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Capítulo 3

Author: Almenciosa
Dário me lançou um olhar carregado de raiva contida.

Afinal, eu, que sempre fui submissa, hoje tinha desafiado seus limites uma, duas, três vezes — sem piscar.

Mas eu já não me importava. Nem com ele, nem com o que ele pensava.

No silêncio da casa, o toque do celular dele rompeu o ar.

Nem precisava olhar pra saber: era Evelina.

— Alô, Dário? Você tá em casa? Tem alguém batendo na minha porta sem parar… tô com medo…

A voz dela, do outro lado da linha, soava manhosa, trêmula, perfeita na encenação.

Dário franziu a testa, preocupado, como se o coração dele tivesse sido apertado.

Disse que em dez minutos estaria lá e murmurou algumas palavras de consolo antes de desligar.

Vendo meu olhar sobre ele, tentou disfarçar:

— Uma funcionária da empresa tá com um problema em casa... vou lá ver o que tá acontecendo.

Ele realmente achava que eu era surda? Que eu não tinha ouvido a conversa inteira?

Mas eu nem quis discutir. Soltei um “ah” desinteressado e voltei a guardar minhas coisas.

— Lívia, me leva até lá? Você sabe que eu não posso dirigir, e o motorista já foi embora.

O tom não era de pedido. Era de ordem.

Como se minha obrigação fosse servi-lo.

Lancei um olhar demorado para as pernas dele, arqueei as sobrancelhas, e com um meio sorriso sarcástico, perguntei:

— Tem certeza de que suas pernas não funcionam?

O rosto dele endureceu por um segundo. Mas logo recuperou a calma e respondeu:

— Você sabe que eu não mentiria pra você, Lívia.

O olhar carregado de urgência, de falsa sinceridade.

Fomos em silêncio até o prédio da Evelina.

Nenhuma palavra no caminho.

Quando ela abriu a porta, nem esperou: se jogou nos braços do Dário.

Ele ainda me lançou um olhar rápido, nervoso, mas ao ver que eu não reagi, tomou coragem e começou a acariciar as costas dela bem na minha frente, murmurando palavras doces.

Sem vontade de assistir àquela cena, me virei para ir embora.

— Lívia! — Ele me chamou.

Pensei, por um segundo, que ele fosse dizer algo… qualquer coisa que simulasse um mínimo de respeito pelos nossos quatro anos juntos.

Mas nem isso.

Com a voz fria, indiferente, ordenou:

— Evelina tá assustada. Vai até a cozinha e faz um mingau pra ela. Ela adora o que você prepara.

Depois, voltou a murmurar carinho nos braços da outra. Como se eu fosse só a funcionária da casa. Como se eu nunca tivesse sido nada.

De repente, me lembrei de uma coisa.

Não fazia muito tempo que o Dário, que sempre dizia odiar mingau, passou a me pedir uma tigela toda manhã.

Agora fazia sentido. Não era por ele. Era por ela. Era porque a Evelina gostava.

— Lívia, eu sei que pedir pra você cozinhar pra mim é falta de educação — Disse ela, com aquela voz doce fingida — Mas foi o Dário quem pediu. Você não costuma sempre fazer tudo que ele manda?

Dário soltou um riso frio.

— Eu jamais me casaria com uma mulher que me desafia.

Foi ali que tudo desabou.

A decepção que eu vinha engolindo há meses explodiu sem aviso.

Eu ri. Um riso seco, gelado. E encarei os dois com a voz firme, fria:

— Dário, eu fazia café da manhã, cuidava de você, porque eu te amava. Porque eu queria. Mas agora? Você acha que ainda é alguém pra merecer isso?

Sem esperar resposta, virei as costas e saí. Deixei ele lá, parado, com a cara fechada, segurando o próprio orgulho ferido.

Naquela noite, ele não voltou.

Quando eu já estava quase dormindo, o celular vibrou com a notificação de um vídeo.

Abri. Era Evelina, deitada com Dário na cama, os dois nus, cobertos apenas pela vergonha que claramente não tinham.

Ela chegou a olhar direto pra câmera, fez um sinal de "V" com os dedos e sorriu, provocadora.

Na intenção de apagar o vídeo, acabei clicando sem querer na chamada de vídeo.

E na tela, tudo se moveu. A respiração entrecortada, os gemidos indecentes, o som molhado do contato de corpos.

Dário levantou Evelina nos braços, pronto pra continuar… até que viu o celular. Os olhos dele se arregalaram, congelou no meio do ato.

Desliguei na hora, com nojo.

Guardei o celular, ignorei tudo e dormi.

E dormi bem.

Na manhã seguinte, quando abri os olhos, ele já estava ali.

Sentado na cadeira de rodas ao lado da cama, olhando pra mim. Não sei há quanto tempo estava ali.

O rosto sem expressão, mas os olhos... escuros, confusos.

— Você viu tudo aquilo ontem? — Perguntou, tateando as palavras.

Nesse exato momento, uma notificação da minha mãe apareceu no celular. Ela queria saber quando eu voltava.

Respondi: Depois de amanhã.

Dário percebeu que eu estava no celular e ficou claramente incomodado.

Bateu com os dedos no criado-mudo, a voz hesitante:

— Tá falando com quem?

— Com a minha mãe. — Respondi, sem levantar o olhar.

— Ah… — Murmurou, tentando parecer indiferente.

Pausou por uns segundos, depois insistiu:

— Mas... você não viu nada estranho no vídeo, né?

Revirei os olhos, incomodada, e balancei a cabeça.

Ele soltou um suspiro de alívio.

— Que bom. Aliás, eu preparei o café da manhã. Vai querer?
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