Beatriz Silva passou dois anos casada com Gabriel Pereira. Durante esse tempo, foi muito mais babá e empregada do que esposa, sempre dedicada, humilde, colocando-se atrás dele, apagando sua própria luz. Dois anos assim… Consumiram até a última gota do amor que ela sentia por ele. Quando a ex-namorada dele voltou do exterior, Beatriz finalmente entendeu, o casamento deles só existia no papel. E chegara a hora de colocar um ponto final. — Gabriel… Sem o filtro do amor, sem nenhuma ilusão… Você acha que eu ainda perderia meu tempo te olhando duas vezes? Gabriel assinou os papéis do divórcio com uma confiança quase arrogante. Ele tinha certeza absoluta de que Beatriz o amava tanto, de forma tão profunda, que não conseguiria ir embora de verdade. Achava que, mais cedo ou mais tarde, ela voltaria… Chorando, arrependida, pedindo para recomeçar. Mas, para o seu espanto… Dessa vez, ela realmente parecia não o amar mais. E então, devagar, como peças de um quebra-cabeça que ele nunca quis montar, as verdades do passado começaram a aparecer. Gabriel percebeu que, na verdade… Quem havia julgado tudo errado esse tempo todo era ele. Desesperado, arrependeu-se. Implorou perdão. Tentou reconquistá-la. Mas Beatriz, cansada, exausta de tudo o que viveu, tomou uma decisão surpreendente: publicou nas redes sociais que estava à procura de um marido agregado. Gabriel enlouqueceu de ciúmes. Perdeu o controle. Quis voltar no tempo, queria mais do que tudo ter uma segunda chance... Só que agora… Ele descobriu que nem sequer era digno de entrar na disputa.
View MoreAs refeições estavam encomendadas, mas Rafael teve o cuidado de dizer que vinham da família Pereira, não diretamente do Sr. Gabriel.Temia que, se Beatriz soubesse a verdadeira origem, jogasse tudo no lixo sem pensar duas vezes.No hospital, Beatriz terminou a refeição com calma.Nutritiva, equilibrada... Claramente algo escolhido pela família Pereira. Provavelmente ideia do Sr. Henrique.Mas algo a incomodava.Será que Gabriel havia comentado com o avô sobre sua internação?Olhou o celular. Nenhuma mensagem de Henrique.Ela também não havia contado nada diretamente, para evitar que descobrissem a gravidade do ferimento.Na verdade, aqueles dias estavam sendo surpreendentemente tranquilos.Durante o dia, assistia vídeos de treinamento, lia materiais e praticava escrita, queria garantir que, ao sair dali, estaria pronta para enfrentar o mercado de trabalho.Sem precisar ver Gabriel, seu humor havia melhorado visivelmente.O efeito das refeições saudáveis também começava a aparecer em su
Vitória então começou a comandar a mudança.Não conseguiu ficar na suíte principal, mas... Conseguir tirar a Beatriz do próprio quarto já era, pra ela, uma vitória e tanto.Enquanto elas movimentavam as coisas da Beatriz, Gabriel franziu a testa. Algo dentro dele incomodava.Entrou no quarto e viu a assistente tentando abrir um armário trancado.Sem dizer nada, aproximou-se e, com a força de um homem impaciente, arrebentou o fecho em poucos segundos. A tranca interna ficou torta, inutilizada.Lá dentro, quase nada: apenas um pequeno caderno azul-claro.Gabriel pegou o caderno e, ao abrir a primeira página, entendeu na hora o que era.— Quem é que ainda escreve diário hoje em dia... — Murmurou, com um leve sorriso de desprezo nos lábios.Mesmo assim, não resistiu. Os dedos começaram a virar as páginas, curioso.Antes que pudesse ler, uma mão apareceu por cima do ombro e puxou o caderno de suas mãos:— Não é certo espiar o diário de uma garota, Gabi. — Vitória disse, com um sorriso doce,
— E aí... Gostou da sopa? Tá boa? — Vitória perguntou, com os olhos cheios de expectativa.Ela sabia muito bem o que estava servindo, tinha pedido delivery de um restaurante famoso, escolhendo o cardápio cuidadosamente para agradar a Gabriel, tentando conquistar o estômago dele.— Tá boa, Vi. Você cozinha muito bem. — Gabriel respondeu, depois de provar uma colherada.Mas, na verdade, a sopa era pesada, gordurosa... E tinha aquele sabor artificial típico de cozinha industrial.Ele sentia falta da leveza dos pratos que Beatriz preparava. Um gosto caseiro, limpo, cheio de carinho, completamente diferente de qualquer coisa que viesse de fora.— Que bom que gostou! Então vou preparar para você todos os dias! — Vitória sorriu, animada.Mas, ao ouvir aquele “todos os dias”, Gabriel engoliu a sopa com certo esforço, apoiou a colher na tigela e falou num tom calmo, mas firme:— Amanhã vou buscar seus documentos. Depois disso, você pode ficar hospedada em um dos hotéis da minha empresa. Nenhum
Embora o assunto tivesse saído rapidamente dos trending topics, do lado da família Pereira, o Sr. Henrique acabou descobrindo. Logo cedo, ligou furioso, exigindo explicações.Naquele momento, Gabriel estava a caminho do trabalho e, do outro lado da linha, levou uma bronca daquelas, sem chance de defesa.— A Bia é uma menina tão boa! Você acha mesmo que está sendo justo com ela? — O avô ralhou, a voz carregada de decepção. — Dois anos de dedicação, Gabriel! Dois anos... E você nem enxerga?Gabriel apertou os lábios. "Dedicação?" Cozinhar de vez em quando? Lavar roupa na máquina? A casa limpa por um robô? No fundo, era ele quem sustentava tudo, há dois anos.E além disso... Cadê a gratidão? Ontem mesmo ela deu a ele um tapa na cara.— Se você não souber valorizar... Depois não venha se arrepender! — O velho continuava, o tom pesado. — E agora, só falta pouco mais de duas semanas...Gabriel perdeu a paciência. Cortou a conversa, impaciente:— Estou dirigindo, vô. Melhor a gente não f
Gabriel a segurou firme, mas, naquele momento, a alça da blusa dela escorregou suavemente.Do ângulo em que estava, ele viu a curva delicada do busto, o tecido moldando suavemente os contornos. No centro daquele vale tentador, ainda havia marcas suaves, traços de desejo deixados por ele na noite anterior. E o pior... Aquela roupa era da Beatriz.De repente, um sentimento estranho tomou conta dele, como se estivesse traindo Beatriz bem na frente dela. Um arrepio subiu pela palma da mão e, desconcertado, ele virou o rosto rapidamente.— Gabi, segura minha mão esquerda... Quero lavar o rosto — Pediu Vitória, levantando os olhos para ele.Gabriel apenas torceu a toalha e a entregou, sem dizer uma palavra.Vitória enxugou o rosto, apoiando-se na pia, tentando ficar de pé sozinha.— Já estou melhor... Obrigada. Você pode ir... — Começou a dizer, mas antes de terminar, cambaleou outra vez.Dessa vez, Gabriel já esperava. Num movimento rápido, quase instintivo, a envolveu pela cintura, seguran
Ao pensar nisso, Beatriz mordeu o lábio com força.Se culpava por não ter rasgado e queimado aquele diário antes…Mas, por sorte, lembrava-se de tê-lo trancado na gaveta. Vitória não conseguiria abrir.Respirou fundo, forçando-se a manter a calma.Quando estava prestes a desligar o celular, uma notificação apareceu na tela.O título gritava:[O herdeiro da família Pereira aparece em desfile e sobe na passarela por sua musa!]Beatriz ficou olhando para a tela por alguns segundos.O herdeiro da família Pereira… Quem mais poderia ser, senão o Gabriel?Seus olhos deslizaram automaticamente até a palavra “musa”.Sem perceber, já tinha clicado na notícia.A primeira imagem era nítida: Gabriel, segurando uma mulher nos braços, num clássico colo de princesa.Ela estava aninhada contra o peito dele, como se aquele fosse o lugar mais seguro do mundo.Beatriz reconheceu o rosto de lado na hora, era Vitória.Continuou rolando a tela.Mais fotos. Close no olhar protetor de Gabriel, o rosto tenso de
— E agora? — A voz de Vitória saiu embargada. — Meus documentos estão todos na bolsa… Não posso ir para outro hotel sem eles.Gabriel ficou em silêncio por alguns segundos, depois respondeu com firmeza:— Vamos para minha casa.Vitória hesitou por um momento. Baixou a cabeça, assumindo um ar humilde e contido:— Não sei se é o certo… Não quero ser o motivo de mais brigas entre você e a Bia.Gabriel soltou um suspiro impaciente:— Ela não tem do que reclamar. A casa é minha. Quem entra ou fica lá, decido eu.As palavras dele foram frias, cortantes.Vitória ainda tinha o rosto molhado pelas lágrimas, mas diante da atitude decidida de Gabriel, não insistiu. Fingiu uma última resistência tímida, que ele ignorou por completo, conduzindo-a diretamente ao condomínio.No elevador, Vitória caminhava atrás dele. Quando chegaram ao andar, ela discretamente passou o dedo pelo pescoço, esfregando com força a base da maquiagem até deixar à mostra, de propósito, a marca de uma chupada.A porta do apa
Os olhos do diretor do evento brilharam na hora. Ele adorava lidar com gente objetiva e generosa. Sorriu, todo simpático:— Sem nenhum prejuízo. Situações inesperadas acontecem… Quando a Srta. Vitória estiver recuperada, a passarela vai estar sempre aberta pra ela.Gabriel se levantou e, com elegância, entregou o cartão do seu assistente. Em seguida, foi até Vitória para ajudá-la.Quando percebeu que ela mancava e quase caiu de novo, não pensou duas vezes, tomou-a nos braços mais uma vez, carregando-a como uma princesa.Vitória, corada, aninhou-se contra o peito dele, passando os braços em volta do seu pescoço com um ar de fragilidade encantadora.Do lado de fora...Os fotógrafos mais rápidos já estavam estrategicamente posicionados. Assim que Gabriel saiu do prédio com Vitória nos braços, os flashes começaram a pipocar.Assustada, Vitória escondeu o rosto contra o peito dele, como se buscasse proteção.A voz de Gabriel soou fria e autoritária:— Apaguem essas fotos agora… Ou se prepar
A inveja crescia dentro dela, descontrolada, feroz. Vitória sabia, precisava agir rápido.No quarto do hospital.Beatriz franziu a testa. Não queria gastar energia pensando na última frase de Gabriel. Em vez disso, abriu o aplicativo de mensagens e viu a transferência que ele tinha feito.Sessenta mil reais. Na descrição: despesas da cirurgia.Sem hesitar, devolveu o dinheiro na mesma hora. Se não fizesse isso agora, tinha certeza de que ouviria cobranças depois, na hora do divórcio.Primeira fila do evento.Gabriel percebeu que Beatriz havia recusado o dinheiro. Mandou uma mensagem, perguntando o motivo. Ela respondeu, seca:[Não vou fazer cirurgia. Não preciso.][Mas você vai ficar internada. Pelo menos use para as despesas.]Beatriz leu a mensagem e respondeu, sem rodeios:[É pouco dinheiro. Eu posso pagar sozinha.]Depois disso, bloqueou a tela do celular, largou-o de lado e não olhou mais.Gabriel enviou mais mensagens. Primeiro, perguntando quanto era esse "pouco dinheiro". Depoi
No dia em que Beatriz Silva decidiu pedir o divórcio, duas coisas aconteceram.A primeira: a mulher que sempre foi o amor idealizado de Gabriel Pereira, o famoso amor da vida dele, havia retornado ao Brasil.Para recebê-la, ele não mediu esforços, gastou milhões mandando fabricar um iate exclusivo, personalizado nos mínimos detalhes, onde passaram dois dias e duas noites entregues à pura indulgência.Os jornais e sites de fofoca não falavam de outra coisa. Para todos, a reconciliação entre Gabriel e sua antiga paixão parecia só uma questão de tempo.A segunda coisa: Beatriz aceitou o convite do seu antigo colega de faculdade para voltar à empresa que haviam criado juntos, desta vez como diretora.Em um mês, ela iria embora.Claro... Ninguém se importava com o que ela fazia ou deixava de fazer.Na cabeça de Gabriel, ela não passava de uma empregada de luxo que havia entrado na família Pereira por conveniência.Ela não comentou nada com ninguém.Silenciosamente, foi apagando todos os ves...
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