John Chase me levou de volta para o salão que antes havia me impedido de entrar, em meu coração a raiva fervilhava, meu sangue queimava. Pouco antes das portas do Grande salão se abrirem ele me puxou pela cintura possessivamente diante de todos, seu toque em mim, mesmo que sobre o tecido grosso do vestido, mandou uma corrente elétrica por todo o meu corpo. Senti minhas pernas tremerem sobre o vestido e o meu coração acelerou novamente, enquanto caminhávamos por entre o salão com os olhares em nós, eu tentei me desvencilhar dele, mas ele me pressionou mais contra seu corpo. Então de repente, com um sorriso, me soltou, me deixando desconcertada com sua atitude.
Com uma reverência ele se afastou, não antes de sorri com alguma piada interna. Mas que homem odioso! Quando ele se foi eu respirei fundo, ainda sentindo o toque dele em minha cintura. Essa distração não me permitiu ver a tempo outro homem se aproximando de mim, quando notei já era tarde demais. O homem era Dimitri Sidorov, o outro infeliz que estava competindo pela minha mão. Eu sorri educadamente para ele. Dimitri era alto, não tanto quanto Jonh Chase, ele possuía ombros largos e seu cabelo era de um tom de loiro translúcido, sua pele muito pálida, uma característica da sua terra natal, Mihan, onde era quase sempre inverno, seus olhos eram azuis gelados. Ele era um homem atraente, sua beleza era ofuscada por suas ações, ele era um nobre de Mihan que soube do torneio pela mão da princesa do reino de Shivia, suas ações nas batalhas foram brutais, e eu não conseguia nem se quer me imaginar se casando com ele e indo embora do meu país para as terras geladas de Mihan. Ele fez uma reverência para mim, seus olhos se detiveram em meu seios por um tempo longo demais e constrangedor. — É uma honra finalmente poder me apresentar para a princesa, meu nome é Dimitri Sidorov, seu fiel servo. Suas palavras gentis não condiziam com o que eu podia ver em seus olhos, e além do mais, aquela percepção das pessoas que me acompanhava desde sempre estava me alertando novamente, porque mesmo se eu estivesse vendada, aquela energia que ele emanava... Era como uma névoa, como se ele inteiro estivesse envolto em uma névoa tentando mascarar seus reais sentimentos, e eu sentia uma hostilidade emanando dele. Isso me deixava doente. E era por essa razão que por muitos anos eu preferia ficar em meus aposentos, todas as vezes que eu encontrava soldados que tiveram alguma participação em guerras eu era atingida por suas energias obscuras e nunca pude revelar isso a ninguém, princesa ou não, eu poderia ser acusada de bruxaria. E em Shivia as bruxas queimavam na fogueira. — É um prazer conhece-lo, senhor Sidorov. — falei e antes que eu pudesse escapar, ele me segurou me puxando para ele de repente. Eu tentei protestar, mas antes que pudesse alertar os guardas ele sussurrou palavras em meu ouvido, e de repente, eu congelei. Uma onda de energia começou a percorrer todo o meu corpo assim que seus dedos tocaram minha nuca, eu senti ele me espetar com a ponta afiada de sua unha, e então o comando dele reverberou dentro de mim:“Fique quietinha e ouça” Sua voz... dentro da minha cabeça... “Caminhe para seus aposentos daqui alguns minutos. Diga que está passando mal, caso alguém questione sua saída. Chegando em seus aposentos, terão dois guardas na porta, chame-os para entrar, os mantendo-o de costas para a porta, depois disso siga-me sem uma palavra e me obedeça.”Enquanto ele dizia essas coisas na minha mente, ele me conduzia durante uma dança, de modo completamente natural. Dimitri dançou duas vezes comigo e eu não tive nenhum controle sobre minha vontade, toda vez que eu pensava em gritar e pedir socorro, uma dor de cabeça forte me atingia me fazendo querer me contorcer no chão. — Pare de tentar resistir aos meus comandos, vai tornar tudo mais doloroso para você. — Sussurrou em minha orelha. Ele me soltou e se afastou fazendo uma breve mesura. Eu fiquei completamente paralisada vendo-o se afastar, eu tentava gritar, correr ou ter qualquer reação adequada para o que acabara de acontecer, mas para o meu horror, meu corpo não me obedecia. Era como se dentro de mim houvesse uma outra vontade e ela comandava meus passos.Eu andei pelo salão e cumprimentei pessoas, bebi vinho e depois de um tempo, me despedi de todos. Caminhei com meus guardas para meus aposentos, e uma vez lá dentro, imaginei que conseguiria agir normalmente, mas não consegui, ainda estava sobre o comando invisível dele. Eu assisti impotente enquanto eu mesma chamava meus guardas, atraindo sua atenção para o quarto, apontando para um rato inexistente embaixo da minha cama. Quando eles entraram preocupados, ficaram de costas para a porta, assisti horrorizada uma figura os surpreender por trás. O homem os apagou rapidamente sem qualquer som, então me encarou. — Escreva uma carta agora. Então ele me ordenou cada palavra da carta. Nela eu dizia com minha própria letra que estava apaixonada por Sidorov, que estava fugindo com ele para me casar porque não podia suportar a incerteza do torneio e a possibilidade dele morrer.— Agora vamos. Meu corpo o obedeceu imediatamente, e eu o segui para fora do quarto se esgueirando silenciosamente pelos corredores. Até que paramos em frente a um quadro com o rosto do antigo rei Carlos l, meu pai em sua juventude, Dimitri se aproximou do quadro e passou os dedos por ele, então o empurrou para o lado, revelando uma porta pequena. Ele enfiou uma chave na fechadura antiga e girou, com um barulho, abriu revelando uma escada que descia até uma completa escuridão. Ele pegou uma tocha na parede e me segurou pelo braço, então mergulhamos na escuridão a dentro.Dimitri me segurava pelo braço em meio a luz tremula da tocha em sua mão, rapidamente descemos pelos degraus de pedra até chegar ao que parecia ser um depósito, então ele me soltou e seguiu direto para outra porta que com outra chave ele a abriu, voltou e me puxou novamente e recomeçamos a andar, dessa vez por um longo corredor cavernoso e ainda mais escuro, eu podia ouvir os insetos e os ratos passando perto de nós, e se não fosse o fato de estar sendo raptada, supostamente para o restante de todos eu estaria fugindo para casar, eu poderia me importar com os ratos correndo no escuro. Eu tentei falar com ele, tentei mesmo, obrigar minha boca a se abrir e protestar contra aquilo, mas meu corpo não me obedecia, eu era apenas uma observadora em meu próprio corpo, e isso era aterrorizante. O pânico de toda aquela situação começando a se instalar em meu coração, meu coração batendo acelerado, minhas pernas tremulas... eu queria que meu corpo reagisse e lutasse com ele, presumi que seria m
Dimitri caminhou pelo quarto e se deitou na cama, respirou profundamente e fechou os olhos. Permaneceu parado em silêncio, os olhos fechados por vários minutos enquanto eu o observava. — Então? Não quer mais fazer perguntas, princesa? — perguntou, depois do longo silencio.Eu caminhei para perto da janela, tentando manter certa distância entre nós. — Por que está me sequestrando? — Não estou te sequestrando, você está fugindo comigo porque está apaixonada. Eu o encarei frustrada. — Está bem, princesa, não precisa fazer essa cara de triste. Estou raptando você para que se torne minha esposa. — E por que não lutou pela minha mão? Só faltava um homem e você com esse dom que faz com que as pessoas te obedeçam, ele não teria chance. Ainda não é tarde para ganhar minha mão honestamente. — falei, a diplomata em mim se aflorando.Ele se sentou na cama e me encarou. — Se John Chase fosse um cara comum, princesa, com certeza eu não precisaria estar te raptando. Eu me aproximei alguns p
Eu acordei com a luz do sol queimando meu rosto, quando abri os olhos vi que estava sobre o cavalo do comandante, seus braços fortes estavam ao meu redor guiando o animal por uma estrada.— Que bom que acordou princesa. — disse ele atrás de mim.— Para onde estamos indo?— Para o palácio é claro, não se preocupe, ninguém sabe que você fugiu, sua cunhada Hera a rainha encontrou sua carta e interditou o andar do seu quarto dizendo que você pegou uma virose muito contagiosa, e que apenas a criada dela cuidaria de você, é claro que com o sumiço de Dimitri eu presumi que ele tinha sequestrado você, e isso se confirmou quando vi a guarda pessoal da rainha recebendo ordens secretas para sair em uma busca fora do palácio.Então Hera havia acobertado tudo... eu não gostava dela, mas sua atitude inteligente havia me poupado de voltar sobre grande vergonha.Então algo me incomodou.— O que ele fez comigo? ele espetou o polegar na minha nuca e desde então não consegui mais resistir a ele.— Dimitr
Quando retornei ao palácio passei as próximas horas ouvindo o discurso da rainha sobre como meu comportamento devasso poderia custar caro para mim e para a imagem e reputação da família real, que graças a bondade do comandante Chase eu havia retornado sem causar mais danos. Eu poderia tentar contar a ela que na realidade eu havia sido sequestrada, mas era improvável que ela acreditasse, não tinha como explicar o que Dimitri Sidorov havia feito comigo, aquilo pareceria bruxaria, o que só pioraria tudo, ela pensaria que eu havia sido acometida pelo mal e chamaria padres para um exorcismo, o que eu dispenso.Então me contentei em ouvir suas reclamações sem fim.— Eu espero de verdade que você tenha mantido sua honra intacta, porque se não o fez... — ela me encarou parecendo preocupada e furiosa ao mesmo tempo.— Minha honra está intacta. — garanti, desconfortável com o rumo da conversa.Ela me analisou por alguns segundos tentando ver se eu mentia, por fim disse:— Espero que você esteja
Eu me encarei no espelho com o vestido de noiva, ele era longo com uma cauda enorme, todo branco cravejado de pedras preciosas, o decote em formato de coração, e uma tiara cheia de diamantes na minha cabeça, meu cabelo negro caindo como ondas ao meu redor, algumas tranças tinham sido feitas nele. O dia todo o palácio ficou repleto de servos correndo de um lado para o outro, todos ocupados com os preparativos para o casamento da princesa e do comandante Chase, a cerimônia seria realizada no salão da torre sul, era onde ficava a igreja um padre faria a cerimonia, após os dois assinarem o contrato de casamento todos seguiriam para o grande salão onde seria sediada uma grande festa de casamento.Eu realmente não estava preparada para isso, mas que escolha eu tinha?A porta se abriu e a rainha pessoalmente veio me buscar para a torre sul, eu me levantei da cadeira e olhei para ela.— Veio se certificar que eu não irei fugir a caminho da igreja vossa alteza? — alfinetei.— Essa possibilidad
Eu arregalei os olhos e meu coração começou a bater descompassado dentro do meu peito, imediatamente senti o calor subir pelo meu pescoço e queimar em minhas bochechas, mesmo que eu não quisesse faze-lo foi inevitável desviar o olhar para minhas próprias mãos.O comandante Chase havia sido direto comigo de uma maneira que nenhum homem jamais foi, e isso foi completamente desconcertante.Eu me movi na cadeira desconfortável com sua audácia, como ele ousava dizer aquilo?Eu me armei de coragem e autoconfiança e levantei o olhar para encara-lo nos olhos.— Como o senhor ousa insinuar essas coisas tão vulgares?
John me segurou ainda mais firme contra ele, seu olhar estava divertido, estava rindo porque eu estava bêbada.— Me tire daqui. — murmurei, me segurando nele.Ele caminhou comigo pelo salão e por todas as mesas que passamos todos os convidados se levantaram e os homens começaram a comemorar, muitos deles gritaram que era hora da consumação do casamento, e riam satisfeitos. Mesmo estando fora de mim, achei constrangedor. No final do salão Jonh se virou e acenou para o rei e a rainha, todos os olhares estavam sobre nós e havia muitas vozes ao nosso redor. Ele me segurou pela cintura sustentando a maior parte do meu peso e me levou para o corredor.Quando saímos do salão e nos encontramos no corredor vazio, somente com o fundo das vozes e da música que vinha do salão, ele me olhou e ainda me segurando perguntou:— Quer caminhar um pouco no ar da noite? Ou prefere se deitar?— Prefiro me deitar. — considerando que eu nem conseguia andar.Ele assentiu e como se tivesse lido minha mente me e
Eu ainda estava na mira daquele olhar negro e intenso. Eu não sabia dizer se o comandante John Chase conseguia ver em meus olhos, na meia luz do quarto, o horror e a vergonha que agora povoava meus pensamentos e coração, e se ele sabia, o que isso causava nele?Ele respirou fundo.— Não sabe o que dizer, princesa? — perguntou Chase.Eu suspirei diante do inevitável.— Como posso olhar em seus olhos sem ver o sangue que derramou?— E por quem eu derramei esse sangue? — perguntou o comandante.Sua pergunta era completamente injusta, não pedi para que ninguém lutasse pela minha mão.— Como ousa tentar colocar esse sangue em minhas mãos? O senhor matou por poder! — esbravejei para ele.De súbito, suas mãos me empurraram de costas para a cama, seu peso me esmagou sobre ela, eu arfei tentando respirar, mas então sua boca reivindicou a minha novamente. Desta vez com mais agressividade, suas mãos foram para dentro do meu vestido e isso arrancou um grito horrorizado meu, ele faria aquilo mesmo?