Eu usei todas as minhas forças para segurar as lágrimas. Não podia deixar que elas caíssem. A dor mais profunda vem sempre de quem já foi o mais amado. O desespero e o ódio tomaram conta do meu peito, e minhas mãos tremiam de raiva.Depois de alguns segundos, soltei um suspiro, resignada. Virei-me para Davi e perguntei com um sorriso calmo:— Se eu aumentar o lance, você vai continuar me superando, não vai?Os olhos dele brilharam com algo que parecia dor, e, em um tom baixo, ele murmurou:— Kiara, para com isso.Ignorei completamente. Continuei olhando para ele, com um sorriso nos lábios, e levantei minha placa:— Cento e cinquenta milhões!Se fosse para ser ridicularizada, que fosse em grande estilo. Se eu precisasse vender minha empresa, pagar multas exorbitantes e acabar na miséria para recomeçar do zero, tudo bem. Mas, e se eu ganhasse? Não seria a melhor forma de fazê-lo sangrar financeiramente e sentir um pouco da dor que ele me causou?— Kiara! — Davi finalmente perdeu a calma
Jean, lá de cima, olhou para mim e fez um leve aceno de cabeça. Um simples gesto, mas foi como se me lançasse uma corda enquanto eu afundava em um abismo. Em questão de segundos, o desespero deu lugar a uma onda de alívio e felicidade. Senti um calor intenso no peito, e, com um sorriso discreto, retribuí o gesto à distância.Por mais que o Bracelete de Jade não estivesse mais ao meu alcance, vê-lo nas mãos de Jean era, sem dúvida, o melhor desfecho possível.— Trezentos milhões! Alguém mais? — Insistiu o leiloeiro, a voz quase falhando de tanta empolgação. — Trezentos milhões pela primeira vez, pela segunda vez, pela terceira vez! Vendido! O novo proprietário do bracelete de jade branco é o Sr. Jean!Um aplauso estrondoso tomou conta do salão. Era como se todos quisessem demonstrar admiração pelo lance histórico. Os olhos se voltaram para o segundo andar, onde Jean permanecia sentado, impassível, com a aura de alguém que já estava acostumado a ser reverenciado. Ele parecia um imperador
Eu não ousava imaginar como essa situação se desenrolaria, nem os rumores que surgiriam. Não sabia se isso seria uma bênção ou uma maldição para mim. Mas, naquele momento, eu havia recuperado toda a minha dignidade e dado um tapa na cara de Davi e Clara. Por Jean, nesse instante, eu até morreria, sem arrependimentos.— Kiara, quando você conheceu o Sr. Jean? — Clara já não conseguia mais manter ares de superioridade e, com os olhos arregalados, perguntou diretamente o que martelava em sua mente.Segurei a caixa de joias com cuidado, olhei para ela e dei um sorriso provocador:— O que isso te interessa?— Você...Sem paciência para prolongar aquela cena, já tendo conseguido o que queria, decidi ir embora.Clara, que claramente havia perdido a disputa, virou-se para Davi e começou a despejar sua frustração:— Vamos embora! Ficar aqui pra quê? Não tem mais nada que eu queira!Davi, por sua vez, parecia atordoado, como se tivesse levado um golpe que ainda não conseguia processar.Sem me im
Davi me lançou um olhar de puro ódio antes de sair correndo com Clara nos braços, sem dizer uma única palavra.Fiquei parada no lugar, confusa. O que significava aquele olhar? Ele parecia me odiar profundamente. Será que ele ainda me culpava por eu não ter deixado ele gastar os duzentos milhões?Quanto a Clara, nunca soube o que aconteceu com ela depois disso.Com o Bracelete de Jade da minha mãe finalmente em mãos, voltei para Cidade Saurimo com o coração leve. No mesmo dia, fui ao cemitério visitá-la. Queria contar a ela a boa notícia.Já era noite quando, sozinha em casa, finalmente pude me acalmar. Olhei para o bracelete e, de repente, uma preocupação começou a me consumir. Como eu poderia retribuir uma dívida tão imensa quanto os trezentos milhões que Jean havia gasto?Decidi que no dia seguinte procuraria Jean para conversar. Não importava o que fosse preciso, eu tinha que pagar essa dívida. Do contrário, jamais teria paz. Mas, para minha surpresa, antes mesmo que eu pudesse ir a
Na verdade, para ele, gastar alguns milhões provavelmente não passava de um simples gesto.Eu segurava o celular, hesitando. Não sabia se deveria ou não entrar em contato para agradecer. Depois de pensar por alguns minutos, decidi que, por uma questão de princípios, precisava expressar minha gratidão.Aceitar a ajuda de alguém e não agradecer seria falta de educação. Se ele aceitaria ou não meu agradecimento, isso já era outra história. Mas eu, pelo menos, precisava demonstrar respeito.Então, peguei o cartão de visita que Leonardo havia me dado naquele dia, quando saímos da fábrica, e liguei.— Srta. Kiara, boa tarde. — A voz de Leonardo atendeu do outro lado.Na hora, entendi que aquele número devia ser da equipe de trabalho de Jean. Alguém como ele, com certeza, não sairia distribuindo seu contato pessoal para qualquer um.— Sr. Leonardo, boa tarde. Ontem, o Sr. Jean me ajudou muito, e eu gostaria de agradecê-lo pessoalmente. Seria possível? — Expliquei logo de cara o motivo da liga
Como podia existir alguém tão incrível assim? Não tinha nenhum segundo interesse, nenhum pensamento impróprio. Só achava que ele era uma pessoa excepcional.Apesar de ser alguém tão ocupado e com uma posição tão alta, Jean não só aceitou meu convite para jantar, como o fez de forma educada, sem sequer demonstrar desdém.Mas aí veio outra preocupação: onde levar alguém como ele para jantar? Com a vida que leva, tudo ao seu redor deve ser impecável, desde o que come até onde se hospeda. Um restaurante sofisticado qualquer não estaria à altura. Por sorte, minha melhor amiga, Bela, tem uma família que administra uma rede de restaurantes de luxo.Peguei o celular e mandei uma mensagem para ela no WhatsApp:[Bela, preciso de ajuda. Quero levar alguém muito importante para jantar amanhã, como forma de agradecimento. Me recomenda algum restaurante com classe?]Ela respondeu na mesma hora:[Quando?][Amanhã à noite.][Então vá ao Bom Sabor. Vou pedir para reservarem uma sala privativa de nível
Havia limites para a paciência, e Isabela definitivamente os havia ultrapassado. Vir até minha empresa para fazer escândalo? Isso não ia ficar assim.Peguei o celular e imediatamente liguei para a polícia. Meu "querido pai" ainda estava detido, e pensei que seria ótimo se os dois tivessem a chance de passar um tempo juntos.Assim que ouviu as palavras "polícia", Isabela ficou ainda mais descontrolada. Ela contornou minha mesa e veio para cima de mim, pegando outro monte de documentos para me atacar:— Você ainda tem coragem de chamar a polícia, sua vadia? Seu pai está preso por sua causa! A polícia disse que ele foi pego com uma prostituta e vai ficar detido por mais de dez dias! Você é venenosa, muito pior que sua mãe! Você destruiu nossa família, transformou tudo em um inferno! Por que você não pega uma doença terminal e morre logo? Assim vai fazer companhia para sua mãe no inferno! Deus é tão injusto... minha filha tão jovem... tão jovem e prestes a morrer...Ela gritava, histérica,
Fui ao hospital para fazer um check-up e, de propósito, pedi ao médico que exagerasse no curativo de um pequeno corte na minha cabeça. Saí de lá com um curativo enorme e um daqueles gorros brancos de malha médica. Quando cheguei à delegacia para dar meu depoimento, o policial já havia terminado de interrogar a Isabela.Com as gravações do meu escritório como prova, ficou claro quem estava certo e quem estava errado.No final, o policial concluiu que o comportamento da Isabela infringiu as normas de segurança pública. Ela foi condenada a dez dias de detenção administrativa, uma multa de dois mil reais e ainda teve que me pedir desculpas na minha frente.Quando voltei a encontrar Isabela, toda sua arrogância havia desaparecido. Ela me encarava com um olhar cheio de ódio, os dentes rangendo de raiva.— Vai pedir desculpas ou quer que a detenção aumente mais alguns dias? — O policial advertiu, ao perceber que ela não abria a boca.Ao ouvir que poderia ficar presa por mais tempo, Isabela im
— Não! — Eu imediatamente cobri a boca com a mão, inclinando o corpo para trás, desviando do beijo dele.— O que foi? — Jean perguntou.— Eu nem escovei os dentes, estou toda descabelada. Eu respondi rapidamente, me virei e fui direto para o banheiro, começando a me arrumar apressada. Jean colocou o café da manhã na mesa e, em seguida, foi até a porta do banheiro e ficou parado ali, me esperando.Eu estava com a boca cheia de espuma da pasta de dente e olhei para ele por cima do ombro. Ele continuava com aquele sorriso no rosto.— Para de olhar! Vai sentar no sofá um pouco... — Murmurei com a fala embolada.Mas ele não se mexeu. Quanto mais ele ficava ali, mais sem graça eu ficava. Acabei empurrando ele para fora e fechei a porta. Quando terminei de me arrumar e saí, Jean imediatamente abriu o recipiente térmico e começou a colocar o café da manhã na mesa.Havia suco natural, sanduíches de abacate, camarões cozidos e dois ovos fritos.— Nossa, que banquete! Você já comeu? — Eu pergun
Ao mencionar isso, me lembrei da visita de Davi. De repente, arregalei os olhos e me virei rapidamente para olhar para Bela:— Bela, preciso te contar uma coisa.— O que foi? — Ela perguntou, curiosa.— Tânia está grávida.— O quê? — Bela exclamou, chocada, exatamente como eu reagi quando soube.— Ela está grávida daquele estuprador? Não eram dois marginais? Então, isso... — Bela também pensou imediatamente na mesma coisa que eu.Enquanto tomava um gole do meu leite, respondi com calma:— Ela não vai ter esse filho. Então, no fim das contas, de quem é, não importa. Davi veio falar comigo querendo que eu desistisse e aceitasse um acordo judicial. Mas, nesse ponto do processo, já consultei meu advogado. Não faz diferença se aceitarmos um acordo ou não.— Acordo? Por quê? Foi ela que causou tudo isso! Se não fosse azar dela, seria o seu azar! — Bela falou com a voz rouca, claramente irritada. Seus pensamentos eram os mesmos que os meus.— Mas... Agir assim, de forma tão dura, não seria cr
O quê?Eu fiquei completamente atônita. Tânia estava grávida? Eu congelei no lugar, tentando processar aquela notícia chocante. Minha mente parecia trabalhar com dificuldade, mas, depois de alguns segundos, consegui recuperar a compostura. Olhei para Davi e perguntei, com a voz hesitante:— E ela… ela sabe quem é o pai da criança?Assim que fiz essa pergunta, o rosto de Davi mudou completamente. Uma expressão de raiva e constrangimento tomou conta dele, e eu senti um calafrio percorrer minha espinha. Só então percebi o quão insensível aquela pergunta tinha sido.Imediatamente, me desculpei:— Desculpa, eu não quis dizer isso… Não foi por mal.A verdade era que minha mente tinha disparado aquela questão automaticamente, sem filtro. Mas, pensando bem, a resposta era óbvia. Tânia tinha sido vítima de um estupro coletivo. Ela provavelmente não sabia quem era o pai, a menos que fizesse um teste de paternidade.Ainda assim, como ela poderia carregar o filho de um dos agressores? Aquilo era
— Pronto… Leonardo está olhando e deve estar rindo de você. — Eu disse, enquanto ele me abraçava tão forte que me obrigava a levantar o queixo, tentando aliviar o clima com um tom de brincadeira.Jean finalmente me soltou, apertou de leve minha bochecha e, em seguida, entrou no carro. Eu fiquei ali, observando o veículo se afastar aos poucos, com um sorriso involuntário ainda estampado no rosto e já ansiosa pelo reencontro à noite.Quando me virei para ir ao estacionamento, fui surpreendida por uma visão que eu menos queria naquele momento.Davi.Ele estava em uma cadeira de rodas, sendo empurrado por sua secretária, vindo diretamente na minha direção. Eu parei no lugar, com o semblante imediatamente fechado, enquanto minha mente trabalhava rápido para tentar entender o motivo de sua aparição.Depois de amanhã seria a audiência do caso entre mim e Tânia. Era óbvio que ele estava ali por conta disso.O céu começava a escurecer, e o vento frio cortava a pele. A expressão dele parecia ain
Eu não fui até a porta para me despedir. Fiquei no quarto e apenas gritei: — Ah, tá bom, já ouvi!Ele foi embora, e só depois de um bom tempo eu saí do quarto. Quando cheguei à sala vazia, deixei o olhar vagar pelo espaço, como se estivesse vendo tudo de cima, revivendo mentalmente as cenas intensas que havíamos compartilhado.Eu e Davi ficamos juntos por tantos anos, mas nunca tivemos momentos tão intensos e apaixonados assim. Já Jean, que no dia a dia era sempre tão correto, tão sério, tão cavalheiro… No calor do momento, ele podia se transformar em alguém completamente diferente, ardente, visceral. Era impressionante como as aparências podiam enganar.Na manhã seguinte, enquanto eu estava em uma reunião na empresa, o celular vibrou. Peguei o aparelho e, ao olhar a notificação, fiquei surpresa.[Kiara, eu viajei a trabalho.]Uma viagem de trabalho tão repentina? Pensando na noite anterior e em tudo o que aconteceu entre nós, não consegui evitar a sensação de que havia algo estranho
— Por que não? Você já esteve na minha casa antes. — Eu disse com um sorriso.Jean riu de leve e respondeu:— Mas agora o significado é outro.E era mesmo. Tinha razão. Essa era a primeira vez que eu o convidava para o meu apartamento depois de termos assumido nosso relacionamento. De certa forma, era um tipo de sinal, talvez uma aprovação silenciosa.Eu lancei um olhar rápido para ele e murmurei quase inaudivelmente:— Vem se quiser.Ele apenas sorriu, sem dizer nada, e desceu do carro comigo. Passamos pela portaria juntos. No elevador, nenhum de nós falou. Quando nossas mãos se esbarraram por acaso, ambos recuamos rapidamente. Ao abrir a porta do apartamento, ele estava tão perto de mim que eu podia sentir sua respiração quente roçando o topo da minha cabeça. Aquele calor me provocou um arrepio imediato, que subiu pela minha nuca.Assim que entrei, coloquei minha bolsa no móvel, mas antes que eu pudesse fazer qualquer outra coisa, Jean segurou meus ombros, me virou para ele e me beij
Falando sério, aquelas palavras do Lucas realmente não tinham nada de mais. Era só ele mostrando lealdade na frente do chefe, algo completamente normal. Mas Jean, ao ouvir, pareceu levar a coisa a sério.Quando entramos no elevador, Jean virou-se para mim. Ele arqueou levemente uma sobrancelha, com um brilho curioso no olhar, e perguntou: — Você disse que não foi má com ele, quero detalhes. Como assim "não foi má"?Eu olhei para ele de soslaio e respondi: — Bem… Eu pago um salário muito bom para ele! Nesse aspecto, eu sou uma chefe extremamente generosa.— Só isso? — Ele insistiu, sem mudar a expressão.— E o que mais seria? — Eu retruquei, cruzando os braços.— E então, por que você soltou minha mão mais cedo? — Jean me encarou, aprofundando a questão.Eu virei a cabeça para ele, dei um sorriso meio sem jeito e resolvi ser direta: — Você está com ciúmes?— Um pouco. — Jean admitiu sem rodeios, sem desviar o olhar. — Você parece admirar bastante ele, e, pelo que vejo, ele também
— Claro que não! — Eu respondi imediatamente.Jean fez um gesto de quem estava chateado, como uma criança emburrada. — Te chamei para sair várias vezes, e você sempre está ocupada. Resolvi vir ver se você não enfiou a cabeça na carapaça de novo. — Ele parecia realmente ofendido.Eu fiquei sem palavras. Por que ele sempre achava que eu ia me arrepender de algo? — Não é isso. Eu realmente estou ocupada, já te expliquei antes. — Eu tentei me justificar, mas minha voz soou um pouco vacilante.— Por mais ocupada que você esteja, ainda precisa comer. Hoje você não vai fazer hora extra. Vai jantar comigo. — Ele disse em um tom tão doce quanto irrefutável.Eu fiquei um pouco sem jeito. Ainda tinha trabalho acumulado que precisava terminar. — Hm… Será que você pode esperar uma hora? Prometo que termino tudo e a gente vai. — Eu levantei os olhos para ele, tentando exibir a expressão mais inocente e suplicante que consegui.Jean sorriu de leve, inclinando-se sobre a mesa, aproximando-se de
— Não precisa. — Apesar de estar doída pelos dez mil reais que perdi, não sou do tipo que aceita dinheiro do namorado logo no início do relacionamento. Isso me faria parecer interesseira. — Jogar cartas é só para se divertir. Fazia meses que eu não jogava, foi uma oportunidade rara.— Hm, o importante é que você se divertiu. — Jean disse num tom sério, mas com um leve toque de desculpas. — Foi nossa primeira saída como namorados, e eu te deixei sozinha. Estava preocupado que você ficasse chateada. Mas, vendo que você está com suas amigas, fiquei mais tranquilo.— Você me ligou só para dizer isso?— Ainda estou ocupado. Provavelmente vou trabalhar até tarde. Então, depois do jantar, volta cedo para casa. Sua perna ainda não está totalmente recuperada. Cuide de si mesma, ok?Era o primeiro dia do ano. Enquanto todos estavam comemorando e se divertindo, ele estava preso no trabalho e teria que virar a noite. Meu coração apertou de leve, e minha voz saiu mais suave:— Entendido. Não se pre