Eu não ousava imaginar como essa situação se desenrolaria, nem os rumores que surgiriam. Não sabia se isso seria uma bênção ou uma maldição para mim. Mas, naquele momento, eu havia recuperado toda a minha dignidade e dado um tapa na cara de Davi e Clara. Por Jean, nesse instante, eu até morreria, sem arrependimentos.— Kiara, quando você conheceu o Sr. Jean? — Clara já não conseguia mais manter ares de superioridade e, com os olhos arregalados, perguntou diretamente o que martelava em sua mente.Segurei a caixa de joias com cuidado, olhei para ela e dei um sorriso provocador:— O que isso te interessa?— Você...Sem paciência para prolongar aquela cena, já tendo conseguido o que queria, decidi ir embora.Clara, que claramente havia perdido a disputa, virou-se para Davi e começou a despejar sua frustração:— Vamos embora! Ficar aqui pra quê? Não tem mais nada que eu queira!Davi, por sua vez, parecia atordoado, como se tivesse levado um golpe que ainda não conseguia processar.Sem me im
Davi me lançou um olhar de puro ódio antes de sair correndo com Clara nos braços, sem dizer uma única palavra.Fiquei parada no lugar, confusa. O que significava aquele olhar? Ele parecia me odiar profundamente. Será que ele ainda me culpava por eu não ter deixado ele gastar os duzentos milhões?Quanto a Clara, nunca soube o que aconteceu com ela depois disso.Com o Bracelete de Jade da minha mãe finalmente em mãos, voltei para Cidade Saurimo com o coração leve. No mesmo dia, fui ao cemitério visitá-la. Queria contar a ela a boa notícia.Já era noite quando, sozinha em casa, finalmente pude me acalmar. Olhei para o bracelete e, de repente, uma preocupação começou a me consumir. Como eu poderia retribuir uma dívida tão imensa quanto os trezentos milhões que Jean havia gasto?Decidi que no dia seguinte procuraria Jean para conversar. Não importava o que fosse preciso, eu tinha que pagar essa dívida. Do contrário, jamais teria paz. Mas, para minha surpresa, antes mesmo que eu pudesse ir a
Na verdade, para ele, gastar alguns milhões provavelmente não passava de um simples gesto.Eu segurava o celular, hesitando. Não sabia se deveria ou não entrar em contato para agradecer. Depois de pensar por alguns minutos, decidi que, por uma questão de princípios, precisava expressar minha gratidão.Aceitar a ajuda de alguém e não agradecer seria falta de educação. Se ele aceitaria ou não meu agradecimento, isso já era outra história. Mas eu, pelo menos, precisava demonstrar respeito.Então, peguei o cartão de visita que Leonardo havia me dado naquele dia, quando saímos da fábrica, e liguei.— Srta. Kiara, boa tarde. — A voz de Leonardo atendeu do outro lado.Na hora, entendi que aquele número devia ser da equipe de trabalho de Jean. Alguém como ele, com certeza, não sairia distribuindo seu contato pessoal para qualquer um.— Sr. Leonardo, boa tarde. Ontem, o Sr. Jean me ajudou muito, e eu gostaria de agradecê-lo pessoalmente. Seria possível? — Expliquei logo de cara o motivo da liga
Como podia existir alguém tão incrível assim? Não tinha nenhum segundo interesse, nenhum pensamento impróprio. Só achava que ele era uma pessoa excepcional.Apesar de ser alguém tão ocupado e com uma posição tão alta, Jean não só aceitou meu convite para jantar, como o fez de forma educada, sem sequer demonstrar desdém.Mas aí veio outra preocupação: onde levar alguém como ele para jantar? Com a vida que leva, tudo ao seu redor deve ser impecável, desde o que come até onde se hospeda. Um restaurante sofisticado qualquer não estaria à altura. Por sorte, minha melhor amiga, Bela, tem uma família que administra uma rede de restaurantes de luxo.Peguei o celular e mandei uma mensagem para ela no WhatsApp:[Bela, preciso de ajuda. Quero levar alguém muito importante para jantar amanhã, como forma de agradecimento. Me recomenda algum restaurante com classe?]Ela respondeu na mesma hora:[Quando?][Amanhã à noite.][Então vá ao Bom Sabor. Vou pedir para reservarem uma sala privativa de nível
Havia limites para a paciência, e Isabela definitivamente os havia ultrapassado. Vir até minha empresa para fazer escândalo? Isso não ia ficar assim.Peguei o celular e imediatamente liguei para a polícia. Meu "querido pai" ainda estava detido, e pensei que seria ótimo se os dois tivessem a chance de passar um tempo juntos.Assim que ouviu as palavras "polícia", Isabela ficou ainda mais descontrolada. Ela contornou minha mesa e veio para cima de mim, pegando outro monte de documentos para me atacar:— Você ainda tem coragem de chamar a polícia, sua vadia? Seu pai está preso por sua causa! A polícia disse que ele foi pego com uma prostituta e vai ficar detido por mais de dez dias! Você é venenosa, muito pior que sua mãe! Você destruiu nossa família, transformou tudo em um inferno! Por que você não pega uma doença terminal e morre logo? Assim vai fazer companhia para sua mãe no inferno! Deus é tão injusto... minha filha tão jovem... tão jovem e prestes a morrer...Ela gritava, histérica,
Fui ao hospital para fazer um check-up e, de propósito, pedi ao médico que exagerasse no curativo de um pequeno corte na minha cabeça. Saí de lá com um curativo enorme e um daqueles gorros brancos de malha médica. Quando cheguei à delegacia para dar meu depoimento, o policial já havia terminado de interrogar a Isabela.Com as gravações do meu escritório como prova, ficou claro quem estava certo e quem estava errado.No final, o policial concluiu que o comportamento da Isabela infringiu as normas de segurança pública. Ela foi condenada a dez dias de detenção administrativa, uma multa de dois mil reais e ainda teve que me pedir desculpas na minha frente.Quando voltei a encontrar Isabela, toda sua arrogância havia desaparecido. Ela me encarava com um olhar cheio de ódio, os dentes rangendo de raiva.— Vai pedir desculpas ou quer que a detenção aumente mais alguns dias? — O policial advertiu, ao perceber que ela não abria a boca.Ao ouvir que poderia ficar presa por mais tempo, Isabela im
Pensei comigo mesma: “por mais bonito que fosse, ele não poderia superar alguém que eu já conhecia.”Sorri e respondi com um áudio:— Você foi falar com ele? Ou pelo menos pediu o número de telefone?Bela respondeu:— Vou ser sincera, não tive coragem! Ele parecia tão educado e acessível, mas ao mesmo tempo tinha um ar tão inacessível... Sabe? Dá aquele medo de se aproximar.Dei uma risada abafada. Eu achava que só eu ficava intimidada assim na presença do Jean. Mas, aparentemente, existe um homem capaz de deixar até a Bela, que sempre foi cheia de atitude e personalidade, sem palavras.Ri ainda mais e perguntei:— E você não tirou uma foto?— Ah, nem me fala... Quando estava esperando o elevador, tentei tirar uma foto escondida, mas uma pessoa que estava com ele percebeu e veio até mim, super educada, pedindo que eu apagasse.Não acredito!Estava prestes a responder quando alguém bateu educadamente na porta do meu reservado. O gerente entrou, todo formal:— Srta. Kiara, seu convidado
Imaginando a Bela surtando do outro lado, senti vontade de rir, mas me segurei. Era difícil disfarçar. Na verdade, quando a notícia do leilão saiu, Bela já tinha me perguntado o que havia acontecido. Eu disse que havia "emprestado" os trezentos milhões para impressionar o Davi.Agora, pensando bem, nem que eu jurasse de pés juntos ela acreditaria nisso.O celular continuava vibrando, mas, com o Jean sentado na minha frente, seria muito deselegante continuar conversando pelo WhatsApp. Resolvi ignorar as mensagens da Bela e coloquei o celular de lado, ajustando minha postura para parecer mais profissional:— Sr. Jean, o cardápio de hoje foi sugerido pelo chef da casa. São pratos feitos com os ingredientes mais frescos, todos trazidos de fora. Está de acordo?Jean colocou a xícara de café sobre a mesa com a tranquilidade de quem tinha todo o tempo do mundo:— Claro, está ótimo.O silêncio se instalou. Eu estava tão nervosa que minhas bochechas começaram a esquentar. Não sabia o que dizer
Por educação, mesmo não suportando essa família, mantive um sorriso cordial e cumprimentei:— Boa noite, Sra. Eduarda. — Kiara, você está mesmo com o Sr. Jean? Ele sabe que você já foi casada? Que você é... uma mulher divorciada? Isso não é algo que... — Disse Eduarda. — Mãe, divorciada nada! Ela nem terminou o casamento com o meu irmão ainda. Se está com o Sr. Jean agora, então é traição! — Tânia interrompeu, cruzando os braços e franzindo a testa, com uma expressão de desprezo e indignação. Depois, murmurou, como se reclamasse sozinha. — O que deu no Sr. Jean para se interessar por ela? Fora ser bonita, não sei o que mais ela tem de especial. Eu nem precisei abrir a boca e já estava sendo acusada de traição. Era quase cômico, se não fosse tão irritante.— Tânia, o cérebro é uma coisa maravilhosa, pena que você não tem. Quer que a gente pergunte para qualquer pessoa aqui quem traiu quem no meu casamento com seu irmão? — Falei, sem perder o tom calmo, mas com um sorriso cortante.
Mas, na frente de Pablo, não era o momento certo para perguntar nada. Eu só podia esperar por outra oportunidade. Percebendo o meu evidente constrangimento, Jean, sempre atento, tratou de me tirar daquela situação: — Vamos? Os convidados já estão quase todos aqui, e a festa está prestes a começar. Segui Jean até o salão de festas e, mais uma vez, fiquei impressionada com o que vi. Dentro do Condomínio Florensa, havia um prédio independente de três andares, com um grande salão de eventos, salas de reunião multifuncionais e até um clube privativo. A construção ficava separada da mansão principal, garantindo total privacidade aos anfitriões. A decoração era sofisticada e discreta, mas de extremo bom gosto. Cada peça parecia um item de coleção, digna de um museu de arte. O salão estava lotado, um verdadeiro mar de gente. Os convidados conversavam animados, trocando risadas e comentários em tons elegantes. Bastou um olhar rápido para reconhecer algumas figuras que eu já havia vi
— E como você pretende explicar?— Vou dizer que não tem nada entre nós, que eu não dormi com você e que você também não dormiu comigo.— Uma moça ir explicar algo assim? Isso só vai me fazer parecer ainda mais… sem moral. — Isso… — Eu estava à beira de um colapso, coberta de vergonha. — Então o que a gente faz? Enquanto tentávamos encontrar uma solução, uma voz inesperada nos interrompeu: — Jean, disseram que você saiu pessoalmente para buscar um convidado especial. Qual foi a herdeira tão importante que mereceu esse esforço todo? Olhei na direção da voz e vi um homem alto e imponente se aproximando, com uma postura confiante e um sorriso fácil no rosto. Jean nem precisou se virar para saber quem era. Sua expressão ficou ainda mais sutil, quase resignada. — Falando no diabo… — Murmurou ele. Meus olhos se arregalaram. O quê? Esse é o Pablo? Eu não o conhecia pessoalmente. Afinal, a família Braga, sendo tão prestigiada quanto a família Auth, estava em um patamar completame
— Não, não, de jeito nenhum! — Balancei as mãos no ar, tentando encerrar o assunto enquanto apressava os passos. Mas, mesmo assim, não resisti e olhei de canto para Jean algumas vezes. Por dentro, eu só conseguia rezar para que aquela Bentley naquela noite não tivesse sido dirigida por Pablo. Pena que minhas preces não foram atendidas. Jean notou minha expressão estranha, hesitante, e após uma breve pausa perguntou: — Você viu o Pablo recentemente? Quando ele disse isso, tudo ficou claro para mim. Meu único desejo era desaparecer naquele instante e nunca mais ser encontrada. — Então... o Pablo mencionou alguma coisa para você? — Perguntei, já aceitando meu destino, decidindo jogar limpo. Jean apertou os lábios, e por um segundo sua expressão impecável e aristocrática foi tomada por algo que parecia... uma mistura de constrangimento e diversão. — Você está se referindo àquela discussão com o Davi... quando você disse que tinha dormido comigo? E não apenas uma vez, mas vári
Dei algumas voltas na frente do espelho, analisando cada detalhe, e fiquei satisfeita com o que vi. Foi quando o som do meu celular quebrou o silêncio. Olhei para a tela e vi o nome de Jean. — Alô, Sr. Jean. — Kiara, em cerca de dez minutos o motorista estará na frente do seu prédio. — Tudo bem, estou pronta. Vou descer assim que ele chegar. — Respondi animada, mas logo acrescentei, um pouco constrangida. — Desculpe pelo incômodo, você realmente não precisava se preocupar em mandar alguém para me buscar. — Não há problema. Viajar à noite de carro pode ser perigoso. Se eu a convidei, é minha responsabilidade garantir a sua segurança. Ele era sempre assim: atencioso, impecável, sem deixar nenhum detalhe passar. Depois que desliguei, guardei o celular na bolsa e adicionei um último retoque: coloquei dentro o batom e o pó compacto, só para garantir. Fiz uma última checagem no espelho e saí de casa. O caminho até a entrada do prédio foi acompanhado por um misto de excitação e an
Eu finalmente entendi. Não era à toa que Davi parecia tão abatido e com o rosto pálido. — Kiara, por favor, ajude a Clara. Tudo o que aconteceu no passado foi culpa nossa. Se você quiser, eu peço desculpas. Está bem assim? Só te peço que tenha piedade e vá até o hospital para ajudá-la... — Disse Isabela, quase implorando. De repente, ela avançou e agarrou minha mão. O movimento brusco assustou Higger, que deu um pulo e se escondeu atrás de mim. Franzi ainda mais a testa, olhando para Isabela enquanto sentia um sorriso frio surgir dentro de mim.— Que surpresa... Nunca imaginei que ouviria um pedido de desculpas vindo de você. — Não consegui conter o tom sarcástico. — Eu estou me desculpando, Kiara. Eu faço o que você quiser, o que for necessário, mas por favor, salve a Clara. Ela é sua irmã, afinal de contas. É uma vida humana! — As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Isabela, e, pela primeira vez, ela parecia sinceramente desesperada. Como mãe, ela estava sendo exemp
Eu não esperava que Jean soubesse disso. A situação ficou ainda mais constrangedora, especialmente ao lembrar que eu havia mentido para Davi, dizendo que tinha dormido com Jean... várias vezes. A vergonha me fez gaguejar antes de conseguir falar: — Então... ele não concordou com o acordo de divórcio, por isso eu precisei entrar com uma ação no tribunal. A audiência está marcada para o dia 6 do próximo mês. — Evitei olhar para Jean diretamente, lançando um olhar rápido e desviando logo em seguida, enquanto explicava. — Dia 6 do próximo mês? Ainda faltam mais de duas semanas. — Sim, foi a data que o tribunal determinou, não há muito o que fazer. — Entendi. Não se preocupe. — Jean disse num tom reconfortante, mas logo acrescentou, após uma breve pausa. — Mas, normalmente, na primeira audiência de divórcio, o tribunal tenta uma conciliação. Se não der certo, só depois de seis meses você pode entrar com um novo pedido. E aí, geralmente, o divórcio é concedido. — Sim, meu advogad
Eu não conseguia encontrar palavras para descrever o que sentia naquele momento. A vergonha me consumia de tal forma que eu não conseguia sequer olhar para ele. Era como se meu orgulho tivesse sido completamente esmagado.Jean, percebendo meu desconforto e o quanto eu queria desaparecer dali, foi extremamente gentil e disse, com um tom tranquilizador:— De vez em quando, é bom se divertir com os amigos, ajuda a aliviar o estresse e deixar os problemas de lado. Além disso, ninguém além de mim viu o que aconteceu naquela noite. Pode ficar tranquila, eu guardo esse segredo.A última frase dele veio carregada de um humor leve, mas seus olhos brilhavam com algo mais... uma leve insinuação, talvez? Meu rosto ficou paralisado em um misto de surpresa e constrangimento. Segundos depois, senti o calor subindo para minhas bochechas, que pareciam estar em chamas. Meu coração começou a bater rápido, e minha cabeça, como sempre, decidiu imaginar coisas.O meu sexto sentido me dizia que havia algo d
O quê? Meu rosto ainda estava... se partindo. Eu mal conseguia processar a situação. Vomitar era a coisa mais nojenta do mundo, o cheiro era insuportável. E pensar que um herdeiro de uma família tão rica e poderosa cuidou disso para mim, limpando algo tão repugnante? Não era de se estranhar que, quando acordei no dia seguinte, o lixo já estivesse impecavelmente limpo. Ele mesmo deve ter tratado de tudo naquela noite.— Quando cheguei em casa, percebi isso, mas... não tive coragem de te ligar. Hoje trouxe para você pessoalmente. — Jean continuou falando, aparentemente alheio ao meu evidente desconforto.Essas palavras cutucaram uma parte sensível da minha mente, despertando minha curiosidade. Olhei para ele, ainda confusa, e perguntei, hesitante:— Você... não teve coragem de me ligar?Jean deu um sorriso discreto, e seus olhos brilhavam como se guardassem um universo inteiro. Por um momento, ele parecia até um pouco envergonhado:— Sim. Tive medo de que você, ao ver o relógio, pensasse