Ele ainda se lembrava disso? Será que estava com ciúmes?Jean percebeu minha expressão e, como se lesse minha mente, sorriu de forma ligeiramente provocadora, com aquele ar irresistivelmente charmoso:— Claro que lembro. Você não parava de elogiar aquele colega.Meu rosto ficou vermelho na hora, e eu desviei o olhar, sem saber como responder.Ele não insistiu na provocação. Olhou de relance para o meu carro e perguntou:— Vamos no meu ou no seu? Tanto faz para mim.Foi só então que lembrei do problema com meu carro. Fiquei um pouco envergonhada e me apressei em explicar:— Então… meu carro…Olhei para ele com um sorriso sem graça e depois me virei para olhar meu veículo:— Está com problema. Não liga de jeito nenhum. Eu ia ligar para a assistência, mas aí você me ligou.Jean arqueou levemente as sobrancelhas, surpreso, mas logo sorriu:— Que coincidência, hein? Parece que cheguei na hora certa.Não respondi, mas, no fundo, tive que concordar. Ele acenou com a mão para o motorista do Au
Assim que guardei o celular, parei por um instante, completamente surpresa com o que Jean tinha acabado de dizer. O que ele quis dizer com aquilo? Será que ele estava sugerindo algo mais sério? Era como se ele estivesse claramente pedindo uma definição.Olhei para ele, observando aquele perfil impecável e charmoso. Meu coração estava disparado, batendo tão forte que eu sentia no peito. Reuni toda a coragem que tinha e perguntei:— Então… quer dizer que você está pronto para dar o centésimo passo agora?Ele sorriu ainda mais, com aquele brilho provocador nos olhos. Olhou para mim pelo canto do olho e respondeu:— E você? Quantos passos quer que eu dê agora?Minha garganta secou. Lambi os lábios, engoli em seco e finalmente falei:— Você pode parar no passo noventa e nove? E deixar o último… para que eu o dê?Assim que terminei a frase, meu coração não estava apenas acelerado. Minha mente inteira parecia gritar, como se eu tivesse acabado de fazer algo incrivelmente ousado.Jean pareceu
Eu nem tive tempo de desviar quando, do outro lado da ligação, ouvi o grito animado de Amélia:— Ah! Eu vi a Kiara! Vocês dois estão num encontro? Hahaha, peguei vocês no flagrante!Fiquei completamente sem reação, entre rir e chorar…Jean, vendo que eu já tinha sido "exposta", não hesitou. Ele virou a câmera do celular diretamente para mim. Sem ter para onde fugir, forcei um sorriso e acenei para a tela:— Oi, Amélia… Você sabia que está bombando no mundo todo? Aquele show de música na rua foi incrível!Rapidamente, tentei mudar o assunto, esperando desviar a atenção dela. Mas Amélia não caiu na minha tentativa. Ignorando completamente meu comentário, ela cruzou os braços, fingindo estar séria:— Vocês aproveitaram minha ausência para avançar na relação, hein! Vamos lá, conta tudo! Como meu irmão conseguiu te conquistar?Senti o rosto queimar de vergonha, e as palavras pareciam fugir da minha boca. Completamente sem jeito, tentei me explicar:— Não é nada disso que você está pensando.
— Obrigada. — Agradeci, olhando para a salada que ele tinha colocado no meu prato. Depois, aproveitei o que ele tinha acabado de dizer e, com um tom brincalhão, perguntei. — Então posso perguntar qualquer coisa?— Claro. Segurei o riso e, sem pensar muito, soltei. — Então, quanto tem na sua conta bancária? Qual é a senha? Quantos imóveis e carros você tem? Já teve quantas namoradas? Alguém já gostou de você? Você já teve alguma paixão secreta? E sua primeira namorada, ou melhor, sua primeira paixão? Quero saber tudo, detalhe por detalhe!Antes mesmo de terminar, o sorriso no canto dos lábios dele já tinha se alargado. Quando terminei, ele começou a rir de verdade, balançando a cabeça como se achasse graça da minha curiosidade. Ele largou os talheres e cruzou os braços, me olhando com uma expressão descontraída, como se estivesse se preparando para responder ponto por ponto.— Certo, vamos lá. Deixa eu organizar suas perguntas para responder uma a uma. — Ele começou, com um tom de voz c
Eu mantive a cabeça abaixada de propósito, tentando evitar o olhar dele. Mas Jean, como se adivinhasse minha intenção, também abaixou a cabeça para me encarar, de um jeito que eu não tinha como escapar.Sem escolha, forcei uma expressão de tranquilidade e continuei fingindo ser desentendida:— Eu só estava brincando. Quem mandou você responder tão sério?— Eu não considerei isso uma brincadeira. Então agora é sua vez de se apresentar. — Jean continuava me olhando com aquele olhar paciente e gentil, mas as palavras que saíram da sua boca me pegaram completamente de surpresa.Fiquei estática, sem acreditar no que tinha acabado de ouvir.— Me apresentar? Como assim?— Hm… — Ele fingiu pensar por um momento e depois disse, com a maior seriedade: — Esqueça rendimentos e patrimônio. Isso é tudo seu e não me interessa. Só quero saber sobre sua vida amorosa. Por exemplo, o que você viu no Davi para gostar dele? E, agora, você ainda gosta dele? Além disso, além de mim, quem mais está te persegu
Vendo meu olhar atônito, Jean soltou um leve sorriso, colocou os talheres de lado e apoiou os braços na mesa.— Então… só agora percebeu que você não o amava de verdade?— Eu… não sei se é isso. Acho que eu tinha sentimentos por ele, sim… — Tentei, de maneira inútil, provar que eu realmente levei a sério aquele relacionamento, a minha primeira paixão.Jean balançou a cabeça, interrompendo minha tentativa, e soltou uma frase que me pegou completamente desprevenida:— Não acredito que um casal que ficou junto por mais de seis anos, se realmente se amasse, nunca tivesse uma vida sexual.Meus olhos se arregalaram, e eu o encarei, chocada. Logo em seguida, meu rosto ficou vermelho como um tomate, e eu olhei ao redor, desesperada, com medo de que alguém tivesse ouvido aquilo. Quando consegui me recompor um pouco, abaixei a voz e perguntei, quase gritando:— Co-Como você sabe disso?Jean sorriu daquele jeito malicioso e provocante, que parecia desafiar minha sanidade.— Naquela noite do seu a
As palavras de Jean ecoaram na minha mente durante toda a noite. Eu sequer me lembrava direito de como ele me levou de volta para casa ou do que dissemos ao nos despedir. Toda a minha atenção estava presa ao impacto e à vergonha causados pelo que ele havia dito. Minha mente parecia ter parado de funcionar.Depois daquela conversa direta, a maneira como Jean expressava seus sentimentos se tornou ainda mais clara. Sempre que tinha tempo, ele me mandava mensagens no Line ou me ligava. Ele perguntava se eu já tinha comido, como estava minha avó e se o estado de saúde dela tinha melhorado.De vez em quando, ele também falava sobre sua rotina de trabalho, mencionando algum contrato fechado ou um progresso importante em seus projetos.Quando meu carro ficou pronto, fui até a 4S para buscá-lo. Achei que seria educado ligar para Jean, afinal, foi o motorista dele quem levou o carro para o conserto naquela noite.— Que bom que ficou pronto. — Disse ele, com sua voz calma e gentil. — O pessoal da
Jean continuava firme em suas decisões, e eu só podia responder com silêncio.Nesses últimos dias, eu e tia Julia nos revezamos para cuidar da minha avó no hospital. Graças à ajuda de Jean, que conseguiu os melhores médicos e o tratamento mais adequado, a saúde da minha avó melhorou muito.Uma semana depois, ela já estava bem mais forte e com energia suficiente para receber alta. Naquela manhã, fui ao hospital para cuidar da papelada da alta médica e, junto com tia Julia, levei minha avó de volta para casa.No caminho, minha avó comentou casualmente sobre como um amigo havia ajudado a encontrar os médicos certos e perguntou se eu já tinha agradecido devidamente. Olhei pelo retrovisor e rapidamente confirmei:— Pode ficar tranquila, avó. Já o convidei para jantar como agradecimento.Tia Julia, que estava sentada ao meu lado, me observou pelo retrovisor e perguntou diretamente:— Essa pessoa que ajudou… foi o Sr. Jean?Eu hesitei por um momento, olhando para ela de relance. Minha primeir
No segundo seguinte, porém, o olhar da Sra. Serra se voltou para mim. Com uma expressão nada amigável, ela disse:— Essa Srta. Kiara é amiga do Mestre Jean? Uma garota dessas, de família tão insignificante e sem muita educação, está a anos-luz da família Auth. Mestre Auth sempre foi conhecido por…— Sra. Serra, Kiara é minha namorada. E, como ela não tem nenhum vínculo com a senhora, não cabe a você dar lições a ela. — Jean interrompeu, mantendo o tom calmo, mas com firmeza suficiente para cortar as palavras dela.Levantei as sobrancelhas, surpresa. Nunca imaginei que ele seria tão direto, chegando a interromper uma pessoa mais velha.O rosto da Sra. Serra ficou imediatamente sombrio.— Jean, minha mãe só está tentando ajudar. Você viu o quão arrogante Kiara é? Ela chutou minha perna e me deixou com um hematoma! — Emilia tentou defender a mãe, levantando a saia para mostrar o machucado na perna.Eu estava prestes a explicar, mas Jean foi mais rápido:— Kiara não machucaria alguém sem m
Eu ainda estava na concessionária quando o celular tocou. Era Tatiana.— Kiara, a Sra. Isabela está aqui procurando por você.Respondi, sem me abalar:— Não se preocupe com ela. Diga que eu tenho compromissos hoje, não vou voltar para a empresa, e peça para ela ir embora.— Mas ela se recusa a sair. Está sentada no seu escritório. Posso pedir para os seguranças tirarem ela de lá?— Não precisa, deixe ela sentada lá.Sabia que, se Isabela causasse confusão, até os seguranças poderiam não dar conta da situação, e isso acabaria prejudicando a operação normal da empresa.— Tudo bem... — Tatiana suspirou e desligou.Não dei muita importância ao assunto. Isabela só sabia aparecer para pedir dinheiro, nada mais. E eu estava decidida: não daria um centavo. Se cedesse uma vez, seria um ciclo sem fim.Guardei o celular no bolso e me virei para voltar ao salão de exibição. Mas, ao levantar o olhar, dei de cara com uma figura familiar. Não, mais do que familiar: uma inimiga.Emilia vinha andando,
— Não precisa se apressar com a transferência da casa. Vamos falar sobre a situação da Tânia. Você disse no tribunal que, se ela te pedisse desculpas, aceitaria um acordo extrajudicial. Isso ainda vale? — Davi perguntou, direto.Eu franzi as sobrancelhas e o encarei:— Você está nesse estado, saindo no frio dessa noite, só para perguntar isso?— E por que não? Você bloqueou meu número e, mesmo depois de trocar o seu, continua ignorando minhas ligações. — Ele rebateu, com um tom de leve acusação e sarcasmo. — Parece até que atender minhas chamadas é uma sentença de morte para você.Fiquei surpresa. Agora que ele mencionou, lembrei que, de fato, tinha recebido duas ligações de números desconhecidos durante o dia e as rejeitei automaticamente.— Ainda vale? — Ele repetiu a pergunta, insistente.Eu respirei fundo. Para ser sincera, não queria que valesse. A atitude de Tânia no tribunal tinha me irritado profundamente.Mas, com Carlos prestes a sair da prisão e sem saber que tipo de problem
Eu fiquei sem palavras. Ainda bem que ele não fez isso, porque, se tivesse feito, eu nunca mais teria cara para encarar Lucas na empresa. A menos que eu trocasse de gerente imediatamente.Pensando nisso, murmurei arrependida:— Se eu soubesse, nem teria te contado. Você não ia me encontrar por acaso, e nem sequer saberia...— O que você disse?— Eu disse que finalmente descobri um defeito seu: ciumento e infantil! — Virei-me para ele, articulando cada palavra de propósito, só para provocá-lo.Mas, em vez de se irritar, ele riu e respondeu com naturalidade:— Tenho muitos defeitos. Com o tempo, você vai descobrindo todos.— Então, por que você não me conta logo? Assim, eu evito te irritar.— Prefiro não.Nossos comentários eram tão infantis que, no final, nem nós mesmos conseguimos levar a conversa a sério.— Chega disso. Vou te levar para casa. Amanhã de manhã, vamos direto ver o carro, e depois te deixo no trabalho. — Jean mudou de assunto, enquanto já organizava minha agenda do dia s
Mas era um sorriso de felicidade.— Tudo bem, se você insiste em vir, não tem como eu te impedir. — Respondi, resignada. Depois de desligar o telefone, voltei para a mesa. Lucas já tinha começado a comer. — Come logo, os ingredientes aqui são bem frescos, está uma delícia. — Assim que me sentei, ele colocou um taco com pimenta no meu prato. Eu rapidamente recusei: — Obrigada, mas pode comer você. Eu me sirvo sozinha. Ele apenas sorriu, como se não tivesse escutado o que eu disse, e continuou colocando comida no meu prato. Naquele momento, lembrei das palavras de Tatiana, que havia comentado que Lucas parecia ter interesse em mim. De repente, achei que a ideia de Jean vir me buscar fazia muito sentido. Pelo menos ficaria claro para Lucas que eu já tinha namorado e que ele não deveria investir mais energia nisso. Terminamos o jantar por volta das nove da noite. Eu estava pensando se Jean já teria terminado seus compromissos, quando o telefone tocou. Era ele, dizendo que já
— Só consegui fazer um reparo provisório. Amanhã você deve levar o carro na concessionária para trocarem a fiação. Assim, evita que o problema volte e te deixe na mão de novo. — Lucas explicou.Eu fiquei muito agradecida e agradeci várias vezes. Como as mãos dele estavam sujas, fui até o carro e peguei uma garrafa d’água para ajudá-lo a lavar as mãos.Depois que Lucas terminou de lavar e secar as mãos, ele olhou para mim e comentou:— Está frio hoje. Me fez lembrar da última vez que a Srta. Kiara me convidou para comer comida mexicana.O recado era claro. Ele queria repetir o convite. Não tive como ignorar e respondi com um sorriso:— Então, que tal eu convidar o Sr. Lucas para jantar comida mexicana hoje? Assim aproveito para agradecer a ajuda com o carro.Se não fosse por Lucas, eu provavelmente teria que esperar no frio por uma ou duas horas até o pessoal da concessionária chegar para fazer o reparo.Lucas riu, satisfeito:— Combinado. E não me ache cara de pau, viu, Srta. Kiara?Co
Eu sabia que minha tia era extremamente supersticiosa. Ela vivia consultando diferentes médiuns e curandeiros, então usei essa frase de propósito, só para assustá-la. Afinal, eu não acreditava nessa bobagem, e não tinha medo de que ela usasse isso contra mim. Como esperado, assim que falei, Camila ficou tão irritada que começou a gaguejar: — Kiara, você... você realmente é... — Ela respirou fundo antes de continuar. — Não é à toa que a Isabela diz que você não tem laços familiares e tem um coração tão cruel quanto o de uma serpente. — Hum, então ótimo. Já que vocês têm corações tão bondosos, cuidem dele bem direitinho. Considerem isso como uma forma de acumular boas ações. Eu segui o raciocínio dela sem me importar, jogando suas palavras de volta. Isso a deixou sem reação por completo. Desliguei o telefone. O advogado, que ainda estava no meu escritório, acabou ouvindo parte da conversa, e, mesmo sendo um estranho, parecia cheio de pena de mim. — Srta. Kiara, parece que ma
— Ouvi dizer que a família dele é muito bem de vida. Eles não se importam com o fato de você já ter sido casada? — Camila perguntou, em tom provocador.Eu não consegui segurar e soltei uma risada seca antes de responder:— E daí que eu fui casada? Não matei ninguém, nem cometi nenhum crime.Camila suspirou com impaciência:— Você é impossível, Kiara. Eu só estava tentando mostrar preocupação, e você responde assim, sem educação.— Obrigada pela sua preocupação, então. Mas estou ocupada, se não for nada urgente, vou desligar.Eu já estava prestes a encerrar a ligação quando ela, apressadamente, me chamou:— Kiara, espera! Ainda preciso falar com você!Suspirei, sentindo que já sabia onde aquilo iria parar, mas voltei o telefone ao ouvido.— Fala logo.— Então… você sabe que seu pai está doente, não sabe? A situação dele é bem grave.Ah, claro. Depois de todo aquele rodeio, ela finalmente chegou ao ponto. O verdadeiro assunto era Carlos.— Que doença? Ele vai morrer quando? — Perguntei,
Eu me encostei no peito dele, sentindo as vibrações de sua respiração, enquanto um profundo sentimento de culpa tomava conta de mim. Pensar que ele era tão bom comigo, enquanto eu ainda insistia em manter uma distância, fazia com que eu me sentisse ainda pior. Mas, por mais que eu quisesse, simplesmente não conseguia abrir meu coração para ele por completo.— Jean… — Chamei com a voz rouca, encostando no peito dele.— Hum? — Ele abaixou a cabeça, e sua respiração quente roçou meu ouvido.Eu o empurrei levemente, criando um pequeno espaço entre nós. Respirei fundo para controlar as emoções e, com uma insegurança evidente, perguntei:— Você realmente não está nem um pouco bravo comigo?Ele ergueu a mão e, com delicadeza, enxugou as lágrimas que haviam escapado pelos meus olhos. Com uma calma impressionante, ele respondeu:— Você já está passando por algo suficientemente difícil e doloroso. Se eu ainda ficasse bravo, só faria você se sentir pior.Eu o encarei, incapaz de conter a profunda