Como podia existir alguém tão incrível assim? Não tinha nenhum segundo interesse, nenhum pensamento impróprio. Só achava que ele era uma pessoa excepcional.Apesar de ser alguém tão ocupado e com uma posição tão alta, Jean não só aceitou meu convite para jantar, como o fez de forma educada, sem sequer demonstrar desdém.Mas aí veio outra preocupação: onde levar alguém como ele para jantar? Com a vida que leva, tudo ao seu redor deve ser impecável, desde o que come até onde se hospeda. Um restaurante sofisticado qualquer não estaria à altura. Por sorte, minha melhor amiga, Bela, tem uma família que administra uma rede de restaurantes de luxo.Peguei o celular e mandei uma mensagem para ela no WhatsApp:[Bela, preciso de ajuda. Quero levar alguém muito importante para jantar amanhã, como forma de agradecimento. Me recomenda algum restaurante com classe?]Ela respondeu na mesma hora:[Quando?][Amanhã à noite.][Então vá ao Bom Sabor. Vou pedir para reservarem uma sala privativa de nível
Havia limites para a paciência, e Isabela definitivamente os havia ultrapassado. Vir até minha empresa para fazer escândalo? Isso não ia ficar assim.Peguei o celular e imediatamente liguei para a polícia. Meu "querido pai" ainda estava detido, e pensei que seria ótimo se os dois tivessem a chance de passar um tempo juntos.Assim que ouviu as palavras "polícia", Isabela ficou ainda mais descontrolada. Ela contornou minha mesa e veio para cima de mim, pegando outro monte de documentos para me atacar:— Você ainda tem coragem de chamar a polícia, sua vadia? Seu pai está preso por sua causa! A polícia disse que ele foi pego com uma prostituta e vai ficar detido por mais de dez dias! Você é venenosa, muito pior que sua mãe! Você destruiu nossa família, transformou tudo em um inferno! Por que você não pega uma doença terminal e morre logo? Assim vai fazer companhia para sua mãe no inferno! Deus é tão injusto... minha filha tão jovem... tão jovem e prestes a morrer...Ela gritava, histérica,
Fui ao hospital para fazer um check-up e, de propósito, pedi ao médico que exagerasse no curativo de um pequeno corte na minha cabeça. Saí de lá com um curativo enorme e um daqueles gorros brancos de malha médica. Quando cheguei à delegacia para dar meu depoimento, o policial já havia terminado de interrogar a Isabela.Com as gravações do meu escritório como prova, ficou claro quem estava certo e quem estava errado.No final, o policial concluiu que o comportamento da Isabela infringiu as normas de segurança pública. Ela foi condenada a dez dias de detenção administrativa, uma multa de dois mil reais e ainda teve que me pedir desculpas na minha frente.Quando voltei a encontrar Isabela, toda sua arrogância havia desaparecido. Ela me encarava com um olhar cheio de ódio, os dentes rangendo de raiva.— Vai pedir desculpas ou quer que a detenção aumente mais alguns dias? — O policial advertiu, ao perceber que ela não abria a boca.Ao ouvir que poderia ficar presa por mais tempo, Isabela im
Pensei comigo mesma: “por mais bonito que fosse, ele não poderia superar alguém que eu já conhecia.”Sorri e respondi com um áudio:— Você foi falar com ele? Ou pelo menos pediu o número de telefone?Bela respondeu:— Vou ser sincera, não tive coragem! Ele parecia tão educado e acessível, mas ao mesmo tempo tinha um ar tão inacessível... Sabe? Dá aquele medo de se aproximar.Dei uma risada abafada. Eu achava que só eu ficava intimidada assim na presença do Jean. Mas, aparentemente, existe um homem capaz de deixar até a Bela, que sempre foi cheia de atitude e personalidade, sem palavras.Ri ainda mais e perguntei:— E você não tirou uma foto?— Ah, nem me fala... Quando estava esperando o elevador, tentei tirar uma foto escondida, mas uma pessoa que estava com ele percebeu e veio até mim, super educada, pedindo que eu apagasse.Não acredito!Estava prestes a responder quando alguém bateu educadamente na porta do meu reservado. O gerente entrou, todo formal:— Srta. Kiara, seu convidado
Imaginando a Bela surtando do outro lado, senti vontade de rir, mas me segurei. Era difícil disfarçar. Na verdade, quando a notícia do leilão saiu, Bela já tinha me perguntado o que havia acontecido. Eu disse que havia "emprestado" os trezentos milhões para impressionar o Davi.Agora, pensando bem, nem que eu jurasse de pés juntos ela acreditaria nisso.O celular continuava vibrando, mas, com o Jean sentado na minha frente, seria muito deselegante continuar conversando pelo WhatsApp. Resolvi ignorar as mensagens da Bela e coloquei o celular de lado, ajustando minha postura para parecer mais profissional:— Sr. Jean, o cardápio de hoje foi sugerido pelo chef da casa. São pratos feitos com os ingredientes mais frescos, todos trazidos de fora. Está de acordo?Jean colocou a xícara de café sobre a mesa com a tranquilidade de quem tinha todo o tempo do mundo:— Claro, está ótimo.O silêncio se instalou. Eu estava tão nervosa que minhas bochechas começaram a esquentar. Não sabia o que dizer
— Não, eu estou bem. Só fico preocupada em que isso possa afetar sua reputação. — Comentei.— Não se preocupe. Minha consciência está tranquila.Ao ouvir isso, finalmente me senti aliviada.Nesse momento, o gerente bateu na porta e, em seguida, o chef do restaurante entrou empurrando um carrinho com uma bandeja. Ele mesmo trouxe até a nossa mesa uma porção recém-preparada de carne wagyu.Jean foi extremamente educado:— Você está gastando demais comigo.— Que nada! O fato de ter aceitado o convite já é uma honra para mim. Vale cada centavo. — Respondi com sinceridade.Depois de servir os pratos, o chef se despediu com uma leve reverência:— Sr. Jean, Srta. Kiara, aproveitem a refeição.Fiquei surpresa, mas esperei que o chef e o gerente saíssem antes de perguntar:— O chef daqui te conhece?Achei curioso, considerando que Bela nunca tinha sequer ouvido falar do Jean, mas o chef do restaurante parecia conhecê-lo bem.Jean, com calma, pegou os talheres, ajeitou o guardanapo no colo e res
— Você, uma pessoa sem realização nenhuma? — Minha voz saiu incrédula, quase alterada. — Você é tão incrível, bem-sucedido, dono de uma fortuna imensa... Se alguém como você se considera “sem realização”, então nós...Parei por um instante, pensando, e murmurei:— Só podemos ser formigas, então.— O que disse?— Nada... Só acho que você é exigente demais consigo mesmo!Jean respondeu com sinceridade:— As poucas conquistas que tenho se devem aos ombros dos meus pais e avós. Sem o apoio deles, na verdade, eu não seria nada.Fiquei impressionada mais uma vez. Um homem de uma família tão poderosa, com tantos méritos, e ainda assim tão humilde e consciente. Ele parecia ser perfeito.— Então, aos olhos da minha mãe, sou praticamente um fracasso. — Continuou ele, com calma.Eu balancei a cabeça repetidamente, discordando:— Você é modesto demais. Mas sabe de uma coisa? Concordo com a Sra. Auth: com genes tão incríveis, você deveria realmente casar e ter vários filhos. Seria um favor à humani
— Faz sentido! — Comentei, ainda rindo, enquanto erguia minha taça. — Vamos brindar aos nossos amores impossíveis.Eu havia dedicado tanto ao Davi, por tantos anos, e no final também não deu certo. Finalmente percebi que tinha algo em comum com Jean, esse homem aparentemente inatingível: ambos éramos rejeitados pelo amor.Jean ergueu sua taça e brindou comigo, mas, antes de levar o vinho aos lábios, ele parou e perguntou:— Você ainda ama o seu ex-marido?Tomei um pequeno gole de vinho, pensando antes de responder:— Não amo mais. Mas, depois de tantos anos, é difícil arrancá-lo completamente do meu coração. Preciso de tempo.— Entendo.— Além disso, ele não pode ser considerado meu ex-marido ainda. Não nos divorciamos. É complicado, e acho que não vamos resolver isso tão cedo. — Suspirei, já sentindo o peso da preocupação voltar.Amanhã seria nossa segunda tentativa de oficializar o divórcio, mas eu temia que ele não aparecesse de novo.Se isso acontecesse, eu não teria escolha a não
No segundo seguinte, porém, o olhar da Sra. Serra se voltou para mim. Com uma expressão nada amigável, ela disse:— Essa Srta. Kiara é amiga do Mestre Jean? Uma garota dessas, de família tão insignificante e sem muita educação, está a anos-luz da família Auth. Mestre Auth sempre foi conhecido por…— Sra. Serra, Kiara é minha namorada. E, como ela não tem nenhum vínculo com a senhora, não cabe a você dar lições a ela. — Jean interrompeu, mantendo o tom calmo, mas com firmeza suficiente para cortar as palavras dela.Levantei as sobrancelhas, surpresa. Nunca imaginei que ele seria tão direto, chegando a interromper uma pessoa mais velha.O rosto da Sra. Serra ficou imediatamente sombrio.— Jean, minha mãe só está tentando ajudar. Você viu o quão arrogante Kiara é? Ela chutou minha perna e me deixou com um hematoma! — Emilia tentou defender a mãe, levantando a saia para mostrar o machucado na perna.Eu estava prestes a explicar, mas Jean foi mais rápido:— Kiara não machucaria alguém sem m
Eu ainda estava na concessionária quando o celular tocou. Era Tatiana.— Kiara, a Sra. Isabela está aqui procurando por você.Respondi, sem me abalar:— Não se preocupe com ela. Diga que eu tenho compromissos hoje, não vou voltar para a empresa, e peça para ela ir embora.— Mas ela se recusa a sair. Está sentada no seu escritório. Posso pedir para os seguranças tirarem ela de lá?— Não precisa, deixe ela sentada lá.Sabia que, se Isabela causasse confusão, até os seguranças poderiam não dar conta da situação, e isso acabaria prejudicando a operação normal da empresa.— Tudo bem... — Tatiana suspirou e desligou.Não dei muita importância ao assunto. Isabela só sabia aparecer para pedir dinheiro, nada mais. E eu estava decidida: não daria um centavo. Se cedesse uma vez, seria um ciclo sem fim.Guardei o celular no bolso e me virei para voltar ao salão de exibição. Mas, ao levantar o olhar, dei de cara com uma figura familiar. Não, mais do que familiar: uma inimiga.Emilia vinha andando,
— Não precisa se apressar com a transferência da casa. Vamos falar sobre a situação da Tânia. Você disse no tribunal que, se ela te pedisse desculpas, aceitaria um acordo extrajudicial. Isso ainda vale? — Davi perguntou, direto.Eu franzi as sobrancelhas e o encarei:— Você está nesse estado, saindo no frio dessa noite, só para perguntar isso?— E por que não? Você bloqueou meu número e, mesmo depois de trocar o seu, continua ignorando minhas ligações. — Ele rebateu, com um tom de leve acusação e sarcasmo. — Parece até que atender minhas chamadas é uma sentença de morte para você.Fiquei surpresa. Agora que ele mencionou, lembrei que, de fato, tinha recebido duas ligações de números desconhecidos durante o dia e as rejeitei automaticamente.— Ainda vale? — Ele repetiu a pergunta, insistente.Eu respirei fundo. Para ser sincera, não queria que valesse. A atitude de Tânia no tribunal tinha me irritado profundamente.Mas, com Carlos prestes a sair da prisão e sem saber que tipo de problem
Eu fiquei sem palavras. Ainda bem que ele não fez isso, porque, se tivesse feito, eu nunca mais teria cara para encarar Lucas na empresa. A menos que eu trocasse de gerente imediatamente.Pensando nisso, murmurei arrependida:— Se eu soubesse, nem teria te contado. Você não ia me encontrar por acaso, e nem sequer saberia...— O que você disse?— Eu disse que finalmente descobri um defeito seu: ciumento e infantil! — Virei-me para ele, articulando cada palavra de propósito, só para provocá-lo.Mas, em vez de se irritar, ele riu e respondeu com naturalidade:— Tenho muitos defeitos. Com o tempo, você vai descobrindo todos.— Então, por que você não me conta logo? Assim, eu evito te irritar.— Prefiro não.Nossos comentários eram tão infantis que, no final, nem nós mesmos conseguimos levar a conversa a sério.— Chega disso. Vou te levar para casa. Amanhã de manhã, vamos direto ver o carro, e depois te deixo no trabalho. — Jean mudou de assunto, enquanto já organizava minha agenda do dia s
Mas era um sorriso de felicidade.— Tudo bem, se você insiste em vir, não tem como eu te impedir. — Respondi, resignada. Depois de desligar o telefone, voltei para a mesa. Lucas já tinha começado a comer. — Come logo, os ingredientes aqui são bem frescos, está uma delícia. — Assim que me sentei, ele colocou um taco com pimenta no meu prato. Eu rapidamente recusei: — Obrigada, mas pode comer você. Eu me sirvo sozinha. Ele apenas sorriu, como se não tivesse escutado o que eu disse, e continuou colocando comida no meu prato. Naquele momento, lembrei das palavras de Tatiana, que havia comentado que Lucas parecia ter interesse em mim. De repente, achei que a ideia de Jean vir me buscar fazia muito sentido. Pelo menos ficaria claro para Lucas que eu já tinha namorado e que ele não deveria investir mais energia nisso. Terminamos o jantar por volta das nove da noite. Eu estava pensando se Jean já teria terminado seus compromissos, quando o telefone tocou. Era ele, dizendo que já
— Só consegui fazer um reparo provisório. Amanhã você deve levar o carro na concessionária para trocarem a fiação. Assim, evita que o problema volte e te deixe na mão de novo. — Lucas explicou.Eu fiquei muito agradecida e agradeci várias vezes. Como as mãos dele estavam sujas, fui até o carro e peguei uma garrafa d’água para ajudá-lo a lavar as mãos.Depois que Lucas terminou de lavar e secar as mãos, ele olhou para mim e comentou:— Está frio hoje. Me fez lembrar da última vez que a Srta. Kiara me convidou para comer comida mexicana.O recado era claro. Ele queria repetir o convite. Não tive como ignorar e respondi com um sorriso:— Então, que tal eu convidar o Sr. Lucas para jantar comida mexicana hoje? Assim aproveito para agradecer a ajuda com o carro.Se não fosse por Lucas, eu provavelmente teria que esperar no frio por uma ou duas horas até o pessoal da concessionária chegar para fazer o reparo.Lucas riu, satisfeito:— Combinado. E não me ache cara de pau, viu, Srta. Kiara?Co
Eu sabia que minha tia era extremamente supersticiosa. Ela vivia consultando diferentes médiuns e curandeiros, então usei essa frase de propósito, só para assustá-la. Afinal, eu não acreditava nessa bobagem, e não tinha medo de que ela usasse isso contra mim. Como esperado, assim que falei, Camila ficou tão irritada que começou a gaguejar: — Kiara, você... você realmente é... — Ela respirou fundo antes de continuar. — Não é à toa que a Isabela diz que você não tem laços familiares e tem um coração tão cruel quanto o de uma serpente. — Hum, então ótimo. Já que vocês têm corações tão bondosos, cuidem dele bem direitinho. Considerem isso como uma forma de acumular boas ações. Eu segui o raciocínio dela sem me importar, jogando suas palavras de volta. Isso a deixou sem reação por completo. Desliguei o telefone. O advogado, que ainda estava no meu escritório, acabou ouvindo parte da conversa, e, mesmo sendo um estranho, parecia cheio de pena de mim. — Srta. Kiara, parece que ma
— Ouvi dizer que a família dele é muito bem de vida. Eles não se importam com o fato de você já ter sido casada? — Camila perguntou, em tom provocador.Eu não consegui segurar e soltei uma risada seca antes de responder:— E daí que eu fui casada? Não matei ninguém, nem cometi nenhum crime.Camila suspirou com impaciência:— Você é impossível, Kiara. Eu só estava tentando mostrar preocupação, e você responde assim, sem educação.— Obrigada pela sua preocupação, então. Mas estou ocupada, se não for nada urgente, vou desligar.Eu já estava prestes a encerrar a ligação quando ela, apressadamente, me chamou:— Kiara, espera! Ainda preciso falar com você!Suspirei, sentindo que já sabia onde aquilo iria parar, mas voltei o telefone ao ouvido.— Fala logo.— Então… você sabe que seu pai está doente, não sabe? A situação dele é bem grave.Ah, claro. Depois de todo aquele rodeio, ela finalmente chegou ao ponto. O verdadeiro assunto era Carlos.— Que doença? Ele vai morrer quando? — Perguntei,
Eu me encostei no peito dele, sentindo as vibrações de sua respiração, enquanto um profundo sentimento de culpa tomava conta de mim. Pensar que ele era tão bom comigo, enquanto eu ainda insistia em manter uma distância, fazia com que eu me sentisse ainda pior. Mas, por mais que eu quisesse, simplesmente não conseguia abrir meu coração para ele por completo.— Jean… — Chamei com a voz rouca, encostando no peito dele.— Hum? — Ele abaixou a cabeça, e sua respiração quente roçou meu ouvido.Eu o empurrei levemente, criando um pequeno espaço entre nós. Respirei fundo para controlar as emoções e, com uma insegurança evidente, perguntei:— Você realmente não está nem um pouco bravo comigo?Ele ergueu a mão e, com delicadeza, enxugou as lágrimas que haviam escapado pelos meus olhos. Com uma calma impressionante, ele respondeu:— Você já está passando por algo suficientemente difícil e doloroso. Se eu ainda ficasse bravo, só faria você se sentir pior.Eu o encarei, incapaz de conter a profunda