Capítulo 3

No momento em que Tiago Pereira me viu, sua testa, que antes estava relaxada, imediatamente se franziu. Ele deu passos largos até mim, e ao notar os ferimentos em meu corpo, um leve sentimento, quase imperceptível, surgiu em seus olhos.

— O que aconteceu? Por que você saiu sozinha da montanha?

Eu só podia contar a ele tudo o que aconteceu, e depois de ouvir, ele soltou um longo suspiro.

— Você escapou de um acidente tão perigoso, com certeza terá uma vida feliz daqui pra frente. Vou te levar para fazer um curativo.

— Bom.

Eu imaginei que ele fosse me apoiar para andar, mas, ao contrário, ele me levantou e me segurou nos braços, caminhando em direção ao carro que estava aos pés da montanha.

Apoiei-me em seu peito, ouvindo os batimentos fortes e ritmados de seu coração, e uma cor rosada apareceu involuntariamente em minhas bochechas.

Um pouco constrangida, eu disse:

— Tiago, por que não me coloca no chão? Eu consigo caminhar sozinha...

Tiago, no entanto, me apertou ainda mais contra si.

— A grama aqui embaixo é muito densa, pode machucar seus pés.

Sem outra opção, deixei que ele me carregasse até o carro, e então me acomodou no banco.

Ele pegou uma pequena caixa de primeiros socorros embaixo do banco, retirou o álcool para desinfetar, e começou a limpar suavemente meus ferimentos.

— Está doendo?

— Não.

Olhando a preocupação em seu rosto, apertei com força o braço direito, tentando evitar que as lágrimas que estavam se formando nos cantos dos meus olhos caíssem.

Ainda me lembrava da minha vida passada, quando eu e Miguel recém tínhamos nos casado. Em uma festa da empresa, muitos colegas dele começaram a brindar juntos, e eu, preocupada com ele ficando embriagado, pedi para ele beber menos.

Ele, no entanto, se irritou de repente, e diante de todos os presentes, me empurrou para o lado de uma mesa cheia de copos de vinho.

Os copos caíram todos no chão, estilhaçando-se, e eu me vi caindo sobre os cacos de vidro.

Os pedaços se cravaram em minha pele, e o sangue misturado com o vinho se espalhou por todo o meu corpo.

Gritei de dor, e só consegui me levantar com a ajuda de alguns funcionários, olhando para ele, atônita e sem entender nada.

Os olhos dele, no entanto, não demonstraram nenhum traço de ternura. Com um tom gélido, ele disse:

— Está doendo? Então é assim mesmo. Quando a Daniela faleceu, ela sentiu mil vezes mais dor! Dez mil vezes mais! Se não fosse você, se você não tivesse roubado o paraquedas dela, ela ainda estaria viva. Helena, tudo isso aconteceu por sua causa!

Eu fiquei ali, parada, diante de todos, recebendo suas acusações, permitindo que ele me difamasse e me humilhasse.

Foi naquele momento que percebi que ele já amava profundamente a Daniela. Casou-se comigo apenas pelo patrimônio da família Castro.

Eu olhei para ele, soltando uma risada amarga, como se visse uma piada.

— Miguel, você realmente acha que tudo isso foi causado por mim? O avião foi sabotado pelos seus concorrentes, o paraquedas também foi danificado de propósito por eles. Você não os acusa, e ainda vem me culpar? Você é um covarde!

Depois de dizer isso, virei-me e saí, indo sozinha para o hospital cuidar dos ferimentos.

Foi a partir daquele momento que a nossa relação atingiu o ponto mais baixo. Ele começou a me diminuir em público, em qualquer lugar.

Mas agora, o Tiago, que cresceu comigo, parecia ter receio da minha dor, e seus movimentos ficaram cada vez mais suaves.

Respirei fundo, tentando manter minha voz o mais normal possível.

— Obrigada, Tiago.

Tiago, porém, levantou a cabeça de repente, segurando meu tornozelo com uma das mãos, e me olhou com uma expressão séria.

— Helena, você e Miguel talvez não se deem bem, mas o compromisso entre a família Pereira e a família Castro ainda pode continuar.

Fiquei atônita, olhando para ele.

— Tiago, o que você quer dizer com isso?

Ele, no entanto, retirou a mão e começou a colocar meus sapatos novamente, sem continuar a conversa sobre o assunto.

— Não é nada, vou te levar de volta para casa, tudo bem?

Provavelmente por motivos egoístas, eu realmente não queria voltar para casa.

Meus pais haviam se casado por conveniência empresarial. Após o casamento, tiveram-me, mas logo depois, cada um encontrou o verdadeiro amor.

Quanto a mim, como filha de um casamento anterior, embora ambos tivessem concordado em deixar sua fortuna para mim, nenhum dos dois demonstrava a menor vontade de se importar comigo emocionalmente.

Quanto a Miguel, depois que nos casamos na minha vida passada, ele nunca me levou a nenhum evento formal. Jamais me tocou, e quando alguém perguntava sobre mim, ele só fazia questão de me desprezar com um olhar de desdém.

Quando finalmente assumiu o controle das empresas da família Castro e da família Pereira, ele cortou completamente os meus dividendos, minhas ações e minha mesada mensal.

Então, ao ver Tiago, que estava ali, concentrado em limpar meu ferimento, puxei a manga de sua camisa, fazendo um pequeno gesto de carinho.

— Eu não quero voltar para casa. Posso ficar com você por alguns dias?

Sem receber uma reação imediata dele, tentei olhar para ele com um olhar inocente, fazendo uma expressão de quem estava realmente pedindo algo muito simples.

Na vida passada, Tiago foi para o exterior pouco tempo depois, então, nossas interações foram limitadas. No entanto, quando soube que eu estava pedindo o divórcio, ele voltou imediatamente para me ajudar, sem hesitar.

Portanto, tanto na vida passada quanto nesta, ele sempre foi alguém que me ajudou.

Quando viu meu olhar, ele abaixou a cabeça de repente, os olhos queimando de intensidade enquanto me encarava. O calor de sua respiração tocou minha orelha.

— Tem certeza? Morar comigo vai ter um preço.

A proximidade repentina me fez recuar instintivamente, mas, mesmo assim, senti o perfume único dele, tão agradável que me deixou um pouco tonta.

— Sim, qualquer preço está bem.

— Sério?

— Sério.

Eu o olhei com firmeza, e, de repente, ele sorriu.

A atmosfera ficou, por um momento, estranhamente ambígua. Por um instante, eu até pensei que íamos nos beijar.

Mas, de repente, ele recuou, passou a mão em minha cabeça e disse, com um sorriso travesso:

— Lembre-se do que você disse.

— Certo.

No entanto, no final, eu acabei voltando para casa.

O carro me levava, e enquanto passávamos por um posto de gasolina e eu segurava a mão dele, fazendo um charme para pedir um sorvete, deparamo-nos com Miguel e a equipe de resgate que ele havia organizado.

— Helena, é você! Você está bem?

Ao me ver, os olhos de Miguel brilharam com um leve choque, mas logo se transformaram em alegria ao me ver ali.

Eu, porém, apenas o olhei friamente, mantendo firme a mão de Tiago, sem soltá-la.

— Que problema eu poderia ter?

Miguel me olhou atônito, como se não acreditasse que eu havia conseguido sobreviver depois de cair de uma altura de milhares de metros.