Jean continuava firme em suas decisões, e eu só podia responder com silêncio.Nesses últimos dias, eu e tia Julia nos revezamos para cuidar da minha avó no hospital. Graças à ajuda de Jean, que conseguiu os melhores médicos e o tratamento mais adequado, a saúde da minha avó melhorou muito.Uma semana depois, ela já estava bem mais forte e com energia suficiente para receber alta. Naquela manhã, fui ao hospital para cuidar da papelada da alta médica e, junto com tia Julia, levei minha avó de volta para casa.No caminho, minha avó comentou casualmente sobre como um amigo havia ajudado a encontrar os médicos certos e perguntou se eu já tinha agradecido devidamente. Olhei pelo retrovisor e rapidamente confirmei:— Pode ficar tranquila, avó. Já o convidei para jantar como agradecimento.Tia Julia, que estava sentada ao meu lado, me observou pelo retrovisor e perguntou diretamente:— Essa pessoa que ajudou… foi o Sr. Jean?Eu hesitei por um momento, olhando para ela de relance. Minha primeir
Em vez de perder meu tempo discutindo com Davi, decidi que era hora de usar uma cartada mais pesada. Abri meu computador, localizei o vídeo da câmera de segurança em que Tânia me "drogava" e transferi o arquivo para o meu celular. Sem pensar duas vezes, peguei minhas coisas e fui direto para a delegacia.Eu iria denunciá-la. Acusaria Tânia por crime de envenenamento ou tentativa de causar dano com substâncias perigosas.Eu já havia consultado um advogado antes e sabia que, isoladamente, o ato de Tânia talvez não configurasse um crime grave, já que sua ação não causou consequências sérias para mim. Mas, se a polícia conseguisse conectar o ato dela ao caso em que ela foi violentada, as coisas poderiam tomar um rumo bem mais sério.Tânia já estava em um estado deplorável, tanto física quanto mentalmente, após aquela terrível experiência. Se fosse interrogada pela polícia agora, seria um golpe devastador. E Eduarda, sua mãe, com certeza ficaria desesperada.Mas eu não tinha escolha. Eles h
Os policiais ficaram alarmados e rapidamente impediram Tânia de se jogar contra a parede.Eduarda, apavorada, abraçou a filha enquanto chorava alto:— Eu não sou injusta, você sabe disso! Seu irmão está doente, ele está doente! O que mais poderíamos fazer?!Mas o desespero de Eduarda logo se transformou em raiva. Ela se virou para mim com os olhos cheios de ódio e gritou:— Isso é culpa sua, Kiara! Você disse que tinha apagado aquele vídeo!De repente, tudo fez sentido. O motivo pelo qual Davi teve coragem de recorrer era porque ele achava que eu já não tinha mais o vídeo de Tânia me drogando.Lembrei imediatamente da conversa com Roberto no estacionamento do hospital. Aquele encontro não tinha sido tão inocente quanto eu imaginava. Ele estava tentando confirmar se eu estava desarmada.Um arrepio percorreu minha espinha, seguido de um sentimento de alerta. Durante muito tempo, acreditei que Roberto era a única pessoa decente na família Castro, alguém com um mínimo de consciência. Agora
— Kiara, eu realmente já te amei de verdade. E também quis, de coração, consertar as coisas entre nós. Mas foi você quem não quis me dar uma chance, foi você quem bloqueou todos os caminhos entre nós. — A voz de Davi saiu rápida, cortante, cheia de rancor. — Você não tem compaixão, então também não espere nada de mim. Você está ansiosa para se livrar de mim e ficar com o Jean, não é? Pois está sonhando! O que eu não posso ter, ninguém mais terá!As palavras dele, carregadas de ódio e loucura, eram tão intensas que eu podia sentir sua perversidade através do telefone. Era como se ele tivesse rasgado a máscara que usava e revelado a verdadeira face. Senti um zumbido nos ouvidos, enquanto uma sensação de frio tomava conta do meu corpo.— Você está louco. Você é um demônio. — Minha voz saiu firme, mas por dentro eu tremia.— Se sou um demônio, foi você quem me fez assim!— Davi, você é patético. Nem ao menos tem coragem de admitir os próprios erros. Quem é o verdadeiro ingrato entre nós do
Eu servi uma xícara de café para ele e voltei para a sala. Assim que ouvi o que ele disse, minha expressão escureceu. Fingi estar irritada:— O que você quis dizer com isso? Está me comparando com um cachorro?Jean soltou uma risada e, percebendo o tom na minha voz, apressou-se em se desculpar:— Foi só uma brincadeira. Achei que você estivesse de mau humor.Eu franzi os lábios, lançando-lhe um olhar de soslaio, antes de me virar e me afastar. Achei que tinha controlado bem minhas emoções, mas claramente ele havia percebido.— Estou bem. Isso está sob controle, e não estou tão preocupada assim. Só vai me custar mais algum tempo. — Respondi, me sentando no outro sofá, com um tom casual.Jean tomou um gole do café, colocou a xícara sobre a mesa e virou-se para mim.— O que você mencionou sobre a denúncia... tem a ver com o que você tem contra a família Castro?— Sim. Tânia tentou me incriminar antes. Tenho provas claras contra ela. Usei isso para pressionar Davi a aceitar o divórcio, mas
— Embora você tenha capacidade de resolver as coisas sozinha, quero dizer que, se precisar de ajuda, é só me ligar. Estarei sempre aqui. — Jean falou em um tom calmo, depois de alguns segundos de silêncio.Minha expressão suavizou, e eu concordei com um leve aceno de cabeça:— Tudo bem.Descemos juntos até o térreo e, enquanto ele entrava no carro e ia embora, eu saí para passear com Higger.A segunda instância do meu processo de divórcio com Davi ainda não tinha começado, mas o caso de Tânia avançou mais rápido do que eu esperava. Fiquei surpresa com a eficiência da polícia em conduzir a investigação.Por meio do meu advogado, descobri que havia uma reviravolta significativa no caso. Os dois suspeitos acusados de violentar Tânia haviam gravado um vídeo naquela mesma noite.Nas imagens, Tânia aparecia claramente fora de si, mas, para a surpresa de todos, ela estava em um estado de comportamento cooperativo e até receptivo quando encontrou os dois homens. Isso descartava a possibilidade
— Eu já tenho tudo planejado. Faça o que eu pedi.— Ah... — Tatiana assentiu, ainda sem entender direito, mas saiu imediatamente para resolver o que eu havia pedido.No final do expediente, ela me entregou os contatos de alguns responsáveis por empresas de cobrança de dívidas. Liguei para cada uma delas e, depois de algumas negociações, escolhi a que tinha menos restrições.Minha exigência era simples: cobrar uma dívida de oitenta mil reais de Isabela. Não importava o método que usassem, desde que conseguissem o dinheiro de volta. Em troca, eu estava disposta a pagar o dobro do valor da dívida como comissão.Eu sabia que Isabela não tinha o dinheiro para pagar. Quando ela fosse encurralada pela empresa de cobrança, não teria outra saída além de voltar ao trabalho. E, se não conseguissem cobrar a dívida, eu só precisaria pagar uma taxa básica pelos serviços. Com o menor custo, eu conseguia a máxima irritação. Essa tática, por mais cruel que parecesse, foi algo que aprendi convivendo com
Depois de ouvir o que Bela disse, eu realmente não sabia se ria ou chorava. Se realmente existisse um feiticeiro tão poderoso, eu já teria contratado um para amaldiçoar aquele meu pai miserável, e ele teria ido para o túmulo há muito tempo.— Que falem o que quiserem. Minha consciência está limpa. — Respondi, sem me importar com os rumores.Bela, no entanto, parecia preocupada.— Você não tem medo de que esses boatos prejudiquem sua reputação? E que isso acabe afetando o futuro entre você e o Jean?Eu fiquei surpresa. Jean?— A família dele tem um status diferenciado. Com certeza eles devem ser muito exigentes em relação à parceira que ele escolher. Se esses rumores continuarem se espalhando, tenho medo de que vocês dois...Bela não terminou a frase, mas eu entendi perfeitamente o que ela queria dizer.Mas o que eu poderia fazer? Para ser honesta, mesmo sem esses rumores, eu jamais estaria à altura de Jean.— Você está pensando demais. Eu e ele somos de mundos diferentes. Somos apenas
No segundo seguinte, porém, o olhar da Sra. Serra se voltou para mim. Com uma expressão nada amigável, ela disse:— Essa Srta. Kiara é amiga do Mestre Jean? Uma garota dessas, de família tão insignificante e sem muita educação, está a anos-luz da família Auth. Mestre Auth sempre foi conhecido por…— Sra. Serra, Kiara é minha namorada. E, como ela não tem nenhum vínculo com a senhora, não cabe a você dar lições a ela. — Jean interrompeu, mantendo o tom calmo, mas com firmeza suficiente para cortar as palavras dela.Levantei as sobrancelhas, surpresa. Nunca imaginei que ele seria tão direto, chegando a interromper uma pessoa mais velha.O rosto da Sra. Serra ficou imediatamente sombrio.— Jean, minha mãe só está tentando ajudar. Você viu o quão arrogante Kiara é? Ela chutou minha perna e me deixou com um hematoma! — Emilia tentou defender a mãe, levantando a saia para mostrar o machucado na perna.Eu estava prestes a explicar, mas Jean foi mais rápido:— Kiara não machucaria alguém sem m
Eu ainda estava na concessionária quando o celular tocou. Era Tatiana.— Kiara, a Sra. Isabela está aqui procurando por você.Respondi, sem me abalar:— Não se preocupe com ela. Diga que eu tenho compromissos hoje, não vou voltar para a empresa, e peça para ela ir embora.— Mas ela se recusa a sair. Está sentada no seu escritório. Posso pedir para os seguranças tirarem ela de lá?— Não precisa, deixe ela sentada lá.Sabia que, se Isabela causasse confusão, até os seguranças poderiam não dar conta da situação, e isso acabaria prejudicando a operação normal da empresa.— Tudo bem... — Tatiana suspirou e desligou.Não dei muita importância ao assunto. Isabela só sabia aparecer para pedir dinheiro, nada mais. E eu estava decidida: não daria um centavo. Se cedesse uma vez, seria um ciclo sem fim.Guardei o celular no bolso e me virei para voltar ao salão de exibição. Mas, ao levantar o olhar, dei de cara com uma figura familiar. Não, mais do que familiar: uma inimiga.Emilia vinha andando,
— Não precisa se apressar com a transferência da casa. Vamos falar sobre a situação da Tânia. Você disse no tribunal que, se ela te pedisse desculpas, aceitaria um acordo extrajudicial. Isso ainda vale? — Davi perguntou, direto.Eu franzi as sobrancelhas e o encarei:— Você está nesse estado, saindo no frio dessa noite, só para perguntar isso?— E por que não? Você bloqueou meu número e, mesmo depois de trocar o seu, continua ignorando minhas ligações. — Ele rebateu, com um tom de leve acusação e sarcasmo. — Parece até que atender minhas chamadas é uma sentença de morte para você.Fiquei surpresa. Agora que ele mencionou, lembrei que, de fato, tinha recebido duas ligações de números desconhecidos durante o dia e as rejeitei automaticamente.— Ainda vale? — Ele repetiu a pergunta, insistente.Eu respirei fundo. Para ser sincera, não queria que valesse. A atitude de Tânia no tribunal tinha me irritado profundamente.Mas, com Carlos prestes a sair da prisão e sem saber que tipo de problem
Eu fiquei sem palavras. Ainda bem que ele não fez isso, porque, se tivesse feito, eu nunca mais teria cara para encarar Lucas na empresa. A menos que eu trocasse de gerente imediatamente.Pensando nisso, murmurei arrependida:— Se eu soubesse, nem teria te contado. Você não ia me encontrar por acaso, e nem sequer saberia...— O que você disse?— Eu disse que finalmente descobri um defeito seu: ciumento e infantil! — Virei-me para ele, articulando cada palavra de propósito, só para provocá-lo.Mas, em vez de se irritar, ele riu e respondeu com naturalidade:— Tenho muitos defeitos. Com o tempo, você vai descobrindo todos.— Então, por que você não me conta logo? Assim, eu evito te irritar.— Prefiro não.Nossos comentários eram tão infantis que, no final, nem nós mesmos conseguimos levar a conversa a sério.— Chega disso. Vou te levar para casa. Amanhã de manhã, vamos direto ver o carro, e depois te deixo no trabalho. — Jean mudou de assunto, enquanto já organizava minha agenda do dia s
Mas era um sorriso de felicidade.— Tudo bem, se você insiste em vir, não tem como eu te impedir. — Respondi, resignada. Depois de desligar o telefone, voltei para a mesa. Lucas já tinha começado a comer. — Come logo, os ingredientes aqui são bem frescos, está uma delícia. — Assim que me sentei, ele colocou um taco com pimenta no meu prato. Eu rapidamente recusei: — Obrigada, mas pode comer você. Eu me sirvo sozinha. Ele apenas sorriu, como se não tivesse escutado o que eu disse, e continuou colocando comida no meu prato. Naquele momento, lembrei das palavras de Tatiana, que havia comentado que Lucas parecia ter interesse em mim. De repente, achei que a ideia de Jean vir me buscar fazia muito sentido. Pelo menos ficaria claro para Lucas que eu já tinha namorado e que ele não deveria investir mais energia nisso. Terminamos o jantar por volta das nove da noite. Eu estava pensando se Jean já teria terminado seus compromissos, quando o telefone tocou. Era ele, dizendo que já
— Só consegui fazer um reparo provisório. Amanhã você deve levar o carro na concessionária para trocarem a fiação. Assim, evita que o problema volte e te deixe na mão de novo. — Lucas explicou.Eu fiquei muito agradecida e agradeci várias vezes. Como as mãos dele estavam sujas, fui até o carro e peguei uma garrafa d’água para ajudá-lo a lavar as mãos.Depois que Lucas terminou de lavar e secar as mãos, ele olhou para mim e comentou:— Está frio hoje. Me fez lembrar da última vez que a Srta. Kiara me convidou para comer comida mexicana.O recado era claro. Ele queria repetir o convite. Não tive como ignorar e respondi com um sorriso:— Então, que tal eu convidar o Sr. Lucas para jantar comida mexicana hoje? Assim aproveito para agradecer a ajuda com o carro.Se não fosse por Lucas, eu provavelmente teria que esperar no frio por uma ou duas horas até o pessoal da concessionária chegar para fazer o reparo.Lucas riu, satisfeito:— Combinado. E não me ache cara de pau, viu, Srta. Kiara?Co
Eu sabia que minha tia era extremamente supersticiosa. Ela vivia consultando diferentes médiuns e curandeiros, então usei essa frase de propósito, só para assustá-la. Afinal, eu não acreditava nessa bobagem, e não tinha medo de que ela usasse isso contra mim. Como esperado, assim que falei, Camila ficou tão irritada que começou a gaguejar: — Kiara, você... você realmente é... — Ela respirou fundo antes de continuar. — Não é à toa que a Isabela diz que você não tem laços familiares e tem um coração tão cruel quanto o de uma serpente. — Hum, então ótimo. Já que vocês têm corações tão bondosos, cuidem dele bem direitinho. Considerem isso como uma forma de acumular boas ações. Eu segui o raciocínio dela sem me importar, jogando suas palavras de volta. Isso a deixou sem reação por completo. Desliguei o telefone. O advogado, que ainda estava no meu escritório, acabou ouvindo parte da conversa, e, mesmo sendo um estranho, parecia cheio de pena de mim. — Srta. Kiara, parece que ma
— Ouvi dizer que a família dele é muito bem de vida. Eles não se importam com o fato de você já ter sido casada? — Camila perguntou, em tom provocador.Eu não consegui segurar e soltei uma risada seca antes de responder:— E daí que eu fui casada? Não matei ninguém, nem cometi nenhum crime.Camila suspirou com impaciência:— Você é impossível, Kiara. Eu só estava tentando mostrar preocupação, e você responde assim, sem educação.— Obrigada pela sua preocupação, então. Mas estou ocupada, se não for nada urgente, vou desligar.Eu já estava prestes a encerrar a ligação quando ela, apressadamente, me chamou:— Kiara, espera! Ainda preciso falar com você!Suspirei, sentindo que já sabia onde aquilo iria parar, mas voltei o telefone ao ouvido.— Fala logo.— Então… você sabe que seu pai está doente, não sabe? A situação dele é bem grave.Ah, claro. Depois de todo aquele rodeio, ela finalmente chegou ao ponto. O verdadeiro assunto era Carlos.— Que doença? Ele vai morrer quando? — Perguntei,
Eu me encostei no peito dele, sentindo as vibrações de sua respiração, enquanto um profundo sentimento de culpa tomava conta de mim. Pensar que ele era tão bom comigo, enquanto eu ainda insistia em manter uma distância, fazia com que eu me sentisse ainda pior. Mas, por mais que eu quisesse, simplesmente não conseguia abrir meu coração para ele por completo.— Jean… — Chamei com a voz rouca, encostando no peito dele.— Hum? — Ele abaixou a cabeça, e sua respiração quente roçou meu ouvido.Eu o empurrei levemente, criando um pequeno espaço entre nós. Respirei fundo para controlar as emoções e, com uma insegurança evidente, perguntei:— Você realmente não está nem um pouco bravo comigo?Ele ergueu a mão e, com delicadeza, enxugou as lágrimas que haviam escapado pelos meus olhos. Com uma calma impressionante, ele respondeu:— Você já está passando por algo suficientemente difícil e doloroso. Se eu ainda ficasse bravo, só faria você se sentir pior.Eu o encarei, incapaz de conter a profunda