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Capítulo 2

Lúcia fixava intensamente a foto, com um olhar afiado e sereno, como se quisesse perfurá-la.

Ela realmente se arrependia de não ter enxergado a verdadeira natureza das pessoas ao seu redor.

Sílvio era seu marido, Giovana era sua melhor amiga, e ambos, que sempre diziam que a retribuiriam, agora a traíam pelas costas, causando-lhe uma dor atroz!

A amante se sentia tão no direito de exibir sua conquista na frente da esposa legítima, era uma desfaçatez sem igual!

Lúcia era orgulhosa. Mesmo que a família Baptista agora estivesse nas mãos de Sílvio, ela ainda era a única herdeira legítima da família.

Giovana não passava de uma aduladora que sempre a seguia, bajulando e tentando agradar.

Lúcia bloqueou todas as formas de comunicação com Giovana. Porque ela sabia que Giovana, sozinha, não teria coragem de agir. E Sílvio era a mão que impulsionava as ações de Giovana.

Para esperar Sílvio, ela não jantou, apenas tomou o analgésico prescrito pelo médico.

O relógio na parede marcava onze horas. Lúcia ligou novamente para Sílvio, usando o novo número, mas ele não atendeu.

À meia-noite em ponto, com o som do código sendo digitado, a porta se abriu.

Lúcia estava encolhida no sofá, segurando uma xícara de água morna, sem tempo de levantar a cabeça.

Plaft. Três documentos foram jogados com força em seu rosto.

Os cantos dos papéis passaram pelo seu olho, cortando sua pele pálida, caindo aos seus pés. Mas ela não sentiu dor, pois já estava entorpecida.

- Para quem você está fazendo essa cara de coitada? Assine logo!

A voz do homem era calma, as palavras claras, mas carregadas de desprezo.

Ela se abaixou e pegou os três documentos do chão.

Levantou os olhos para ele.

Um ano sem vê-lo, ele não havia mudado nada, pelo contrário, estava ainda mais bonito e imponente.

Aparentemente, um ano de abuso emocional no casamento não o afetou em nada.

Ele vestia um casaco preto que ela havia lhe dado de presente de aniversário. Mesmo com todo o tempo de frieza entre eles, ele ainda não tinha jogado fora.

- Você está doente ou o quê? Por que está parada aí? Eu só tenho cinco minutos, assine logo!

Ele franziu as sobrancelhas de forma bonita, impaciente, e tirou uma caneta do bolso do paletó, colocando-a na frente dela.

Ele estava com tanta pressa para se divorciar que só tinha cinco minutos para ela.

Lúcia olhou fixamente para ele:

- Sílvio, eu quero saber por que você me traiu, por que traiu a família Baptista.

- Seu pai está à beira da morte e você ainda age com essa arrogância? - Sílvio riu com desdém, torcendo os lábios com desprezo.

- Sem mim, sem a família Baptista, você não estaria onde está hoje. - Lúcia percebeu que aquele homem era um enigma, cheio de contradições.

Se ele realmente não se importava com ela, por que vestia o casaco preto que ela comprara?

Mas, se ele se importava, por que a submeteu a um ano de frieza, pressionando-a a se divorciar e tratando-a com palavras tão cruéis?

Ela não conseguia entender.

Ele parecia estar enfurecido, avançou até ela e agarrou seu pescoço com força:

- Quem te deu coragem para me falar assim?

Ela viu nos olhos dele um ódio avassalador, como se quisesse despedaçá-la.

Seu rosto ficou pálido, a dor era insuportável, mas ela se recusou a chorar, e provocou:

- Você é um órfão que eu mesma alimentei e transformei em um ingrato.

- Ninguém nasce órfão! - As veias saltaram em seu pescoço.

Essa frase carregava tanta informação que Lúcia esqueceu da falta de ar:

- Então, como sua família morreu?

O rosto de Sílvio endureceu, as veias em suas mãos se destacaram:

- Cala a boca!

Ela começou a tossir e a lutar, mas não conseguia se livrar da mão que a sufocava.

As pessoas gostavam de desafiar o destino, mas, ao perceberem que era inútil, entendiam que não podiam lutar contra ele.

Desesperada, Lúcia fechou os olhos, desistindo de lutar, e lágrimas saltaram de seus olhos, caindo na mão do homem que usava um relógio caro.

Finalmente, ele a empurrou violentamente para o sofá.

O acordo de divórcio foi novamente jogado em seu rosto:

- Assine, eu não vou repetir!

- Sílvio, se algum dia você perceber que me perdeu para sempre, que eu morri, você choraria? - Ela ergueu o rosto, perguntando com extrema seriedade. Essa resposta era muito importante para ela. Lúcia fez uma pausa, olhando fixamente para seus traços. - Você apareceria no meu funeral?

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