Eu encarei John Chase com seu olhar negro e intimidante.
Ele se curvou fazendo uma reverência repleta de cinismo, um sorriso lascivo no canto de seus lábios.— Meu comandante, não posso passear com o senhor agora, preciso comparecer ao baile. — falei, tentando ser diplomática.Ele me analisou e balançou a cabeça.— Eles vão sobreviver sem a sua presença, além do mais é só um passeio de alguns minutos, princesa. Ele não estava me dando escolha, embora suas palavras fossem polidas e seus gestos delicados, eu via em seus olhos que ele era um homem que ninguém dizia não, e pelo o que estava vendo, nem mesmo uma princesa.Eu lhe dei um sorriso amarelo e segui pelo corredor, em direção aos jardins do palácio, meus guardas me acompanharam e comandante Chase se posicionou ao meu lado, caminhando.Eu mantive minha postura altiva e os olhos fixos no caminho a frente, com minha visão periférica eu o vi me encarando, me analisando exatamente como um predador faria, e acho que era exatamente isso que John Chase era, um predador.Viramos a esquerda e entramos em um pequeno salão que levava as grandes portas que davam para os jardins do palácio. O ar da noite estava agradável, o céu estava limpo, fui pega de surpresa pela quantidade de estrelas no céu, mas uma em especial estava brilhando intensamente essa noite, a estrela Lina, que eu via desde criança. Na última vez que estive nesses jardins também foi a noite, altas horas da noite, com Cristhofer ao meu lado, e observamos essas mesmas estrelas, com a evocação dessas lembranças eu tive que usar toda minha força para não liberar as lágrimas que tão cruelmente me impediam de derramar.Estava tudo errado nessa noite.— Esse jardim não te traz boas lembranças, princesa?A voz grave do comandante interrompeu os meus pensamentos, estávamos seguindo por um pequeno caminho de pedra com várias macieiras ao redor, o som da noite e dos insetos entre nós.Sua pergunta me surpreendeu, porque de alguma forma ele compreendeu meu estado de espírito, e isso me deixava bastante desconfortável, eu não queria esse homem percebendo minhas emoções, lendo-as em minha expressão.— Você parece radiante, meu senhor, nem parece que algumas horas atrás estava em uma arena. — rebati.Ele me analisou novamente.— Você sabe o nome deles, princesa? — perguntou ele após uma pausa, eu virei meu rosto em sua direção, seu olhar estava fixo em mim e seu rosto continha seriedade.Mas eu não havia entendido completamente sua pergunta.— Deles quem?— Dos homens que morreram lutando pela sua mão.Eu parei de caminhar.Ele havia feito uma pergunta cuja a resposta me faria parecer insensível, exatamente o que meu comentário anterior havia sugerido dele, Chase estava jogando comigo, e havia habilmente virado o jogo contra mim.Olhei para seus olhos escuros astutos enquanto ele aguardava minha resposta.— Não deve ser fácil tirar a vida de um homem. — tentei contornar a situação.Agora estávamos quase no final do caminho de pedra entre as macieiras, poucos metros a frente estava uma fonte e alguns bancos de pedra e mármore.Estávamos parados um de frente para o outro, ele me encarou daquele modo analítico novamente e retomou os passos, eu fiz o mesmo e quando chegamos na fonte, eu molhei minhas mãos na água, ele olhou para o céu, parado em frente a fonte.— Na verdade, é fácil. — ele disse depois de uma longa pausa, tão longa que eu acreditei que ele não responderia mais.Sua resposta evocou a lembrança de sua espada decapitando Cristhofer na arena, meu coração acelerou, minha respiração se intensificou e um sentimento de indignação e raiva foi surgindo em meu coração, como um veneno se espalhando por todo o meu corpo. Eu sentia minhas bochechas queimarem com aquele sentimento tão amargo em mim, sua resposta era fria e cruel, ele matou quem eu amava hoje e nenhuma culpa ou remorso pesava em sua consciência.Tinha sido fácil para ele. Talvez até prazeroso.E era com esse homem que eu acabaria por me casar? Ao menos que outro competidor o matasse.Essa possibilidade despertou em mim algo que jamais imaginei que sentiria por alguém, a esperança que a pessoa morresse, em meu coração eu buscava vingança contra ele, alguma justiça pelo o que ele me tirou. Ele me tirou a chance de ter uma vida feliz e eu o odiava por isso.Eu me sentei na beirada da fonte e com meu silêncio, ele fez o mesmo.— Não era a resposta que esperava. — não foi uma pergunta, e sim uma afirmação.— Suponho que para algumas pessoas, matar seja fácil. — eu esperava que ele percebesse todo o desprezo em minhas palavras.— Qual deles, princesa? — perguntou de repente.Eu pisquei, simulando não entender sua pergunta, mas no fundo eu havia entendido. Ele suspirou e voltou a falar, dessa vez mais firme.— Qual dos bastardos tinha seu coração?Eu fiquei paralisada com sua pergunta direta. Em poucos minutos de conversa eu havia sido tão transparente para ele ao ponto dele deduzir isso?— Acho que não entendi sua pergunta, comandante. — eu esperava que ele não insistisse, que aceitasse minha esquiva.— Você entendeu perfeitamente, princesa, só não quer responder, não que você realmente precise. Eu vi seu olhar hoje na arena, o olhar de uma mulher apaixonada, e quando eu o matei, vi que matei um pouco de você também. Eu não conseguia mais estabilizar minha respiração agora, meu peito subia e descia com meu coração martelando rápido demais, novamente o veneno da raiva se espalhando por mim, correndo por todo o meu corpo e me fazendo querer mata-lo.— O senhor matou uma pessoa hoje. — o acusei.Sua expressão era impassível.— Matei um homem que estava tentando me matar. — simplificou.— O senhor não precisava estar naquela arena.— Cristhofer também não, ele era um homem livre que escolheu estar lá hoje, não é?!Eu o encarei chocada, a menção do nome dele em seus lábios me paralisou, ele não era digno de dizer seu nome.— Recomponha-se, princesa, você tem um baile para comparecer, seus sentimentos estão muito claros. E sim, eu sei o nome dele, de todos que matei, não só naquela arena.Ele se levantou e estendeu a mão para mim, eu me levantei, mas não segurei em sua mão, todo o meu corpo estava trêmulo. Antes de retomarmos o caminho de volta, ele murmurou:— No futuro vai gostar de saber que eu não tolero que minha esposa omita coisas.— Talvez no futuro eu não seja sua esposa, talvez o senhor nem chegue a ter uma. — rebati.Ele arqueou uma sobrancelha e sorriu.— Dessa maneira posso até pensar que a princesa está torcendo pela minha morte no último combate. Nesse caso terei que desaponta-la, já fazem anos que meus inimigos desejam o mesmo que a princesa, porém eu me recuso a conceder esse desejo, nem mesmo para uma princesa tão bonita como você.Com essas palavras ele me conduziu de volta para o caminho.O homem era diabólico.John Chase me levou de volta para o salão que antes havia me impedido de entrar, em meu coração a raiva fervilhava, meu sangue queimava. Pouco antes das portas do Grande salão se abrirem ele me puxou pela cintura possessivamente diante de todos, seu toque em mim, mesmo que sobre o tecido grosso do vestido, mandou uma corrente elétrica por todo o meu corpo. Senti minhas pernas tremerem sobre o vestido e o meu coração acelerou novamente, enquanto caminhávamos por entre o salão com os olhares em nós, eu tentei me desvencilhar dele, mas ele me pressionou mais contra seu corpo. Então de repente, com um sorriso, me soltou, me deixando desconcertada com sua atitude. Com uma reverência ele se afastou, não antes de sorri com alguma piada interna. Mas que homem odioso! Quando ele se foi eu respirei fundo, ainda sentindo o toque dele em minha cintura. Essa distração não me permitiu ver a tempo outro homem se aproximando de mim, quando notei já era tarde demais. O homem era Dimitri Sidorov, o
Dimitri me segurava pelo braço em meio a luz tremula da tocha em sua mão, rapidamente descemos pelos degraus de pedra até chegar ao que parecia ser um depósito, então ele me soltou e seguiu direto para outra porta que com outra chave ele a abriu, voltou e me puxou novamente e recomeçamos a andar, dessa vez por um longo corredor cavernoso e ainda mais escuro, eu podia ouvir os insetos e os ratos passando perto de nós, e se não fosse o fato de estar sendo raptada, supostamente para o restante de todos eu estaria fugindo para casar, eu poderia me importar com os ratos correndo no escuro. Eu tentei falar com ele, tentei mesmo, obrigar minha boca a se abrir e protestar contra aquilo, mas meu corpo não me obedecia, eu era apenas uma observadora em meu próprio corpo, e isso era aterrorizante. O pânico de toda aquela situação começando a se instalar em meu coração, meu coração batendo acelerado, minhas pernas tremulas... eu queria que meu corpo reagisse e lutasse com ele, presumi que seria m
Dimitri caminhou pelo quarto e se deitou na cama, respirou profundamente e fechou os olhos. Permaneceu parado em silêncio, os olhos fechados por vários minutos enquanto eu o observava. — Então? Não quer mais fazer perguntas, princesa? — perguntou, depois do longo silencio.Eu caminhei para perto da janela, tentando manter certa distância entre nós. — Por que está me sequestrando? — Não estou te sequestrando, você está fugindo comigo porque está apaixonada. Eu o encarei frustrada. — Está bem, princesa, não precisa fazer essa cara de triste. Estou raptando você para que se torne minha esposa. — E por que não lutou pela minha mão? Só faltava um homem e você com esse dom que faz com que as pessoas te obedeçam, ele não teria chance. Ainda não é tarde para ganhar minha mão honestamente. — falei, a diplomata em mim se aflorando.Ele se sentou na cama e me encarou. — Se John Chase fosse um cara comum, princesa, com certeza eu não precisaria estar te raptando. Eu me aproximei alguns p
Eu acordei com a luz do sol queimando meu rosto, quando abri os olhos vi que estava sobre o cavalo do comandante, seus braços fortes estavam ao meu redor guiando o animal por uma estrada.— Que bom que acordou princesa. — disse ele atrás de mim.— Para onde estamos indo?— Para o palácio é claro, não se preocupe, ninguém sabe que você fugiu, sua cunhada Hera a rainha encontrou sua carta e interditou o andar do seu quarto dizendo que você pegou uma virose muito contagiosa, e que apenas a criada dela cuidaria de você, é claro que com o sumiço de Dimitri eu presumi que ele tinha sequestrado você, e isso se confirmou quando vi a guarda pessoal da rainha recebendo ordens secretas para sair em uma busca fora do palácio.Então Hera havia acobertado tudo... eu não gostava dela, mas sua atitude inteligente havia me poupado de voltar sobre grande vergonha.Então algo me incomodou.— O que ele fez comigo? ele espetou o polegar na minha nuca e desde então não consegui mais resistir a ele.— Dimitr
Quando retornei ao palácio passei as próximas horas ouvindo o discurso da rainha sobre como meu comportamento devasso poderia custar caro para mim e para a imagem e reputação da família real, que graças a bondade do comandante Chase eu havia retornado sem causar mais danos. Eu poderia tentar contar a ela que na realidade eu havia sido sequestrada, mas era improvável que ela acreditasse, não tinha como explicar o que Dimitri Sidorov havia feito comigo, aquilo pareceria bruxaria, o que só pioraria tudo, ela pensaria que eu havia sido acometida pelo mal e chamaria padres para um exorcismo, o que eu dispenso.Então me contentei em ouvir suas reclamações sem fim.— Eu espero de verdade que você tenha mantido sua honra intacta, porque se não o fez... — ela me encarou parecendo preocupada e furiosa ao mesmo tempo.— Minha honra está intacta. — garanti, desconfortável com o rumo da conversa.Ela me analisou por alguns segundos tentando ver se eu mentia, por fim disse:— Espero que você esteja
Eu me encarei no espelho com o vestido de noiva, ele era longo com uma cauda enorme, todo branco cravejado de pedras preciosas, o decote em formato de coração, e uma tiara cheia de diamantes na minha cabeça, meu cabelo negro caindo como ondas ao meu redor, algumas tranças tinham sido feitas nele. O dia todo o palácio ficou repleto de servos correndo de um lado para o outro, todos ocupados com os preparativos para o casamento da princesa e do comandante Chase, a cerimônia seria realizada no salão da torre sul, era onde ficava a igreja um padre faria a cerimonia, após os dois assinarem o contrato de casamento todos seguiriam para o grande salão onde seria sediada uma grande festa de casamento.Eu realmente não estava preparada para isso, mas que escolha eu tinha?A porta se abriu e a rainha pessoalmente veio me buscar para a torre sul, eu me levantei da cadeira e olhei para ela.— Veio se certificar que eu não irei fugir a caminho da igreja vossa alteza? — alfinetei.— Essa possibilidad
Eu arregalei os olhos e meu coração começou a bater descompassado dentro do meu peito, imediatamente senti o calor subir pelo meu pescoço e queimar em minhas bochechas, mesmo que eu não quisesse faze-lo foi inevitável desviar o olhar para minhas próprias mãos.O comandante Chase havia sido direto comigo de uma maneira que nenhum homem jamais foi, e isso foi completamente desconcertante.Eu me movi na cadeira desconfortável com sua audácia, como ele ousava dizer aquilo?Eu me armei de coragem e autoconfiança e levantei o olhar para encara-lo nos olhos.— Como o senhor ousa insinuar essas coisas tão vulgares?
John me segurou ainda mais firme contra ele, seu olhar estava divertido, estava rindo porque eu estava bêbada.— Me tire daqui. — murmurei, me segurando nele.Ele caminhou comigo pelo salão e por todas as mesas que passamos todos os convidados se levantaram e os homens começaram a comemorar, muitos deles gritaram que era hora da consumação do casamento, e riam satisfeitos. Mesmo estando fora de mim, achei constrangedor. No final do salão Jonh se virou e acenou para o rei e a rainha, todos os olhares estavam sobre nós e havia muitas vozes ao nosso redor. Ele me segurou pela cintura sustentando a maior parte do meu peso e me levou para o corredor.Quando saímos do salão e nos encontramos no corredor vazio, somente com o fundo das vozes e da música que vinha do salão, ele me olhou e ainda me segurando perguntou:— Quer caminhar um pouco no ar da noite? Ou prefere se deitar?— Prefiro me deitar. — considerando que eu nem conseguia andar.Ele assentiu e como se tivesse lido minha mente me e