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Capítulo 4

- Pode ser parcelado? - Lúcia perguntou com a voz trêmula.

A funcionária do caixa, com uma expressão fria e acostumada a esse tipo de situação, respondeu:

- Somos um hospital particular, não fazemos parcelamento. Ou você transfere seu pai ou providencia o dinheiro.

As pessoas na fila atrás dela começaram a revirar os olhos e a reclamar:

- Você vai pagar ou não? Se não, sai da frente, estamos esperando.

- Exato, está ocupando o lugar à toa.

- Se não tem dinheiro, por que veio ao hospital? Vai para casa esperar a morte!

Lúcia levantou os olhos levemente e, com um pedido de desculpas, saiu da fila.

Ela tinha poucos amigos e pedir dinheiro emprestado era fora de questão.

A única pessoa que poderia ajudá-la era Sílvio.

Ela ligou, mas ele não atendeu.

Mandou uma mensagem: [Assunto urgente, atenda, Presidente Sílvio.]

Era a primeira vez que ela o chamava de Presidente Sílvio.

Primeira ligação, sem resposta. Segunda, terceira, também não.

Ela continuou insistindo, sem desistir, mesmo com o coração em pedaços.

Na trigésima tentativa, ele atendeu. E a primeira coisa que disse foi um golpe direto em seu coração:

- Você está para morrer?

Ela hesitou por meio segundo. Como ele sabia que ela estava para morrer? Será que ele a investigou? Será que ainda se importava com ela?

- Presidente Sílvio, por que diz isso? - Lúcia tentou esconder a esperança na voz.

Ele riu friamente:

- Se você está falando com tanta energia, não deve estar morrendo. Quando realmente precisar de alguém para recolher seu corpo, me ligue.

A pequena esperança que ela sentiu foi imediatamente extinta, mas não era hora de se prender a essas questões.

- Presidente Sílvio, me empreste cinco milhões. Meu pai sofreu um acidente e precisa urgentemente de dinheiro.

- Para atrasar o divórcio, você inventa até acidente de carro?

- Presidente Sílvio, você pode verificar.

- Não tenho tempo para isso. Esse deve ser o castigo de Deus por você insistir tanto no casamento.

A voz gelada e desprezível de Sílvio cortou como uma faca o coração de Lúcia.

Ele desligou abruptamente.

Do lado de fora da sala de cirurgia, Lúcia caminhava com a coluna ereta, mas a mente perdida.

Sandra correu até ela, aflita:

- Você pagou?

Lúcia olhou para o pai na maca, o rosto envelhecido e o cabelo branco manchado de sangue.

Ela olhou para o pai e começou a chorar, e ele também chorava ao vê-la.

- Filha, o que está acontecendo? Fale comigo! - Disse Sandra.

- Vou dar um jeito de arranjar o dinheiro. - Respondeu Lúcia.

- Se o dinheiro não for suficiente, peça para o seu marido. Onde está o Sílvio? - Sandra, primeiro surpresa, depois insistente, questionou.

Lúcia apertou os lábios. Mesmo com todas as mágoas, se quisesse conseguir o dinheiro de Sílvio, não podia se desentender com ele:

- Ele está ocupado.

Sandra claramente não acreditou, ficando pálida de raiva e soltando algumas risadas irônicas:

- Seu marido está cada vez mais arrogante.

Sandra pegou o celular e ligou pessoalmente para Sílvio, forçando um sorriso:

- Sílvio, está muito ocupado com o trabalho?

- O que você quer? - A voz do homem do outro lado era preguiçosa e indiferente.

O sorriso no rosto de Sandra ficou tenso, mas por causa da necessidade do dinheiro para a cirurgia do marido, continuou tentando agradar:

- Hoje, enquanto eu levava seu pai para passear, ele foi atropelado por um caminhão. Ele está em estado grave. Você não poderia vir vê-lo?

- Eu sou órfão, como posso ter pai? - A voz do homem, com um toque de sarcasmo, cortou como uma lâmina.

A raiva que Sandra reprimia há anos finalmente explodiu:

- Sílvio, o que você quer dizer com isso? Seu sogro não é seu pai? Ele sofreu um acidente e você não deveria estar aqui? A família Baptista sempre te sustentou, te deu casa, te pagou os estudos e ainda te deu nossa filha preciosa em casamento. É assim que você nos retribui? E ainda quer se divorciar da minha filha? Você não tem coração...

- Tenho outras coisas para fazer, vou desligar.

A resposta despreocupada do homem foi seguida pelo som do telefone sendo desligado.

O forte discurso de Sandra não teve qualquer efeito, foi um desperdício de energia.

Lúcia não esperava que Sílvio fosse tão desrespeitoso, nem mesmo com sua mãe. Sandra, tremendo de raiva, começou a chorar e a limpar as lágrimas com as mãos.

Lúcia estava prestes a confortá-la quando recebeu um tapa firme da mãe. O golpe a deixou atordoada, incapaz de discernir o que estava ao seu redor.

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