Está bastante ocupada ultimamente.— Ah, entendi. Bom, já terminei o vestido dela. Quando ela tiver um tempo, pode vir experimentar. Se estiver tudo certo, ela já pode levar e não atrasa a viagem.Jean levantou os olhos da xícara de chá e me ofereceu um sorriso elegante:— Obrigado. Você tem trabalhado duro por nós, sempre cuidando de tudo com tanto capricho.Falei com sinceridade:— Não, quem deve agradecer sou eu. Vocês me dão trabalho, ajudam a construir
Meu rosto estava quente, e eu agradeci por estar de cabeça baixa, evitando que Jean percebesse. Contudo, meus olhos, inevitavelmente, se desviaram para a área da cintura dele, onde o tecido da calça formava uma leve curva.Naquele instante, minha mente me pregou uma peça, trazendo à tona um vídeo que as designers da minha equipe haviam compartilhado certa vez no grupo do trabalho. Era um clipe de um alfaiate experiente ajustando as roupas de um cliente masculino. Em certo momento, o alfaiate perguntou ao cliente de forma direta e séria: "Você costuma posicionar... à esquerda ou à direita?"O cliente ficou confuso, mas a mulher que o acompanhava entendeu imediatamente a pergunta e, envergonhada, levantou-se e saiu de perto.Lembro que, depois desse vídeo, o grupo foi tomado por discussões acaloradas. As designers que trabalhavam com moda masculina perguntaram se essa era uma prática comum. A conversa, claro, acabou descambando para piadas sobre tamanhos, posições e "certos homens que ne
— Certo. — Jean pegou o terno e caminhou em direção ao provador.Fiquei sozinha no meu espaço de trabalho, mas minha mente estava longe. Sem perceber, comecei a pensar nele, imaginando-o no provador, tirando a camisa, ajustando a roupa. E, inevitavelmente, a lembrança de quando ele me puxou no meio da rua, me segurando firme em seus braços, voltou à tona.Foi um instante tão breve, mas o impacto desse momento continuava reverberando em mim. Meu coração ainda batia mais rápido só de pensar nisso.O barulho vindo do provador me trouxe de volta à realidade. Balancei a cabeça para espantar esses pensamentos e me aproximei.Quando o vi sair do provador, fiquei sem palavras.Jean vestia o terno preto feito sob medida. O tecido se ajustava perfeitamente ao seu corpo, destacando sua postura impecável e seu porte elegante. A combinação da cor sóbria com o caimento perfeito exalava um tipo de imponência que era impossível ignorar. Ele parecia frio e distante, mas ao mesmo tempo, sofisticado e ir
— Tantas modelos paradas assim… parece que entrei em outra dimensão. — Jean comentou, com um tom de curiosidade e admiração.Eu sorri:— Sim, à noite fica ainda mais interessante.A escolha do prédio onde fica minha empresa foi algo que Davi e eu fizemos com muito cuidado no passado. Alugamos quatro andares inteiros. As três primeiras são dedicadas às áreas de trabalho, com escritórios, academia e espaço de suporte. O ambiente geral é muito agradável.Já o quarto andar, com mais de 200 metros quadrados, é exclusivamente meu. É o meu estúdio privado, meu santuário de criação.A Lustre & Gala trabalha com alta-costura, e muitas peças exigem sigilo absoluto. Meu closet contém uma coleção de peças exclusivas e acessórios valiosíssimos. Por isso, a entrada no meu espaço é extremamente restrita. Além de mim, apenas Tatiana tem acesso livre. Ninguém mais pode entrar sem minha autorização, e, mesmo que subam, não conseguem passar da porta sem permissão.— Essas são peças de alta-costura. Muito
Depois de alguns instantes em silêncio, ele finalmente falou, com o tom mais leve:— Tudo bem, vamos comer.Ao terminar a frase, Jean se levantou e voltou para o seu lugar.Eu mantive a cabeça baixa, soltando um suspiro de alívio. No entanto, uma sensação de culpa e tristeza começou a pesar no meu peito.Não tive coragem de levantar os olhos para encará-lo. Depois de um momento de silêncio, falei baixinho, com a voz abafada:— Desculpa. Eu sei que você está tentando me ajudar, mas agora eu…Eu não consegui terminar a frase. A verdade era que, nesse momento, eu não me sentia capaz de aceitar o apoio dele, nem achava que merecia. Mas essas palavras simplesmente não saíam.Por sorte, Jean parecia entender o que se passava na minha cabeça. Ele respondeu com um tom gentil e calmo:— Quem deve pedir desculpas sou eu. Fui um pouco impulsivo e ultrapassei os limites.Jean… pedindo desculpas para mim?Fiquei surpresa. Levantei a cabeça às pressas e balbuciei:— Não, não, não foi culpa sua. Você
Aquela aura imponente e inquestionável de Jean fez com que minha mão, escondida debaixo da mesa, se retraísse automaticamente.— Não foi nada sério, só me machuquei fechando a porta ontem à noite. — Ainda tentei disfarçar, forçando um sorriso tranquilizador.Mas ele não se convenceu. Sem dizer nada, ele levantou-se, contornou a pequena mesa quadrada entre nós e sentou-se ao meu lado.Fiquei tão surpresa que instintivamente me movi para o lado, tentando manter alguma distância, mas foi inútil. Jean simplesmente segurou minha mão e a puxou para examinar. Ao ver os hematomas, ele franziu o cenho, e o brilho em seus olhos escureceu.— E a outra mão? — Ele perguntou, olhando diretamente para mim.Engoli em seco. Não tinha como evitar. Relutante, estendi a outra mão. Ele a segurou, e, no instante em que nossas peles se tocaram, meu coração começou a bater descompassadamente.— Fechar uma porta pode machucar as duas mãos ao mesmo tempo? — Jean perguntou, sua voz baixa e carregada de desconfia